9 de setembro de 2022

Trotinetas e Trotitretas

Segundo o Decreto-Lei nº 102-B/2020, em vigor desde o início de 2021, que pretende regulamentar o uso das trotinetas eléctricas, estas enquadram-se na categoria dos velocípedes. 

São veículos com duas ou mais rodas, cujo motor (se existir) é acionado pelo esforço do próprio condutor. Devem ter uma potência máxima contínua de 0,25 kW, ou seja, não podem exceder a velocidade máxima de 25 km/h.

O Decreto diz ainda que "são proibidos os comportamentos que representam perigo para a circulação, como manobras indevidas. As mãos devem estar sempre no guiador, exceto no caso de assinalar manobras. A condução sob o efeito de álcool também deve ser evitada, e os agentes de autoridade podem requisitar fazer-se um teste de alcoolemia.

Devem circular apenas nas ciclovias, ou pistas mistas. Podem transitar nas vias de trânsito, do lado direito pela direita e sem perturbar o trânsito, mantendo uma distância suficiente dos passeios ou bermas. Os passeios são para evitar - com a exceção das trotinetes sem motor - salvo se o condutor levar a trotinete pela mão, sem a conduzir.

Pode circular paralelamente, mas não em par, até duas trotinetes eléctricas, excepto em casos de fraca visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito. Assim, evitam-se bloqueios ou situações de perigo."

Estas e outras regras expressas pelo dito cujo Decreto, são importantes quando cumpridas, de resto como qualquer lei. Mas no essencial, do que se tem visto é uma anarquia e mesmo situações de abuso e perigo.

Ainda um destes dias, descia eu de bicicleta pela Estrada Nacional 326, de Escariz para Cabeçais, a cerca de 40 Km hora, com o meu capecete e com o meu seguro de responsabilidade civil. Pois bem, de repente fui ultrapassado por um jovem numa trotineta, sem capacete, seguramente a mais de 50 Km hora e de seguida vi-o a ultrapassar um carro quase em zona de curva.

Porventura era uma benção que se esbardalhasse à frente para aprender que aquilo não se faz e é contra todas as regras, incluindo a do bom senso. Felizmente, não! Mas se sim e na ultrapassagem e no acidente provocasse danos a terceiros? Quem seria o responsável e de que modo pagaria?

Mas estas são perguntas difíceis e nem vale a pena perguntar. Asneira minha.

Entretanto, informa-se que em Guisande já é possível usar trotinetas e bicicletas eléctricas. É verdade! Desde que as comprem, claro!

8 de setembro de 2022

Centro Cívico - 8 anos


Parecendo que foi ontem, na realidade foi em Setembro de 2014 que tiveram início as obras de construção do Centro Cívico, com requalificação e aproveitamento do edifício da Escola Primária do Viso. Passam, pois, 8 anos.

Infelizmente, apesar das obras estarem concluídas há bastante tempo, resultando num edifício com capacidades e condições que aos guisandenses deve orgulhar, continua ainda a depender de decisões políticas para funcionar em pleno e prosseguir os seus objectivos. 

Mudanças de governos, mudança de políticos, de políticas e de prioridades, vão fazendo este país funcionar em permanente estado de indecisão, em suspense, e no caso, em incumprimento com palavras e acordos, mas bem sabemos que a palavra tem pouco ou mesmo nenhum valor para os políticos e políticas. 

Louve-se o esforço e dedicação da Direcção, que se aguenta num barco a remar contra mares e marés, mas quando as grandes e fundamentais decisões dependem de políticos e dos seus estados de humor, tudo fica mais difícil. 

A bonança não se antevê.

Há sempre portas a fechar e as chaves gostam de chaveiros.

7 de setembro de 2022

Tudo e nada


Em tudo o que toco, reluz,

O brilho da saudade passada.

Será esta, em bem, a minha cruz:

O ter tudo sem, por mal, ter nada?

A vida em papéis




Quando temos algum tempo livre, mesmo que já no queimar dos últimos cartuchos de uma pausa no trabalho, designado por muitos, de férias, há a tentação de deitar mãos à obra e mexer em velhas papeladas, dando o devido destaque a umas, organizando outras e queimando outras mais. 

Com esta minha velha mania de guardar caixas e embalagens e outros papéis (e ainda bem, porque à conta disso tenho cadernetas de cromos dos anos 70 a valerem 500 e mais euros, e cromos a valerem 5 euros por unidade), às tantas damos de caras com a box do telemóvel Nokia 6600, da máquina fotográfica Sony DSC-P71, do CD da Sapo ADSL, de uma colecção do “Bits & Bytes” – suplemento do Jornal de Notícias, da colecção da revista PC Guia dos anos 90,  revistas dos anos 70, como a Tele Semana e a Crónica Feminina, etc, etc, coisas e tecnologias que ainda há duas ou três dezenas de anos eram a cereja no topo do bolo e que hoje nos parecem as velhas mocas dos homens das cavernas.

As coisas são como são. Nem sempre é saudável mexer no estrume com que plantamos e fizemos crescer as nossas vivências e convivências, mas verdade se diga, tudo o que somos hoje, para o bem e para o mal, somos o fruto dessas árvores.

E posto isto nestes termos, porque guardados, damos de cara com os cadernos diários dos primeiros tempos de escola dos nossos filhos, e dos seus desenhos inocentes, e percebemos que, como num flash, passaram vinte anos, duas décadas. 

E o lugar comum de que "ainda parece que foi ontem" torna-se mesmo realidade.

Ficamos assim atados nesta dicotomia do que é mais certo, se o guardar tudo aquilo que um dia nos vem dar um murro no estômago sobre a saudade do reviver em imagens o tempo passado se, pelo contrário, queimar tudo na primeira oportunidade e com isso fazer das memórias e testemunhos apenas cinza que o vento leva.

Tem que se lhe diga. E se há gente que queima os vestígios do seu passado sem o mínimo de esmorecimento, já outros, como eu, teimam em guardar tudo o que um dia nos possa abrir a janela do passado, mesmo que isso nos possa fazer chorar. Se de dor ou de saudade, ou de vergonha, isso pouco importa.

Mas, verdade se diga, com tanto já vivido e incerto quanto ao que virá,  pouco importa mudar agora a agulha como num velho gira-discos. O sulco já é demasiado profundo.

O buxo e o luxo

 


Hoje em dia, em qualquer cemitério, mesmo no de Guisande,  impera o luxo e a ostentação. Cada vez os jazigos são mais polidos, com decorações e inscrições feitas, não pela mão do artista e do seu cinzel, mas por máquinas comandadas por computadores, com sistemas de laser e outras tecnologias. Arte sem arte.

Mas são sinais dos tempos e, sem julgamentos, nem sempre a ostentação corresponde à memória serena e sentida dos nossos entes queridos. 

Noutros tempos, os mausoléus, capelas e jazigos vincavam a riqueza e importância social dos seus proprietários, mas hoje em dia, se é certo que já ninguém os manda fazer em pedra lavrada, a coisa está mais nivelada e a mais humilde família é capaz de mandar assentar um jazigo de pedra cara e todo luzidio.  

Na foto acima, no cemitério de Guisande, pelo início dos anos 1960 predominava a simplicidade das campas rasas, apenas com uma simples lápide em lousa. Os canteiros eram delimitados com o buxo, arbusto sempre verde, tão característico dos cemitérios por esses tempos. 

Porventura, os cemitérios deveriam ser sítios singelos e tão despidos quanto possível, até em consonância com a simbologia de nada mais sermos que pó. Há culturas que assim fazem.

Mas, de um modo ou outro, as coisas são como são e no fundo o nosso modo de vida em sociedade leva-nos a acompanhar as modas e as tendências, com os seus defeitos e virtudes, e quanto a isso pouco ou nada há a fazer. 

Para quem ali é sepultado tudo termina, mas para os que cá ficam, continua a roda do dia-a-dia e com ela a engrenagem lubrificada pelas nossas vaidades, na demonstração do antes parecer que ser. 

Assim, como paradoxo, e mesmo reflexão, a singeleza do buxo em contraposição com o luxo.

6 de setembro de 2022

Dador de sangue - Dar o seu a seu dono

Sou dador benévolo de sangue desde 1983, altura em que iniciei o serviço militar, mas com regularidade desde Fevereiro de 1991, altura em que em Guisande se iniciaram as colheitas com regularidade bi-anual.

Inicialmente os primeiros eventos de colheita estiveram a cargo do Instituto Português do Sangue – Porto, e posteriormente passaram para a o núcleo de Coimbra, situação que ainda se mantém.

Inicialmente os cartões de dador eram em formato de papel, sendo as dádivas ali anotadas. Depois deu-se a transição para o formato digital com micro-chip.

Em Agosto de 2019, questionei os serviços centrais do IPS para confirmar o número total das minhas dádivas e foi-me respondido que à data contabilizava 27 dádivas. Ora este número não podia estar certo, até porque até 2009 eu já tinha recebido dois certificados correspondentes a 20 dádivas e por isso com direito a uma medalha cobreada, pelo que com mais 10 anos em cima, num total de 20 episódios de recolha, a que sempre compareci, era pouco crível que apenas me fossem contabilizadas apenas mais 7 dádivas.

Questionei ainda o serviço da Associação de Dadores de Santa Maria da Feira mas também não foram capazes de dar a informação global, para além da indicada pelos serviços centrais. Voltei a questionar, anexando novas informações, mas nem sequer obtive resposta.

Na última sessão de recolha efectuada aqui em Guisande - Santa Maria da Feira, em 23 de Julho de 2022, foi-me informado que atingi um número superior a 30 dádivas, ficando, por isso, abrangido com a isenção definitiva de taxas. Mas obviamente poderei continuar a doar sangue, até aos 65.

Inconformado com este número, por estes dias voltei a questionar o serviço central e voltei a juntar argumentos e documentos, incluindo o anterior cartão em formato papel, e finalmente, reconheceram o erro e relacionaram ambos os históricos, pelo que tenho neste momento 45 dádivas efectivadas, e com o tal direito à medalha prateada (40 dádivas).

A medalha é obviamente uma questão menor, mas mais importante é a reposição da verdade. Se um dador concedeu 45 dádivas, porque carga de água lhe hão-de ser consideradas apenas 32?

Lamenta-se que, nestas como noutras coisas, os serviços por vezes falhem e não sejam capazes de agir com rigor e justiça. Felizmente, por força da minha insistência e com provas e argumentos mais que válidos, lá reconheceram a falha e prontificaram-se a repor a verdade e a actualizar o histórico.

Serve esta conversa para fazer ver a outros dadores, nomeadamente de Guisande, que certamente estarão na mesma situação. Por conseguinte, quem assim o entender, por uma questão de justiça e rigor, que procure accionar os seus direitos.

Parece-me, finalmente, que à própria Associação de Dadores de Santa Maria da Feira caberia e ficaria bem ajudar a resolver esta disparidade e a repor a justeza. Infelizmente, nos contactos que tive, não me pareceu haver essa disponibilidade em ir mais além.

5 de setembro de 2022

A vida em papelada



Quando temos algum tempo livre, mesmo que já no queimar dos últimos cartuchos de uma pausa no trabalho, designado por muitos, de férias, há a tentação de deitar mãos à obra e mexer em velhas papeladas, dando o devido destaque a umas, organizando outras e queimando outras mais. 

Com esta minha velha mania de guardar caixas e embalagens e outros papéis (e ainda bem, porque à conta disso tenho cadernetas de cromos dos anos 70 a valerem 500 e mais euros, e cromos a valerem 5 euros por unidade), às tantas damos de caras com a box do telemóvel Nokia 6600, da máquina fotográfica Sony DSC-P71, do CD da Sapo ADSL, de uma colecção do “Bits & Bytes” – suplemento do Jornal de Notícias, da colecção da revista PC Guia dos anos 90,  revistas dos anos 70, como a Tele Semana e a Crónica Feminina, etc, etc, coisas e tecnologias que ainda há duas ou três dezenas de anos eram a cereja no topo do bolo e que hoje nos parecem as velhas mocas dos homens das cavernas.

As coisas são como são. Nem sempre é saudável mexer no estrume com que plantamos e fizemos crescer as nossas vivências e convivências, mas verdade se diga, tudo o que somos hoje, para o bem e para o mal, somos o fruto dessas árvores.

E posto isto nestes termos, porque guardados, damos de cara com os cadernos diários dos primeiros tempos de escola dos nossos filhos, e dos seus desenhos inocentes, e percebemos que, como num flash, passaram vinte anos, duas décadas. 

E o lugar comum de que "ainda parece que foi ontem" torna-se mesmo realidade.

Ficamos assim atados nesta dicotomia do que é mais certo, se o guardar tudo aquilo que um dia nos vem dar um murro no estômago sobre a saudade do reviver em imagens o tempo passado se, pelo contrário, queimar tudo na primeira oportunidade e com isso fazer das memórias e testemunhos apenas cinza que o vento leva.

Tem que se lhe diga. E se há gente que queima os vestígios do seu passado sem o mínimo de esmorecimento, já outros, como eu, teimam em guardar tudo o que um dia nos possa abrir a janela do passado, mesmo que isso nos possa fazer chorar. Se de dor ou de saudade, ou de vergonha, isso pouco importa.

Mas, verdade se diga, com tanto já vivido e incerto quanto ao que virá,  pouco importa mudar agora a agulha como num velho gira-discos. O sulco já é demasiado profundo.