7 de fevereiro de 2024

Sem contar para nada

Parece que foi ontem, mas em 1992 deu entrada na Câmara Municipal o projecto da minha habitação e pouco depois começou a construção.

Já nessa altura éramos um país de sonhadores e se ainda não havia leis que obrigassem a fazer garagens para nelas caberem três Mercedes (e lá chegaremos), já era obrigatório apresentar projecto de rede de abastecimento de gás natural e a sua ligação à rede pública. Gastei pois, como muitos milhares, mais umas boas massas com o projecto e com o picheleiro a instalar a rede e a caixa-de-contador no muro da rua.

Mas se neste país não faltam politicos sonhadores, sobretudo a fazerem coisas com o dinheiro ganho por terceiros, como uns que defendem agora que os ricos devem repartir com os jovens um pézinho de meia para começarem as extravagâncias da vida, a que chamam como Herança Social, há igualmente outros que, desculpem a boa expressão popular,  "não fodem nem saem de cima" e por isso tantas coisas não passam de projectos. Tem sido assim com os nossos aeroportos, com a ferrovia, com  a habitação, etc, etc.

E também foi assim com a rede de gás natural que apenas foi realizada em certos lugares. Tal como as redes de água e saneamento que foram feitas e obrigados os contribuintes a ligar e pagar, mesmo que as dispensassem, mas outros ainda hoje necessitados delas foram deixados de lado. Tudo isto em nome da vantagem económica das concessões porque o serviço público puro e duro é e será sempre coisa secundária.

Por conseguinte, na minha casa e de muitos portugueses, passados trinta e tal anos a coisa ainda não foi instalada e nem porventura daqui a mais trinta. Assim, a caixa do contador do gás está ali como um monumento e uma lembrança permanente à megalomania dos nossos políticos e autarcas autênticos fazedores de chuva e exímios a andarem com o carro à frente dos bois. 

Tenho uma grande estima por aquela caixa de contador do gás porque tal como uma grande parte dos nossos governantes nacionais e locais, nunca contaram para nada mas contam a qualidade da lata de quem nos obriga a estes paradoxos.