5 de janeiro de 2000

Padre Francisco Gomes de Oliveira

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Padre Francisco Gomes de Oliveira
1915 – 1998


 
A memória do Padre Francisco de Oliveira continua bem viva entre os Guisandenses. A sua longa vida sacerdotal dedicou-a quase em exclusivo à paróquia de S. Mamede de Guisande, um percurso iniciado 23/09/1939 e interrompido, por vontade de Deus em Maio de 1998. Pelo meio ficaram inúmeros marcos e etapas, das quais se destacam as Bodas de Prata, pela comemoração de vinte e cinco anos de sacerdócio e as Bodas de Ouro, pelos cinquenta anos .

Ao longo de muitos contactos pessoais, aprendemos a ver nele um idealista das coisas de Deus e da Sua Igreja, defensor inabalável das doutrinas e dogmas da fé, tradicionalista e conservador, não no sentido negativo dos adjectivos mas numa dimensão de vivência e preservação do genuíno. De resto, no que era necessário, sempre procurou evoluir no tempo e nos tempos, acompanhando o ritmo das mudanças sociais e culturais que se registaram com maior intensidade essencialmente nos últimos vinte anos da sua vida.
Quando questionado sobre uma certa acusação de conservadorismo, chegou a dizer: “ – Acho que não há motivos para ser acusado disso. Não vou com certas modernices, porque não quero ser mais papista do que o Papa. Conservo aquilo que parece ser bom para a Igreja e para o povo, como a reza do Terço, a Confissão individual, etç, costumes para alguns, erradamente, ultrapassados.”

Foi um pároco dedicado e disponível a todo o tempo à paróquia e aos seus fregueses. Por ano, reservava para si apenas uns escassos dias de férias, que gostava de passar em ambiente de repouso e retiro, fosse em Fátima ou em termas, mas sempre curtos devido às preocupações com a paróquia. Gostava de passear por este nosso belo Portugal o que fazia com regularidade em tempos de férias com um grupo de amigos habituais, percorrendo o país do Minho ao Algarve. De todos esses passeios deixou interessantes fotografias que hoje são documentais e que aos poucos temos vindo a publicar.
Como bom padre, era um bom garfo e gostava de boa comida, incluindo um bom bacalhau, mas sempre de forma moderada sobretudo quando tinha serviços em agenda.

Era um bom conversador e bom ouvinte. As suas homilias eram objectivas e compreensíveis. Abordava a litugia e frequentemente recorria a exemplos e analogias para fazer chegar a sua mensagem e ajudar à compreensão da Palavra de Deus. Para as suas homilias habitualmente redigia um texto sintético, escrito à mão ou mesmo na sua velhinha máquina de escrever. Essas folhinhas estavam meticulosamente amontoadas na sua secretária de serviço. Após a sua morte e desocupação da residência paroquail desconheço o destino que foi dado a esses seus textos mas presumo que tenham sido guardados pela família. Poderiam muito bem ter ficado no arquivo paroquial.

Rigoroso e pontual, não tenho memória de lhe notar um atraso de um minuto que fosse, tanto nas cerimónias mais solenes como nos serviços ordinários como as missas semanais e terços. Não era preguiçoso nem adormecia e durante muitos anos celebrava missa às seis e sete da manhã na capela do Viso, aos Domingos, vindo sempre a pé pelas Quintães e Barreiradas acima, fosse de Verão ou de Inverno.
Tinha uma ligação constante e interessada nos diversos grupos que acompanhava, fosse na Catequese, no Grupo Coral, que durante muitos anos ensaiou, como nos grupos de jovens, casais, leitores, etc. Desejados eram os seus passeios anuais que organizava e com que premiava sobretudo a dedicação do grupo coral e catequistas.
Vivia e fazia viver com especial fervor e entusiasmo as celebrações festivas como a Primeira Comunhão,Comunhão Solene e Crisma, e todas as festividades da paróquia e do calendário litúrgico, de modo especial os tempos de Natal e Páscoa. Era um devoto da reza do terço, de modo especial no mês de Maio e mês de Novembro.

Era um exímio administrador dos dinheiros da paróquia e sempre atento às necessidades de obras de conservação e restauro, tanto na igreja matriz como na capela do viso e da residência paroquial.
Para além da sua carismática figura de guia e pastor espiritual de uma comunidade, sempre soubemos distinguir no Padre Francisco, o homem, terreno e idêntico a cada um de nós, nos sentimentos, nos impulsos, nos gostos, nos defeitos e nas virtudes. Por conseguinte, a este nível, é indissociável a sua acção de amigo, companheiro e confidente de cada um dos seus paroquianos, partilhando os momentos da dor e da doença, da tristeza e da alegria.
Por toda esta grandeza espiritual e humana, o Padre Francisco terá sempre um lugar reservado no coração de todos quantos o conheceram e sobretudo dos que com ele vivenciaram.

Acima os documentos de nomeação do Pe. Francisco de Oliveira como Vigário da Vara do II Distrito Eclesiástico da Feira. O primeiro, datado de  e o segundo, pelo Bispo D. António Ferreira Gomes, uma renomeação para o triénio de 1972 a 1974, datada de 21 de Dezembro de 1971.
De referir que o Pe. Francisco exerceu a função de Vigário desde 1962 a 1979, sucendo ao pároco de Romariz, Pe. Manuel Fernandes dos Santos e sendo sucedido pelo pároco do Vale, Pe. Santos Silva.

Dados biográficos:
 
 08/07/1915
 Nasce na freguesia de Fiães - Vila da Feira.
1928
Entrada no Seminário de Vilar.
1932
Mudança para o Seminário da Sé, Porto.
1937
Falecimento do P.e Custódio, pároco de Guisande, ficando a exercer o cargo o P.e Benjamim Soares, pároco de Louredo.
1938
É nomeado pároco de Guisande o P.e Guilherme Ferreira.
06/08/1939
Ordenação como sacerdote na Sé do Porto.
15/08/1939
Celebração de Missa Nova na igreja matriz de Fiães, sua terra natal.
30/08/1939
É nomeado pároco das freguesia de Guisande e de Pigeiros.
19/09/1939
Primeira visita à freguesia de Guisande.
23/09/1939
Tomada de posse como pároco de Guisande e de Pigeiros, com residência na primeira.
24/09/1939
Celebração da primeira missa na igreja matriz de Guisande.
1938/1945
Entre esta data a paróquia de Pigeiros esteve anexada a Guisande, desde, portanto, do tempo do P.e Guilherme Ferreira.
1945
A paróquia de Pigeiros é anexada à paróquia das Caldas de S. Jorge. O P.e Francisco passa a prestar serviço religioso na paróquia de Louredo, por troca ordenada pelo Bispo, com Pigeiros.
1950
É designado novo pároco de Louredo o P.e Romeiro.
1956
Falece o P.e Rufino Pinto de Almeida, pároco de Lobão. Por incumbência do Bispo, entre Fevereiro e 20 de Outubro, o P.e Francisco toma a seu cargo essa paróquia.
1962
Em  28 de Dezembro de 1962 é nomeado, pelo Bispo D. Florentino de Andrade e Silva,
como Vigário, substituindo o P.e Manuel Fernandes dos Santos, pároco de Romariz. Em 
          21 de Dezembro de 1971 é renomeado para o triénio de 1972 a 1974.
15/08/1964
Comemoração das Bodas de Prata (25 anos) de sacerdócio.
1971
Entre 27 de Janeiro e 12 de Junho paroqueia Lobão por doença do P.e Aurélio.
1979
É exonerado como Vigário, sendo substituído pelo P.e Santos Silva, pároco do Vale
15/08/1989
Comemoração das Bodas de Ouro (50 anos) de sacerdócio e paroquiais. Foi realizada uma grande festa com a participação geral da paróquia que culminou com um almoço convívio que mobilizou a maior parte da população.
15/05/1998
Falecimento – Foi sepultado em jazigo de família  no Cemitério Paroquial de Fiães, sua terra natal


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O jovem seminarista Francisco Gomes de Oliveira

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O seminarista Francisco Gomes de Oliveira entre os seus colegas no curso de 34/35. Foto obtida aquando da conclusão de Preparatórios, em 9 de Junho de 1935.

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O seminarista Francisco, no seu quarto do Seminário, o Nº 33, no corredor S. Francisco. Foto de 29 de Junho de 1936.
 
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Francisco, numa altura das férias de Verão, na sua terra natal, Fiães, ajudando os irmãos nas tarefas da eira. Do lado esquerdo a irmã, a pequena Elisa, que mais tarde se tornaria a sua inseparável companheira já quando pároco da freguesia de Guisande. No lado direito, o mano Artur, já com pose de homenzinho de trabalho.