16 de fevereiro de 2019

Quando a dignidade vale a luta

Tenho, por vontade própria, estado afastado da rede social Facebook, com a conta desactivada temporariamente, pelo que só soube praticamente em cima da hora das cerimónias fúnebres, do falecimento do Sr. José Pinto da Silva, das Caldas de S. Jorge. Terá ido a sepultar na manhã de hoje. 
Não fosse uma casualidade de encontro com quem me deu a triste notícia e teria sabido apenas já depois de sepultado. Infelizmente, porque em cima da hora acabei por não participar no funeral, mas em nada diminui a memória, consideração e respeito para com a figura e personalidade.

Precisamente através do Facebook, onde o Sr. Pinto intervinha com regularidade e qualidade, soube pelo próprio que tinha tido nos últimos tempos alguns problemas de saúde, adicionados à debilidade da mesma,  que o remeteram para o hospital, pelo que de certa maneira foram factores que atenuaram a surpresa do desfecho.

Nunca tendo sido chegado, contactamos, falamos e opinamos as vezes suficientes para o considerar como amigo e pessoa de muita estima e consideração, activo, inteligente e um lutador por causas que considerava basilares. Que mais não fosse, porque celebrava o aniversário no mesmo dia que eu, 1 de Novembro.

Lembro-o sobretudo pela sua intervenção cívica e política. Pela verdade, transparência e rigor, travou várias lutas, uma delas relacionada com a verdade da cota máxima de cheia alguma vez registada e testemunhada no rio Uíma, nas Caldas de S. Jorge, que todos os anos relembrava em 24 de Outubro, dia em que em 1954 se registou a maior cheia de sempre na nossa zona, incluindo Pigeiros, Guisande, Caldas de S. Jorge, Lobão e Fiães.

Creio que apesar dessas muitas lutas, eventualmente, e de algum modo, terão sido de resultados inglórios, porque travadas contra quem detinha poderes de mandar e decidir, mesmo a de compor e enfeitar a verdade adequando-a a certos interesses ou propósitos. Não teria sempre a razão do seu lado, ou pelo menos toda, mas esgrimia como ninguém as suas convicções, sendo-lhe reconhecida a sua qualidade de discurso e de escrita. Também era com toda a naturalidade que reconhecia estar enganado ou equivocado quando se provasse o contrário, recuando, se preciso fosse, nos seus ímpetos.

Seja como for, foi um digno e nobre  lutador, qualidades que lhe honraram a vida e o perpetuarão na memória do tempo, sobretudo nos que lhe eram mais próximos.
Não duvido que tinha muitos adversários, alvos das suas lutas, alguns que agora certamente, deduzo, se apresentaram de gravata e semblante pesado nas cerimónias fúnebres, mas é justo que lhe seja reconhecida a nobreza e dignidade das suas variadas intervenções, mesmo nas mais inflamadas. Tivesse, Caldas de S. Jorge, Guisande ou outra terra qualquer, mais Pintos da Silva. 

Que descanse em paz!