29 de setembro de 2019

As faces da moeda e outras gretas


O Azevedo considera que a adolescente Greta sueca está a ser uma revolucionária dos tempos modernos e que tem marcado a diferença pelos ideais sobre a defesa do planeta contra as alterações climáticas, ralhando em altas tribunas contra os senhores do mundo, acusando-os de inacção e indiferença.

Por sua vez, o Tavares, sabe que a Suécia é terra de boas gretas e apesar de conhecer melhor a outra, encontra virtudes na Greta mais nova, e sobretudo pelo facto de ter despertado consciências, mas considera que é sobretudo um produto mediático e que interessa a gente manipuladora que a rodeiam. Passada a novidade e o impacto das redes sociais, tudo voltará à normalidade;

A Isabelina tem louvado nas redes sociais o papel do hacker Pinto, achando que o rapaz de cabelo à ouriço-cacheiro tem prestado um valioso serviço contra os corruptos e a corrupção, desvalorizando a forma e os meios como o "pirata" acedeu às informações privadas;

Por sua vez, o Resende considera que os meios não justificam os fins, sobretudo numa sociedade que valoriza e defende o direito à privacidade, seja na casa ou no computador ou telemóvel de cada um. E que a corrupção deve ser combatida com outras medidas mas nunca baseadas num crime menos criminoso.

O Rodrigues tem tecido violentas críticas contra um jogador de futebol adversário por um "arraial de porrada" por suposta "boa escola", que terá remetido um seu jogador para o lote de lesionados, esquecendo-se todavia, que esse mesmo "arruaceiro" poucos dias antes saíu de sua casa com a cabeça rebentada;

Por sua vez o Albino critica o Rodrigues e o seu clube por beneficiar de "cegueira" de um árbitro que não viu o suposto "arruaceiro" sair de cabeça rebentada com uma cotovelada adversária, aludindo à velhinha sentença de ser fácil ver um mosquito nos olhos dos outros e não sermos capazes de ver um camelo nos nossos.

O Moisés tem criticado a indústria da criação de vacas como uma das mais poluentes do planeta, e que o bicho entre o arrotar, peidar e cagar, polui mais que um automóvel, louvando a peregrina medida da Universidade de Coimbra de banir o consumo de carne de vaca. Por ele, irradiam-se as vaquinhas da Freita, do Gerês e do Barroso, mesmo que com isso se despovoem territórios interiores já quase desertos.

Já a Amélia considera que o Moisés até tem alguma razão, porque de facto é substancial o contributo dos ruminantes para o aquecimento global, mas critica-o por esquecer-se que o número de veículos em todo o mundo, mesmo em Portugal, é imensamente superior ao de número de cabeças de gado. Só em Portugal estima-se que existam 1 milhão e 500 mil ruminantes de grande porte enquanto que o número de veículos anda na ordem dos 6 milhões.

Por outro lado, o impacto da indústria automóvel não é o só o que sai do escape mas de toda a indústria produtiva associada. Para além disso, nos Estados Unidos, onde a criação de gado é industrial e massiva, bem como o consumo da respectiva carne, um estudo supostamente credível diz que se todos os americanos eliminassem totalmente o consumo de carne de vaca o impacto do efeito estufa associado reduzira no país apenas 2,6%. É alguma coisa mas obviamente insignificante.

Em resumo, em todas estas importantes questões, e outras que sejam, nem uns nem outros terão toda a razão nem nenhum deles terá a supremacia da verdade e da moral. Algures o bom senso diz que no meio é que está em virtude. O problema é mesmo o extremismo que há sempre nos dois lados, nos dois pontos de vista. Afinal uma moeda tem sempre dois lados e não é porque se atirada ao ar caír duas ou três vezes seguidas com a mesma face para cima, a outra deixa de existir.

Assim sendo, tudo é legítimo e tudo é discutível, mas dificilmente os nossos ideais, ideologias, clubismos, fanatismos ou fundamentalismos nos levarão a concordar com os outros. 

No caso da questão da actualidade quanto à necessidade urgente de concretizar medidas que pelo menos minorem os efeitos do aquecimento global, infelizmente poucos resultados darão e desde logo porque as acções nesse sentido têm que ser globais e coordenadas e não será por um pequeno país como Portugal que a coisa se salvará ou por uma universidade cortar no consumo de milhares de quilos de bifes e hamburguers, ou por uma criança se deslocar num luxuoso e caríssimo veleiro em vez de avião numa viagem da Europa a Nova Iorque.

Todos percebemos a verdadeira questão, mas esta necessidade urgente e extrema não é pólvora que tenha sido inventada por uma Greta, por mais louvável que possa ser na sua iniciativa e impacto provocado.

Mas a ver vamos, e oxalá que de facto pelo menos as consciências passem a ser outras, mais abertas, e que as futuras gerações de políticos sejam capazes de encontrar pontos de equilíbrio e sobretudo usar as boas tecnologias para reduzir ou minorar impactos da massificação da indústria e do consumo.
Seja como for, estes pontos de reflexão, são, também eles, apenas um dos lados da moeda.