11 de julho de 2021

PR3 Arouca - Caminhos do Sol Nascente

 


Para uns, a terceira, para outros, a segunda e para outros ainda a primeira vez. Foi assim esta revisita ao PR3 de Arouca - Caminhos do Sol Nascente. Por coincidência, precisamente um ano depois da última vez. 

Início junto à igreja matriz de Santo Estevão em Moldes, quando o relógio batia as oito, para logo de seguida uma subida dura serpenteando sob frondosa sombra de carvalhos, castanheiros e pinheiros, num caminho que conduz até perto da aldeia de Bustelo. Ali, apesar das restrições da pandemia, alguns locais estavam em azáfama com a limpeza da capela da Senhora da Guia porque em situação normal seria o dia da Festa. Mas, se sem música e sem a parte recreativa, a tradição seria e mesma e o os fornos a lenha já se preparavam para o assado de cabrito e vitela no Domingo.

Deixamos Bustelo junto à Escola Primária, e de novo a subida que conduz à aldeia do Espinheiro, mas ainda um desvio para a descida aos recantos sombrios e frescos das ribeiras de Espinho e Roças, mesmo no sítio onde alegremente misturam as suas límpidas águas para dar lugar à caudalosa Ribeira de Moldes.

Depois, de vencida a maior parte da subida, o início da descida até à igreja de Moldes e ao ponto de partida, não sem antes o habitual lanche disposto numa pedra revestida a musgo juntinho à agua do ribeiro do Côto do Boi.

Aviado o farnel e recomeço da descida, passagens pelas bonitas aldeias de Fuste e sua capela de Santa Catarina, depois ainda Póvoa, Friães e Ribeiro. Quando chegados à igreja de Moldes, já sob um calor abrasador, tinham passado quase 5 horas, e com o sol a prometer uma tarde bem quente.

Dali, um salto de carro, já no fresco do ar condicionado, até à aldeia de Pedrógão, onde o pequeno e pitoresco restaurante familiar nos aguardava com truta da ribeira de Bouceguedim bem frita e servida de escabeche e ainda cabrito no forno, bem acompanhados com verde fresco da casa e sobremesas deliciosas como a "sopa seca" e "leite creme.

Divinal este retempero de forças e ânimo no Pedrógão, um pedaço de céu num pedaço de paraíso. Seria bom de qualquer maneira, mas depois de um trilho durinho, foi melhor ainda. A boa companhia e o salutar convívio fazem o resto e uma "receita" bem fresquinha, aviada no regresso, na esplanada à sombrinha do Café Central em Mansores, foi só para retemperar. Depois as coisas às tantas começam a ser tradição e não há como lhes fugir por mais curvas que se façam por aqueles lados.

Anyways. Esta coisa dos trilhos ou caminhadas, seja por estradas, estradões ou caminhos de cabras, é mais do que caminhar e bem mais que fotografias e partilhas nas redes sociais. É um misto de algo que se entranha e que nos leva  a perceber e a valorizar tudo o que a paisagem, humana e natural nos oferece, em que um gato pachorrento, um cão barulhento, um vaso de sardinheiras, um regato cantante, um castanheiro, carvalho ou uma simples pedra merecem bem mais atenção do que quem vai a caminhar. Nós, os caminheiros, somos meros espectadores e não é justo que as fotografias que depois partilhamos nas redes sociais sejam apenas sobre nós, como se nisto fôssemos os heróis. Não! Os protagonistas são as pedras, as árvores, as paisagens, os regatos, a natureza, humana, vegetal, animal ou mineral.

Quem não perceber isto, pode fazer trails, estourar com médias, ganhar medalhas e louros, fazer poses de campeão do tipo "olha p´ra mim", para "inglês ver", mas pouco valor terá. Na pressa temos sempre a tendência de não olhar para o lado ou até mesmo para trás e com isso deixar escapar tanta coisa. 

Cada um faça como quiser e gostar, obviamente, mas, que mais não seja, por bom senso, que não se vá ao Pedrógão pedir Coca-Cola ou torcer o nariz a uma "sopa seca" e pedir com naturalidade um gelado. Tudo tem valor e lugar e em tempos próprios, mas que não se desperdicem bolotas. Se vamos numa expedição ao Polo Norte, os calções são dispensáveis. Como diria o outro "ovelhas não são para matos".

Fica-se já à espera do próximo e será na mesma duro, ao sol e coisa  para pelo menos mais 16 Km.

Trilha-se!