21 de dezembro de 2021

Das Caldas a Paiva, alguma raiva





Pela nossa vizinha Caldas de S. Jorge, não é de agora algum alvoroço a propósito das obras de transformação do Parque das Termas. Da inevitabilidade dos transtornos das obras e da necessidade de se ir de jipe ou de carro-de-bois ao "Lavrador"  comer umas pataniscas, estourou agora outra bomba com o abate, que dizem “à socapa" de um belo e imponente carvalho, que há décadas ali morava a dar fresca sombra ao busto do saudoso médico da terra, apertado num abraço de alvenaria e ocupando meio passeio num tom de fanfarrão. No fundo, o carvalho cometeu o crime de crescer e de ser ele próprio. Terá morrido de pé, mas despido.

Do que li, sobretudo do lamento de um conhecido e ilustre filho da terra, viajado e conhecedor de culturas em que o respeito pela natureza é religião, a crítica saiu dura, contundente para os "responsáveis" e para os súbditos, numa apreciação que não se devia generalizar mas que que de alguma forma, quase literária, pretende ser um "soco" nas consciências dos seus". Ninguém, nem mesmo o Scooby Doo e o seu dono, gostam de ser mimoseados de "cobardes", mas há terapias que só lá vão de choque.

Adiante. Quanto ao busilis da questão, o projecto e as obras do Parque das Termas e do que delas sairá, teria que ser fracturante até porque é lugar comum que as mudanças implicam sempre o desconforto pela perda do que é dado como adquirido. Mas sim, parece-me que, e não sei de que moda, tendência ou escola, o que vai vigorando nos espaços públicos tido como centrais e emblemáticos, é um certo exagero minimalista onde o pavimento de granito é rei e tapete para todo o pé. Deixemos o Parque das Caldas, até porque ainda não vi a ponta do véu do projecto, mas veja-se o que aconteceu no Jardim ou Largo do Conde de Castelo de Paiva, em que as tílias ali existentes que adocicavam o calor no estio, foram varridas para dar lugar ao espaço aberto, agora uma espécie de painel fotovoltaico capaz de estrelar ovos em dias de quentura. Como num poio de comida gourmet, por desfastio polvilharam a coisa com umas ervinhas aromáticas e uns arbustinhos minimalistas.

Porventura os paivenses terão a coisa que merecem, ou talvez não e gostem da mudança, pelo que ainda não li reacções, mas que a coisa no geral vai indo neste sentido, vai. Ora nesta onda de espaços abertos delineados e pavimentos com granito não há lugar para carvalhos, plátanos ou tílias. Quando muito, uns pintelhos por aqui e por ali.