29 de dezembro de 2023

Paradoxos e incúrias

Há dias, numa situação de corrida, testemunhei na freguesia de Pigeiros uma senhora a tropeçar num buraco no passeio onde caminhava. Felizmente só uns ligeiros arranhões e umas pragas contra certos senhores, mas poderia ter sido bem pior. De resto, eu próprio já tropecei nuns buracos na Rua da Zona Industrial, pelo que a caminhar ou a correr, seja em Pigeiros, Guisande ou qualquer outra das nossas freguesias, tenho que andar com os sentidos alerta pois as irregularidades e buracos são mais que muitos e nalguns casos autênticas armadilhas e ratoeiras, sobretudo de noite e em tempo de chuva. De resto, não havendo trânsito evito o seu uso, quando deveria ser o contrário. Passe o exagero, correr nas nossas ruas e passeios é quase realizar um trail em plena serra, pelo menos quanto à atenção onde se põe cada pé.

Sempre que se registam estes acidentes seria de apresentar queixa na autoridade, mas para além do custo de formalizar a própria queixa, diz-nos quem sabe que é tempo perdido porque são mais que muitas e invariavelmente sem decisão. Ainda há alguns poucos meses um nosso ciclista espetou-se num buraco ali por Duas Igrejas, aberto por alguém que trata das redes de águas e esgotos, sem sinalização adequada, magoando-se e danificando a bicicleta. Poderia ser uma situação grave. A própria GNR chamada ao local recomendou que apresentasse queixa mas que para além do custo, creio que a rondar os 75 euros, que se preparasse para não dar em nada, embora o caso fosse grave e tivesse a seu favor o próprio testemunho quanto à ausência de sinalização da ratoeira. Certo é que no dia seguinte o buraco estava sinalizado. Bem à maneira portuguesa, remediar antes de precaver. De resto, pela Indáqua ou empresas por si contratadas, são mais que muitas as ratoeiras nas nossas ruas.

Com tudo isto, e não é de agora que abordo o assunto (por exemplo, aqui), considero que tanto as nossas juntas de freguesia como a Câmara Municipal têm tido uma postura, para não usar um termo mais contundente, de pelo menos irresponsabilidade, desleixo e incúria na manutenção e requalificação dos nossos passeios públicos, que na maioria dos casos até foram obrigados a ser realizados às custas dos proprietários das edificações frontais. Se não em toda a extensão, pelo menos em certos pontos onde são notórios os buracos e a degradação. 

Para além do mais, quando se indefere um projecto de edificação por uma soleira ter 3 cm e não 2, ou por outros pintelhos, soa a ridículo que os entraves à circulação a pessoas com mobilidade condicionada sejam mais que muitos e evidentes no espaço público, para além dos buracos, sinais e marcos de água implantados a meio dos passeios. O paradoxo desta incúria é ainda maior quando se sabe que não há dinheiro nem investimento na requalificação dos passeios mas sobra para festanças e entretenimentos, porque esses é que dão visibilidade.

Por conseguinte, sempre que há acidentes nas ratoeiras dos nossos passeios deveria ser formalizada a queixa e levada até às últimas consequência. Como diz alguém que conheço adepto dos aforismos, "...os burros também se ensinam".