11 de outubro de 2022

Contentamento

Contentamento é sair pela manhãzinha

Ainda com o sol, sonolento, a levantar,

Seguir o caminho que dará a algum lugar

E ver a sair do ninho a doce avezinha.


Contentamento é beber no puro regato

A frescura prateada da sede consolada,

Sentir no bosque a sombra esverdeada,

Até mesmo acariciar o tojo no mato.


Contentamento é entrar no velho moinho,

Já nú, vazio, despojado da alma sem dó,

A moer uma doce compaixão naquela mó.

Como um velho entre paredes, sozinho.


Contentamento é mergulhar na limpidez

Da água fresca da mina na velha represa,

Sentar na erva do chão como se fora mesa

E, em merenda, saciar o suor outra vez.


Contentamento é subir ao outeiro no Outono

E aos prenhes ouriços, abrir-lhes as entranhas,

Encher os bolsos fartos de doces  castanhas

Porque dizem, se no caminho, não têm dono.


Contentamento, é afinal, ter tão pouco,

Bastando, não mais, que o poder sentir,

Que se tem tudo mas sem nada possuir,

Ser inocente, puro ou, porventura, louco.