21 de julho de 2022

Malhar em ferro frio


A malta irrita-se mas não há volta a dar. No geral falamos mal e escrevemos pior. Tenho-o dito e escrito, até de forma persistente, mas é tarefa ingrata, senão inglória, bem justificada pela máxima popular de que "lavar a cabeça a burros dá trabalho e gasta sabão". Mas prometo que vou continuar a gastar sabão, já que o sabonete é bem mais caro e só deve usar-se em cabeças de burros finórios.

Podemos todos ter mil e uma desculpas para esta nossa quase ileteracia, ou, bondosamente, azelhice, mas creio que todos, pelo menos de há meio século a esta parte, andamos na escola, tivemos as mesmas oportunidades de aprender. E os velhos professores, pouco ou muito ao contrário dos novos, até nem davam moleza nessa trilogia do saber ler, escrever e falar. Ah, pois, e as contas... Mas essas, as contas, são outras contas.

Por conseguinte, se não lemos, escrevemos e falamos bem, ou pelo menos benzinho, é porque disso nunca fizemos questão. Que importa trocar os "vês" pelos "bês", mesmo não se sendo tripeiro? Que importa saber se aquele pequeno fruto doce e sumarento é cereja ou cereija ou mesmo sereija? A quem interessa que não se deva dizer "houveram pessoas" em vez de "houve pessoas", porque o verbo "haver" é impessoal e só se conjuga na terceira pessoa do singular, nas frases em que o seu significado equivale a existir? Ainda, serão poucos os que se preocupam se forem pedir um"concelho" ao presidente do "conselho".  O autarca até poderá nem dar pela troca desde que o munícipe lhe garanta o "boto". Ademais, se a coisa estiver amarga, adoça-se com açúcar ou "assucar", com ou sem "acento" porque o "assento" dá jeito ou "geito" quando estamos cansados desta conversa, ou será "converça" ou mesmo "comberssa" ? Estamos conversados ou pelo menos "comberssados".

Mas como somos bons nas desculpas, desculpamo-nos sempre. Como diz o bom português, principalmente o que escreve mal, "não é por isso que não nos entendemos!" Pois não! E se assim nos entendemos, "bora lá, a continuar a escrever mal!" e se nos servir de consolo ou "conçolo", não estaremos sós nesta demanda. Esta do "bora" usada por tudo e por nada, quase parolamente, também dá que falar e dará pano para mangas.

Em resumo, alguns de nós leem jornais, outros livros, outros ambos, mas, no geral, e sempre não generalizando, a maioria não lê uns nem outros e muito menos com a preocupação de aprender ou reaprender. Ora quem não lê nem escreve de forma rotineira e interessada, não exercitando, dificilmente fala, lê ou escreve bem. Vemos muita malta a correr e a saltar com frequência, "para manter a forma física", o que é positivo, mas já quanto ao "manter a forma" a ler e a escrever, esquece ou mesmo "esquesse". Somos muito esquecidos ou "esquessidos", talvez devido ao "eixesso" de "keijo".

Para além de tudo, mesmo, lendo e escrevendo mal, somos também uns mestres no uso e aplicação de estrangeirimos, sobretudos os anglicismos, empregando-os por tudo e por nada. Como exemplo, é ver o que por aí vai no mundo dos eventos e provas desportivas: Eles é run, trails, trophy, challenge, etc. Se não tiver um nome ou uma designação em inglês, a coisa não será fixe porque "démodé". Voilá!

Last man standing! I'm out!

20 de julho de 2022

Apelo ao bufismo


Vi e li pelas redes sociais, os dados informativos de como comunicar à GNR situações de terrenos por limpar. Há até um formulário que pode ser preenchido no endereço facultado pela GNR.

Também por email: sepna@gnr.pt ou por telefone: 808200520. Pode ainda, naturalmente, ser feito o reporte via presencial em qualquer posto.

Apesar de tudo, convenhamos, é um apelo um pouco estranho, pois, sobretudo à face dos arruamentos públicos, as situações que podem ser consideradas como desrespeitadoras, são por mais evidentes e qualquer agente da guarda, dando uma voltinha pelas freguesias, pode tomar notas. Diz o povo que "pior cego é aquele que não quer ver". Só em Guisande são dezenas de situações flagrantes. Por conseguinte, pedir ou incentivar às pessoas que façam o trabalho das autoridades é questionável. 

Bem sei que está em causa um acto de cidadania quanto a um assunto que interessa a todos, mas há coisas que não se devem misturar, nomeadamente as competências que cabem às autoridades, como é a da fiscalização. Incentivar as pessoas a fazerem queixa de outras e de vizinhos, não é muito cultural  pois ninguém gosta de ser apelidado de bufo.

Sabemos todos que há má vizinhança sempre disposta a fazer queixas e queixinhas, por tudo e por nada, mas no geral ainda vamos vivendo na filosofia de que não devemos querer o mal do vizinho. Assim, não sei se este apelo à denúncia trará grandes resultados.

Ademais, convém ter em conta que vi propriedades a serem limpas em Fevereiro ou Março e que já estão com aspecto de falta de limpeza. Mesmo as nossas valetas já têm ervas de metro, ultrapassando os ridículos 20 cm legislados. Podemos, pois, estar a reportar injustamente. Isto de ser fiscal pro bono, tem que se lhe diga.

Por outro lado, perante as notícias diárias dos incêndios, muitos e devastadores, ameaçando constantemente aldeias, levando já à morte de pessoas e gente do combate, importará perguntar: Mas então, as obrigações de limpezas e os respectivos custos para os proprietários, que frutos estão a dar na diminuição dos incêndios e dos perigos para as aldeias, pessoas, animais e bens? Pelo que se vai vendo, a resposta vai no sentido de pouco ou nada. 

Retomando o assunto, importará, sim, que se salvaguardem as limpezas junto às habitações e aldeias, impedindo manchas densas de arvoredo sobre as estradas e habitações, mas que, igualmente, se tenha em conta as dificuldades das pessoas e dos proprietários, tantas vezes sem capacidade económica de limpar ou mandar limpar terrenos que não lhes garantem qualquer rendimento. Também ter em conta as características das nossas florestas em que se limpando em Fevereiro ou Março nos meses de Verão já têm uma camada densa de fetos, mato e ervas. Ora quando seria mais útil limpar, é precisamente quando as pessoas estão proibidas de o fazer.

Por conseguinte, antes do apelo aos "bufos", importará aplicar políticas ajustadas, sensatas, equilibradas e apoiadas. Sem isso, com mais ou menos queixas, com mais ou menos multas, as coisas vão continuar mais ou menos iguais: Milhares de hectares a arder, aldeias em perigo, casas queimadas animais e gente a morrer. Os telejornais a abrir e a fechar com incêndios, os políticos sempre com boas desculpas e desculpados e milhares e milhões gastos em pessoal, aviões e helicópteros a largar água, em vez de na prevenção e incentivo às limpezas. Os criminosos esses continuam a ser detidos e soltos em vez de serem controlados com pulseiras electrónicas ou mandados de férias para o Polo Norte.

[foto: RTP]

15 de julho de 2022

Incêndios. Mais do mesmo!


Nesta altura do ano, Verão, os incêndios tornam-se o "pão-nosso-de-cada-dia". É mais do mesmo! Abrem e fecham telejornais, fazendo esquecer a Covid, a Guerra na Ucrânia, os caos nos aeroportos e SNS.

Como alguém disse, nunca houve tantos meios, tanto dinheiro, tanta coordenação, tantos bombeiros com formação, tanto especialista em teatro de operações, até o presidente da república, nem tantos meios terrestres e aéreos. Nunca houve tantas proibições nem tantas obrigações e, contudo, os incêndios são cada vez mais, e ano após ano temos esta persistente realidade de que as coisas não mudam ou se sim, para pior.

E de quem é a culpa? O Governo diz que são as pessoas, como se fôssemos todos irresponsáveis, bandidos e criminosos. As pessoas dizem que são os criminosos e os lobies da indústria dos incendios (bué de lucrativa). As pessoas também dizem que é do Governo, das Juntas, das Câmaras e das autoridades, que multam uns e não multam outros. Obrigam uns a limpar a erva e permitem a outros as manchas compactas de arvoredo a cobrir as estradas (Em Guisande é um fartote). Enfim, um rol de culpas, responsabilidade e incompetências. Todos com e sem razão.

Mesmo que os javalis não fumem nem os texugos usem roçadoras nem os coelhos façam churrascadas, a verdade é que os grandes incêndios, aqueles que têm impacto, deflagram invariavelmente a altas horas da noite e mesmo de madrugada, em que são detectados mais tarde e os alertas transmitidos quando a dimensão é já grande. Mas aqui o Governo desvaloriza e continua a apontar baterias para a irresponsabilidade dos cidadãos.

Por sua vez, os criminosos, tantas vezes apanhados em flagrante, são ouvidos em Tribunal e postos cá fora para dar continuidade à actividade, quando deviam ser obrigados a irem de férias para a Gronelândia nos meses de Verão.

E não! A culpa não será também das alterações climáticas, porque se é certo que os verões são cada vez mais secos, certo é que já nos antigamentes os meses de Verão eram muitos quentes e também havia vagas de calor. Mas havia uma coisa que agora não há: Limpeza sistemática das florestas e áreas agrícolas e seu total aproveitamento económico, mesmo que ao nível familiar. Tudo no mato era aproveitado, desde o tojo aos gravetos, ramos, caruma dos pinheiros e folhas. Era uma maravilha caminhar pelos matos. Pareciam campos. Um incêndio por esses tempos eram mesmo uma coisa rara e havia mais gente a trabalhar nos campos e matos, o que agora se proibe. Credo, em cruz! Passear nos matos? Nem pensar!

Hoje em dia é o que se vê: Os modos de vida alteraram-se, dizem que para muito melhor, e por isso já ninguém precisa de andar ao mato ou às pinhas. Assim, a floresta cresce de forma selvagem, acumulando-se matéria combustível ano após ano, até que venha novamente o fogo para limpar e o ciclo recomeça. 2+2=4.

O Governo prefere pagar todos anos balúrdios de milhões à indústria dos incêndios, em vez de promover e subsidiar as limpezas e acções de vigilância e prevenção. O Governo proibe e obriga, muitas vezes de forma contraditória, retirando capacidade de ganho económico a quem tem propriedades florestais, pequenas ou grandes, levando ao seu desinteresse e abandono. 

O Governo não se impõe no ordenamento da floresta e não tem política florestal. Vai-se falando disso sempre que a coisa dá em tragédia. O Governo não limita nem reduz a mancha de eucaliptos nem promove a obrigatoriedade de plantar árvores autóctenes de modo a contrabalançar gradualmente a diversidade dos povoamentos florestais. O Governo não promove a abertura e alargamento de caminhos, estradões e aceiros. Enfim, um Governo ou Governos que, mandato após mandato, se mostram ineficazes apesar de muita conversa para adormecer burros.

Por conseguinte e em resumo, as coisas são como são e cada vez vão ser mais do mesmo até que o país seja uma macha cinzenta. Afinal, o que não tem remédio, remediado está!

14 de julho de 2022

Nota de falecimento

 


Faleceu António Ribeiro da Silva (conhecido como Ti António do Canto), de 90 anos (28 de Agosto de 1931-14 de Julho de 2022).

Natural de Azevedo - Caldas de S. Jorge, residia no lugar do Outeiro.

Cerimónias fúnebres na Sexta-Feira, 15 de Julho, pelas 16:00 horas, na igreja matriz de Guisande indo no final a sepultar no cemitério local.

Missa de 7º Dia na Sexta-Feira, 22 de Julho pelas 19:30 horas na igreja matriz de Guisande.

Sentidos sentimentos a todos os familiares. Paz à sua alma! Que descanse em paz!

12 de julho de 2022

O gangue das churrascadas e roçadoras


1) Proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessem;

Esta é a primeira de um conjunto de 5 medidas preventivas definidas pelos serviços de Protecção Civil no âmbito da Declaração da Situação de Alerta devido às altas temparaturas e ao risco de incêndios.

Parece-me, a mim, ao contrário das demais medidas (que abaixo transcrevo), despropositada, abusiva e atentatória de liberdades, direitos e garantias.

Desde logo porque assenta em pressupostos naturalmente errados de que todos somos uma cambada de irresponsáveis e criminosos a ponto de não podermos circular livremente nas nossas florestas e caminhos públicos. 

Pegando nos mesmos pressupostos de quem determinou essa desproporcionada e mesmo abusiva medida, porque não proibir os condutores de utilizarem estradas e auto-estradas sob o argumento de poderem causar acidentes ou serem vítimas deles? Em rigor qual a diferença? É que acidentes nas estradas são diários e com consequências de ferimentos, mortes e prejuizos materiais.

Por outro lado: Há dias foi detido o presumível autor do maior incêndio florestal deste ano, e isto porque houve testemunhas. Ora proibindo as pessoas de acederem aos espaços florestais, mesmo e apenas para simples caminhadas, os criminosos podem agir à vontade sem risco de serem testemunhados.

Ou seja, quando seria de aumentar a vigilância das florestas e com ela a dissuasão dos criminosos, constata-se e promove-se o contrário.

Recordo-me, de aqui há alguns anos, um colega estar a fazer BTT numa floresta da zona e detectou o início de um incêndio. Conseguiu combater o seu alastramento bem como deu o imediato alerta às autoridades e bombeiros. Não fora isso, e proibido que fosse de andar por ali, o incêndio tinha alastrado e atingido naturalmente outras proporções.

Mas as nossas autoridades pensam de maneira diferente e por isso não surpreende que de ano para ano, apesar de medidas e mais medidas, proibições e mais proibições, obrigações e mais obrigações, de limpezas e outras que tais, os incêndios sejam sempre um fartote. Os criminosos, autores comprovados dos maiores incêndios florestais, esses são relevados. Os cidadãos, esses são os criminosos que só pensam em churrascadas e roçar mato, como autênticos gangues de malfeitores e, por isso,  há que lhes pôr a rédea curta. O Estado não confia, de todo, nos seus cidadãos. Devemos nós confiar no Estado?

É o que temos.



Restantes medidas:

2) Proibição da realização de queimadas e queimas de sobrantes de exploração;

3) Proibição de realização de trabalhos nos espaços florestais com recurso a qualquer tipo de maquinaria, com exceção dos associados a situações de combate a incêndios rurais;  

4) Proibição de realização de trabalhos nos demais espaços rurais com recurso a motorroçadoras de lâminas ou discos metálicos, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal.

5) Proibição total da utilização de fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos, independentemente da sua forma de combustão, bem como a suspensão das autorizações que tenham sido emitidas;

A proibição não abrange:

1) Os trabalhos associados à alimentação e abeberamento de animais, ao tratamento fitossanitário ou de fertilização, regas, podas, colheita e transporte de culturas agrícolas, desde que as mesmas sejam de carácter essencial e inadiável e se desenvolvam em zonas de regadio ou desprovidas de florestas, matas ou materiais inflamáveis, e das quais não decorra perigo de ignição;

2) A extração de cortiça por métodos manuais e a extração (cresta) de mel, desde que realizada sem recurso a métodos de fumigação obtidos por material incandescente ou gerador de temperatura;

3) Os trabalhos de construção civil, desde que inadiáveis e que sejam adotadas as adequadas medidas de mitigação de risco de incêndio rural.

10 de julho de 2022

Desprezo



Bem sabemos que, por novos modos e estilos de vida, algumas coisas perderam a sua importância quanto à sua finalidade. Todavia, e tome-se como exemplo este antigo lavadouro com fonte, mesmo já sem utilização, frequente ou mesmo residual, parece-me que continua a ser um elemento do património colectivo e rural de uma terra. Afina de contas, parte intrínseca da sua cultura e identidade. 

Ora quando tal é desprezado ao ponto de nem merecer, sequer,  uma limpeza envolvente, então algo está mal e quem tem essa responsabilidade e quem representa essa terra e comunidade, não tem muito como justificação. 

O problema, apesar de tudo, é que a maioria dos cidadãos que elegem esses tais representantes, e que lhes conferem a legitimidade, padece, ela própria, de falta de sentido de comunidade e de orgulho e amor à terra. 

A coisa está a ser erodida há muito e já pouco mais há a fazer. 

Os mais velhos, aqueles que ainda sentem nos pés e na alma o apego das suas raízes, e conhecem os lavadouros e as fontes, e as memórias a elas associadas, são cada vez menos e as suas vozes e estados de alma  já pouco são considerados porque, por questões naturalmente compreensíveis, não são dados a fazerem-se ouvir pelas redes sociais. São raros os casos e mesmo esses, pregando no deserto, acabam por desistir .

É pena, mas, como diz o meu amigo Pinto, numa sentença como pé para toda a chinela, "...as coisas são como são!!