12 de janeiro de 2022

Sentir o cheiro da pocilga

Episódios de desrespeito e mesmo agressões às forças da ordem, guardas da GNR ou agentes da PSP, ou até mesmo a agentes municipais, como visto por estes dias, são mais que muitos, sendo que a maioria passa-nos ao lado da espuma dos dias. Para isso seria preciso assistir ao canal do país real, mas uma certa franja da sociedade tem-lhe aversão por nos mostrar que nem tudo é cor-de-rosa. Por vezes é preciso mesmo entrar na pocilga para lhe sentir o cheiro.

Depois, como se a desautoridade das autoridades fosse normal, os juízes condicionados por uma lei permissiva e por um parque prisional a rebentar pelas costuras, invariavelmente devolvem os suspeitos (e é interessante esta terminologia quando os casos são de flagrante delito), à procedência, e à recorrência do crime, aos furtos, assaltos e agressões, tantas vezes mesmo no próprio dia.

Em suma e em resumo, um sentimento geral de impunidade que leva a que quem anda nessa vida continue a considerar que vale a pena porque o risco e castigo são frouxos. Simultaneamente os agentes sentem-se impotentes para actuar e passam a ser meros bonecos e arriscando as suas vidas face à criminalidade que pela frente não hesita em disparar ou albarroar. 

Por esta recorrência não penalizada, ainda há dias queixava-se alguém da empresa Cavalinho, cujas lojas no nosso concelho têm sisdo sistematicamente assaltadas, que assim é complicado e desmoralizador, com os assaltantes a serem detidos e soltos na hora, prontos para o mesmo, quase numa atitude de gozo e escârneo.

A par disso, temos obviamente um código penal suave em que tanto paga quem mata um como quem mata 1000. Espanta, assim, que António Costa, simultaneamente primeiro ministro e candidato ao mesmo posto, aproveite com demagogia e deturpando o que Rui Rio disse sobre as condições e critérios de aplicação de pena de prisão perpétua, de resto prevista e ou aplicada, e bem, na maioria dos países europeus, porque há crimes tão hediondos e injustificáveis que a quem os pratica de forma planeada, fria, calculista e insensível não é merecedor de qualquer sentimento de humanidade. 

Mas António Costa parece ser dos que acha quem sim. Com ele, os autores dos massacres em Paris ou dos ataques às torres em Nova Iorque apanhavam 25 anos e ao fim de 10 ou 15 estavam cá fora, curados e redimidos para uma vida exemplar e santa ao serviço da sociedade, como se todos aqueles milhares de vítimas e famílias destroçadas para o resto das suas vidas, fossem apenas números e estatísticas. Custa a crer.

É certo que este tema é sensível porque mexe com questões de natureza religiosa, humanista e civilizacional, mas o nosso sistema é no geral muito permissivo e benevolente com o criminoso e desleixado e indiferente para com a vítima e com as forças da ordem sem ordem para exercer a autoridade quando à força é preciso recorrer. 

Obviamente que não se defende aqui a pena de morte, ou a lei do olho-por-olho, dente-por-dente, ou coisa que o valha, mas de facto a prisão perpétua, mesmo que com determinados e proporcionais critérios face à natureza dos crimes, sobretudo de natureza terrorista e de massacres indiscriminados, é mais que racional e compreensível que seja considerada e prevista. 

Para concluir, neste estado de coisas, de desautoridade da autoridade, de laxismo, indiferença e sobretudo de sentimento de impunidade  para os criminosos e desrespeito, injustiça e indiferença por quem é vítima, não surpreende que nos estejamos a pôr a jeito para o crescimento de certos extremismos.  Não tarda, colheremos os frutos da nossa sementeira.