8 de agosto de 2022

O beliscar de direitos - Importa reflectir

O incidente registado há dias na zona onde decorre o evento Viagem Medieval, em Santa Maria da Feira, para além do contexto em que ocorreu e do injustificado e condenável incumprimento das ordem e orientações da autoridade, por parte de um morador, que irrompeu pelo espaço com a sua vistosa viatura, colocando em perigo e segurança física dos agentes e visitantes, deixa, contudo, a meu ver, uma oportunidade para reflectir sobre a coisa.

Em rigor, durante o longo período em que ali ocorre o evento, as pessoas são literalmente impedidas de aceder e circular num espaço que é público. Os moradores têm livre trânsito, era só o que faltava que não tivessem, mas ainda assim com os naturais inconvenientes e restrições. E não é de somenos importância.

Em suma, eu cidadão livre, estou impedido de aceder e circular num espaço público, não a pretexto de um qualquer motivo maior, mas simplesmente porque ali ocorre um evento de entretenimento.

Em situações normais, estes eventos, nomeadamente pela sua duração e massificação de visitantes, deveria decorrer em recinto próprio, como um qualquer parque de diversões. Mas aqui, não. O parque é o centro histórico de uma cidade onde todos deveriam e poderiam circular livremente, sem pulseiras ou sem cobrança de bilhetes.

Mas não é assim e não tem sido assim e por isso lá vamos andado feridos de um direito constitucional de poder circular livremente no espaço público. E no geral achamos isto perfeitamente normal, legítimo e justificado. Quem se levantar a dar opinião contrária, corre riscos de ser atacado como ave rara.

Mesmo que a não frequente nem a aprecie para além do seu valor intrínseco, compreendo e também não me custa a aceitar a génese da coisa, mesmo que pela sempre propalada importância económica, mesmo que o dinheiro não justifique tudo e mais alguma coisa, mas, como seres pensantes, importará sempre reflectir e questionar quando está em causa o beslicar dos nossos mais elementares direitos. Aceitar que o façam de ânimo leve pode ser perigoso e o caminho para uma extrapolação fica mais aplanado. Quando dermos por ela, estamos a ser comidos de cebolada. Ora o estado das coisas, nomeadamente no contexto da pandemia, já mostrou que a limitação e castração de elementares direitos tem sido fácil de aplicar, porque no geral tudo aceitamos como mansos cordeiros. Quem se opõe e se manifesta é crucificado como negacionista, radical e fundamentalista. No fundo é com estas sementes que crescem os regimes controladores.

Haja, pois, sempre bom senso e que não percamos o sentido crítico das coisas mesmo que isso nos possa custar.

Quanto ao resto, nada vai mudar e porventura a tendência será alargar o tempo do evento, quando na maioria das cidades e vilas este tipo de eventos ocorrem apenas em 3 ou 4 dias, num fim-de-semana, o que já parece razoável quanto à limitação de acessoa ao espaço público. 

Por aqui a coisa é interminável e como as pilhas de uma certa marca, dura, e dura e dura.