15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

14 de agosto de 2022

António - Um homem com o perfil certo

 


Dizem-me que o António está hoje de parabéns! O António Azevedo da Conceição é dos nossos! É gente nossa! Uns chamam-lhe o Tono do David, outros o Tono Ministro, e alguns, ainda, o Tono sacristão. De facto é tudo isso mas é mais do que isso. É gente nossa, porque dos bons, daqueles que têm dedicado uma parte significativa das suas vidas, à paróquia ou freguesia, tantas vezes em detrimento da sua própria. 

Desde há muitos anos, mesmo décadas que o António faz parte da mobília da casa nas suas diferentes tarefas, mas sempre procurando dignificar a sua e nossa terra e paróquia, num compromisso quase sacerdotal, passando por diferentes párocos e diferentes tempos. E com muito resiliência pois certamente, que pelas constantes mudanças, terão sido muitos os desafios, as alterações e adaptações, e certamente que nem sempre de feição à sua forma de ver, viver e sentir a paróquia. Qualquer outro já há muito que teria dado à sola e dedicar-se apenas a si e aos seus. Mas o António tem mostrado ter o perfil certo para estas coisas de dedicação e ajuda na paróquia. 

Foi pena que não tivesse ido mais longe e poderia hoje ser um bom sacerdote ou diácono. Mas a opção de vida foi sua e a missão que escolheu, não tem sido de somenos importância. Tanto nas coisas da paróquia como na dedicação à família, no cuidado prestado aos seus pais e à irmã. Solteiro por opção e missão, casou-se com essa responsabilidade de filho e irmão e a ela tem sido fiel.

É costume dizer-se que ninguém é insubstituível, e é verdade, mas o Tono é quase desses que, como analogia numa equipa de futebol, o treinador olha para o banco de suplentes e não vê ali ninguém capaz de assegurar a sua qualidade. 

Assim, sendo, dêmos valor ao António Ministro, porque apesar de estar sempre com um ar jovem, a verdade é que já passou dos setentas, e naturalmente não andará por cá toda a vida, como de resto qualquer um de nós, e nunca devemos deixar para amanhã o que podemos fazer e dizer hoje. Por mim, mesmo que o já tenha dito, digo-o agora novamente: Obrigado, António, por servires a paróquia, naturalmente com as tuas limitações e defeitos próprios, mas com muita dedicação, dignidade e amor. 

Bem hajas!


Nota posterior:

Já depois de escrever o texto acima, que teve aqui centenas de visitas e na rede social inúmeros comentários positivos e de gratidão e apreço pelo papel do António na paróquia, estive com ele e fez-me sentir que teria preferido que nada escrevesse. Percebo e compreendo, porque o António é assim mesmo e gosta de se esquivar destes elogios públicos.

Eu compreendo, repito, a sua posição e de algum modo peço que me desculpe pelo atrevimento e alguma exposição a que o sujeitei, mas sendo no contexto da sua acção num espaço público e comunitário, que a todos diz respeito, continuo a achar que é sentido e merecido. 

De resto, excesso de humildade por vezes também nos prejudica. Tantas vezes com a nossa dedicação e esforço em prol dos outros e da comunidade, ficamos sentidos por não vermos esse esforço reconhecido e até, pelo contrário, criticado. Ora se assim é, não podemos ficar incomodados quando de algum modo sentimos que esse mesmo esforço e essa mesma dedicação, são, afinal, reconhecidos. Não podemos é ficar aborrecidos porque nos criticam ou incomodados porque nos elogiam, porque às tantas as pessoas ficam confusas ou indiferentes. A humildade é uma qualidade que devemos cultivar em nós próprios, mas sabe sempre bem sentir o carinho e reconhecimento dos outros e quando este é expresso não o podemos repudiar. É sinal de que estamos no caminho certo, a ser úteis e prestáveis à comunidade onde nos integramos. 

Face a isto, o António deve compreender que embora o não peça nem o procure, deve aceitar, sem incómodos, que os outros lhe reconheçam e agradeçam o seu trabalho na paróquia. E não é demais que o façam. 

10 de agosto de 2022

Coisas de regedores e foucinhas

Na minha pesquisa relacionada aos apontamentos sobre os regedores em Guisande, que como já confidenciei por aqui, tenciono incluir no livro que pretendo publicar lá para o princípio do próximo ano, tenho falado com os mais velhos e escutado histórias curiosas e mesmo divertidas. Algumas serão naturalmente como os contos, em que, conforme vão sendo contadas, alguém sempre lhes acrescenta um ponto.

É claro que por razões óbvias não interessa nem importa referir nomes e os aqui usados são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, como é costume avisar. É certo que os intervenientes já partiram, mas há familiares que poderiam ficar melindrados. Mas, o mais importante, o essencial, é que fiquem registadas as particularidade deste nosso género humano, tão rico em diversidade de personalidade, do ser e do viver.

Assim, conta-se que um certo guisandense, com fama e proveito de ser amigo do alheio, apesar de ser uma alma mansa e pacífica, terá "mudado" de lugar uma certa alfaia agrícola, no caso uma foucinha, artefacto imprescindível ao corte de ervas, centeios e aveias nos campos ou mesmo corte das canas do milho  após a colheita das espigas. 

O dono, o lesado, desconfiado do larápio do costume, queixou-se ao regedor, homem austero e experimentado com as coisas da vida e conhecedor do dia-a-dia das suas "ovelhas" e suas manhas. Ora o regedor,  após o final da missa, dirigiu-se calma e pacatamente a casa do suposto subtractor. Bateu na porta fronha e logo depois, da negrura do quinteiro assomava a figura de quem procurava, no seu aspecto franzino mas vivaço.

- Ora viva, Sr. regedor! A que devo o prazer da sua visita?

- Ouve lá, ó Justo! Devolve-me a foucinha do Ti Correia, que ele amanhã vai cortar centeio e precisa dela - Ordenou em voz grave e austera.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! - respondeu o Justo num tom apaziguador procurando amansar o ar autoritário do regedor. - Mas, Sr. regedor, venha ali comigo!

Dirigiu-se a uma barraquita ao lado da capoeira e ali estavam penduradas na velha parede uma dúzia de foucinhas e outras alfaias, que mais parecia uma tenda de ferreiro na Feira dos Dezoito.

- Qual será destas, Sr. Regedor? Qual será destas? - perguntou nervosamente o Ti Justo. 

- Mas então tu não sabes a que roubaste? Achas que eu sou entendido em foucinhas e que conheço todas as foucinhas da freguesia? - ripostou o regedor, já a perder as estribeiras com aquela humilde descaradeza  do Justo.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! Deve ser esta! Deve ser esta! É mesmo esta! Até tem a marca com o nome do Correia! - respondeu com ar de entendido, enquanto pegava na foucinha, quase nova, e a devolveu ao regedor.

O regedor, habituado a estas tropelias do Justo, pegou na foucinha, virou costas, mas antes de transpor as portas fronhas, voltou-se e sentenciou! - Olha lá, não me obrigues a voltar cá por causa de foucinhas, que eu tenho mais que fazer!  Além disso, para que raio queres tu tantas foucinhas?

Respondeu-lhe o mãos levezinhas, encolhendo os ombros estreitos: - Sabe, Sr. Regedor, nestas cousas é melhor ter a mais que a menos! É! É melhor a mais que a menos! - repetiu, encolhendo novamente os ombros, justificando-se.

Fingir é preciso

É por demais conhecida a parte do poema "Autopsicografia" em que Fernando Pessoa diz que:

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

Ora este fingimento em Pessoa, que lhe é reconhecido, é mesmo para levar a sério. Senão vejamos: Desde logo o recurso aos seus heterónimos como Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares, em que cada um é uma personalidade própria.

Depois, para lá de tudo, da poética e da linguagem, um exemplo concreto desse fingimento, e dele a contradição descarada e comprovada: Como Bernardo Soares, no "Livro do Desassossego", diz que:

"Porque é bela a arte? Porque é inútil. Porque é feia a vida? Porque é toda fins, propósitos e intenções."

O mesmo Pessoa, in "Ideias Estéticas da Arte", diz que:

"Só a arte é útil. Crenças, exércitos, impérios, atitudes- tudo isso passa. Só a arte fica, por isso só a arte se vê, porque dura."

Ou seja, resumindo o fingimento, Fernando Pessoa, dá uma no cravo e outra na ferradura. Vê e julga a arte com a mesma desenvoltura e contradição filosóficas,  considerando-a agora "útil", e logo como "inútil".

Pessoa julga bem. O jogo de palavras, ideias, metáforas, sentimentos, analogias, etc, etc, não tem que brotar do real sentimento do poeta nem da sua coerência. Se assim fosse, era um desgraçado à deriva num mar revolto em constante turbilhão de sentimentos e emoções. 

Fingir, pois, é preciso!

9 de agosto de 2022

A capela do Viso e outras memórias


Costumo dizer que, até ter casado, eu não ia à Festa do Viso; eu estava na Festa do Viso, já que ali nasci e cresci, mesmo encostadinho à capela e ao arraial. Por conseguinte, são muitas e remotas as memórias ligadas à festa, àquele bonito lugar e aos pormenores e singularidades de outros tempos, que naturalmente foram mudando com o correr dos anos. A própria fotografia, acima, de 1969, evidencia algumas coisas mudadas, sobretudo as árvores, as acácias, que já desapareceram.

A capela, é certo, continua imutável no mesmo sítio, desde que foi edificada por 1869, mas também ela foi sofrendo obras, sobretudo de conservação, umas mais ligeiras, outras mais profundas. Estas, as mais significativas, do que tenho memória ocorrerem em 1969, à passagem do centenário da edificação, com obras de decoração interiores, de trolharia, carpintaria, pintura e douramento os altares, requalificação do tecto e aplicação de azulejo na fachada principal incluindo o revestimento da fachada princiapl com azulejos em tom creme e integrando painéis das figuras da Senhora da Boa Fortuna e de Santo António, e ainda a construção do arco sineiro. 

Mas também, quanto a obras profundas, mesmo estruturais, mais tarde, em 2003, foi feita a requalificação ou mesmo substituição total da cobertura e destapamento do pavimento em soalho ficando com o interessante pavimento original em lajes de pedra do Monte de Mó. Ainda a reformulação do coro e construção de escada interior, facilitando o serviço. De registar melhoramentos como a instalação de bancos, a colocação do relógio com amplificação, etc.

Depois disso foram sendo dadas umas pinturas ligeiras, ainda o levantamento do arco sineiro para acomodar o automatismo dos toques, mas o certo é que neste momento a capela está de novo a precisar de obras de conservação, sobretudo ao nível das vedações na cobertura e nos rebocos interiores, que se apresentam vergonhosamente em mau estado e aspecto.

Para além das intervenções na capela propriamente ditas, ao longo dos anos, também a sua envolvente foi sendo mexida, com a realização de passeio cimentado e uma parte em calçada de pedrinha de calcário e basalto, mas certo é que ainda continua sem dispor de uma envolvência requalificada com uniformidade e dignidade. É um caminho que falta percorrer.

Ate mesmo o próprio monte ou arraial, depois das obras de transformação durante os anos 90 e seguintes, continua ainda a carecer de melhoramentos. A calçada frontal à capela e guias delimitadoras estão em mau estado, sobretudo decorrente do crescimento das árvores e respectivas raízes. Ainda o parque de merendas que continua bruto e com desorganização de árvores e arbustos. Enfim, não faltam motivos e pretextos para realizar obras de requalificação e melhoramentos. Haja o que não tem havido, vontade e dinheiro.

Ainda sobre a capela, sua construção e obras que foram sendo feitas ao longo da sua existência, não há nada de documental ou escrito sobre isso e que o possa comprovar, mas por uma série de indícios, acredito que é possível que a parte onde se desenvolve a sacristia, do lado, poente, foi um acrescento à configuração original, por isso acrescentada passados uns anos. Assenta esta minha hipótese pelo facto deste elemento ter molduras dos vãos exteriores com diferenças notórias bem como ainda a sua cobertura original ser formada por laje em cimento ao passo que os dois corpos principais da capela, a nave principal e a capela-mor foram realizados com estrutura em madeira. Por outro lado este elemento parece não respeitar a configuração simétrica dos corpos principais.

Importa também acrescentar que há outros elementos que não foram edificados aquando da construção original. Por exemplo, o púlpito, integrado do lado norte, tem a data de 1907, o que comprova que foi acrescentado passados trinta e oito anos da data original que foi em 1869, esta inscrita sob o arco-cruzeiro.

Também a sineta, como já falamos por aqui, originalmente não estava na posição onde agora se encontra. A sinete foi moldada e instalada no ano de 1874, por isso volvidos cinco anos da construção da capela. E foi instalada sensivelmente a meio do telhado, sendo accionada manualmente por  um sistema de arames a partir da parte da sacristia que dá apoio à Comissão de Festas. Apenas aquando das obras de 1969 é que foi construído o actual arco encimado por uma cruz e onde foi então mudada a sineta e, numa opção lamentável, foi pintada num tom vermelho carmim, no que lhe retirou qualidade na vibração, por isso com um toque choco. Ainda mais tarde, em 2016, esse arco foi levantado  de modo a que fosse instalado o sistema de toque mecânico.

Já pelos anos 70, ao arco sineiro foram afixadas umas três cornetas (altifalantes) para propagar o toque do relógio então instalado na sacristia, o qual ainda hoje funciona. Actualmente já não fará sentido o funcionamento e a função de tal relógio, que bate a cada quarto de hora, bem como as cornetas que são apêndices que desfeiam o arco sineiro, mas por lá vão estando.

Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.



Sineta com a data de 1874 e as iniciais NSBF - G (Nossa Senhora da Boa Fortuna - Guisande)



Sineta com o sistema de accionamento mecanizado



Foto com a sineta pintada (obras de 1969)


Aspecto da capela aquando do início das obras de 2003



Aspecto da capela (vista nascente) depois das obras de 2003



O Dino Meira


Quem não conheceu o Dino Meira? Não é uma pergunta de retórica. Na realidade o Dino, de Armandino Marques Meira, nascido em Espinho em 11 de Setembro de 1940, e que faleceu inesperadamente em 11 de Novembro de 1993, vítima de um enfarte de miocárdio, foi um dos bons cantores de música ligeira portuguesa. 

Bons temas, boa voz, excelente sonoridade e harmonia. Teve grandes êxitos que ainda hoje ecoam no ouvido de muitos portugueses e sobretudo de emigrantes, já que recorrentemente cantava as particularidades de quem vivia e trabalhava por esse mundo fora, sobretudo a saudade, o regresso e as dificuldades do quotidiano.

"Zum Zum Zum", "O Homem Vestido de Branco", "Mariana","Meu Querido Mês de Agosto", "Helena", "Voltei" e tantos outros temas que ainda andam por aí em cassetes e CD´s consagraram o Dino Meira como um dos grandes nomes do género. 

Fosse vivo, e para estar in ou cool, teria que cultivar uma imagem mais candy, mais modernaça, com tshirts e camisas estampadas e com crista no cabelo, o que seria difícil com a sua caracolada, e mesmo depilar a laser aquele tapete persa no peito e a envolver os mamilos, mas acredito que ainda continuaria a cantar boas canções, mesmo que sem as muletas do padre, do sacristão e dos bailaricos de verão nas aldeias, como o faz o já velhinho jovem José Malhoa. 

Neste "Meu Querido Mês de Agosto", é justo evocar a figura e canções do Dino Meira, que deixou muitas saudades.

Trocava de bom grado o Dino Meira pelos 4 Mens, logo na última noitada da Festa do Viso, mas à falta do Dino, lá terá que ser. 

Que descanse em paz o Dino!

Festa do Viso 2022 - Momentos - Tapete de flores


Em certa medida, e como analogia, uma Festa, como a nossa, é como um restaurante. Chegamos à mesa reservada, o ambiente está quentinho ou fresquinho conforme faça frio ou calor, somos bem atendidos, petiscamos e depois o consolo de um excelente assado ou um bacalhau generoso, logo rematados com uma deliciosa sobremesa e café. 

Pagamos e, satisfeitos, vamos a bater com a mão na barriga para outras paragens. 

Mas para isso, por detrás da cortina desse palco, há azáfama, antes, durante e depois, com gente que trabalha, na logística, na despensa, na contabilidade, na limpeza e, obviamente, na cozinha e na serventia. 

Ora nem sempre pensamos nisso e damos como adquirido que tudo nos chega à mesa de forma automática, como numa máquina dispensadora de tabaco em que o dinheiro entre por uma ranhura e o maço sai por outra.

Assim, para uma Festa, como a nossa, há gente que organiza, comanda e se responsabiliza pelo êxito ou fracasso, mas há igualmente gente que se dedica com bairrismo a judar naqueles momentos especiais, como é ocaso, de forma particular, a preparação da passadeira ou tapete de flores, ainda a participação na procissão tranportando os andores, alfaias ou estandartes. 

O processo por mais desorganizado que seja, e infelizmente é quase sempre improvisado,  exige tarefas prévias como angariar flores e verdura, preparar e colorir serraduras, e naturalmente pedir ajuda de colaboradores.  Depois é sair mais cedo do almoço de família, e andar por ali regra geral com calor e moscas e apanhar uma valente suadela.

Posto isto, todas as pessoas envolvidas, de uma forma ou outra, merecem o nosso apreço e fazem-nos ter esperança que apesar das dificuldades crescentes, nomeadamente em nomear comissões de festas, com gente que assuma com orgulho a sua identidade, raízes e bairrismo, a nossa Festa do Viso, está aí para dar e durar.  

Oxalá que sim!