27 de setembro de 2022

Falar bem, maldizer, o fácil, o difícil

Não tenho muitos amigos no Facebook.  Em número ainda não reuni 500. Talvez porque desses terei pedido amizade apenas a meia dúzia. De todos os demais tive o privilégio de me terem solicitado amizade. Também terei recusado outros tantos, desconhecidos, ou de raparigas bonitas com nomes abrasileirados que nos aparecem por cá com uns convites para partilhar coisas boas. Mas como sou de um tempo em que aprendi a desconfiar de grandes esmolas a troca de palha, prefiro recusar tais generosas "amizades".

Desses quatrocentos e muitos amigos que tenho nesta rede social, naturalmente que serão bem menos os que me têm mesmo como amigo e  menos os que tenho como tal. Alguns até parecem inimigos, mas, vá lá, toleram-se.

Mas ainda bem que assim é. Fossem esses quatrocentos e muitos, bons e verdadeiros amigos, daria uma trabalheira a tratar deles. Sim, porque a amizade, é dos livros, deve ser cultivada. Ora cultivar amigos e amizades não é como plantar batatas, cebolas ou alhos. É bem mais trabalhoso e requer o uso de bom estrume, rega frequente e cuidado na protecção contra as inconstâncias do tempo e parasitas.

De certo modo, um cultivador de amigos e amizades é como um lavrador, que comprometido com as suas culturas, não tem horas para se deitar, para comer, enfim, não tem tempo para tratar de si próprio porque por vezes preocupado com os outros.

Nos tempos que vão fazendo os dias presentes, convenhamos, a malta de um modo geral não gosta de empregos de lavrador. Prefere o certo ao incerto, pegar e despegar a horas normais; Andar de espinha direita, com mãos sem calos e unhas sem terra ou estrume. Talvez por isso o negócio de quem pinta e decora unhas está em alta.

Não perdendo o fio à meada, dizia que de todos classificados pelo Facebook como meus amigos, naturalmente que sempre que tenho oportunidade e pretexto, sobre um ou outro mais próximos, gosto de os enaltecer, nas suas virtudes, mesmo que com alguns humanos defeitos, com sentimento mas sem paninhos quentes. No fundo, exercer e aplicar a tal analogia de usar bom estrume nas plantas para que estas sejam produtivas.

Mas, por isso, dou comigo a pensar e mesmo a confirmar, que nestes coisas de falar e escrever bem sobre os outros, os nossos amigos, mesmo que não entrando em intimidades, mas apenas raspando no lado público, é bem mais difícil do que falar mal, de maldizer, criticar. 

Não supreende, pois, que a norma, porque mais fácil, seja o dizer mal, desprestigiar, desconsiderar. E estas acções nem precisam ser executadas na forma de escrita. Há muitas outras formas, por vezes mais penosas e acutilantes  porque subliminares, ocultas. E deste mal padecemos todos. Não me excluo. 

A vida, é pois, uma aprendizagem permanente. É como um mar amplo em que, desde que se aviste um farol a rasgar o breu da noite, há sempre tempo de virar o leme, de fugir aos penhascos traiçoeiros, em última análise, evitar o naufrágio.

Em conclusão ou remate, devemos sempre teimar em realçar o lado mais positivo das coisas e de modo especial, das pessoas. Terão, naturalmente, facetas escondidas, mas talvez nelas a luz supere a escuridão e bastará isso para prevalecer um centelha de humanidade. Afinal, até as plantas mais espinhosas dão doces e saborosos frutos.