25 de setembro de 2022

Sublimação


Sou uma rocha de musgo vestida,

Incrustada em seio de montanha

Sob a asa sombria de um carvalho,

Num longo, perene, dia de Verão.


Sou solidez inerte, mas com vida,

Impossibilidade da física, façanha.

Sou pequeno, ínfimo, pouco valho,

Num desvanecimento em sublimação.


Não mais que gás, molécula em deriva,

Poeira cósmica presa à gravidade,

Sou só pedra amorfa, orgânica, viva,

Cidadão da terra, pó, humanidade.


A. Almeida


"Sublimação" é um poema que nos leva a uma reflexão sobre a existência humana e sua relação com a natureza e o universo. Através de sua linguagem poética, o autor utiliza metáforas e imagens fortes para expressar a dualidade da vida e a transitoriedade da condição humana.

O poema é composto por três estrofes de quatro versos cada com um esquema de rima ABCD, ABCD, EFEF. Mesmo sem uma métrica perfeita e clássica, apresenta um ritmo fluente da leitura, tornando a poesia agradável de ler em voz alta.

A primeira estrofe apresenta uma imagem poderosa da rocha de musgo, retratando-a como uma parte integrante da montanha e protegida pela sombra de um carvalho em um longo dia de verão. Essa descrição da rocha ressalta a ideia de estabilidade e permanência, reforçando a noção de solidez.

A segunda estrofe traz uma reviravolta no discurso, em que o eu lírico se percebe como uma "solidez inerte, mas com vida". A poesia explora uma aparente contradição entre a inércia da rocha e a presença de vida, abrindo espaço para uma reflexão sobre a complexidade da existência humana. O uso da palavra "façanha" sugere que a coexistência desses elementos aparentemente opostos é uma conquista notável.

Na terceira estrofe, o eu lírico se apresenta como alguém de pouco valor, contrastando com a grandiosidade da natureza que o rodeia. Essa sensação de pequenez pode estar relacionada à busca por significado na vida ou ao sentimento de insignificância perante o universo vasto.

A quarta estrofe traz a ideia de sublimação, que é a transição direta de uma substância do estado sólido para o estado gasoso, sem passar pelo estado líquido. Essa metáfora pode representar a transformação do eu lírico em algo maior e mais abstrato, uma transcendência da condição humana.

A poesia é rica em metáforas e imagens, criando uma atmosfera simbólica e contemplativa. O uso da natureza como pano de fundo para as reflexões do eu lírico reforça a conexão entre o homem e o ambiente em que vive. A rocha, o carvalho, a montanha e o dia de verão representam a imutabilidade e o ciclo da vida natural, enquanto o eu lírico tenta compreender sua própria existência diante dessa grandiosidade.

A dualidade presente no poema (solidez e vida, gás e poeira cósmica) reflete a complexidade da condição humana, que é, ao mesmo tempo, finita e efêmera, mas também intrinsecamente conectada ao universo e à natureza. A sublimação, apresentada no último verso, sugere a possibilidade de transcender a forma física e material para algo mais etéreo, destacando a busca por significado e sentido na existência humana.

Em suma, "Sublimação" é uma poesia que convida o leitor a contemplar a natureza, a transitoriedade da vida e a busca por um propósito maior. Através de metáforas e imagens vívidas, o poema desperta reflexões sobre a dualidade humana e a relação entre o homem e o cosmos.

A.Almeida