Assisti ontem, na RTP2, a um interessante documentário, "Hipermercados: A Queda do Império", do original "Mass-Market Retailing: The End of a System?".
Amazon, Walmart e outros gigantes da web estão a sufocar o mercado de distribuição usando algoritmos e reduzindo os seus funcionários. Qual é o futuro do mercado de massa?
Os poucos fornecedores que se atrevem a prestar declarações evocam um clima de ameaça permanente, métodos mafiosos, redes organizadas imaginadas por engenhosos advogados de grandes marcas.
Na França, o mundo agrícola está em crise assim como a indústria agro-alimentar. A Walmart viu um declínio nas vendas nos últimos anos, o Carrefour anuncia a perda de vários milhares de empregos. As mudanças nos padrões de consumo e a chegada de gigantes do e-commerce como a Amazon estão a abalar o domínio desses grandes grupos que antes eram considerados inabaláveis. Conseguirão os algoritmos da Amazon colocar as mãos na distribuição em massa, criando lojas onde as equipas serão reduzidas ao mínimo?
Para além da sinopse, acima, apresentada pela RTP2 ao documentário, percebeu-se melhor o que já toda a gente, pelo menos os que têm um palmo de testa, do que resulta da actividade de muitas cadeias de distribuição, nomeadamente num "jogo sujo" destas com os fornecedores e produtores, levando-os em última análise à falência ou então a pagarem eles uma substancial parte dos seus lucros e dos seus investimentos. O esquema deplorável e vergonhoso de alguns, nomeadamente da cadeia francesa "Carrefour", foi dissecado, bem como outros esquemas especulistas e monopolizadores a que raramente as autoridades conseguem chegar e intervir. E quando lá chegam as multas ou coimas estas são ridículas e assim se perpetua a velha máxima de que o crime compensa.
Para além de tudo, sendo certo que as gigantes da Web como a Amazon e a chinesa JD.com entraram a "matar" no mundo da distribuição nomeadamente do sector alimentar, e com isso estão a abalar os gigantes da distribuição europeus e americanos, em última análise serão sempre os consumidores os fantoches e como tal, com mais ou menos tecnologia no sector da distribuição e da produção, atendidos por máquinas e entregues os produtos por drones ou carrinhos sem piloto, seremos sempre o que esses gigantes quiserem que sejamos.
Por conseguinte e em rigor pouco ou nada conseguimos fazer e vamos andando nestes esquemas de especulação e numa dança constante de publicidade e marketing em que nos fazem crer que dão promoções vantajosas quando na realidade é um ciclo vicioso que mais não tem como propósito alcançar o filosófico perpétuo movimento.
A ver vamos, mas aconteçam as mudanças que acontecer, nós, os consumidores, dançaremos ao seu ritmo mesmo que não saibamos dançar nem gostemos da música. Ou isso ou abandonar o palco.
Já agora, como paradoxo, pode acontecer que ao rever o documentário na RTP Play o mesmo comece com publicidade ao Intermarchê, Continente ou Pingo Doce. Não se surpreenda.
[fonte da sinopse: RTP2]