19 de janeiro de 2023

Sinais dos tempos e sol na eira e chuva no nabal

No alto do pedestal da minha idade, creio que já me é permitdo fazer comparações entre estes novos tempos e os tempos passados que já somam mais de meio século. Mas antes das minhas memórias e testemunhos, naturalmente que as dos nossos pais, avós e bisavós. Na realidade conheci e convivi pelo menos com a minha bisavó materna.

Dessas memórias na primeira pessoa e dos testemunhos das mais velhas, o tempo, o clima, em rigor foram sempre assim: Chovia, fazia sol, estava frio, caía neve, granizo e geada. Os verões eram quentes e secos, os invernos frios, ventosos e molhados, tal como seria normal ser. Tudo era aceite e compreendido como uma mera e incondicional normalidade, mesmo que já houvesse extremos, como vagas de calor e secas, vagas de chuva e inundações. Meteorologia quase não existia e quando aparecia na televisão, no tempo dela, um soturno Antímio de Azevedo a mostrar e a explicar nuns toscos mapas desenhados à mão em quadros de lousa, as temperaturas, a velocidade do vento e a altura das ondas do mar, poucos percebiam do que estava a falar e, mais do que isso, em rigor essas explicações não serviriam de nada porque se há coisa que nunca o homem pode mudar foi o clima. 

Dizem, agora, que o clima está mudado pelo homem e coisa e tal e que há aquecimento global, os polos estão a derreter, os oceanos vão subir e inundar cidades costeiras e muitas espécies de animais vão desaparecer, etc, etc.

É certo que há nisso muita verdade e que a não devemos ignorar, mas desde os primórdios dos tempos que o planeta Terra começou a aglutinar-se e a girar em redor do Sol, tudo tem sido dinâmico e transformador, e dizem os cientistas que leem nas rochas, que já tivemos diferentes eras, algumas glaciares. 

Para além disso, mesmo nos nossos tempos, as forças da natureza, nomeadamente os terramotos e os  vulcões, continuam com a acapacidade de destruir e transformar. Por outro lado a Terra, tal como no passado, é um alvo potencial de receber em queda  asteróides e outros elementos sólidos que vagueiam pelo profundo espaço ou mesmo das acções das tempestadas solares que só não nos são fatais devido aos campos elctromagnéticos gerados pelo nosso planeta em rotação.

Ou seja, o homem, pelo seu processo de evolução, tem contribuído para alterar alguns equilíbrios mais ou menos tidos como naturais, mas em rigor a Terra sempre esteve e estará condicionada a eventos que de todo não dependem do homem mas apenas da sua dinâmica física, química e de relação com o espaço sideral onde gravita. Além do mais, dizem novamente os cientistas, daqui a uns muitos largos milhões de anos acabará mesmo por ser incinerada quando o Sol estiver nos seus últimos tempos e expandir-se na forma de uma estrela gigante vermelha, engolindo o nosso planeta azul. Dos vivos ninguém estará cá para testemunhar.

Com tudo isto para dizer que, porventura, o muito que se diz e apregoa acerca das alterações climáticas e do aquecimento global nem é tanto ao mar nem tanto á terra, isto é, há verdades confirmadas mas igualmente um nítido exagero porque as nossas acções comparadas com as da própria natureza são de facto insignificantes. Bastará que sobre a terra caia um asteróide do tamanho daqueles que dizem que extinguiu os dinossauros para que a Terra volte a conhecer tempos trágicos de escuridão, gelo, fome e miséria. Ou então, que entre em acção um super vulcão como dizem que é o de Yellowstone, nos Estados Unidos, para o planeta ficar novamente de candeias às avessas. E dizem que vai mesmo acontecer, faltando saber quando. Dizem que pode ser amanhã, daqui a um ano, dez, cem ou milhares de anos ou bem mais. Portanto, o que temos como certo é a incerteza.

Mas é claro que nos dias de hoje as coisas do clima e do tempo que faz em cada região do planeta ou mesmo em cada localidade do nosso país, é tudo muito esmiuçado. Dão-se nomes às tempestades, contam-se as vagas de calor e frio, informa-se se vai estar frio ou calor, emitem-se avisos de cores quentes por tudo e por nada, que mais não seja para as pessoas não se aproximarem da praia quando o tempo vai revolto, como se necessário fosse tal aviso. Por conseguinte, tanto ênfase damos a estas coisas, de uma forma tão exarcebada e constante que em rigor estamos sempre sobre um constante estado de alerta, seja porque faz sol, chuva ou coisa nenhuma.

Sinais dos tempos. Bem estavam os mais antigos que viam nestas coisas do clima e do tempo uma mera normalidade, sabendo pelos sinais da natureza se iria chover, dar sol ou cair neve, mesmo que desejassem sol na eira e chuva no nabal e nem que para isso tivessem que fazer promessas aos seus melhores santos e santas.