26 de setembro de 2022

Ao longe, o mar

Aqui e agora, no tempo pleno e no espaço,

Doce e macio, qual fruto a cair de maduro,

Não sei o que pense, não sei o que diga

Que de substancial possa pensar ou dizer.


Sinto-me de cima abaixo envolto em cansaço,

Como peregrino amassado num caminho duro,

Como trovador com a boca seca, sem cantiga,

Como criatura vivida já pronta a morrer.


Mas será essa a natureza dos seres,

Uma contemplação de coisa perdida,

Quando, afinal, enquanto puderes,

Há ainda caminho, há ainda mais vida?


Pois bem! É levantar, então a fronte,

Na serenidade plana de um rio avançar,

Porque a vida começa, ténue, na fonte

E só se cumprirá no encontro do mar.