20 de julho de 2022

Apelo ao bufismo


Vi e li pelas redes sociais, os dados informativos de como comunicar à GNR situações de terrenos por limpar. Há até um formulário que pode ser preenchido no endereço facultado pela GNR.

Também por email: sepna@gnr.pt ou por telefone: 808200520. Pode ainda, naturalmente, ser feito o reporte via presencial em qualquer posto.

Apesar de tudo, convenhamos, é um apelo um pouco estranho, pois, sobretudo à face dos arruamentos públicos, as situações que podem ser consideradas como desrespeitadoras, são por mais evidentes e qualquer agente da guarda, dando uma voltinha pelas freguesias, pode tomar notas. Diz o povo que "pior cego é aquele que não quer ver". Só em Guisande são dezenas de situações flagrantes. Por conseguinte, pedir ou incentivar às pessoas que façam o trabalho das autoridades é questionável. 

Bem sei que está em causa um acto de cidadania quanto a um assunto que interessa a todos, mas há coisas que não se devem misturar, nomeadamente as competências que cabem às autoridades, como é a da fiscalização. Incentivar as pessoas a fazerem queixa de outras e de vizinhos, não é muito cultural  pois ninguém gosta de ser apelidado de bufo.

Sabemos todos que há má vizinhança sempre disposta a fazer queixas e queixinhas, por tudo e por nada, mas no geral ainda vamos vivendo na filosofia de que não devemos querer o mal do vizinho. Assim, não sei se este apelo à denúncia trará grandes resultados.

Ademais, convém ter em conta que vi propriedades a serem limpas em Fevereiro ou Março e que já estão com aspecto de falta de limpeza. Mesmo as nossas valetas já têm ervas de metro, ultrapassando os ridículos 20 cm legislados. Podemos, pois, estar a reportar injustamente. Isto de ser fiscal pro bono, tem que se lhe diga.

Por outro lado, perante as notícias diárias dos incêndios, muitos e devastadores, ameaçando constantemente aldeias, levando já à morte de pessoas e gente do combate, importará perguntar: Mas então, as obrigações de limpezas e os respectivos custos para os proprietários, que frutos estão a dar na diminuição dos incêndios e dos perigos para as aldeias, pessoas, animais e bens? Pelo que se vai vendo, a resposta vai no sentido de pouco ou nada. 

Retomando o assunto, importará, sim, que se salvaguardem as limpezas junto às habitações e aldeias, impedindo manchas densas de arvoredo sobre as estradas e habitações, mas que, igualmente, se tenha em conta as dificuldades das pessoas e dos proprietários, tantas vezes sem capacidade económica de limpar ou mandar limpar terrenos que não lhes garantem qualquer rendimento. Também ter em conta as características das nossas florestas em que se limpando em Fevereiro ou Março nos meses de Verão já têm uma camada densa de fetos, mato e ervas. Ora quando seria mais útil limpar, é precisamente quando as pessoas estão proibidas de o fazer.

Por conseguinte, antes do apelo aos "bufos", importará aplicar políticas ajustadas, sensatas, equilibradas e apoiadas. Sem isso, com mais ou menos queixas, com mais ou menos multas, as coisas vão continuar mais ou menos iguais: Milhares de hectares a arder, aldeias em perigo, casas queimadas animais e gente a morrer. Os telejornais a abrir e a fechar com incêndios, os políticos sempre com boas desculpas e desculpados e milhares e milhões gastos em pessoal, aviões e helicópteros a largar água, em vez de na prevenção e incentivo às limpezas. Os criminosos esses continuam a ser detidos e soltos em vez de serem controlados com pulseiras electrónicas ou mandados de férias para o Polo Norte.

[foto: RTP]