16 de janeiro de 2022

A ceifa do tempo

 


Seja maldita esta verdade assim nua,

Mas a minha aldeia já não é o que foi;

Já não lhe rasgam leiras, arado ou charrua,

Esventrando-lhe a leiva o possante boi.


Aplanaram-se-lhe os caminhos fundos,

Alargaram-se-lhe as estreitas veredas;

Foram-se as gentes para outros mundos,

Já não há palha nem dela as medas.


Remexendo na distância das histórias

O sopro do tempo chegou em vendaval,

Dispersando a poeira das memórias

E para sempre nada mais deixou igual.


O tempo, esse ceifador de rosto antigo,

Devastou, insano, searas de fecundidade,

Colheu, indiferente, pasto, joio e trigo

E vive, agora, farto para a eternidade.


A.Almeida - 16012022