4 de setembro de 2018

Decoro nas condecorações


É certo que percebo as recepções e condecorações do Presidente da República, Dr Marcelo Rebelo de Sousa, como as que agora teve para com os atletas Nélson Évora e Inês Henriques (vencedores do triplo salto e 50 km marcha (Europeus de Atletismo - Berlim), bem como anteriormente a outros atletas e selecções.
Segundo o presidente, "Nelson Évora e Inês Henriques têm em comum talento, determinação, capacidade de luta, resistência física e psíquica, e espírito de reinvenção ilimitados. Para eles não há fronteiras inultrapassáveis, nem desafios invencíveis".
Todavia, apesar de estarmos mais ou menos todos de acordo com estes reconhecimentos públicos por parte do nosso presidente, porque merecidos e animadores das hostes, todavia, dou por mim a pensar em tantos milhares de portugueses anônimos, igualmente eles com todos os adjectivos e predicados referidos pelo Dr. Marcelo, desempregados ou vencendo precariamente ordenados mínimos, com filhos para educar e alimentar, com rendas, luz, água, telefone, medicamentos para pagar, enfim atletas dominadores de todas as acrobacias diárias necessárias a quem procura levar a vida com poucos recursos, certamente que com ordenados imensamente inferiores aos de qualquer um dos que têm sido condecorados,  mas com dignidade, sacrifício e coragem. Atletas e heróis, sem medalhas, sem hinos e mas sem tempo de antena.

Mas, claro está, estes anónimos atletas, de reinvenção ilimitada, que correm, marcham e saltam nas pistas da vida e do dia-a-dia, ganhando medalhas na prova de sobrevivência, não são convidados do Palácio de Belém nem aí recebem condecorações vistosas e elogios sumptuosos.

A vida é mesmo assim, mas mesmo que compreendendo estas situações, até porque politicamente correctas, creio que há nestas manifestações algum exagero, como se portugueses haja-os de primeira e de segunda. Não que considere que o presidente faça essa acepção, mas que os há, há.

[foto acima: JN]