24 de julho de 2018

Notas pessoais

Eu sei que depois das pessoas desaparecerem do mundo dos vivos é sempre fácil cair-se no elogio fácil. Por sinceridade ou em contexto de politicamente correcto, quase todos acabamos por nos deparar com situações destas. Mas as coisas são mesmo assim.

Neste contexto, já depois de iniciado o luto com o inesperado desaparecimento do Sr. vereador da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, o Arquitecto José Manuel Oliveira, também tomo a liberdade de publicamente tecer algumas palavras e não como alguém que o conheceu e com ele conviveu com proximidade e frequência, mas apenas por contactos circunstanciais e em face de testemunhos vários, isso sim, de quem com ele foi contactando mais amiúde, pessoal ou profissionalmente no âmbito da sua actividade política e autárquica.

No âmbito profissional estive algumas, poucas, reuniões técnicas com ele enquanto vereador do urbanismo a discutir assuntos relacionados a processo de obras particulares. Dali pareceu-me sempre uma pessoa de trato fácil, conhecedora e muito objectiva e activa na solução dos problemas que se colocavam.

Politicamente, foi ele, acompanhado de outra figura do PSD concelhio, que me convidou a integrar a lista do PSD concorrente às eleições intercalares de 2014 para a Junta da União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande. A par de alguma prévia vontade de dar o meu contributo na defesa da freguesia de Guisande no contexto da futura Junta e da nova realidade administrativa, foi de facto o poder de argumentação do José Manuel que me fez reflectir e depois, não sem a habitual pressão, aceitar integrar a lista. Depois foram algumas reuniões preparatórias do programa e da campanha e uma vez mais, entre todos, destacava-se pela sua objectividade e sentido prático e demonstrando uma enorme sagacidade na leitura de todos os momentos e ritmos necessários à campanha. 

Durante os momentos em que já no âmbito da Junta contactei com ele, continuou a parecer-me muito objectivo e assertivo nas decisões e de facto destacava-se entre os parceiros e creio que todos, mesmo os mais chegados, respeitavam-no e consideravam-no como alguém com espírito de liderança e de experiência. 
Ainda no contexto da Junta ajudou a resolver e a negociar o sério imbróglio decorrente das dívidas transitadas do anterior executivo de Guisande. No geral, contribuiu positivamente para que os problemas judiciais com os empreiteiros, já em curso, fossem resolvidos e negociados com alguma vantagem para a Junta, facilitando o pagamento em prestações ou em condições bem mais favoráveis do que aquelas que acarretariam para outro cenário de esgrima judicial.

Da figura política do José Manuel Oliveira e da relação partidária e no contexto da Junta, apenas guardo alguma ligeira mágua (obviamente já sanada e esquecida) pelo facto de no momento de se decidir uma eventual recandidatura não me ter procurado pessoalmente a saber da minha posição e da minha opinião quanto ao exercício e mandato de três anos que iria terminar. Em resumo, sendo certo que a minha resposta seria a mesma, a de não me recandidatar, por manifesta desilusão com o mandato terminado e por me sentir incapaz de mudar a direcção dos acontecimentos, pela falta de poder objectivo e por um rumo de gestão muito centralista, muito longe do que eu inicialmente preconizava e pensava ser possível enveredar tendo em conta o contexto da União, a verdade é que esperava que as mesmas figuras que me convidaram três anos antes tivessem pelo menos a consideração e a objectividade de me abordar e ouvir a versão de quem esteve por dentro, até para, sendo útil, limar arestas e ajustar objectivos para a lista e campanha que iria começar. Certamente que iriam ouvir algumas das "boas". Mas não foi assim e ninguém da concelhia, incluindo o José Manuel, me procurou para saber se sim, se não, como e porquê. Por um lado ainda bem, porque assim foi mais fácil dizer não e de resto seria muito difícil dizer sim a um modelo que no meu entender falhou redondamente, pelo menos à luz do que tinham sido as minhas expectativas e as que em campanha transmiti ao eleitorado guisandense, a ponto de ter vencido com larga  maioria.

As coisas são o que são, e mais do que as pessoas devem valer os projectos e as dinâmicas e a sua predisposição para o serviço, eu entendi que em ambas um segundo mandato seria demasiado penoso pelo desenquadramento de modelo de gestão que certamente não iria mudar no essencial, embora num contexto financeiro já bem mais dasafogado. Daí, com toda a naturalidade, uma vez o dever cumprido o melhor possível, face ao eleitorado guisandense que no geral saiu defraudado com a actuação da Junta da União, ficou também o  dever e a obrigação de dar o lugar a outros e desejar que estes fizessem (façam) mais e melhor, porque no final o que é importante é o que se possa fazer pelas pessoas e não quem o possa fazer.

Com tudo isto, sendo apenas a minha simples opinião sobre o José Manuel Oliveira, creio que perdeu-se uma importante figura política e autárquica do nosso concelho e, no geral, isso tem sido e será reconhecido pelos diversos quadrantes do município. Infelizmente a vida tem de continuar e o cemitério está cheio de insubstituíveis. 

Fica a dor e o sentimento de vazio e perca para os familiares e também, acredito, para toda a estrutura do PSD local e da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, de modo particular para o seu presidente Dr. Emídio Sousa, mas a vida continua e acredito que o executivo camarário saberá encontrar uma solução de substituição mas de continuidade, fazendo ocupar o cargo certamente alguém com conhecimento e competência, e se não com muita experiência, certamente que bem assessorado.

Paz à sua alma!