5 de agosto de 2023

Quando a amizade resiste ao tempo



Num bom convívio a envolver gente estranha, e até onde terá estado o Salazar, a avaliar pelo imponente Buick ali estacionado, mas certamente todos boas pessoas, para além de esgotarem o stock de barris de cerveja, mas também com gente conhecida e amiga, a alegria de reencontrar velhas amizades que o tempo e suas vicissitudes levaram para longe. 

De facto o encontro com o David Conceição, a esposa Fátima e ainda o Américo Santos (infelizmente vítima, mas a recuperar de um problema de saúde) valeram mais que a fartura de comida e bebida e das partidas de um certo Mr. Bean. 

Depois do espanto de quem se revê passada uma ausência de dezenas de anos, o retorno a velhas memórias comuns e a constatação que apesar do cinzel do senhor Tempo, esse escultor que nos molda a todos,  ficamos com a sensação que num repente tudo volta aos tempos de outros tempos, isto porque no fundo, mais velhos, mais gordos ou magros, engelhados e com menos cabelo ou este já alvo, continuamos a ser aquilo que sempre fomos, nós próprios.

4 de agosto de 2023

Santa trindade

Era pequena a aldeia de Guidães e quem se pusesse bem no coruto do seu mais alto monte  abraçava-a de lés-a-lés a com o olhar. Ao fundo, a serpentear o vale, a ribeira generosa de águas a regar pelo pé os densos milheirais e a fazer rodar as mós dos moinhos do Quintas e da Cesteira. Mais ao lado, por onde o sol se esgueira ao fim de todas as tardes, lá estava a igreja matriz, branquinha como um ovo, com o sino velho a cantarolar o meio-dia. Olha ainda a esguia ponte do Padrão, o cruzeiro dos Três-Caminhos,  a ermida de Nossa Senhora do Desterro pousada numa das duas colinas do Outeiro Grande, estas dois seios revestidos de castanheiros e carvalhos alvarinhos.

Era, pois, maneirinha a aldeia e não surpreeende que toda aquela gente que ali nascia, crescia e fazia pela vida até à hora de se entregar ao Criador, se conhecessem mutuamente como se fossem da mesma família. Mas isto, claro, entre os mais velhos, porque para a criançada, mesmo que pequeno aquele mundo rodeado de soutos e pinhais, era um constante segredo a desvendar, como o descobrir de um ninho de melro entre as espadas de um fiteirão ou de uma carriça no buraco de um muro. 

Era assim também para o Custodinho, que quando calhava acompanhar a bisavô Dina em visita à filha ao lugar da Azenha, mesmo à saída de Guidães, parecia-lhe que pelos seus passos pequeninos, andava a dar a volta ao mundo, tanta era gente, coisas e sítios que nunca conhecera nem por onde passara. Por conseguinte, para além do caminho diário para a escola no lugar da Torre e das frequentes idas à igreja para a catequese, terço e missas, o mundo do Custodinho era o seu lugar, o seu casario, os seus caminhos, os matos e campos próximos. Esses conhecia-os como as suas mãos e os pés quase sempre descalços encresparam-se a percorrê-los todos os santos dias, até mesmo aos domingos nas suas brincadeiras com os da sua igualha do lugar. Conhecia, por isso, toda a gente do lugarejo, desde os mais novos aos mais velhos, que saudava pelo próprio nome quando com eles se cruzava. - Bom dia Ti Laura, dê-me a sua benção! - Boa noite Ti Alfredo! - Bom dia! Boa noite, Deus te abençoe Custodinho! Vai com Deus, rapaz!

Muito do seu pouco tempo livre, do que sobrava da escola, dos deveres e dos trabalhos da casa, matava-o o Custodinho com os filhos da Ti Arminda, o Alberto, um pouco velho que ele, já saído da escola e com os pés fora da catequese porque com a comunhão solene já feita, e ainda o Tonito, mais ou menos da sua idade, colega de escola e de carteira.

Viviam os dois irmãos com a mãe, mulher alta e magra, de rosto triste, enfaixada numa roupa negra como a noite. Moravam os três numa casita térrea, com uma pequena meia cave escura e húmida, voltada para as traseiras, onde morava uma salgadeira que a bem dizer poucos porcos salgou mas que pelo Inverno acomodava uma caixa de sardinhas que ao jantar compunham duas batatas envoltas em couves. Mas se o casebre era pequeno e escuro, era amplo e airoso o quintal em toda a volta, disposto em várias e estreitas leiras desniveladas entre si, repletas de muitas e boas árvores de fruto. Macieiras, pereiras, ameixoeiras, pessegueiros, laranjeiras, tangerineiras, etc, etc. Até uma enorme nogueira brava e um imponente castanheiro que lá pelo fim do Outono abria-se à fartura, com ouriços arreganhados a mostrarem dentes sadios e brilhantes. Até mesmo os muros e cômoros daquelas leiras eram generosos, com morangueiras e amoreiras entre os quais, logo por meados da Primavera, cantavam grilos à porta dos seus buraquinhos.

O Custodinho, naquela amizade e companhia frequente com os dois filhos da Ti Arminda, tinha naquela casa e naquela horta toda a generosidade da natureza e apenas com uma maçã de Santa Isabel, enchia a pança e só com vontade de guloso é que amanhava o condeito que a mãe lhe punha no prato ao jantar Mesmo na casa, em tempos em que a televisão só na tasca do Quim da Lebre, tinham os dois irmãos muitos livros, incluindo de banda desenhada, que lhes eram oferecidos de vez em quando, diziam, por um primo mais riquito, que vivia para os lados da Cruz Velha, a meia dúzia de léguas dali.  

Devorava, pois, o Custódio, todas aqueles aventuras de ver e ler e só saía dali quando ouvia no largo a mãe a barregar pelo seu nome que lhe soava ao habitual “põe-te já em casa!”. Mas imbuído daquele manancial de índios e cow-boys, sempre que tinham tempo ao Domingo à tarde, lá improvisavam um “filme” a condizer como se aqueles matos e pinhais do lugar fossem um far-west. Outras vezes, eram “filmes” de espada e arcos de setas, à laia do Robin dos Bosques, em que o mato da Touça era a Sherwodd e o barracão do Ti Miguel o castelo de Nottingham, ou então os Três Mosqueteiros com lençóis a fazerem de capas.

Vivia, pois, naquela amizade sadia o Custodinho com os filhos da Ti Arminda e em tudo tão absorvido que não dera conta que nunca lhe vira o marido. Mas um dia, à noitinha, comido o condeito e acabado de rezar o terço, ouviu a mãe a falar com o pai e reteve esta conversa: - Ó Manel, então é verdade que o homem da Ti Arminda já saíu da prisão? - Disse-me a São do Lano, que já o viu um destes dias a entrar na casa dela, mas que sai antes de acordarem as galinhas e volta noite cerrada para que ninguém o veja. 

O Custodinho ficou aparvalhado com esta novidade e não a entendeu logo mas no dia seguinte, nascido o sol, pôs-se em casa da Ti Arminda e meio em segredo perguntou colado às orelhas dos irmãos: - Vocês têm pai? Eu nunca o vi! Os irmãos olharam-se tristonhos e numa lição recomendada disseram que a mãe não queria que eles falassem no pai. - Mas onde é que ele mora? - perguntou o Custódio. Que não sabiam e que nunca o viram nem queriam ver.

Os dias passaram e no lugar não se falava noutra coisa até porque entretanto o homem, que ninguém conhecia, começou a acordar mais tarde e a vir para casa mais cedo, agarrado a uma bicicleta, que nunca o viram montar e em breve toda a aldeia era um mexerico, do lavadouro do Cimo da Aldeia até ao fundo do lugar dos Lameiros.

Receoso de dar de cara com alguém que esteve numa cadeia, deixou o Custodinho de procurar os amigos. Certo é que passadas algumas poucas semanas, ainda antes do Natal, chegou-se à casita  mas encontrou-a fechada. Ó Tonito! Ó Beto! Ainda rondou do lado de fora o quintal voltado ao lugar mas não viu sinais de ninguém nem mesmo quando a rondou pelas traseiras do lado norte. Até o cão, o Jani, que sempre que o farejava lhe vinha lamber as pernas, não deu de si, nem xús nem mús. Ficou admirado e sem compreender, mas no dia seguinte ouviu o lugar a comentar que a Ti Arminda e os filhos tinham saído da casa, que era de renda, e que nudaram não se sabe para onde. Talvez para a beira de uma irmã que tinha a Arminda em Duas Igrejas, outros que para mais longe, para a terra do homem, que os levou. 

O Custodinho naturalmente ficou por esses tempos triste e encabucado, já sem a habituada companhia dos irmãos e dos seus livros de aventuras e sem a fartura do quintal. Entretanto, nesse abandono repentino, não tardou que a casa entrasse em ruína e a horta apossada por silvas e tojo e, à falta de cuidado, a morrerem as árvores e os já minguados frutos eram assaltados pela criançada ainda antes do tempo de maduros. Mais tarde o terreno foi vendido ao Zé da Aurora e tudo arrasado para dar lugar a uma casa tipo franciú. Da velha casa e do quintal, hoje já só a memória mas até ela deslavada pelo tempo.

Os anos passaram e o Custódio, já homem e pai de filhos, continuando a viver no lugar, em rigor pouco descobriu do paradeiro daquela santa trindade que fez parte da sua infãncia. Foi, de quando em vez, ouvindo uns zuns zuns de que o Alberto estava a viver longe dali, numa certa terra, mas que bem de vida pois tinha uma oficina automóvel. O Tonito, um pouco mais lerdo, esse seguiu os estudos da nobre arte de pedreiro e trolha e ía andando. A Ti Arminda, que já em criança lhe parecia velha, teria naturalmente morrido, mas não antes sem ter dado mais um irmão ao Alberto e ao António, que o ex-prisioneiro não perdeu tempo a engendrar. Quanto a ele, de tão habituado daquela vida de prisão, que ninguém sabe ao certo por quantos anos, parece que logo depois da mudança e de fazer um filho à triste da Arminda, voltou a pôr a mão no alheio e regressou para trás das grades. Terá, naturalmente, já alcançado a liberdade plena que a morte a todos concede. 

Hoje em dia, quando não lhe vem o sono, põe-se a recordar o Custódio naqueles tempos e dias e nos muitos episódios felizes vividos com os seus amigos. Se pela infância não via a Ti Arminda para além de uma mãe tristonha mas zelosa dos filhos, percebe agora que essa negrura do rosto e da roupa tinham uma semente, uma razão de ser bem mais profunda, e se nessa altura lhe parecia obscura ou não a compreendia, era agora clara e límpida.

A vida é assim e nem sempre os nossos puros olhos de criança veem para além da penumbra das coisas alegres e felizes. Talvez por isso, percebe agora o Custódio, nunca viu naqueles dois olhos uma centelha de brilho e de alegria, nem mesmo nos momentos em que nas brincadeiras, à sua vista, ria e cantava com os seus dois filhos. Nem mesmo nos dias em que o lugar ou a aldeia estavam em festa e estourava-se em foguetes.

Que descanse em paz a Ti Arminda e que o Alberto e o António, mais o irmão serôdio, fruto da liberdade, se vivos, que hão-de ser, que sejam felizes e orgulhem-se da mãe, que sozinha os criou e os manteve naquela ilusão inocente de que o pai ausente não fazia falta porque ela era mãe mas também pai. Uma santa trindade materna. Mãe e filhos de espíritos santos.

3 de agosto de 2023

Coerência ou falta dela

Em regra sofremos todos do mesmo mal no que à coerência ou falta dela (incoerência) diz respeito. Portanto o problema é transversal e não adianta estar aqui a considerar qualquer reflexão como moralista, mas apenas como acto de penitência e num humilde auto-reconhecimento de que somos falíveis quando toca a tomar atitudes consentâneas com o que deveria ser a ordem natural das coisas.

Feita a introdução, como caso concreto falo dos largos milhares de euros que algumas comissões de festas gastam anualmente em foguetes, em bandas e artistas, tudo para puro entretenimento, quase sempre de qualidade duvidosa mas de agrado fácil, e, no entanto, e lá está, sem uma coerência de base, as capelas e igrejas de que cujos patronos motivam a festividade, estão tantas vezes com mau aspecto, a precisar de investimento em obras de conservação. 

Veja-se, como mero exemplo, o caso da bonita e honrada freguesia de Romariz que por estes dias e coincidindo com a nossa festa terá gasto, assim com umas contas feitas por alto, mais de 50 mil euros, com um naipe de artistas de renome no campeonato da música pimbó-popular, e, contudo, com a sua linda igreja matriz a oferecer uma má imagem com as fachadas a precisarem de pintura. Bem sei que a Senhora dos Remédios habita numa tão pequena quanto bonita capela, ali pela proximidade a cerca de 1 Km, mas é certo que o centro da festa ocorreu nas imediações da igreja.

Mas como dizia, este mal é geral e nós, em Guisande, não somos melhor exemplo do que Romariz ou de qualquer outra freguesia, pois mesmo que com um orçamento muito mais humilde e contido quanto aos gastos com a festa, temos igualmente a nossa capela, no exterior, mas sobretudo no interior, com muito mau aspecto, com as paredes salitradas a descascarem e a cobertura a meter água, por isso a precisar de obras de conservação urgentes, de resto já previstas realizar. E ali o probema não é de agora mas de há anos. Vale-nos, pelo menos como atenuante, que já há algum dinheiro angariado para tais obras e que resultou do saldo da festa das edições anteriores e parece-me que se sobrar dinheiro da festa deste ano (o que se espera), também terá o mesmo objectivo. E de um modo geral com a festa do Viso sempre foi assim, com os saldos positivos (felizmente na maior parte dos anos) a reverterem sempre para obras e melhoramentos na capela.

Em todo o caso, como disse, esta reflexão não pretende ser moralista porque o mal é mais ou menos geral, mas talvez devêssemos ter em consideração que tão ou mais importante que ter um artista ou banda de renome numa qualquer festa, importará haver brio, bairrismo e amor próprio com as nossas coisas comuns, como são as nossas igrejas e capelas, pela importância que representam para as comunidades em termos históricos, identitários e sócio-culturais.

Nestes casos em concreto, têm que ser as comunidades a avançar, porque mesmo e com a desculpa que são edifícios que pertencem à Diocese ou à Sé, certo é que se estivermos à espera que tais donos ou entidades do estado as conservem, como seria normal, bem que depressa cairão de ruína, sem apelo nem agravo.

Enxadas em vez de espadas


Que bom seria que estes novos cavaleiros

Vaidosos, de vestes e armaduras fingidas,

Lutassem valentes em batalhas sem setas,

Sem desígnio de lema de "morres ou matas".


Mas, que pena, meu Deus, vê-los foleiros,

Cómicos enfarruscados, de tinta nas feridas;

Nobreza, era lutar a limpar ruas e valetas

E de enxadas no campo a cavar batatas.

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome...

José Saramago, 1922-2010,  escreveu que “dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos"

Na realidade todos nós tempos um nome, mais ou menos vulgar, mais ou menos raro e estapafúrdio, mas temos, por imperativos culturais, sociais mas sobretudo administrativos, mesmo que Teixeira de Pascoaes, 1877–1952, tenha escrito que "o nome desfigura as coisas".

Por outro lado, Miguel de Unamuno, 1864–1936, dizia que "o nome é em certo sentido a própria coisa; dar nome às coisas é conhecê-las e apropriar-se delas; a denominação é o acto da posse espiritual".

Hà nestas três fases e pensamentos subjacentes uma estranha contradição e complementaridade. Mas em ambos os casos é um tema interessante e com essência filosófica.

Da frase de Saramago, escrita no seu "Ensaio sobre a cegueira", leva-nos a navegar num mar de várias considerações e uma profunda reflexão filosófica sobre a essência do ser humano e sua identidade intrínseca. 

- A natureza do ser: A frase sugere que existe uma essência, uma característica fundamental dentro de cada indivíduo que é única e que define quem somos verdadeiramente. Essa essência pode ser entendida como a parte mais profunda e autêntica de nossa existência, algo que transcende nossas experiências superficiais e a própria linguagem que usamos para nos descrever.

- O inominável: Ao dizer que essa coisa dentro de nós não tem nome, pode-se inferir que essa essência é tão profunda e singular que não pode ser adequadamente expressa por palavras ou conceitos comuns. É algo que escapa à linguagem e que vai além das categorias usuais em que classificamos as nossas identidades.

- Auto-conhecimento: A frase também nos convida a questionar e a explorar quem realmente somos. O auto-conhecimento é um processo profundo de introspecção e reflexão sobre as nossas motivações, desejos, medos e valores. Procurar compreender essa "coisa" sem nome dentro de nós é uma jornada em busca de entender a nossa verdadeira essência e autenticidade.

- Identidade em constante mudança: Ao afirmar que "somos" essa coisa, a frase sugere que a identidade é fluida e está em constante evolução. Somos seres em processo, e a nossa essência pode ser moldada pelas nossas experiências, relacionamentos e escolhas ao longo da vida.

- Ligação com o universo: Essa "coisa" sem nome dentro de nós pode ser vista também como uma conexão com algo maior, com a totalidade do universo ou com uma dimensão espiritual, com Deus. É uma maneira de reflectir sobre nossa relação com o mundo ao nosso redor e sobre o nosso papel no cosmos.

Em última análise, essa reflexão filosófica convida.nos a mergulhar em questões existenciais profundas e a procurar um maior entendimento de nossa própria natureza e do significado da vida. É um convite para explorar os mistérios do ser humano e de sua conexão com o universo que o cerca. Cada indivíduo pode encontrar significados e interpretações pessoais nessa afirmação, o que torna a reflexão ainda mais rica e diversa.


A.Almeida - 23062022

2 de agosto de 2023

Colheita


Na borda daquele caminho, além,

Num terrão que o sol beija todas as manhãs,

Há uma macieira, não sei se plantada por mão ou vento.


Mas, meu Deus, como sabe tão bem,

Quando no fim do Verão colho nela as maçãs,

Em ansiada canseira em dia e hora marcadas p´lo tempo.


Há frutos assim, que se desejam colher,

Como a chegada cansada ao fim de um trilho,

Ou se no ventre  lançada a semente na mulher,

Que germine pura e, no tempo, se colha um filho.


A.Almeida - 25072023

Um mundo ao contrário


Tenho um mundo todo meu, imaginário

Por onde vagueio absorto, dormente;

Tudo nele é estranho, ao contrário:

Nasce-se da terra, morre-se no ventre.


É de nuvens macias a casa onde moro,

Os regatos e os rios nascem no mar,

As fontes são olhos em eterno choro,

As flores têm lábios e sabem beijar.


Mas nesse mundo estranho, imperfeito,

Vives a meu lado nessa igual desarmonia,

A envolver-me como amante em seu leito 

À luz do sol, porque o luar só nasce de dia.


Tenho um mundo só meu, imaginário,

Por onde corro livre, sem destino;

Sou actor de uma peça sem cenário,

Onde nasci velho e morrerei menino.


A.Almeida - 01082023