21 de novembro de 2022
The show must go on
Sempre se soube que todo o processo que culminou com a nomeação do Catar como país organizador do Mundial de Futebol de 2022, ontem começado, foi uma farsa. Uma valente e muito bem paga farsa.
Um dos Judas intervenientes, um tal de Blatter, já se mostrou arrependido, mas não foi ao ponto do final do Iscariotes, e tanto que saiba, há-de morrer de velhice e nunca por falta de dinheiro, incluindo as 30 moedas, e dos confortos que ele proporciona.
Para além dessa trafulhice imensa que só os ricos e os poderosos conseguem afinar como mestres relojoeiros, seguiram-se as questões relacionados com a segurança dos trabalhadores, ou falta dela, nas construções faraónicas ou das mil-e-uma-noites, o respeito pelos direitos humanos, sobretudo sobre as mulheres, o tratamento para com os homossexuais, etc, etc.
As nações e as selecções delas apuradas para tão majestoso evento, foram dandos uns palpites, uns bitaites, tudo dentro do politicamente correcto, mas em rigor, tanto quanto se saiba, nenhuma boicotou a prova primando pela ausência.
Mesmos os jogadores, ali verdadeiros príncipes nas arábias, foram também dizendos umas porreirices avulsas, mas na verdade estão lá todos muito contentinhos.
Os adeptos, esses também aparte alguns arrufos, estão lá, senão todos, os que têm carteira para isso.
Finalmente, o chefão da FIFA veio menorizar a questão e esgrimir o velho engodo do copo meio cheio ou meio vazio. Louvou os esforços feitos pelo país anfitrião e o muito que mudou, mesmo sabendo que quando as tendas se levantarem e cada um seguir à sua vida, o mais certo é que tudo vai voltar ao mesmo.
Em rigor, as declarações do senhor Infantino andaram mais ou menos como quem desculpa o violador pela atitude e aparência provocadoras da violada e pelos esforços em violar o menos possível.
Posto isto, as tendas estão montadas e por uns largos dias vamos ter circo com palhaços pagos a peso de ouro.
The show must go on!
Marçal Grilo - 1
Tenho-o como uma das boas referências de ex-político e homem vertical. Comprado e chegado pronto a ler.
Entretanto, lançou um outro livro "Salazar e a Educação no Estado Novo".
Ainda está em fase final de pré-lançamento, mas talvez seja o próximo a adquiri, até porque, como justifica o autor: «Decidi escrever este livro por um conjunto de razões (…) mas sobretudo porque tenho hoje a ideia de que só conhecendo bem o passado se consegue perceber o tempo que vivemos e ter uma noção do que será possível perspetivar para o futuro.»
"Trata-se de uma visão sobre a educação durante o Estado Novo com distanciamento e sem constrangimentos políticos ou ideológicos. Numa análise lúcida e reveladora, percebemos que muitos dos problemas atuais da educação têm raízes no Estado Novo".
19 de novembro de 2022
Broas da mesma fornada
Creio que o meu primeiro livro "Palavras Floridas", não foi mais que, até a propósito do nome, um despretensioso ramalhete de alguns poemas, mesmo simples quadras, que se envergonhariam na sombra das de um popular Aleixo, acrescentado com alguns textos e destes um ou outro a que me atrevi a equiparar a contos.
Seja como for, mesmo destinado exclusivamente a oferta, e por isso com todo o prejuízo inerente, em dinheiro e em tempo despendido, deu-me uma enorme satisfação publicá-lo e oferecê-lo, de resto num processo que ainda não concluí, já que amigos tenho que ainda não se proporcionou a oferta. E vou ter que reimprimir mais porque continuam a pedi-lo.
Apesar desse efectivo prejuízo, se olhado pela estreita janela que se abre para um horizonte onde o brilho do vil metal é mais esplendoroso do que o do astro rei, a verdade é que tenho recebido avantajada compensa no positivismo das boas reacções e delas algumas questões interessantes e reveladoras desse interesse.
De facto têm sido vários os que alvoroçados com o formigueiro da curiosidade querem que lhes levante a ponta do véu que cobrem as personagens, como o Hipólito, o Júlio, Julião, o Ti Jacinto, o Anjos, os Loureiros, o Abel, e outros mais nomes que polvilham esses textos.
Creio que, no fundo da questão, os que me têm desafiado a isso até já saberão a resposta, não porque realmente a saibam e nem a poderiam saber, porque a base é mesmo ficcional, mas porque as linhas que tecem as suas diferentes personalidades são as mesmas que tecem as de toda a gente.
No fundo todos nós estamos ali representados. Com maior ou menor dose satírica ou grau de ironia, a massa que nos molda tem a mesma composição, porventura com mais ou menos sal. Mas quem já viu, como eu vi dezenas de vezes a minha mãe, a amassar o pão para a fornada semanal, as broas que se moldam na masseira são da mesma massa, da mesma mistura e levedadas com o mesmo “crescente”, embora umas destinadas a grandes e outras a pequenas. Eram depois submetidas ao mesmo suplício do calor curador. Mas logo mais, quando resgatadas daquela antro infernal, e já dispostas a fumegar na larga mesa, cada broa era diferente, não no sabor nem na textura do miolo, mas seguramente na sua crosta, na sua côdea, como impressões digitais iniguais.
Em resumo, somos todos iguais broas da mesma massa humana de cada fornada, mas todos diferentes porque sujeitos a variantes de natureza tão subjectiva quanto imensurável.
Continuando com a analogia do pão, diferenciam-nos as mãos da amassadora, a natureza e qualidade do sal, da água, do fermento, a temperatura do forno, o tipo de lenha usada, o tempo de cozedura e, até, o amor com que todo esse processo, mesmo ciclo, foi realizado, desde a primordial preparação da terra para o lançamento das sementes de milho, trigo ou centeio, até ao momento de levar à boca um naco desse pão.
É dessas pessoas, feitas com essa massa comum e simultaneamente diferenciada, a massa humana, que procurei dar alguma vida e sentido dela nas personagens que povoam esse meu simples livro. Por isso, não se apoquentem a saber respostas porque elas são, afinal, bem simples, ou nem por isso.
Do que a casa gasta
Quando os telejornais, incluindo o da televisão dita de serviço público, abrem com o assunto da entrevista do Cristiano Ronaldo e lhe dão largos minutos de atenção, o mesmo acontecendo com os jornais a ocuparem páginas, diz muito do tipo de sociedade em que vamos navegando.
Mas há, naturalmente, quem salive por este tipo de assuntos. O acessório e o privado como fundamental. Os média, como boas moscas, vão atrás da coisa enquanto fumega de fresca.
17 de novembro de 2022
Rio Uima
Velho e sempre novo rio Uíma
De lágrimas frescas do monte,
Num misto de alegria e mágoa,
Correndo sereno, todo encanto.
Das fraldas do Mó, logo acima,
Brota num bolhão dito de fonte
E nem sabemos se feito de água
Ou, tão somente, rio de pranto.
Rio Uíma, antigo e velho Uma
Vais sem pressa, sem fulgores,
A saciar amieiros e carvalhos
A tecer com fio de prata e ouro.
De Duas Igrejas até Crestuma,
Seja lá mais por onde fores,
Segues o caminho, sem atalhos,
Ao encontro materno do Douro.
15 de novembro de 2022
Em inglês dá outra pinta - Parolismos
Eu não sei por que carga de água, talvez por provincianismo, para não dizer parolismo, insistimos em dar nomes ou designações em inglês às coisas só nossas. Até compreendo esta falta de amor próprio numa perspectiva de eventos ou negócios em muito virados para o turismo estrangeiro, em que há uma intenção de internacionalizar, de informar, mas já extender isso a coisas objectivamente portuguesas, comuns e para consumo próprio, é mesmo algo intrigante para não o adjectivar de outra forma.
Veja-se, no caso de eventos desportivos, nomeadamentes corridas agora ditas de runnings e trails e que são mais que as mães, no que parece, pelas muitas que são pagas, evidenciar ser um negócio interessante.
"Bio Run", "Xmas Trail", "Urban Run", "Last Man Standing", "Pisão Extreme", "Atlantic Clifs Adventure", "Trail Running Vila de Nisa", "Urban Trail Night Eurocidade" - Valença, "Mâmoa River Trail", "Noctis Trail", "Leiria X-Mas", "Vulcan Trail", "Lousa Mountain Trail", "Linhas de Torres Challenge","Peninha Sky Race", "Trail of Road", "Wine Trail", "Extrem Trail", "Night Trail", "Trail Summer Chalenge", "OCR Fireman Sernancelhe", "Louza Sky Race", "Dark Side Night Trail", "Cork Trail Running", "Viana Race" e muitas, muitas outras.
Mas como nem tudo está perdido, ainda há provas que têm a designação tão portuguesa, tão nossa, de "corrida", "corta-mato", "trilhos", "maratona" e "caminhada".
Posto isto, inglês é que é e dá outra pinta à coisa. Correr uma corrida ou simplesmente fazer uma caminhada é coisa de atrasados.
Mas, claro está, a coisa, o excessivo e mesmo despropositado uso de inglesismos é extensível e muitas outras actividades e sectores. Mas fiquemos por aqui como amostra.