30 de maio de 2023
29 de maio de 2023
Querida avó - Querida neta - 1
Querida avó, espero que este email te encontre de boa saúde e que já não te doam as costas. Por cá em Guizarães vai indo tudo bem e na família vai-se indo. Apenas a mãe anda com uma tosse danada que mais parece a fanfarra de Vila da Açorda. Diz que deve ser restos da covid. O pai também anda a abusar dos brufenes e dos benurons com as dores do ácido úrico mas recusa-se a fazer dieta. Sabes como o teu filho é teimoso...Tem a quem sair !(lol).
Olha, foi bom teres conseguido tirar a formação para saber usar o email no computador que o pai te ofereceu no Natal. Bem vês que assim é bem mais fácil escrever-te a contar as novidades da terra e da família. És uma avô esperta e espevitada e não ficas atrás da Isabel II que, coitada, também já foi à vida. Só acho que também devias aprender a usar o Facebook e o Whatsapp pois assim podias publicar fotos de gatinhos e de postais de flores e passarinhos para partilhares com as tuas amigas. Quando eu estiver de férias da empresa vou ver se tiro umas horas para te ensinar. Vais ver que é fácil. A tua amiga, a Zeferina, tem Facebook e um dia destes mostrou-se na padaria de Travassos a comer um "jesuíta" e a beber um copo de Fanta, com a Amélia do Oiteiro. A danada até tem conta no Tinder mas é melhor não te dizer o que isso é porque ainda de atentas.
Não sei se soubeste, porque não tens Facebook, mas faleceu o Zeca do Caneiro. Ainda no dia anterior estava vivo e na manhã seguinte encontraram-no morto à entrada do barracão. Devia ter ido deitar comer ao Ringo porque ainda tinha nas mãos umas costelas de porco rapadas. Deve ter-lhe dado qualquer coisa, coitadito. Mas bem sabes que já andava nos 97 e a dizer que ía chegar aos 100 para lá irem a casa os presidentes da Junta e da Câmara tomarem chã a tirar fotografias para o Facebook. Se quiseres vir à missa do 7.º dia passo aí na quarta-feira para te trazer. Mas depois confirmo porque o padre Rufino ainda não marcou a hora. É capaz de ser às 7.
Olha, quem não anda contente é o Albino do Costeira. Apanhou uma multa da Câmara de Santulheira por ter aumentado 13 centímetros a altura do muro com o vizinho e não ter metido projecto. Não se conforma até porque o muro do Armando é mais alto do que o dele. Mas diz que o que mais o arrelia, para além dos 500 euros da coima, é que sabe que o Fernando da Noronha anda a fazer obras na casa para o filho e que clandestinamente construiu uma garagem para o seu Mercedes, mesmo encostadinha ao rio Salgueiro, e que no PDM até está a calcar a reserva agrícola e ecológica, mas que nisso a Câmara não liga. Também diz que o João da Costa, do lugar de Covelinho anda a fazer um grande barracão em chapa verde para criar avestruzes e porcos pretos na leira da ribeira de baixo, também em reserva agrícola e ecológica e que os fiscais por lá não passam ou se passam desviam o olhar para a capela de Santa Luzia, padroeira dos cegos e vesgos, e fazem disso vista grossa. E olha que a coisa deve ter uns 100 metros quadrados e uns 4 de altura. Anda danado o homem e com razão, parece-me.
Outra coisa, avó: Não te esqueças que tens consulta de ortopedia no dia 22. Toma banho, lava-te por dentro e por fora e põe-te pronta por volta das 8:00 horas que a Tia Nanda passará por aí para te levar. Também ligaram da Minisom a dizer que o teu novo aparelho já está pronto. Vais ver que ficarás a ouvir melhor e assim escusas de fazer confusão com o que ouves na televisão e rádio Se estiverem a faltar medicamentos para as tensões, para sangue grosso e para dormir, avisa para pedir mais no posto médico.
Por agora é tudo, avó. Fica bem e não andes na horta a cavar ou a arrancar ervas com o nariz no chão com ares de javali. Não tens necessidade disso. Depois não te queixes que andas com as costas e os joelhos num sofrimento de via sacra.
Fica bem, avó! ...não te esqueças da cena da consulta que a Tia Nanda não gosta de esperar nem chegar tarde e já sabes que para arranjar estacionamento no hospital da vila é mais difícil que arranjar um lugar no céu.
Entretanto volto a escrever!
Vila Maior num portugal dos pequenitos
Há coisas assim, enganadoras no nome. Vila Maior é uma terra que nem é vila e até será menor entre as demais do concelho e de resto, na União de Freguesias para onde foi encaixada (com Canedo e Vale), é cauda da mesma, tal como Guisande com Lobão, Gião e Louredo.
Será concerteza terra de boa gente, pacífica, trabalhadora e orgulhosa da sua identidade e tradições, mas é óbvio até para os forasteiros que a sua integração numa União de Freguesias nada lhe acrescentou e até nas coisas mais básicas, como limpeza e conservação de ruas, está desmazelada. Por exemplo, pela Rua do Salgueiro e Rua do Barreiro, por onde passei, a erva nas valetas já dava para uns bons fardos de palha e o piso já teve melhores dias e aguarda por uma não sei das quantas fases das pavimentações no concelho. Nisto de uniões de freguesias é como com certos cães, em que a cabeça é que come e por vezes até tenta morder a própria cauda. Um perigo! Melhor será cortarem-lhes a cauda. E no caso, agradecem.
Vila Maior nestes dias teve a sua tradicional festa em honra do Espírito Santo mas S. Pedro não esteve pelos ajustes e concedeu uns dias cinzentos e de chuva, naturalmente a tirar brilho à romaria e ao envolvimento social. Mas as coisas são mesmo assim e se pudéssemos intervir no clima seria sempre sol na eira e chuva no nabal. Calha a todos e até num bonito mês de Maio a chuva pode cair por mais que atrapalhe certas eiras.
Na bonita igreja matriz, perfilavam-se uns 16 andores todos engalanados das mais vistosas e exôticas flores, alguns a precisar que os olhos se arregalassem para neles vislumbrar o santinho, minúsculo de tamanho mas enorme em graças, no meio daqueles jardins ambulantes.
Fora da igreja, no palco esperava encontrar uma Banda Filarmónica a executar a abertura 1812 de Tchaikovsky, mas nada disso. Ao som de hips-hops, misturado com o spunk-spunk dos carrocéis, exibiam-se vários grupos de adolescentes, no geral empenhados e bem mexidos mas pouco coordenados. Por curiosidade perguntei a mim mesmo se fossem convocados para plantar ou arrancar batatas num campo se apareceria alguém daqueles dezenas. Talvez não, porque a nossa juventude gosta destas coisas de palco, mas sujar as mãos e partir as unhas na terra que dá sustento, é que não. Além do mais plantar batatas também implica meter os dedos no estrume. Mas pelo menos nas escolas que lhes ensinem que as coisas que vão ao prato, como as saborosas batatas fritas, são provenientes do trabalho no campo. Mas adiante, que isto é brincadeira! A malta gosta é de festa. Trabalho, outros que o façam!
A nossa freguesia de Guisande partilha com Vila Maior o santo padroeiro, S. Mamede, mas no que à sua imagem diz respeito são tão distintos que se diria que fillho de diferentes mães. O nosso S. Mamede é discreto, formal, mesmo que com uns pequenos e mansos leões a seus pés. Já o Mamede de Vila Maior tem ares de jovem rebelde, com cabelos revoltos e a seus pés umas mansas ovelhas. Talvez retratos de diferentes fases da vida. Por outro lado, os santos, como as pessoas, são como a gente os pinta ou talha. A mesma pessoa pode ser vista como um santa ou um diabo, dependendo dos olhos que a medem.
Na lateral norte do exterior da igreja matriz, lá estavam estampadas as contas da paróquia. Entre outros itens, as verbas pagas ao pároco no mês de Abril, que totalizavam pouco menos que 400 euros. Reparei que também teve direito a uma parcela de gratificações. Os padres hoje em dia são assim, bem gratificados e ainda temos que dar graças por se dignarem a ser gratificados. Eu não sei se é muito se é pouco o que ganha um padre, sendo que o de Vila Maior tem ainda a seu cargo duas outras grandes paróquias, como são Lobão e Sandim. Mas mais arroba menos quintal, todos reservam para si um muito bom e excelente ordenado e trabalho ao mínimo porque isto de rezar missas é cansativo. Hoje em dia aquela coisa chamada de vocação e votos de pobreza ou de simplicidade é um eufemismo desaparecido com os antigos eremitas. Já não vivem de comer amoras silvestres e gafanhos nem rompem sandálias pelos caminhos ásperos dos montes. Os tempos actuais são de uma nova era e nela o senhor dinheiro tem um peso substancial, quase cósmico, e sem ele o mundo não gira nem o sol brilha.
28 de maio de 2023
38 - No fim de contas apenas um número, um dejá vu
Conforme já o escrevi por aqui há algumas semanas, confesso que pelo andar arrastado da carruagem das últimas jornadas não tinha grande esperança de ver o Benfica a conquistar o seu 38.º título de campeão nacional de futebol da 1.ª Liga Portuguesa. Chegou a ter 10 pontos de vantagem e com possibilidade de chegar aos 13 mas acabou apenas com 2. Decidido ficou o título na última jornada vencendo com naturalidade o último classificado, o Santa Clara.
Apesar disso, pela parte que me toca, sem qualquer entusiasmo e euforia. De resto nem vi nem ouvi o jogo apesar do seu carácter decisivo e festivo. E se nesta noite abri um bom espumante nem foi para celebrar tal coisa, mas antes pela amizade e convívio, não com benfiquistas, mas com um portista.
Isto porque, deve ser do raio da idade, já nada acrescenta e porque aprendemos a colocar cada coisa na ordem natural de importância nas nossas vidas. Ora o futebol, incluindo o nosso clube, numa época em que não passa de uma indústria que gere, recebe e paga balúrdios de milhões, onde os jogadores são profissionais, príncipes e idolatrados, e tantas vezes meros mercenários, porque trocam de clube por uns trocos a mais no salário, já perdeu aquela mística verdadeiramente genuina e clubista onde havia uma coisa chamada amor à camisola e ao clube.
Quanto ao F.C. Porto, lutou naturalmente até ao fim, como é seu timbre, e na partida que poderia ser decisiva foi logo a partir dos 2 minutos de jogo que a coisa ficou inclinada a seu favor com uma estúpida e inexplicável expulsão (bem justificada) de um jogador do Vitória de Guimarães. O castigo de ser ultrapassado pelo Arouca foi mais que merecido. Há nódoas que não se apagam e só não apanharam 11 porque o Porto desligou quando sabia o resultado que corria lá para os lados da Luz e o Taremi à custa de uma inusitada (mas normal) fartura de penalties sagrou-se o mellhor marcador da Liga. Mas foi merecido para o iraniano porque quem tanto mergulha acaba por nadar. E de resto, reconheça-se, é um excelente avançado.
Apesar disso, nas últimas jornadas o Porto manteve sempre o discurso de acreditar mesmo que não dependendo de si. Isto é crença e porque fica bem perante a massa adepta, mas é sobretudo fanfarronice. Quando não dependemos de nós próprios temos que o salientar e valorizar. Mas isto durou muitas jornadas e nas últimas até a imprensa azul e branca andou a alimentar a coisa e até foi desenterrar ao Japão um tal de Kelvin a recordar gloriosos milagres como se isso bastasse para decidir a seu favor algo que dependia dos outros. Ainda na véspera da jornada decisiva o habitual condicionamento dos árbitros. Mas até aqui é tudo natural e dali não se espera nunca que venha qualquer mérito ao adversário, nem por via de dúvidas. Um treinador que não sabe empatar nem perder e até nem vencer, andará toda a vida como aquele soldado que no pelotão considera que vai a marchar de passo certo e que todos os outros é que andam descompassados.
É futebol! Para a próxima será mais do mesmo, vença Benfica, Porto, Sporting ou qualquer outro. Será sempre um filme já visto, um dejá vu.
27 de maio de 2023
Nota de falecimento
O funeral terá lugar no dia 29 de Maio, Segunda-Feira, pelas 16:00 horas, indo a sepultar no cemitério local.
A missa de 7.º dia ocorrerá na Sexta-Feira, 2 de Junho, pelas 19:30 horas.
Sentidos sentimentos a seus familiares. Que descanse em paz!
25 de maio de 2023
Dúvida
Ó dúvida permanente, inquietante,
Sobre o que há para além da morte,
Se apenas nada, um frio escuro breu
Ou, então, uma vida nova, incessante,
Onde o homem mortal se torna forte,
Pleno de luz da serenidade do céu.
A. Almeida