23 de dezembro de 2022

Enganem-nos, que nós gostamos

O Governo e as suas instituições são uns experts no uso de eufemismos. Fico sem saber se para se enganarem a eles próprios ou ao Zé Povinho, na filosofia do "engana-me que eu gosto".

Vejam que agora, a propósito da bagunça que se vive nos serviços de urgência do SMS na Grande Lisboa, nomeadamente nas especialidades de Ginecologia/ Obstetrícia e Bloco de Partos, saíu da cartola um plano pomposamente designado de "Nascer em Segurança no SNS", como se a supressão de serviços e encerramento de urgências, que sujeitam as grávidas a maiores deslocações e por isso a mais tempo em trânsito e riscos acrescidos, ainda assim signifique "segurança".

É a verdadeira analogia do "fazer mais com menos" ou "omoletes sem ovos". Uma renovada descoberta da pólvora e da invenção da roda.

Pensarão eles que com estas espertezas ficamos todos "seguros".

Só mesmo este tempo natalício para nos dar alguma paciência.

22 de dezembro de 2022

Sentidos

Não sei o que em mim falha

Que os sentidos se trocam

Numa percepção baralhada.

Vejo-te com os olhos cerrados,

Saboreio o picante do teu olhar,

Escuto o calor do teu corpo,

E acaricio o som da tua voz.

Apesar disso, sinto-te toda,

Plenamente desvendada,

Porque os meus sentidos,

Todos num e cada um em todos

Para ti convergem

E em ti e de ti  se inundam.

21 de dezembro de 2022

Natal 2022

 


Vaidades

Deixem de lado essas vossas vãs vaidades,

Por feitos que pouco a tão poucos vale;

Sejam tão simplesmente alma e emoção.

Esvaziem essas ocas frivolidades

Próprias de quem quer todos e tudo igual

Num ego inflamado, cheio como balão.

20 de dezembro de 2022

Requalificação do Monte do Viso - Esclarecimento

Tomei conhecimento que no decurso da Assembleia da nossa União de Freguesias, realizada no passado dia 29 de Setembro pelas 21:00 na Casa da Cultura de Gião, relativamente às previsões de obras para a freguesia de Guisande, o Sr. presidente da Junta informou os presentes ter já articulado comigo a partilha do projecto de requalificação do Monte do Viso, para que, faseadamente, seja possível avançar com obras neste nosso emblemático espaço.

Em bom rigor, sobre este assunto e tendo eu sido mencionado, importa esclarecer que é verdade que o presidente da Junta, Sr. David Neves falou comigo sobre o assunto, interessadamente mas de forma muito informal, questionando-me sobre o tal plano ou projecto do tempo em que fiz parte da Junta da União. Sobre isso, apenas disse-lhe que de facto fez parte do programa da lista pela qual concorria, a requalificação do espaço do lado norte da capela, designado de parque de merendas. 

Depois de vencidas as eleições, e como era uma obra que importava fazer, o então presidente da Junta terá solicitado aos serviços da Câmara para elaborar o projecto ou plano. Certo é que eu quando o questionava sobre o desenvolvimento do mesmo,  era referido que ainda não havia resultados. E nunca houve em todo o mandato.

Do mesmo modo, reuniram-se condições para o alargamento da Rua de Santo António na parte nascente do arraial até ao entroncamento com a Rua do Caminho Novo, tendo sido colhidas as autorizações e documentos dos proprietários confinantes. Supostamente o assunto foi encaminhado para protocolo com a Câmara Municipal mas certo é que nada foi realizado nesse mandato (2104/2017) e no mandato seguinte não foi dada continuação e nada foi feito. E com pena, pois o melhoramento seria importante, já que a actual rua é bastante estreita, o que dificulta o trânsito sobretudo em dias de eventos no Monte do Viso.

Em face disso, para meu natural desapontamento porque ambas as propostas (a da requalificação e a do alargamento) tinham sido minhas, nunca cheguei a ver começado ou acabado tal projecto ou plano, nem as obras se realizaram. De resto, esta situação, este desinteresse e incapacidade, quer da Câmara, quer da minha Junta, a par de outras, fizeram com que pusesse de lado qualquer possibilidade de recandidatura. Há princípios que devem valer.

Por conseguinte, do que os serviços da Câmara fizeram ou não quanto ao projecto ou plano para o Monte do Viso, desconheço em absoluto.

Em todo o caso, enalteço o interesse demonstrado pelo Sr. presidente da Junta em querer retomar este assunto esperando que, seja lá com que plano ou projecto, algo se venha a fazer como requalificação do Monte do Viso, nomeadamente na envolvente da capela e do tal parque de merendas.

O Sr. presidente mostrou ainda interesse em que eu próprio apresentasse ideias, já que admitia que a depender da colaboração da Câmara a coisa será muito demorada.

Em resumo, não tenho nem conheço, pois, qualquer plano ou projecto desenvolvido durante o mandato em que fiz parte do executivo (2014/2017), bem como, ao simpático repto do Sr. presidente, prefiro que o mesmo seja desenvolvido por técnicos competentes e da área. Certamente que, se for caso disso, estarei disponível para ajudar e dar algumas ideias, obviamente que sem qualquer contrapartida, mas acima de tudo espero que se encontre uma solução que dignifique o local e que, mais do que isso, a obra se faça porque o local é merecedor. Estou certo e confio que esta Junta lhe dará a devida atenção.

Vazio



Não! Talvez já não valha a pena

Esperar do homem epifanias

Que o levem a mais humanidade;

Foi-se a esperança na última cena,

Sala e cadeiras ficaram vazias;

E nada sobrou dessa veleidade.


O poeta assim não sente remorsos

Porque o homem já não o inspira,

Sombrio jardim onde nada medra;

Lamenta-se, vencido de esforços

Por ver na alma, cheia de mentira,

Menos poesia do que numa pedra.

19 de dezembro de 2022

E a Argentina venceu


Pouco tempo dediquei ao Campeonato Mundial de Futebol no Qatar. E no que toca a assistir aos jogos, menos tempo ainda. Mesmo de Portugal terei visto pouco mais que os resumos. Mas do que pouco que fui vendo, e é impossível fugir disto porque por estes dias a comunicação social não falou doutra coisa, fico com algumas opiniões, porque apenas minhas: 

A Argentina foi uma justa merecedora do título apesar do arranque desastroso com uma derrota frente à Arábia Saudita. Messi teve o mais que merecido coroamento como o melhor jogador do mundo, ou lá o que isso queira significar. No jogo da final, depois de ter dominado completamente a França durante quase todo o jogo, não havia ao necessidade ao Scaloni mexer na equipa retirando um Di Maria inspirado, e com isso dar fôlego aos bleus e logo através de um penalti ter permitido que os gauleses entrassem num jogo que estava perdido. Mesmo depois no prolongamento, novamente na frente, lá concedeu uma segunda vez  um outro penalti. Verdade se diga, indo para o desempate por penaltis, seria quase injusto que a França vencesse a competição através deles, dos penalties. Era sorte a mais.

Quanto a Portugal, uma participação sem história, sucumbindo nos quartos à "potência" do futebol mundial, Marrocos. A sortezinha, um coelho na cartola, a protecção dos deuses e o alinhamento dos astros que se verificou no Europeu de 2016, não se repetiu e sem honra nem glória, a selecção de Ronaldo e mais o resto, lá regressou com o rabinho entre as pernas. Dizem agora que o Fernando Santos finalmente vai dar o lugar a outro e que Ronaldo, amuado como é seu timbre, ainda não se manifestou. 

Ronaldo, um fantástico futebolista, e que acredito que é um bom ser humano, enquanto figura da indústria do futebol, não tem tido personalidade à altura e esta sua fase final tem sido mal gerida como que a tentar enganar o destino de que tudo tem um fim. Durante todo o tempo no Qatar, foi sempre a figura principal mas não pelos melhores motivos. De resto, a famosa entrevista na véspera só veio dar espaço para essa instabilidade. Já poderia ter saído pela porta grande da sua fantástica carreira, mas em vez disso considera-se ainda um deus sol com vinte anos onde tudo à sua volta deve gravitar. Não é assim e por isso vai perdendo pontos e dando motivos a quem o critica no seu estilo egoncêntrico.

No fim de tudo, foi quase um Mundial atípico, desde logo pela sua atribuição ao Qatar num processo corrupto que contribui para o descrédito destas coisas. Tudo gira em torno do dinheiro e este move montanhas. O recente caso com eurodeputados, que evidenciam um esquema de corrupção de autoridades do Qatar, é apenas mais uma certeza quanto à forma como as coisas funcionam. O dinheiro ainda continua a valer. No caso, perde o futebol, mas em rigor pouca mossa faz à indústria porque para além de uns arrebates de consciência marcados pela filosofia do politicamente correcto, na realidade tudo continua a rolar como se nada fosse e todos compareceram à competição, com mais ou menos simbolismos de protesto.

É este um futebol com selecções que já há muito deixaram de ser nacionais e que não passam de uma reuniões de jogadores onde a questão de nacionalidade já pouco diz. Por conseguinte, quem ainda procura ver o futebol pelo seu lado menos conspurcado, mais genuíno, já há muito que perdeu as ilusões do regresso ao passado. Face a isto, já pouco sentimento desperta ver um grupo de malta bem paga a cantar, invariavelmente desafinada, o hino nacional e com a mão no peito. Tretas!

Viva la Argentina!