18 de julho de 2018

Silêncios falados e ruídos escritos


Pelos vistos o jornal semanário "O Correio da Feira" foi contemplado com a atribuição do Prémio Gazeta – Imprensa Regional, "considerado "o maior galardão nacional para o sector da Comunicação Regional". De nossa parte, parabéns!

Na sequência, o Partido Socialista feirense propôs na última reunião de Câmara um Voto de Congratulação. Tal facto mereceu da direcção do semanário um agradecimento público (pode ser visto aqui).

Em simultâneo, e fica-se sem saber, ou talvez não, se o pretexto serviu para o puro agradecimento ou se para a critica à suposta postura de "silêncio tão ensurdecedor" da Câmara Municipal da Feira, seu presidente e vereadores da Educação e Cultura, face à distinção obtida, já que no agradecimento a crítica é "disparado" de rajada: "...se tivessem decoro e alguma decência, sentir-se-iam envergonhados, mas vergonha é um sentimento que vivenciam os livres da grave doença Partidarite, (mal que afecta todos os que cegamente priorizam determinado partido, ao compromisso assumido com os seus concidadãos.)
Se este silencio deixou desde sempre muito mal colocado o dr. Emídio Sousa, na falta de uma palavra de um gesto seu demonstrando satisfação pelo prémio atribuído a um órgão de comunicação social do Concelho a que preside, falta-nos palavras para descrever a atitude vergonhosa dos vereadores da Cultura e Educação. Mostraram que não estão à altura do historial e dos valores do Concelho, que estão muito para além das suas capacidades de avaliação e interpretação das sinergias culturais e educacionais.
O Silencio é a maior confirmação. Da mensagem transmitida por esse silêncio permitimo-nos recomendar ao vereador da cultura muita educação e à vereadora da educação muita cultura. Ao presidente da Câmara, muita Educação e Cultura, sem esquecer Cultura Democrática."

Como se vê, a crítica é contundente e não sei, de todo, se corresponde à verdade tal "silêncio" e se a existir se dele decorrem alguns comportamentos menos adequados por parte do semanário feirense relativamente à edilidade a ponto desta "ignorar" o prémio. Não sendo propriamente um Prémio Nobel, e não havendo razões de queixa por parte a Câmara, mereceria desta certamente pelo menos um voto de louvor ou de reconhecimento, ou pelo menos uma nota escrita de satisfação endereçada aos responsáveis do semanário.

Do que como cidadão e ocasional leitor vou constatando, se o jornal "Terras da Feira" em determinada altura era e foi durante muito tempo uma espécie de "voz do dono" (da Câmara), e se com as posteriores mudanças de periodicidade e de nome foi perdendo a identidade e personalidade que angariou, certo é que o "O Correio da Feira" depois de alguns solavancos na sua longa história, em tempos mais ou menos recentes ficou algo conotado com o Partido Socialista local. Isso pareceu evidente durante algum tempo. Pode-se sempre invocar, como invocou o Clube de Jornalistas  que o CF "... preza a pluralidade da abordagem noticiosa, sem abdicar da defesa e promoção dos valores regionais." mas nem todos poderão ter essa mesma leitura ou interpretação. Como talvez, suponho e especulo eu,  não tenha tido a Câmara Municipal.

Em resumo, o agradecimento de "O Correio da Feira ao Partido Socialista, travestido de crítica à Câmara Municipal,  parece-nos esta algo contundente e daí nem sei se fica bem a um jornal que se pretende isento, plural e representativo do concelho. Dar-se a estas "dores" desta forma tão agressiva, pode deixar marcas que não serão boas para as partes e podem conduzir, aí sim, a uma postura de confronto e parcialidade que não será benéfica. Como numa luta de padeiro e limpa-chaminés, ambos sairão enfarruscados/enfarinhados. Porque de um jornal independente se espera pluralidade e isenção, e mesmo o respeito para com as instituições e pessoas, e porque de uma Câmara se espera comportamentos e procedimentos de espírito democrático.

Em todo o caso, podendo daí não residir a génese de algum distanciamento, parece-nos que a imprensa escrita feirense já teve melhores dias. Todavia, penso que neste momento e de há algum tempo, o "O Correio da Feira" é de longe melhor jornal que o concorrente  "Jornal N", este um suposto herdeiro do herdeiro do Terras da Feira. Mas é apenas uma humilde opinião.

Do que conheço do Dr. Emídio Sousa, tenho-o como uma pessoa competente, dinâmica, aberta, atenta e defensora do prestígio do município e das suas pedras vivas ou de património, pelo que custa-me a acreditar que de tal "silêncio ensurdecedor" resulte de algum despeito injustificado para com a instituição "O Correio da Feira".
Todavia, mesmo que esse "silêncio" da edilidade tenha existido, por despeito, razões de queixa ou mera distracção, sendo compreensível a mágoa do CF, parece-nos, todavia, desajustada ou desproporcional a contundência da crítica feita de forma pública e plasmada em letra de forma.

Mas, como disse, é apenas a minha simples opinião, porventura desconhecedor de outros grãos de areia.