4 de outubro de 2021

Dois lados da coisa e quiçá N mais

Nada melhor como o dar palpites depois do jogo ou esgrimir o nosso ponto de vista como se fosse o único, o verdadeiro, o genuíno. O ponto de vista dos outros, de forma politicamente correcta temos que o aceitar como legítimo, mas é sempre o dos outros e como tal não é o nosso.

Esta introdução um pouco a propósito de diferentes leituras pós resultados eleitorais do passado dia 26 de Setembro e concretamente ao que fui lendo sobre o desfecho das eleições na união das freguesias vizinhas de Caldas de S. Jorge e Pigeiros.

Confesso que pessoalmente conhecendo a qualidade de cidadania de alguns dos elementos integrantes da lista do Partido Socialista, desde logo à cabeça o Eng.º António Cardoso bem como o Arquitecto Pedro Nuno, bem como o que foi lendo e ouvindo sobre a qualidade da sua campanha, fiquei com a convicção de que poderia saír vencedora, até porque, numa perspectiva de quem está de fora, sempre tive a percepção de que nos dois últimos mandatos a Junta teve uma actuação muito discreta e cinzenta, sobretudo de forma vincada em Pigeiros. Ora em Pigeiros os resultados não deixaram dúvidas sobre o julgamento da actuação do executivo PSD e a derrota foi estrondosa. Até mesmo para a Câmara Municipal, destoando de quase todas as demais freguesias. 

Já nas Caldas de S. Jorge, foi ao contrário e por força de uma maior população, o PSD renovou o mandato.

Assim, de uma leitura possível, a primeira, conclui-se que o povo das Caldas de S. Jorge está imensamente satisfeito com a actuação da Junta e as obras e melhoramentos têm sido importantes e em grande número. Será assim?  Se sim, o contentamento das Caldas sobrepôs-se ao descontentamento de Pigeiros. Nesta como noutras coisas, as minorias estão sempre amarfanhadas pelas maiorias. É a democracia, palerma, dirão! É verdade, mas aqui nesta diferenciação significativa de resultados, tal como em Guisande, percebe-se melhor que as uniões de freguesia de facto não defendem nem salvaguardam as freguesias mais pequenas. Inequívoco.

Em absurdo, mas em rigor, um executivo de uma União de Freguesias, pode dar-se ao luxo de esquecer e mesmo ostracizar as freguesias mais pequenas, como Pigeiros e Guisande, e dedicar-se apenas à maior e por isso com o significativo peso eleitoral e isso bastará para em eleições renovar mandatos. Ora, não tenhamos ilusões, este cenário tem sido aquele vivido relativamente a freguesias como Guisande, Pigeiros e Vale, entre outras filhas de deuses menores. 

No caso da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, esta realidade é incontornável, já que Lobão tem um peso eleitoral maior que todas as restantes três unidades juntas. Uma União de facto tão desajustada e desproporcionada nas suas partes que custa a crer que alguém tenha tido sido responsável por criar e viabilizar este aborto administrativo tão absurdo. Sinceramente, mesmo com as faladas mexidas que podem vir a sofrer as Uniões de Freguesias, de tão céptico já não acredito que tal venha a suceder, mas bastaria que Lobão pedisse o divórcio e saísse da equação para a coisa melhorar significativamente, porque a duas ou a três, Guisande, Louredo e Gião são mais equilibradas entre si e por isso menos afectadas pela gravidade de Lobão. Seria do mal o menos.

Outra interpretação para o diferencial na freguesia das termas, é que as populações das freguesias maiores, numa União, não gostam da ideia de verem como presidente uma figura associada à freguesia menor. Era o que faltava! De resto, igual ponto de vista pode ser percebido na União das Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, onde o candidato do PSD, embora com raízes na freguesia de Lobão, é inequivocamente uma figura de Gião e como tal foi derrotado. Não custa, pois, acreditar que este bairrismo e orgulho de quem se sente maior, tenha penalizado os referidos cabeças-de-lista. E isto é complicado para o futuro já que é muito difícil conseguir uma figura concensual e transversal a todas as freguesias sem que este bairrismo bacoco seja uma barreira intransponível. O tempo confirmará, ou não, esta teoria que me parece bem prática.

Posto isto, e para terminar este exercício, já longo, haverá uma outra justificação: O povo na sua maioria não gosta de mudanças e prefere manter o fraquinho certinho  de que votar no incerto. Ainda ontem, quando fazia uma volta de bicicleta por algumas ruas do concelho de Oliveira de Azeméis, para mim, entre os concelhos vizinhos, aquele com estradas mais reles e em piores condições, mas que feitas as contas renovaram os mandatos tanto as Juntas respectivas como a Câmara Municipal. Ou seja, mesmo com executivos fraquinhos e cinzentos e com défice de obras e melhoramentos, com estradas esburacadas durante largos anos, o povo eleitor na hora H segue o partidarismo e deixa de lado as ideias e a qualidade de quem se propõe fazer melhor.

Pobrezinhos, fraquinhos, mas honrados. Assim se explicam tantas e tantas renovações de vitórias, maiorias e mandatos e perpetuação da mediocridade por parte de um eleitorado que na sua maioria não se "enxerga" ou tem um baixo grau de exigência. 

Face a isto pouco há a fazer e vamos sendo, no geral, governados por zarolhos porque o povo, esse é "cego". Ora em terra de "cegos"...