4 de novembro de 2021

Narrativas...


Todos sabemos que o combate à pandemia da Covid-19 foi duro nos seus piores momentos e envolveu o empenho e dedicação de todo o sistema do Serviço Nacional de Saúde - SNS. 

Mas também sabemos, mais ou menos, quais as consequências e custos dessa dedicação quase exclusiva. Desde logo o aumento significativo da taxa de mortalidade quando comparada com anos anteriores, mesmo descontando os casos relacionados aos efeitos da Covid-19. Por outro lado, a ter em conta outros dados, nomeadamente os que por estes dias foram divulgados pela imprensa, conclui-se que quase 14 milhões de consultas ficaram por realizar no SNS devido à pandemia e mais de quatro mil cancros terão ficado por diagnosticar.

Estes dados com origem no Movimento Saúde em Dia, que inclui a Ordem dos Médicos e a Associação de Administradores Hospitalares, revelam que terão ficado por realizar 13,9 milhões de consultas nos centros de saúde. Desses elementos, o indicador mais preocupante é o das urgências, estimando-se que tenham ficado por fazer mais de 1,6 milhões diagnósticos de doentes considerados urgentes.

Ou seja, não restam dúvidas que para combater um mal, o SNS por ordens e directivas da tutela governamental, descurou todo o resto. Apesar disso, desde os primóridos da pandemia, em que se jurava que o SNS estava preparado, a narrativa do Governo e da sua Ministra da Saúde gira sempre em torno de exaltar a capacidade do Serviço Nacional de Saúde e da sua resiliência.

Mas pergunta-se: Que resiliência e capacidade, quando todo o resto foi descurado com um agravamento brutal das condições de saúde dos portugueses. Os números do que não foi feito, deixado de fazer ou adiado, são impressionantes e conduzem necessariamente a uma ilacção lógica de que evitaram-se muitas mortes pelo combate à pandemia, é certo, mas imensamente mais aconteceram pela tal opção de exclusividade.pelo que deixou de ser feito. Quando se conclui que mais de 1,6 milhões de diagnósticos de doentes considerados urgentes tenham ficado por fazer, parece claro quanto ao desfecho, como agravamento das morbilidades e, infelizmente, as mortes por não ser possível essa despistagem e o tratamento. Mas, cá está, essas mortes não são divulgadas diariamente e para o Governo parecem não contar para o totobola e são apenas números e estatísticas, atribuindo-se às mesmas causas naturais, ondas de calor, ondas de frio, etc. Tudo menos pelo descalabro do SNS.

Assim, andamos todos para aqui a papar narrativas de que o SNS está em perfeita saúde e funciona exemplarmente, quando está mais que claro que a realidade é bem mais negra. De resto os recentes casos de demissão de directores clínicos em vários hospitais, agastados com as recorrentes faltas de meios humanos e técnicos é sintomático da falta de saúde do sistema de Saúde. Por outro lado, esta aversão da esquerda extremista às parcerias com os serviços privados na área da saúde, de resto como à de todos os sectores, também não ajuda, sobretudo em rempos em que todos os recursos, públicos ou privados são poucos.

Em tudo isto, e é apenas a minha opinião, há que conseguir equilíbrios entre o execesso de uma visão ultra liberal e um extremismo fundamentalista que defende o controlo total do Estado sobre as diferentes áreas, nomeadamente sobre as Saúde, Educação e Transportes.