24 de outubro de 2020

Iludir a ilusão

 

E nisto somos todos diferentes. De resto nisto e em tudo o mais.

No Quiosque "Aperta-me até eu gritar", no mesmo instante, o Gastão da Nanda acabava de gastar mais 10 euros numa raspadinha das grandotas (dizem que é o mestre delas) e o Carlitos comprava mais um álbum de um clássico da Banda Desenhada, gastando outro tanto e uns trocos.

O Miro do Quiosque raspou a raspadinha raspada no olho de vidro da máquina e num tom de raspanete compadecido pelo excessivo gasto, respingou: - Nada, amigo! - O Gastão, já habituado a gostar de  gastar, não gostou e resmungou: - Foda-se! - Ajustou à máscara ao nariz gordo, deu meia volta e saiu. Daqui a nada voltaria a desafiar a sorte.

Já o Carlitos, esse levou o livro para juntar à colecção que crescia quinzenalmente, como alguém a engordar sem dar por isso. Nela se delicia, não só com os boneco, a sua arte e a fantasia de tempos medievos, mas por esse pedaço de cultura, que há-de subsistir.

Mas claro, o Gastão lá continua a gastar e volta e meia até lhe saem uns bons prémios que, diga.se, volta a gastar. Porque nestas coisas do jogo, é sempre este ciclo de ilusão do "vai ser agora", em tudo idêntico ao  "ou vai ou racha ". 

Mas não há volta a dar quanto às diferenças que nos moldam. O importante, afinal, é que ambos sejamos felizes, uns nas aventuras, outros nas desventuras. No fim de contas, tudo não passa de uma mera ilusão neste teatro de  sonhos, ou pesadelos, que é a vida. Viva-se!