27 de setembro de 2022

O Tono Mota chegou aos 60





O Tono Mota (António dos Santos Mota) chega, neste dia 27 de Setembro, aos 60 aninhos. Nascido a 27 de Setembro de 1962, é assim, em cerca de um mês, um pouco mais velho que eu. 

Não sei quantas crianças nasceram em Guisande neste ou no ano anterior. Seriam 4, 5,  meia-dúzia? Mais ou menos? Admito que o ignoro, mas sei que no ano de 1962, por isso há 60 anos, nasceram em Guisande 33 crianças. Foi frutífero, parece-me. Deu homens e mulheres com vidas de trabalho, seriedade e dignidade. São hoje homens e mulheres de família, com filhos e netos, quiçá bisnetos. 

Uns ainda por cá, outros por terras de fora e ainda umas poucas que a morte já ceifou, de que destaco, pela idade jovem com que partiu, bem como por ser também meu colega de infância e juventude, o Carlos, filho do Zeferino Gomes, também já falecido, e da D. Fernanda. Que Deus o tenha na sua companhia!

Dessa trintena de gente nascida em 62, julgo saber o nome de vários: O António Mota, de quem agora recordo a propósito do seu aniversário, a Paula Lopes, o Mário Joaquim, a Maria Albertina, a Maria da Conceição (do Alcides de Jesus), o Joaquim (da Guilhermina), a Maria Fernanda, o Carlos (do Teixeira), o José Carlos (da Pereirada), a Maria da Anunciação, a Laura (falecida), a Maria Albertina (da Eva), o Leonel (do Menina), a Maria de Fátima (da Natália), o Carlos Alberto (meu primo), o Carlos Alberto (do Zeferino) (falecido), que atrás referi, o Eduardo (da Palmira), o António Fernando (do Cartel), a Maria Jacinta, da Leira, e outros mais. Portanto, mesmo não sabendo o dia e mês de aniversário da maior parte deles, alguns já fizeram e outros a fazer os tais 60 anos, de algum modo, para além de um número redondo, cheio de significado. 

Seja como for, o Tono do Mota, ou o Mota, como o chamo, tenho-o como um dos melhores amigos dos bons velhos tempos, desde a escola primária, Ciclo Preparatório, em Lobão, pelos tempos de juventude, confidências e conquistas de namoricos e depois os tempos da tropa, ele no Exército, na especialidade de Comandos, orgulhosamente com a sua boina vermelha, e eu na Marinha, com o meu panamá branco.

É certo que depois de ambos casados (e fui ao seu casamento, num dia frio de Inverno, na freguesia de Louredo), as nossas vidas naturalmente tornaram-se outras, já não com a liberdade desenfreada de solteiros e tempos de copos e farras, mas fazendo então pela vida,  construindo casa e criando filhos. Apesar disso, até pela proximidade dos nossos ninhos, fomos sempre "tropeçando" um no outro, ora no café,  no trabalho, ao final de uma missa, ou mesmo numa qualquer festa, pondo então a conversa e o rumo da vida mais ou menos em dia.

O Mota foi sempre um tipo certinho, menos dado a brincadeiras e tropelias como, por comparação, com as do Beto Jorge, outro amigo comum dos bons velhos tempos. Mas se não tão expansivo e brincalhão como o filho do Albertino, seguramente mais assertivo, sempre leal nas pequenas e grandes coisas, no tempo em que partilhamos muito das nossas saídas em solteiros. De resto muitas vezes ia-mos à boleia um do outro, nas nossas motorizadas, na minha Fórmula 1 EFS-Sachs e na dele, uma V5 Sachs. 

Temos, por isso, mesmo que já enevoadas pela neblina do tempo, muitas aventuras e histórias em comum, correndo e galgando tudo quanto era sítio, festas e desfolhadas, na cata de raparigas namoradeiras. E quando algum de nós se prendia, mesmo que por dois ou três domingos, era simultaneamente um nó na garganta, porque depois do almoço, de um café e um "pneu" (águas castelo com uma rodela de limão) no café do Américo, acabada na RTP a corrida de Fórmula 1, quase sempre ganha pelo Nelson Piquet, Alan Prost ou Nikki Lauda, lá ía-mos os dois, já não juntos a partilhar a motorizada, mas separados, cada um por si. 

É claro que nisto de procurar a rapariga certa para a vida era uma espécie de jogo de aprendizagem por tentantiva e erro, e assim depois de dois, três ou quatro domingos a dar conversa, lá ficávamos novamente solteiros e de novo juntos nas saídas. Mas algum dia tinha que ser e o Mota, bem dentro do seu estilo de certinho, pouco depois de terminar a tropa, procurou assentar e arranjou uma valente mulher para a vida, ali bem perto de casa, na vizinha freguesia de Louredo. Lá me deixou, o Mota,  sozinho nas saídas domingueiras, mas nesta coisa de colegas de solteiro é como a partida das andorinhas depois do Verão e sentidos os primeiros frescos de Outono, uma a uma vão partindo todas.

Assim, poucos anos depois também lá deixei a solteirice e, seguindo o exemplo do Mota, fiquei igualmente por perto, até mesmo na mesma terra. Coisas.

Como disse, o Mota casou bem,  fez casa, criou e educou bons filhos e tem estado por ali bem perto da igreja de Louredo, quase a meio caminho da sua casa natal, no lugar do  Reguengo, que parte dela herdou dos pais, o Sr. Celestino e a Sr.a Isabel. 

Teve sociedade na área da construção civil com o seu irmão Manel que já depois deste abraçar a reforma, tem estado a trabalhar por sua conta e risco, sempre com muito trabalho e competência, mas sem canseiras exageradas, destas que por vezes e como certas corridas, nos levam à tentação de dar passos maiores que as pernas, tropeçando. Para quê empreender  muralhas se podemos fazer muros? O Mota foi e é assim, de passos curtos mas certos.

Apesar da sua discrição, tem integrado a vida da comunidade de Louredo, fazendo parte, desde há anos, do seu excelente grupo coral. Quem diria? Um pedreiro a arrancar salmos, hossanas e aleluias? É assim mesmo! Afinal, comigo e com outros, como o Rui Giro, o Orlando, o Maximino Gonçalves, etc, fez parte do grupo de alunos da primeira escola de música de Guisande, ali pelo início dos anos 1980, no Salão Paroquial. De resto, como nas parábolas cristãs, todos temos alguns talentos e, por poucos que sejam, importa que os façamos render e apresentar boas contas a quem no-los confiou. 

Não quero nem importa dar rasgados e exagerados elogios ao Mota, nomeadamente enfeitar o ramalhete com flores que ele não tem no seu jardim, mas tão somente  enaltecer a sua simplicidade, o bom carácter, a amizade e a lealdade, e dizer-lhe, publicamente, que tenho-o como amigo e um dos melhores dos meus bons velhos tempos. 

Não sei se me tem em igual conta, mas quero acreditar que sim, e por isso, porque quase a par nesta coisa do caminhar pelos degraus da escada da vida, em que nunca sabemos quando terminará, vamos continuando a subir, ou, como me parece ao chegar aos 60, a descer, mas que seja, até quando Deus quiser. Importa é descer de passo firme, sem nunca escorregar.

Bom aniversário, Mota, e que venham muitos mais e bons e que eu os conte!