8 de setembro de 2019

A(Mó)zónia


Todos estamos mais ou menos ao corrente da actualidade quanto à Amazónia, considerada um dos pulmões do planeta Terra. Num misto de ambição e ganância, desprezo pela natureza e facilitismo governamental do Brasil e países limítrofes, como a Bolívia, quiçá de âmbito criminoso, certo é que os incêndios e outros mecanismos de desflorestação, têm sido notícia e merecido um repúdio mundial mais ou menos generalizado.

Em todo o caso, salvaguardadas as devidas distâncias e proporções, um pouco por todo o mundo, um pouco por Portugal e até mesmo no nosso concelho, as "amazónias" têm vindo a ser desprezadas e desconsideradas, subjugadas quase sempre aos interesses económicos, mesmo os que ditos como públicos.

Veja-se, num exemplo meramente caseiro, o caso do Monte de Mó, que integra as freguesias de Guisande, Louredo e Romariz, uma ampla mancha florestal, rica em aspectos de fauna e flora mas genericamente ambiental, abundante em nascentes de água e regatos, que em todos os planos directores municipais tem sido classificado como espaço florestal e por isso intocável quanto a operações urbanísticas. Todavia, apesar dessa protecção, desses nobres princípios de perseveração de amplos espaços florestais, certo é que nos nossos dias tal mancha foi já em muito destroçada, sobretudo com a construção da Auto_Estrada A32, que nela provocou um enorme desequilíbrio ambiental bem como, mais recentemente, a construção e implantação da sub-estação eléctrica, em pleno coração do monte, que provocou um movimento enorme de terras, alteração da topografia, criação de áreas impermeabilizadas e um tecto electro-magnético de linhas eléctricas.

Em resumo, o Monte de Mó ou uma parte muito significativa dele teve que ser subjugado aos ditos "interesses púbicos" e aos equipamentos que ditam o progresso. É certo que de uma forma ou outra todos supostamente beneficiamos desses equipamentos ou infra-estruturas, mas de algum modo este contexto ajuda-nos a perder a inocência quanto à importância dos planos directores municipais ou outros instrumentos de gestão territorial porque na realidade só são válidos e importantes até deixarem de o ser. É fácil proibir a construção de uma simples habitação e um anexo de arrumos, mas, se for caso disso, têm via aberta uma Auto Estrada ou uma Estação Eléctrica ou qualquer outra coisa em grande.

Dizem que o progresso não se compadece com lirismos, mesmo que ambientais, mas pelo menos importará alguma reflexão quanto à importância que damos às coisas, porque na realidade, muitas das vezes, não passam de fantochadas e de um "faz de conta" permanente. A floresta, os bichos e a passarada são muito importantes mas o betão também é. Não surpreende, pois, a nível global a situação da Amazónia, ou no contexto português o previsto novo aeroporto de Lisboa em zona de enorme impacto ambiental ou, mesmo que numa pequenina, micro-escala, o nosso Monte de Mó.