Tenho um mundo todo meu, imaginário
Por onde vagueio absorto, dormente;
Tudo nele é estranho, ao contrário:
Nasce-se da terra, morre-se no ventre.
É de nuvens macias a casa onde moro,
Os regatos e os rios nascem no mar,
As fontes são olhos em eterno choro,
As flores têm lábios e sabem beijar.
Mas nesse mundo estranho, imperfeito,
Vives a meu lado nessa igual desarmonia,
A envolver-me como amante em seu leito
À luz do sol, porque o luar só nasce de dia.
Tenho um mundo só meu, imaginário,
Por onde corro livre, sem destino;
Sou actor de uma peça sem cenário,
Onde nasci velho e morrerei menino.
A.Almeida - 01082023