17 de setembro de 2025

Encantadores de serpentes


No geral, os políticos de profissão, nacionais ou locais, falam bem, muito bem mesmo. Dominam a oratória, mostram dominar os temas, o fluxo do discurso e seu ritmo. Sabem onde tocar aos ouvintes, no orgulho de pertença, na exaltação das virtudes, ainda que escassas ou por provar, e mesmo, se preciso for, conseguem fazer brotar uma lágrima manhosa, ou desencadear um arrepio de pele aos mais sensíveis.

Todos esses atributos ganham ainda maior destaque quando periodicamente sabem que precisam daquelas coisas com que se compram os melões do poder: os eleitores e os seus votos. Então tudo parece ganhar mais sentido, mais afeição, mais proximidade, falando para o Zé da Esquina como se um amigo de longa data e para o Manel da Maria como se a mais importante pessoa do lugar ou da aldeia.

Em resumo, dominam o verbo, o tempo e as circunstâncias. Sabem-na toda, porque com muitos anos a virar frangos. E não surpreende, porque de facto fazem disso carreira, o seu ganha pão, a notoriedade, mesmo que debaixo da capa ou do eufemismo de serviço público, de cidadania. Até pode ser, mas convém que em casa nada falte e à hora de almoço ou jantar haja peixe ou carne no prato. Isto para dizer que a cidadania e o serviço público são bonitos, precisam-se e recomendam-se, devem ser valroizados, mas ninguém vive apenas do voluntarismo, de ar nem de água da chuva.

Não obstante tudo isso, uma vez alcançados os objetivos e confirmados os cargos ou as posições, o Zé da Esquina e o Manel da Maria voltam a ser descartáveis e apenas uns entre muitos anónimos. E se antes tudo eram simpatias, abraços, atenções, cortesias, promessas de estar ao serviço e ao dispor, num repente as portas fecham-se, as reuniões têm que ser marcadas com tempo, ou mesmo adiadas, ou, se feitas, curtas, rápidas e impessoais. Os contactos e canais de comunicação, antes abertos, directos, disponíveis, escancarados, ficam fechados, restritos, estreitam-se e desviam-se. Os telefones não atendem, não devolvem as chamadas ou, quando muito, dados recados por terceiros, assessores, a prometerem atenções que quase sempre não serão dispensadas. Os e-mails não funcionam e recebem-se respostas automáticas ou o link para formulários impessoais para o contacto.

Mas estas coisas, estas mudanças, só surpreendem ou decepcionam quem , de boa fé ou ingenuamente, acredita no que ouve, no que lhe dizem, certos de que ainda há gente séria, honesta e que leva a sério o valor da palavra e do compromisso. Quem tem uma melhor noção das coisas e da classe, até pode dar ares de confiança mas estará sempre de pé atrás, a ver para crer. No mínimo.

Ao contrário, os que são colhidos de frente pela locomotiva da realidade, esses sim, arriscam-se a ser trucidados, a perceberem no que se meteram só depois de já estarem num beco de sentido único.

É a vida! Importa pois, acreditar que ainda há gente boa e sem segundas caras, e há com certeza, até mesmo na classe política, por si tão desacreditada, mas com cautela, sem deslumbramentos em tudo o que seja relação com a mesma. 

Por conseguinte, ainda continuam a ser válidos certos ensinamentos antigos, do nosso povo, e não se perde nada em sermos como S. Tomé, a quer ver para crer. É certo que Jesus disse que “felizes os que acreditam sem terem visto”, mas isso é Jesus, que é de outro campeonato e de patamar inalcançável. Por cá, em tudo na vida mas sobretudo no contexto político e eleitoral, melhor é ver para crer, sem deslumbramentos fáceis, sem pôr todas as fichas num qualquer encantador de serpentes ou mágico a tirar coelhos da cartola, moedas das orelhas ou pombinhas brancas das algibeiras.

Tudo na justa medida! Quanto baste! Pão, pão, queijo, queijo! Depois é ver e comprovar se foi ou não merecida a confiança dada.

16 de setembro de 2025

Com boa plateia

 


Continua com uma boa plateia este meu espaço, com números regulares de visitantes diários, próximos ou mesmo acima do milhar, não contando com os que acompanham por via de RSS (1). É relevante e permite-me presumir que o interesse pelo que vou escrevendo e partilhando é notório junto dos guisandenses, por cá e na comunidade emigrante.

Procurarei manter o ritmo de publicações, com partilhas de assuntos que considere de interesse geral e não abdicando, de todo, das minhas próprias opiniões, pensamentos e reflexões. Estas não agradarão a todos, mas também não é esse o objectivo. Para isso existem chapelarias com chapéus para todas as cabeças e sapatarias com calçado para todos os pés.

Obrigado aos muitos que reconhecem este espaço como importante e até como serviço público no contexto da nossa comunidade.



(1) RSS é um acrónimo para Really Simple Syndication (ou Rich Site Summary), um formato de texto baseado em XML que permite a distribuição automática de conteúdos actualizados de um site, como notícias ou artigos de blog, para um programa agregador de feeds (leitor RSS).

15 de setembro de 2025

Recomendações do Dr. Claude

O Claude, um serviço de IA - Inteligência Artificial, disse ao Aparício, rapaz com mais ou menos a minha idade e mais ou menos o meu peso, que para essa relação de motor, digamos assim, pode continuar a correr com ritmos entre o 5:30/6.00 minutos/km, e por vezes mesmo na ordem dos 5 minutos/km, em planos, mas que já são valores que exigem boa capacidade cardiorespiratória e boa base de treino. 

Não obstante, o Claude alerta o Aparício para os problemas de impacto nas articulações, bem como para o risco cardiovascular, sobretudo se houver situações de hipetensão, diabetes e ou problemas cardíacos, que, felizmente o Aparício diz não ter. Eu também, até ver, também não.

Também alerta o Dr. Calude que, no geral e para essa relação de idade/peso, ritmos com 10 Km abaixo de uma hora exigem mais do coração mesmo que saudável.

Em resumo, para além das recomendações que poderiam ser de qualquer médico a cobrar 50 ou 100 euros por consulta, não é difícil admitir que o Dr. Claude tem razão.

De resto, o problema nestas coisas, não disse o Claude mas presumo eu, e falo em modo abstracto e para todos, é acharmos, eu, o Aparício e muita malta, que independentemente da idade e peso, somos todos campeões, como se atletas profissionais, com vinte e poucos anos, com 65 ou 70 kg de peso, boas capacidades físicas e treinos xpto. E no geral não somos. Fui, sim, na tropa, há 40 anos, em que pesava 70 kg e fazia 10 km com ritmos na ordem dos 3 minutos e picos. Em qualquer idade, mas sobretudo acima dos 50 ou 60, somos apenas uns coxos iguais a milhões de outros coxos. Mas com o impacto da moda das corridas e sua exposição mediática, desde logo nas redes sociais, tendemos a exagerar no tempo e distância, tantas vezes em níveis desconfortáveis e mesmo perigosos. Mas queremos dar ares de campeões, de supermans, e no final dos treinos ou das provas, glorificar o esforço e o sofrimento como troféus. Pura idiotice! O cemitério está cheio de campeões. O sensato, o correcto, o aconselhável, quer seja pelo Claude, quer seja por um especialista, é perceber os sinais do corpo, ter noção da idade e do peso, deixar o relógio em casa, cagar nas médias e correr ou caminhar de forma confortável, misturando corrida com caminhada e mesmo pausas se necessário, e em percursos com características adequadas e não andar por aí a fazer de cabras montesas a trepar freitas e caramulos.

Em resumo, assim como quem faz tatuagens e coloca piercings e outros artefactos no corpo, mesmo nos mais recônditos buracos, cada um pode fazer o que quiser, mas caldos de galinha e bom senso nunca fizeram mal a ninguém.

Com  igual idade e peso do Aparício, consigo correr 20 km? Sim, até já corri mais. Mas é recomendado? Não! Seguramente nem metade disso, antes. 4, 5 ou 6, por exagero, mas mesmo que 10,  sempre de forma confortável. Porventura, até de maneira mais saudável, apenas caminhadas entre os 40 e 60 minutos.

Posto isto, o Aparíco faça como quiser, mas por mim, tendencialmente, vou abandonar a corrida, ficando-me pelos trilhos semanais e caminhadas e retomar mais a bicicleta, porque pemite-me uma melhor gestão do esforço e, verdade se diga, a descer é a descer e todos os santos ajudam.

O resto, como diz alguém que gosta de poesia, que se foda!

O primeiro sinal

 


O primeiro sinal nas redes sociais da campanha da lista do PS  à eleição para a Assembleia de Freguesia de Guisande, encabeçada pelo Celestino Sacramento. No caso, um curto vídeo com o convite aos guisandenses para a apresentação pública de todas as listas concelhias pelo Partido Socialista, a decorrer na Câmara Minicipal da Feira, no Domingo, 21 de Setembro, pelas 17:00 horas.

Ficaremos à espera da apresentação oficial aqui em Guisande. Mas já estamos a menos de um mês das eleições.

A mensagem era tão curta e tão simples de transmitir que o Celestino bem que poderia dispensar de estar a ler o tele-ponto. Não foi o único a fazê-lo. Ficou assim, por isso, com um ar estranho, mas compreende-se o nervosismo. Afinal, o dom da palavra não é para todos. Eu talvez não fizesse melhor. 🙂

Estranho também é o slogan adoptado "No bom caminho". Se estivesse Guisande no bom caminho, dispensar-se-ía a desagregação, digo eu. Talvez fosse mais acertado escolher o slogan "Saír do mau caminho".

14 de setembro de 2025

Falta de cultura democrática

Sem ser advogado de Deus ou do diabo, porque ambos me dispensam, deixo aqui a minha opinião sobre um certo mau estar de alguns, gerado à volta da celebração da missa vespertina, de ontem, na capela do Viso, no mesmo dia em que também no recinto do monte estava programada a sessão pública de apresentação do Johnny Almeida e da sua lista concorrente às eleições para a nossa Assembleia de Freguesia para o próximo dia 12 de Outubro.

Em primeiro lugar não tenho informações  claras, se houve, ou não, pedido ao pároco nesse sentido e se daí houve alguma concertação. A explicação do pároco já foi dada e ouviu e compreendeu quem ontem participou na missa.

Por outro lado, mesmo que tenha havido essa conciliação, não vejo mal nenhum, como não veria se em causa estivesse qualquer outra lista partidária. É certo que são eventos de cariz político, mas temos que admitir que, independentemente do partido, são do interesse da freguesia, porque visam decisões importantes para o futuro da sua gestão. Não considero, por isso, que um evento político no contexto de eleições democráticas, tenha mais ou menos importância para a nossa freguesia do que um qualquer evento ligado à Festa do Viso, ao Centro Social, ao Trail do Viso, ou de qualquer outro grupo ou associação. Somos todos, ou não, da mesmo comunidade? Somos democratas e compreendemos e praticamos o espírito democrático ou somos apenas fundamentalistas?

Não vejo, assim que tenha havido qualquer mistura de religião com política. Na missa não vi bandeiras nem ouvi slogans ou discursos e no recinto não vi orações nem escutei a liturgia. Ambos tiveram os seus momentos, horários e espaços. A mistura, se a houve, foi na cabeça dos incapazes de perceber as diferenças.

Em todo o caso, e falo apenas por mim, fosse eu o cabeça-de-lista de um qualquer partido, nunca me poria a jeito para essa situação, porque sei do que a casa gasta e do quanto o partidarismo, na nossa e noutras freguesias, é ainda factor de divisão. Nestas coisas pagamos por ter cão e por não ter. A velha fábula "O velho, o rapaz e o burro" continua a fazer sentido. Mas dou de barato de quem assim não pensou, porque, como diz o nosso povo, quem mal não pensa, mal não faz".

Também,  quero dizer que não estou a ver, de todo, que o facto do final da missa ter coincidido com a hora prevista para o início do evento político (e este na realidade até começou mais de meia hora depois do final da missa) tenha influenciado a participação. Quem tinha a intenção de não ir, não foi e muitos foram os que estiveram na missa e seguiram para casa; E quem tinha a intenção de participar, participou e participaria mesmo que a missa fosse na igreja, no Santo Ovídeo, em Vila Seca ou em qualquer outro sítio. E tenho esse entendimento também em relação aos eventos de carácter geral. Quem tem a intenção de ir vai, haja ou não missa no mesmo local.

Para concluir este meu pensamento, que é só é meu, entendo que o que nos falta mesmo, é cultura democrática. E com estas e com outras, vejo que tive razão em recusar o convite de uma e outra lista (a quem agradeço a confiança e consideração) mas porque já adivinhava esta falta de cultura democrática numa luta de carácter partidário. Não de todos, claro, mas ainda de muita gente, sobretudo dos mais velhos, os que já deviam ter aprendido mais. 

Quanto à cultura democrática:

O que é cultura democrática?

A cultura democrática é o conjunto de valores, atitudes e práticas sociais que sustentam a democracia no dia a dia. Não se trata apenas de votar em eleições, mas de viver de acordo com princípios como:

- Respeito à diversidade de opiniões, crenças e modos de vida.

- Igualdade de direitos para todas as pessoas.

- Participação activa nas decisões colectivas.

- Respeito às regras construídas em comum (leis, constituição, acordos sociais).

- Diálogo e tolerância diante de conflitos.

- Responsabilidade colectiva em relação ao bem comum.

Como se pratica?

Praticar a cultura democrática significa agir no dia a dia de acordo com esses valores. Alguns exemplos:

- Participação política: votar, acompanhar debates, fiscalizar representantes, envolver-se em associações, conselhos ou movimentos sociais.

- Diálogo: escutar e argumentar sem recorrer à violência ou intolerância.

- Respeito: aceitar opiniões diferentes sem desqualificar ou excluir pessoas.

- Cooperação: trabalhar em grupo para resolver problemas comunitários.

- Educação crítica: procurar informação de qualidade, combater notícias e considerações falsas e incentivar o pensamento crítico e autónomo.

- Práticas quotidianas: em casa, na escola ou no trabalho, compartilhar decisões, respeitar regras colectivas e promover a justiça.

Em resumo: a cultura democrática é construída quando cada pessoa se compromete com respeito pelas diferenças, diálogo e participação. É também compreender o carácter de importância de um evento politico, independentemente de que força partidária representar, seja no final ou antes de uma missa, antes ou depois de um jogo de futebol.

13 de setembro de 2025

Sim, fui à apresentação do Johnny Almeida como (se vier a ter lugar) irei à do Celestino Sacramento


Como já escrevi no meu espaço, fui hoje ao fim da tarde á apresentação pública do Johnny Almeida e da sua equipa, no Monte do Viso. 

Boa participação e gostei do que ouvi do Johnny. Esteve bem melhor que no debate radiofónico. Mais directo e assertivo. 

Mas, concerteza, caso Celestino Sacramento venha a ter uma apresentação pública, e virá tarde, também conto estar presente. 

Ciente de que não poderei votar nos dois candidatos, porque será um voto nulo, tenho já algumas impressões definidas, mas quero decidir esclarecido. Para isso temos que ouvir as partes e confirmar percepções.

Bem sei que algum excesso de partidarismo, fanatismo até, impedem alguma clarividência e quem assim se define muito dificilmente se mistura.

Mas cada um é cada um, e sem abdicar das minhas convicações e formas de analisar as diferentes listas, ideias, projectos e capacidades de realização, passe o pleonasmo, considero positivo ser positivo.

Gostaria de ver numa e noutra apresentação gente mais conotada com um e outro lado, mas não tenho ilusões. O partidarismo, mesmo que já não tanto, ainda é muito fracturante. E é pena que assim seja. Talvez por isso e por outras, continuo a defender o que já é uma impossibilidade, que seria a lista independente, de união, de convergência. Nela, querendo, a freguesia contaria com o meu contributo. Não tendo sido, estou de fora e como um simples eleitor, já com ideias mas ainda sem decisão.

Mas sim, fico triste de ver que com 50 anos de democracia consolidada, ainda nada mudou, mesmo por parte de quem se apregoa como democrata.

12 de setembro de 2025

Eleições Autárquicas 2025 - Guisande - Análise ao debate na Rádio

Ouvi ontem, em directo, o debate na Rádio Clube da Feira, pelas 19:00 horas, entre os candidatos à Assembleia de Freguesia de Guisande, Johnny Almeida, pelo PSD, e Celestino Sacramento, pelo PS, cuja eleição em 12 de Outubro próximo determinará quem formará a Junta de Freguesia e, por conseguinte, fará a gestão de Guisande nos próximos quatro anos, num mandato importante, porque o primeiro depois de uma falhada União de Freguesias que durou 12 anos.

Antes de mais, tenho em conta que os candidatos não estão habituados a ser entrevistados em directo para a rádio, pelo que naturalmente o nervosismo e as condicionantes do debate não ajudam à maior clareza. Mesmo com alguma preparação prévia, as coisas na hora tendem a ser esquecidas ou expostas de forma menos adequada.
Por conseguinte, acredito que ambos procuraram fazer o seu melhor nas respectivas condições.

Posto estas impressões iniciais, no geral, e é apenas a minha opinião, o debate ficou aquém do que eu esperava. Em vários temas pareceu-me um pouco pobre. Ambos mostraram ter praticamente as mesmas ideias, concordantes nas principais necessidades ( o que não é defeito) mas não foram capazes de se diferenciar quanto à substãncia e forma de as expor e como resolver. Pareceu-me que o debate foi pouco preparado ou, se foi,  pelo menos apresentado de forma pouco clara, muito superficial.
Houve até, de parte a parte, vários exageros, algumas confusões, certas omissões e diversas informações erradas em aspectos que me parecem importantes, nomeadamente os seguintes:

Edifício sede da Junta

Quanto às condições do edifício sede da Junta de Freguesia, houve um claro exagero de ambos os candidatos. O edifício tem condições de funcionamento e tem servido como pólo da actual Junta da União. O que de facto necessita é de obras de requalificação, com substituição da cobertura em chapas de fibrocimento, melhoramento das condições térmicas, criação de acessibilidades, renovação estética dos espaços, melhorar e modernizar o arquivo e sala de atendimento, bem como modernização da fachada principal. Mas, repito, daí a considerar-se que não tem condições de funcionamento ao ponto de se equacionar a mudança para o Centro Cívico é um exagero. O edifício não mete água nem está a ruir.

Envolvente da igreja matriz

Foi exagerado dizer-se que não há espaços de estacionamento. Claro que há: no Adro Padre Francisco de Oliveira, na Alameda Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, na baía junto aos Ecopontos e nos arruamentos envolventes. Para o dia a dia das actividades da paróquia, têm chegado e sobrado. Em situações de maior afluência, como alguns funerais, o Dia de Todos os Santos ou celebrações mais significativas, será importante haver mais lugares. Ou seja, há estacionamento e nunca foi um sério problema, mas concordo que, havendo possibilidade, será positivo ampliar os lugares existentes. No Adro, não há árvores enormes a dificultar o trânsito. Apenas alguns arbustos que merecem cuidado e poda. No entanto também considero que é possível melhorar. Talvez não se justifiquem os separadores centrais, e a sua eventual remoção, e delimitação com pintura no pavimento, permitirá um espaço mais adequado à circulação e estacionamento.

Por outro lado, ambos falaram dessa necessidade, bem como de um parque de lazer, mas ninguém explicou de forma séria como o fazer, dado que o terreno contíguo, a sul da Alameda, é privado e necessita de negociação. Se for adquirido — o que não será barato, certamente — poderá ser agregado ao terreno já pertencente à Junta, do lado sul e poente do cemitério, adquirido no mandato de 2014/2017, quando fiz parte da Junta.
Em resumo: será uma obra interessante se for possível, mas carece de negociação com privados e, sem apoio da Câmara, representará um grande esforço orçamental, pelo que terá de ser uma obra para mais do que um mandato.

Monte do Viso

Ambos concordaram na necessidade de obras, incluindo um parque infantil, mas foram vagos e pouco objectivos quanto à forma e ao conteúdo O espaço está mais ou menos definido mas há opções que devem ser tomadas, por exemplo considerar a reformulação da zona central onde está o pequeno lago e várias árvores e arbustos, de modo a no futuro optimizar um melhor local para o palco aquando da Festa do Viso, mas compensar com a plantação de árvores de sombra. Como está, esse espaço separa o arraial em duas zonas e não contribui para a hamonização do conjunto. Requer um bom estudo, bem pensado.

Ambos falaram na necessidade de alargar a rua de Santo António, do lado norte, e creio que é possível até porque no mandato de 2014/2017, obteve-se a concordância dos proprietários marginais. Infelizemnte, o executivo do 2.º mandato ignorou por completo essa necessidade mesmo não comportando custos significativos. A realizar-se será um melhoramento importante.

Auditórios e Centro Cultural

Questionados sobre a existência de auditórios, ambos disseram não haver nada na freguesia além do apoio do Centro Cívico. É verdade que a Junta não tem equipamento próprio, mas existe um pequeno auditório no Centro Cívico, onde já se realizaram actividades, e sobretudo o Salão Paroquial, recentemente requalificado, que há mais de 60 anos tem sido espaço nobre para teatro e outros eventos. Não é da Junta, mas é da paróquia e da freguesia.

Quanto à ideia do Centro Cultural, lançada por Johnny e à qual Celestino disse não acreditar, é de facto um sonho. Antes disso, será fundamental apoiar a reactivação da Associação Cultural de Guisande “O Despertar” e os grupos já existentes, para que no futuro o sonho de um Centro Cultural faça sentido.
Ninguém lembrou que existe, no lugar de Fornos, um terreno pertencente à Câmara, adquirido no final da década de 1980 precisamente para acolher um Centro Cultural, então pensado para a sede de “O Despertar”. Será, pois, um projecto de futuro, mas só fará sentido com um tecido associativo à altura.

Campo de futebol e desporto

Houve desinformação quanto à propriedade do terreno, supostamente o entrave à instalação do relvado sintético. Celestino Sacramento disse tratar-se de terreno particular, o que é falso na substância: foi doado na década de 1980 à Junta de Guisande. Existe escritura, embora, por desleixo da Junta de então, nunca tenha sido registada na Conservatória. Com o falecimento da doadora, não tendo sido feito o registo na década de 1980, o prédio entrou em herança. A situação detectada passou a exigir a regularização burocrática, da qual têm surgido divergências entre herdeiros e Junta, quanto à forma de regularizar, com cada parte a travar-se de razões. Apesar disso, a herança nunca se opôs à legitimidade da escritura nem da regularização necessária nem ao entrave no processo de candidatura ao projecto do arrelvamento. Ora este esclarecimento ficou por fazer no debate e o que foi dito só aumentou a confusão de quem está por fora do processo.

Faltou dizer, também, que a actual Junta da União recuou no compromisso público de apoio financeiro. Em Dezembro passado, no jantar de Natal do Guisande F.C., o presidente da Junta afirmou que o apoio seria garantido, na ordem dos 100 mil euros, independentemente do que viesse a ser decidido no processo de desagregação. Meses depois, com a desagregação consumada, a Junta recuou no compromisso público ao clube e à comunidade,  limitando a perspectivar um apoio de apenas e cerca de 20% desse valor. Ora para concretizar a obra, temos que admitir que gace a este recuo será um esforço grande para a futura Junta, o que obrigará a uma engenharia financeira pluri-anual, parece-me. Em todo o caso, importa que a futura JUnta não se desvie desta objectivo.

Creio que também nada falaram sobre o rinque polidesportivo de Casaldaça, requalificado pela Câmara com investimento de cerca de 180 mil euros, mas cujas obras no balneário ficaram de fora. Não se ouviu o que pretendem fazer para dinamizar o espaço que continua sem qualquer movimento, salvo um torneio organizado pela cessante Comissão de Festas  do Viso.

Cultura - Associativismo

Ambos prometeram apoiar logisticamente e financeiramente as associações existentes, mas nada disseram sobre reactivar “O Despertar”. É importante que a Junta, para além de apoiar e acarinhar os grupos que existem, com o seu poder agregador, possa incentivar e criar condições para reerguer aquela que foi a mais importante associação cultural e recreativa da freguesia, porque faz falta.

Urbanismo e PDM

Ambos traçaram o retrato das dificuldades do urbanismo e da esperança em reverter a quebra populacional, constatando a construção de várias habitações nos últimos tempos e a perspectiva de novas edificações. Mas não abordaram nem censuraram aspectos cruciais, como a revisão do PDM, supostamente ainda em curso, onde os técnicos da Câmara, em contra senso com os objectivos da Lei dos Solos, que é promover mais terrenos para construção, prevê reduzir espaços urbanos, classificando-os como rurais, mesmo em arruamentos centrais à freguesia e já dotados de infra-estruturas, nomeadamente em parte da Rua Cónego Ferreira Pinto, Rua da Zona Industrial, Rua do Viso e outras. Mostraram desconhecer o assunto pelo que se desconhece se ainda vão a tempo de, em se de de consulta pública, atalhar estas reduções injustificadas e penalizantes para o crescimento urbano da freguesia a curto prazo.

Aspectos gerais:

Ambos não conseguiram, no geral, avançar com outras ideias e projectos, mesmo que simples, mas diferenciadores. Uma ou outra ideia, já em vigor na União de Freguesias, bem como, no que concordo, com a possibilidade de em protocolo manterem o evento Corga da Moura, se nas mesmas condições e com uma participação proporcional, embora com reservas por parte do Celestino Sacramento. Não obstante, no geral, eu esperava mais ideias e iniciativas diferenciadoras. Algumas, até já as sugeri por aqui.

Aspectos positivos ou menos positivos

De Johnny Almeida: Citou várias vezes o actual presidente da Câmara como apoiante dos projectos para Guisande, e que ciente do atraso da freguesia, mas esquece que este  ainda terá de passar pelas eleições. Por enquanto o actual presidente é apenas um de vários candidatos. 

Além disso, pareceu desculpar demasiado a União de Freguesias, ignorando que esta está a concluir 12 anos de governação e seria interessante procurar saber onde foi aplicado no nosso território, pelo menos 1 milhão e 200 mil de euros a que Guisande,, por proporção do orçamento teria direito. 

Parece-me que, se é facto que houve uma óbvia melhoria no aspecto de  proximidade do presidente aos grupos e às pessoas, honra lhe seja feira, quanto a obras registam-se alguns melhoramentos com desvio de águas pluviais, a construção de mais sepulturas no cemitério, uma ou outra intervenção, mas no geral pouco de substancial foi feito e as mais significativo, como pavimentações e requalificação do rique polidesportivo, e saneamento e pavimentação da Rua de Trás-os-Lagos foram do orçamento da Câmara Municipal ou de apoio substancial desta. 

Mesmo a limpeza dos espaços públicos, numa boa parte da freguesia tem sido muito descurada nesta parte final do mandato. Alguns melhoramentos ainda estão por concretizar, como as sarjetas na Rua Nossa Senhora de Fátima entre os lugares da Leira e Gândara. Não confirmei nos últimos dias, mas há uma rua interrompida há meses e sem fim à vista (Rua do Sebastião, em Cimo de Vila). A obra do saneamento e a repavimentação da Rua da Zona Industrial já não vai ser realizada neste mandato nem deixada verba cabimentada para tal. Por conseguinte, a União de Freguesias, em 12 anos, com o PSD (2 mandatos) e o PS (1 mandato) não conseguiu ser diferenciadora nem resolver assimetrias. Foi muito pouco face às expecativas dos arautos e defensores da União.

No geral, mesmo que de forma muito suscinta, o Johnny Almeida mostrou ter vontade e espírito de iniciativa e com algumas ideias ambiciosas como o Centro Cultural e o melhoramento da ligação de Gião a Guisande para potenciar a ligação à A32 e algo diferenciadoras em relação ao Celestino Sacramento.

Finalmente, no minuto reservado para a declaração final, foi muito rápido gastando apenas 23 segundos. Poderia, a meu ver,  aproveitar todo o tempo previsto para enriquecer a mensagem. Foi a despachar.

De Celestino Sacramento: Tal como o colega de debate, disse ter muitas ideias mas na verdade foram abordadas muito pela rama, sem qualquer sustentação de como as realizar e cabimentar no orçamento da Junta. Não apresentou nada de diferenciador.

Apontou o dedo ao anterior executivo de ter terminado com o serviço de enfermagem (no mandato anterior pois ainda funcionou de 2013 a 2017)  mas ignorou que o executivo que apoia não foi capaz de o retomar. 

Creio que todos, a começar por mim, reconhecemos a importância que o Celestino Sacramento teve no processo de desagregação e obtenção da independência da freguesia. Mas não lhe ficou bem  chamar apenas a si esse papel e mérito. Teve-o, foi importante, como também importante e decisivo foi toda a bancada do PSD na Assembleia de Freguesia, que votou a favor, ao contrário dos colegas de bancada do Celestino. Alguns elementos da bancada do PS, residentes ou com origens familiares em Guisande, votaram mesmo contra ou abstiveram-se. Sem a posição e o voto do Celestino nada se conseguiria como também é verdade que nada se alcançaria sem a votação da bancada do PSD.

Por conseguinte, neste puxar dos louros, faltou ao Celestino Sacramento dizer que também o Dr. Rui Giro teve um papel fundamental na orientação e preparação do processo e da parte jurídica, e mesmo na recta final, quando já se dava por perdida a desagregação, foram o seu papel e intervenção fundamentais ao promover a sessão extraordinária da Assembleia de Freguesia, pelo final do ano de 2024, que veio clarificar a situação e ainda ir a tempo de ser apreciada e votada favoravelmente na Assembleia da República. Creio que sem lhe retirar o mérito, o apreço e o reconhecimento, e disso nunca esquecerei, ficou mal esta omissão ao Celestino Sacramento, porque era de justiça. Acredito que foi  sem intenção de ignorar o papel e importância dos demais, e do Dr. Rui Giro, mas foi essa imagem que passou.

Quanto ao Centro Social, esteve bem o Celestino Sacramento ao apontar a falta de cumprimento pela Segurança Social do programa de apoio para Centro de Dia, bem como da parte política, mas falhou ao equacionar o encerramento do Centro Social. Ora para quem for presidente da Junta deve desenvolver todos os esforços no sentido de fazer crescer e funcionar os equipamentos e nunca baixar os braços ou equacionar pelo seu encerramento.

Resumo

Não obstante a minha análise, os candidatos deram o seu melhor, embora o nervosismo em directo condicione sempre a clareza. Foi um debate educado, sem atropelos e com respeito mútuo, entre dois candidatos que certamente desejam o melhor para a freguesia. Concordaram nas principais necessidades, diferindo pouco na apreciação às mesmas.
A diferença entre ambos os candidatos e respectivas listas poderá estar na capacidade de concretização. Contudo, na substância e forma, o debate ficou um pouco aquém do que eu perspectivava. Talvez por elevar as expectativas. Foram algo superficiais, mas mesmo assim ficaram no crivo várias ideias que podem e devem ser desenvolvidas durante a campanha eleitoral.

Concluindo, e esta é apenas uma análise pessoal, e de forma isenta tanto quanto possível, se tivesse de decidir o meu voto apenas com base no debate, confesso que ficaria com dúvidas, pelo que aguardo os futuros desenvolvimentos da campanha de ambos os partidos e candidatos e suas dinâmicas. Hoje em dia o eleitorado exige clareza e já não alinha em métodos de campanha manhosos.

Para fechar mesmo, destaco e enalteço a postura respeitosa de ambos e agradeço-lhes a disponibilidade para servir a freguesia e a comunidade. Bem hajam!