7 de agosto de 2018

Ilustração - Paisagem - 07082018


a.almeida

Duques do pedal


Como um puro amador, de muito baixo nível, até pelo peso da idade e peso do peso, vou pedalando por aí, por algumas das estradas da zona, sobretudo do lado da serra e vou vendo a passar e ouvindo falar de outros amadores com pinta de profissionais. Levam a coisa à séria, até mesmo, alguns, com as pastilhitas a ajudar. Postura, nariz no ar, equipamento top, máquina top, rodas top, como se na realidade fizessem parte de uma boa equipa num pelotão de uma grande prova.

Apesar deste ar de importância e mania de profissionais, os nossos ciclistas, mesmo os de topo, ainda têm muito que pedalar porque não deixa de ser triste que na maior prova do ciclismo nacional, a Volta a Portugal, já de há vários anos sejam ciclistas espanhóis de segundo ou terceiro planos a dominarem e a conquistarem. De resto, basta verificar que nas últimas 15 edições 11 foram ganhas pelos nossos vizinhos e apenas 3 por portugueses. E na edição que está na estrada, a 80º, a não ser que algo corra fora do normal, será conquistada novamente pelo Raúl Alarcon, vencedor da prova do ano transacto.

É certo que uma boa meia-dúzia dos nossos melhores ciclistas têm andado por equipas estrangeiras,  o que retira competitividade à nossa prova caseira, mas mesmo assim seria de esperar que de quem cá anda houvesse mais luta, pelo menos face a corredores espanhóis de segunda ou terceira linha.

Os verdadeiros ases do nosso ciclismo, como alguns dos acima retratados na capa de uma colecção de cromos dos anos 60/70, já fazem parte do passado. Esses sim, com máquinas pesadas, sem as condições que beneficiam os actuais ciclistas, eram verdadeiros heróis do pedal e em muito ajudaram a que o ciclismo se tornasse o desporto do povo, fazendo das estradas estádios.

6 de agosto de 2018

Festa em honra de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António - 2018 - Procissão



Mesmo que com algumas "novidades", nomeadamente a do horário, bem como o facto de ter sido o Santo António a fechar a lista de andores, ao contrário do tradicional, que seria o de Nossa Senhora da Boa Fortuna, a procissão solene saiu à rua e cumpriu-se a devoção. Eventualmente com menos forasteiros a assistir, mas decorreu de forma que aos guisandenses deve orgulhar.

Pessoalmente, lamento que o Mártir S. Sebastião, um dos santos representativos da paróquia, tenha ficado sem participar. Não fica bem, e alguém (da paróquia ou da Comissão de Festas) deveria ter-se responsabilizado ou empenhado em arranjar uma solução.

A questão da coordenação da procissão, nomeadamente no que aos andores diz respeito, gestão de promessas e responsáveis (particulares, grupos, Comissão de Festas ou paróquia), é um dos aspectos que ainda continua a precisar de muita afinação. A organização a este nível tem sido gerida um pouco ad hoc, o que propicia algumas confusões que não ajudam. Certamente que com uma melhor gestão, o mártir teria feito parte da procissão, com a veneração e devoção que lhe é devida pelos guisandenses. É certo que tem a sua festividade própria (20 de Janeiro), mas creio que todos concordarão que deveria fazer sempre parte da procissão da festa maior da freguesia.

Será, pois, de melhorar e definir bem esta situação no futuro.

3 de agosto de 2018

Alerta CM - Está calor no Verão!


Falar do tempo sempre foi uma forma circunstancial de se meter ou complementar conversa, na rua ou numa sala de espera de um consultório ou de um qualquer serviço público. - Será que amanhã vai chover? - Hoje está quente! - Parece que vem aí uma chuvada forte! - Este nevoeiro que me dá cabo dos ossos... - Se viesse uma chuvinha para o meu nabal... - Se viesse um solzinho para a minha eira...

Para além disto, estar quente, frio ou a chover, nunca foi notícia porque, pelo menos no nosso clima, sempre foi normal estar frio no Inverno e quente no Verão.

Mas hoje em dia é notícia e preenche largas horas nos telejornais. Estar quente no Verão, mesmo que muito quente, parece algo extraordinariamente jornalístico e vemos repórteres a questionar simples transeuntes sobre o calor. E vão questionar quem, em princípio, está em melhores condições para do calor se refugiar ou dele gozar, os turistas e pessoas já em férias, com as pernas na água ou à sombra do coqueiro. Aqueles que realmente podem sofrer os efeitos do excessivo calor, como trabalhadores da construção civil e obras nas estradas, agricultores, etc, esses não merecem as perguntas idiotas dos repórteres pagos por tarefa.

É certo que temos muitos canais na televisão e podemos sempre mudar, mas esta estupidificação parece generalizada.

Santa Paciência, mas é o que temos.

1 de agosto de 2018

Aljubarrota à porta


Nota prévia: É apenas a minha opinião e até me arrisco a estar quase sozinho nesta demanda de não ser entusiasta da coisa, mas mesmo estando de passo trocado, sou apenas um soldado na companhia.

Há viagens que mesmo não tendo começado já enfadonham pela poeira da sua preparação e uma delas é a Viagem Medieval em Terra de Santa Maria, que hoje começa e exageradamente dura até ao dia 12. D. Pedro que me perdoe, como fez a  Diogo Lopes Pacheco (mas não a Pero Coelho e Álvaro Gonçalves) pela morte da sua bela Inês, mas já não lhe posso com as barbas.

Reconheça-se-lhe, contudo, à Viagem, a importância para a economia do concelho (de alguns e sobretudo da sede) bem como das colectividades (de algumas e dizem que quase sempre as mesmas), que ao longo de mais de vinte anos têm-se vindo a impor como um importante evento nacional e mesmo ibérico. Já não é apenas uma feira de tasquinhas concelhia e alguns figurantes trajados de serapilheira, mas um evento profissionalizado, dirigido a massas, no que isso tem de bom e, já agora, de mau.

A receita tem sido simples e parece funcionar, e de resto até resulta noutras paragens, embora aí de forma mais arejada e por menos dias. Muita temática cultural, e de qualidade,  à volta do hiato medieval, incidindo em momentos ou épocas da nossa História mas, todavia, sobretudo e principalmente,  gastronomia e porco-no-espeto. Porventura em mais nenhum outro evento em Portugal serão retalhados tantos porcos e aviados em sandes tão bem cobradas.
É certo que são duas décadas de mais do mesmo e a duração (quase meio mês de Agosto) é excessiva, mas, porra, não se mexa em equipa que ganha e receita que funciona e que assim dure muitos e longos anos, mais do que a maioria dos reinados desses tempos medievos.

Felizmente, porque não entusiasta, devo entrar de férias a 13 e se, como eu gosto, passar pela baixa da velha Vila da Feira, já não haverá ruas interrompidas nem barreiras nem multidões, embora ainda com muita poeira e relva (ou o que dela sobrar) pisada e repisada como se ali tivesse passado a cavalaria e acontecido uma frenética Aljubarrota. Só que agora, bem mais pacificamente, portugueses e castelhanos pelejam não por direitos a tronos mas por umas sandes de porco regadas com sangrias do Lidl. As espadadas, essas só acertam no lombo dos porcos.

31 de julho de 2018

Sporting sempre!



Um Domingo à tarde, em pleno Verão. Por cá já muitos emigrantes em merecido período de férias, a ajudar a encher as estradas, os restaurantes e as esplanadas. 
Nunca fui emigrante mas percebo e compreendo que esta nossa mania portuguesa dos saudosismos leva-nos a querer encher o corpo e a alma revendo pessoas, lugares e coisas mal se cruze a fronteira. Ora se o Casimiro esteve três dias a banhos no Gerês e quando chegou sentiu-se como estivesse ausente três anos, não surpreende que o Manel da Zira, depois de um ano longe de Guisande, logo que chegado à aldeia, mesmo antes de rever a família, passe por Espinho, para ver e sentir o mar e embriagar-se daquele ar salgado e sentir no rosto as frescas nortadas, as mesmas das idas à praia em solteiro. Já o Chico do Albertino, logo que arrumadas as trouxas vai direitinho à Tasca da Aida encostar-se ao balcão e beber o melhor "paralelo" do mundo e arredores, incluindo a Suiça. A Fernanda do Neves, essa faz questão de ir a Fátima agradecer a Nossa Senhora e aos pastorinhos. No regresso faz paragem na Mealhada, tão sagrada quanto a da Cova da Iria, e ver regalada na travessa um rosário de pedaços dourados de tenro leitão, seja no Virgílio, no Pedro, na Meta ou no Rocha (este já na estrada do Luso). Cá vai! Amém!

Ora o Zé Canadas, chegado da Suiça, nesse Domingo à tarde, encheu o carrão com a mulher e os filhos e foi de abalada até Castelo de Paiva e na Rua da Boavista, apontada à praça dominada pelo austero conde lá do sítio, entrou na concorrida Adega Sporting, lugar de antigas petiscadas e pela qual, nos domingos cinzentos entre  La-Chaux-des-Fonds e Le Locle, tanto suspirou, imaginando o doce sabor acanelado das rabanadas, o picante das moelas ou o vinhadalho do bucho.
Depois de alguma espera, porque ali o espaço é pequeno para tanta fama, lá arranjou uma mesa corrida e os cinco instalaram-se. - Então, o que vai ser? Para mim quero moelas e no final uma rabanada. E para vós? Quereis uma rabanada, bucho, moelas, rojões, orelha? E tu Nandinha? Vai uma punheta de bacalhau? Não querem nada?!!! Mau...
Que nada. Nem xus-nem-mus. Nem a filharada nem a esposa, de calcinha branca, medrosa de a pintar de tinto, estranhadiços naquele ambiente de tasca, mostraram qualquer interesse na petiscada. O Canadas percebeu o recado de tantos narizes torcidos e logo esmoreceu. Envergonhado e rendido, pediu apenas uma rabanada e "uma malga" (de verde tinto). O empregado recolheu as toalhas e os talheres dos putativos comensais. Toda aquela mesa cheia de gente para comer uma rabanada, terá questionado, intrigado e surpreso.

O Canadas, comeu rapidamente e nunca uma rabanada de Paiva lhe soube tão amarga. Saiu triste e envergonhado e de tão acompanhado sentiu-se sozinho e desamparado. Já nada era como dantes e as trainadas de outros tempos que viveu na Adega Sporting com os amigos do namoro, já eram apenas uma saudade e desejo que o atormentava no pouco tempo desocupado na Suiça.

Confesso que fiquei com pena do Canadas, ainda por cima com o Tono Henriques a testemunhar tal infortúnio, sorrindo, maroto, por debaixo do bigode branco ainda bordado do grosso tinto.
Já de saída, ainda vi o Canadas a esgueirar-se ligeiro para o carrão e contornar apressado a praça, certamente a jurar para si próprio que para matar estas saudades de petiscada numa adega castiça de paredes de um granito duro, mais vale só que mal acompanhado. - E anda um homem a vir por aí abaixo apressado, a comer quilómetros e a contar horas para vir comer uma rabanada sozinho no meio de uma multidão a torcer o nariz! Foda-se!