6 de maio de 2022

Nos antigamentes

Nos antigamentes a criançada corria para a escola, corria para os campos, corria para os matos, mas corria  porque fazia parte do dia-a-dia de quem fazia pela vida a ajudar os pais e os manos mais novos. 

Corriam as crianças, e muito, nos recreios e em brincadeiras nos largos dos lugares, atrás de uma bola, de um cão, de um pau ou delas próprias. Jogos como o futebol, as escondidas, a cabra-cega, o caçador, o pica-pau, a macaca, etc, ajudavam a isso.

Mas vieram os tempos modernos e hoje ver uma criança correr, com sapatilhas da Nike e outras que tais, com roupinhas de marca, numas quaisquer provas, é obra e merece reportagem e fotos para o álbum de família e estampar nas redes sociais.

Nada a obstar, pois que o exercício físico é elementar ao corpo e à alma, mas a modernidade e a semântica das palavras tem destas coisas e todos os dias há anúncios de que a pólvora acabou de ser inventada. 

Uma criança a correr? Ufa! Olha que coisa mais fixe, mesmo incrível!

Deus no céu, Indáqua na terra

De acordo com o Correio da Feira, há dias, em reunião de Câmara, após consultar o relatório anual (2021) à concessão dos serviços de abastecimento de água e de saneamento no concelho de Santa Maria da Feira, elaborado por uma comissão de acompanhamento, o socialista Sérgio Cirino manifestou-se em desacordo, mostrando-se “perplexo” pela falta de inclusão da opinião dos consumidores no relatório. 

“Quem recebe os serviços são os consumidores. Apresentar um relatório à concessão que não inclui a opinião dos consumidores, parece-me manco”, considerou. “Estamos a falar do contrato mais complexo de execução que existe no Município e vejo um relatório que não tem nada de crítico. Não há análise crítica ao que está bem e mal, por isso este relatório deixa de cumprir com as suas funções. Deus no Céu e Indaqua na Terra, pois a Indaqua é o Deus do nosso Concelho. Se lesse uma publicidade ou brochura da Indaqua não era tão laudatória como este relatório, o que retira a sua utilidade. Deve ser solicitado um trabalho mais apurado”,

Ora eu não sei se é mesmo “Deus no Céu e Indaqua na Terra”, mas  face ao papel de concessionária e dela a exclusividade, é certo que à empresa parece permitir-se uma série de situações que nem sempre são as mais recomendáveis.

Ainda hoje, na Estrada Nacional 223, em Arcozelo - Caldas de S. Jorge, em plena curva fechada, uma equipa de manutenção da Indáqua, estava ali a fazer uma qualaquer intervenção, com o carro a ocupar meia faixa, apenas com uns cones a circundar a zona de intervenção e sem qualquer sinalização antes ou depois. O triângulo a alertar os condutores parece ser, assim, um pingarelho só exigido aos comuns mortais.

O facto de ser numa curva fechada e numa estrada de muito movimento realça a gravidade da coisa, mas aparentemente ninguém se incomoda. É o pessoal da Indáqua e para esses não deve haver regras, uma das vantagens do endeusamento.

Houvesse um acidente e grave...

3 de maio de 2022

Passeio Sénior 2022

A Junta da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande vai promover no próximo dia 30 de Junho de 2022 o evento convívio designado de Passeio Sénior.

O evento decorrerá nas instalações das Caves Coimbra, em Trouxemil, na cidade do Mondego.

Os seniores com idade igual ou superior a 65 anos até à data da inscrição, reformados e inválidos, pagarão uma comparticipação de 12 euros. Os acompanhantes, com idade igual ou superior a 18 anos pagarão 22 euros.

O período de inscrições ocorre do dia 9 de Maio até 16 de Junho.

As inscrições deverão ser efectuadas no edifício da Junta em Lobão e/ou nos polos de Gião, Louredo e Guisande.

2 de maio de 2022

O valor do agradecimento


Tenho, em diversas ocasiões, contribuido com donativos para causas que me sensibilizam, pessoal, animal ou pela natureza, mas com pena por não o poder fazer mais vezes e de forma mais substancial. Todavia, mesmo que de forma simbólica, procuro fazê-lo sempre que a causa me parece honesta, justa e fundamentada. Mais recentemente, na campanha do Movimento Gaio para aquisição de um terreno na serra da Freita, para reflorestação com arborização autóctone (objectivo já conseguido). Também ali deixei o meu simbólico donativo.

Isto sem bandeiras, mas apenas para salientar que em várias dessas ocasiões em que contribuimos era expectável um agradecimento, mesmo que simples e breve, ou mesmo, vá lá, automático. Mas nem sempre há esse retorno. 

Ora o agradecimento fica sempre bem a quem pede e recebe.Não é necessário que seja público, acompanhado de fanfarra e foguetes, mas bastará que discreto e pessoal.

Por conseguinte, em alguns dos serviços de partilhas de ilustrações em que participo, recebo muitas vezes alguns donativos, a que no meio se designam por "café"; ou seja, alguém gosta do nosso trabalho, aproveita-o e de forma reconhecida pode doar um qualquer valor para "se tomar um café". Ora sempre que isso acontece, e felizmente muitas vezes, procuro sempre agradecer, mesmo que seja 50 cêntimos ou 1 euro. 

Ainda agora, a troco da imagem aqui publicada, uma ilustração muito simples como fundo (background), base decorativa para mensagens, recebi 50 euros de uma italiana. Dá para cafés para o mês todo e ainda sobra, mas naturalmente que, para mais de forma expressiva, dá gosto ser reconhecido e por isso o agradecimento é tão saboroso como a recompensa.

Infelizmente o valor do agradecimento anda pelas ruas da amargura porque enfunados com a nossa importância e com os nossos reis na barriga, somos pouco dados ao agradecimento, ao reconhecimento ao "obrigado!",ao "obrigada!, ao "parbéns!". Em contraposição, o normal é a inveja. 

Somos, no geral, uns mãos largas no que toca a distribuir inveja e ressentimentos.

Se chegou até ao fim de texto, obrigado!

29 de abril de 2022

Nota de falecimento


Faleceu António Baptista Tavares, de 84 anos (08 de Fevereiro de 1938 a 29 de Abril de 2022).

Natural de Lobão, residia no lugar de Arosa (Rua da Ponte, 1474). Lobonense mas com bastante ligação a Guisande.

O funeral será amanhã, Sáábado, dia 30 de Abril, pelas 11:00 horas, na igreja matriz de Lobão, indo no final a sepultar em jazigo de família.

Sentidos sentimentos a todos os familiares. Paz à sua alma! Que descanse em paz!

O caminho da infância perdida



Era uma vez um caminho como muitos outros, sinuoso e largo quanto baste para nele transitar o carro-de-bois, essa importante máquina de simbiose de homem e animal, que ajudou a mover montanhas, a arrotear e a lavrar campos, a transportar milho, uvas, pasto, lenha, madeira, pedra e tudo o mais que importasse à sobrevivência de quem labutava no dia a dia no campo e na floresta.

Vieram outros tempos, outras capacidades, e o difícil tornou-se fácil, o longínquo chegou-se ao perto, o estreito alargou-se e assim esse velho caminho também foi ampliado nas suas costuras e de um carro-de-bois à justinha, poderiam agora passar grandes tractores e maiores camiões.

Mas, ironia, esse alargar, vestido de uma semântica chamada progresso, afinal não serviria de nada porque os campos há muito abandonados e ocupados por uma fila de enormes pilares de betão, os pinhais e matos desprezados e entregues aos incêndios e a urbanização dos sítios estrangulada pela burocracia dos PDMs definidos nos gabinetes. 

Desse ímpeto inicial, parecia que a coisa era para ser pavimentada e assim o povo de Cimo de Vila pouparia 2 ou 3 minutos caso quisesse ir ver a bola ao Reguengo. Pela poupança e comodidade, valia o esforço e o investimento. Mas até a bola deixou de rolar e o velho caminho, agora dito novo, continuou ali inoperacional na sua largura, sem pavimento cinzento que o aplainasse, sem trânsito, sem gente de Cimo de Vila para ir à bola.

Depois, numa magestosa manhã de Primavera vieram os construtores da auto-estrada que haveria de mutilar a amazônia cá do sítio e ali ao pé do campo da bola, vazio e deserto, montaram um estaleiro. Alguém ganhou com isso, dizem. Então essa gente de capacete nas cabeças, começou, por conveniência, a usar esse velho novo caminho e para nele transitarem dezenas de camiões e maquinaria pesada, aplainaram-no e parecia um tapete de barro e saibro. 

Foi assim durante  largos meses. Na altura falava-se que como compensação, essa gente das obras iria no final dos trabalhos pavimentar o dito cujo caminho novo. O tanas! Foi usado e abusado e ao contrário de uma mulher da má vida, a quem no final se paga pelo uso, o velho caminho, fodido a valer, nada recebeu em troca para além do abandono. Em pouco tempo voltaria a ser um caminho erodido pelas águas, um depósito de lixo, onde oficinas de carros, jardineiros e empresas de construção ali cagavam à tripa farra os seus dejectos. Tudo boa gente.




Pois bem, por estes dias voltei por ali a passar e no mesmo sítio onde há bem pouco existia uma pilha de pneus e lixos de uma qualquer oficina automóvel, encontrei ali mais uma descarga de lixo, essencialmente roupas e calçado de criança, mas também brinquedos.

Para quem vê estas coisas sem poética, era apenas um monte de lixo ali deixado cobardemente por alguém a coberto do lusco-fusco ou mesmo da noite, num caminho por onde ninguém passa a não ser raposas e texugos. Mas aquele lixo era mais do que isso, era nitidamente a memória de uma qualquer infância ali despejada, sem qualquer pejo ou constrangimento. Porventura cada um daqueles brinquedos tinha uma história a contar porque usado por uma ou mais crianças. Aqueles pequenos sapatos devem ter servido aos primeiros passos e passeios pela casa ou jardim. 

Tudo ali naquela anarquia disruptiva, num universo distópico. Com um pouco de atenção por ali ainda se ouviriam os primeiros passos, titubeantes, os choros, os risos, as algazarras infantis.


Poderiam ainda ser resgatados naquele inferno alguns brinquedos, em que alguns bonecos descompostos e desarticulados pareciam gritar em socorro a pedir que os salvassem. Às suas feridas, de nada lhes valeria aquela bisnaga de Betadine também ali deixada. 

Não os pude salvar, mas sempre lá resgatei um pequeno elefante cinzento, de tromba esticada como se o seu pedido de socorro soasse como uma trombeta nos últimos dias do Apocalipse. Está agora em casa, depois de um banho de álcool. Está mais sorridente e os seus dentes mais brilhantes e os olhos mais luminosos.

Chama-se Agrelas, lembrando o sítio onde esteve às portas do desprezo de uma infãncia da qual fez parte. A vida como ela é.

Entretanto, convinha que alguém que representa a nossa incapacidade colectiva mandasse limpar aquele montão de infância destroçada. Em nome do ambiente e da decência. Mas será sempre um caso perdido porque a seguir virá mais do mesmo, porventura lixo com outras histórias a contar.

Instinto

Os julgamentos hão-de ser feitos por quem de direito. Espera-se!

Como adepto do ciclismo, sempre me pareceu que a supremacia dos atletas da W52-F.C. Porto ía para além das pernas e treino, não dando hipótese mesmo aos melhores da concorrência. Sobretudo pelos espanhóis que apesar do peso da idade pareciam reis em terras de cegos, ganhando umas atrás das outras com a facilidade de um actual Roglic ou Pogaçar.

A ver vamos, mas compreende-se a tentação desta e doutras equipas e dos seus atletas em quererem mostrar serviço, mesmo em contextos controlados e escrutinados. Os prémios, os troféus, o prestígio, valem o risco, pensarão. No fundo nada se aprendeu com casos como o do Lance Armstrong. De resto a coisa nem é exclusiva desta modalidade.

Mas percebe-se a tentação. Afinal, mesmo os simples amadores, e eu vejo-os por aí, andam todos artilhados e neles vemos o sentido de competição sempre ao rubro e as pastilhas e super gelatinas vão andando nos regimes só para se fazer boa figura. Os troféus são estampados nas redes sociais com médias, ritmos e poses. A febre generaliza-se.

Em rigor somos todos da mesma massa e como tal egocêntricos e vaidosos, sempre tentados a mostrar que o nosso pirilau é maior que o dos outros. Dizem que isto faz parte do nosso ancestral instinto, mesmo de quando não tínhamos inventado a roda.