11 de novembro de 2022

-Bem vindo ao mundo da realidade!



Há dias, alguém que estimo e da minha reduzida rede de amigos facebookianos, dizia-me pessoalmente que não compreendia que algumas das coisas que pelo Facebook partilho, sobretudo artigos ou apontamentos relacionados à história da freguesia, fotografias, poemas e ilustrações, não tenham mais comentários e "gostos".

Respondi-lhe: - Caro amigo, bem vindo ao mundo da realidade! Aqui não é um espaço de reconhecimentos e de sinceridades. Aqui valem sobretudo os grandes grupos e os interesses que se estabelecem entre eles. Se tens uma grande tribo que cultivas na arte do bajulatório, basta dares um peidinho de uma qualquer insignificância ou egocentricidade do teu dia-a-dia para teres largas dezenas de likes e comentários e sentires-te importante, inflamado. Uma alarvidade ou, vá lá, banalidade, se dita por alguém que bajulas, é certinho e direitinho que tem direito a dezenas de deferências. Ao contrário, qualquer laivo ou rasgo de meritório, de inspiração artística ou poética, opiniões e pensamentos próprios e escritos pela tua caneta, se porventura a necessitarem de um qualquer incentivo à continuação e melhoramento, a coisa morre logo ali à nascença, quase sem ninguém que lhe acuda verdadeiramente.

Por conseguinte, farto-me de dizer o óbvio: As redes sociais não são mais que uma extensão do que somos lá fora, porventura com o mérito de realçar aquilo que somos, nas coisas boas e menos boas, nas qualidades ou falta delas. 

Posto isto, o que vou por aqui partilhando é mesmo uma teimosia a pensar numa boa dúzia de mentes sensíveis e com capacidade de admirar e valorizar. Nem mais nem menos!

Mas vejamos sempre a coisa pela positiva, até porque, de novo socorrendo-me da velha sabedoria popular, "ovelhas não são para mato" ou mesmo "os burros também se ensinam". Talvez por isso, muitos dos meus bons amigos, por quem tenho apreço cultural e de cidadania, andam afastados destas coisas e se até têm página pessoal, pouco ou nada escrevem e só aparecem esporadicamente como quem a abrir as janelas num dia de sol para arejar a casa fechada.  

De alguns, bons, que por cá andaram no início, acabaram por sair ou deixar de aparecer porque perceberam que isto de andar a partilhar e a escrever coisas próprias, a exercer cidadania, sem ser egocentrismos e banalidades, tem custos e sobretudo não gera clientela à altura. É o que é. 

Desses bons, tenho sobretudo saudade do José Marques Pinto da Silva, das Caldas de S. Jorge, figura de saber falar e melhor escrever, senhor de princípios e lutas a que nunca virou costas às vagas, mesmo com as bategadas fortes de quem não tinha estofo para estar à sua altura. Andou literalmente a chover no molhado e a malhar em ferro frio, porque sem concorrência à altura. Mas era um gosto ler e reflectir no que escrevia, mesmo não sendo da sua freguesia.

Obrigado pois a todos os bons amigos que ainda têm bom gosto, sabem ver a beleza de uma fotografia e o que ela apresenta e representa, o sentido transcendente de um poema, a reflexão de um qualquer pensamento ou opinião, a arte, mesmo que não académica, de um rabisco. 

Quanto ao resto, a caravana, esta passa e os cães ladram. Não fosse assim, esta lei da natureza, e um pai pinguim nunca conseguiria encontrar o seu filho no magote de milhares dos seus quando regressa do mar com o estômago cheiro de peixe para partilhar.

A natureza humana tem muito a aprender e a reflectir com a natureza animal, mas aquela sempre em desvantagem, porque esta, mais pura, genuína.