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10 de março de 2019

Histórias do feijoeiro de sete anos

Estamos já em plena Quaresma, um tempo que a Igreja Católica vive como preparação para a Páscoa. Depois das carnavaladas da última Terça-Feira, este período quaresmal teve início com a Quarta-Feira de Cinzas.

Apesar desta realidade e do Carnaval estar íntima e tradicionalmente ligado à religião, certo é que com o interesse comercial e mediático das folias, no Domingo de hoje são vários os corsos carnavalescos que saem à rua já que devido ao mau tempo foram adiados do dia próprio, nomeadamente o de Ovar e mesmo na aldeia nossa vizinha de Caldas de S. Jorge.

São, pois, diferentes estes tempos em que a vivência da religião já não é coisa que preocupe consciências e o que vale e manda são os ritmos do entretenimento, sejam eles adequados ou não à ocasião ou certas agendas.
Hoje o que manda é o parecer e não o ser. Em todo o caso, e como a merda seria a mesma, porque não adiar a festividade do Carnaval para um dia de Verão onde em teoria o tempo seria mais adequado às folias? Afinal, o que conta é que se faça e não a data. De resto até teria lógica face à lógica da conveniência.

Quanto ao feijoeiro de sete anos, acabamos por não ter tempo para falar sobre ele. Fica para outra altura, que hoje volta a ser Carnaval.

6 de março de 2019

Fradinho das Caldas

Tendo recentemente actualizado o cabeçalho deste espaço, em que à esquerda aparece um simpático "Fradinho das Caldas" com o seu pirilau levantado, substituindo o anterior e ternurento passarinho colorido entre um ramalhete de rosas, perguntaram-me o simbolismo da coisa. Ora a resposta é precisamente essa, um mero simbolismo de um brinquedo ou figura típica portuguesa e de modo especial das Caldas da Rainha onde a cerâmica ou faiança tem tradições, nomeadamente a ligada ao artista Raphael Bordallo Pinheiro que em 1884 ali se instalou com a Fábrica de Faianças nas Caldas, "...revelando peças de enorme labor técnico, qualidade artística e criativa, desenvolvendo: azulejos, painéis, potes, centros de mesa, jarros bustos, fontes lavatórios, bilhas, pratos, perfumadores, jarrões e animais agigantados, etc. ". 

Quanto ao fradinho, não consegui apurar a sua origem e se ligada ou não a Bordalo Pinheiro, sendo que é um artefacto bem conhecido e popularizado como "Fradinho das Caldas" ou "Frade Malandro", mas sempre relacionados às Caldas e aos seus famosos "caralhos". Estes, os "caralhos", terão surgido no final do século XIX. "...Os primeiros modelos terão sido criados por uma tal de Maria dos Cacos, (barrista e feirante), e posteriormente por Manuel Mafra. Só depois, o humor de Maria dos Cacos e o naturalismo de Manuel Mafra foram recriados por Rafael Bordalo Pinheiro."

Perante a ousadia do frade, pouco condizente com a sua condição de homem religioso, não há quem não esboçe pelo menos um sorriso com a malandrice da coisa e com o seu hirto instrumento que surge inesperado, ou não, debaixo do seu modesto hábito.

Aqui o simbolismo é também e sobretudo de crítica à falta de irreverência (positiva e interventiva) que tem sido notória nesta freguesia. Não será de agora, mas mais de agora em que a gestão da freguesia anda por mãos alheias.
 Não faltam por aqui artistas ou mestres do palpite fácil, da crítica escondida, da sabedoria de quem tudo faz mas nada fez ou tentou fazer, e quase sempre em círculos fechados, entre comparsas. Já o assumir da coisa em espaços públicos, seja pela escrita assinada, seja pela faladura e principalmente pela acção, aí é que a coisa se acobarda. Por conseguinte, para esses o pirilau do simpático mas malandreco fradinho tem o simbolismo adequado que cada um pode interpretar a seu gosto. E há quem se ponha a jeito.

28 de fevereiro de 2019

Mortos vivos

Diz-nos a imprensa de hoje que no resultado de uma auditoria se detectou que a Segurança Social, em cerca de 200 casos, pagou pensões após a morte dos beneficiários. Alguns pagamentos indevidos duraram mais de 10 anos. O Tribunal de Contas aponta para 4 milhões pagos indevidamente, dos quais terá recuperado pouco mais de 600 mil euros.

O que dizer desta incompetência, que soa a ridículo, num tempo em que existem ferramentas avançadas e cruzamento de dados? Todavia, é esta a mesma máquina fiscal que nos cobra impiedosamente altos juros de mora e coimas elevadíssimas para atrasos de pagamentos de deveres fiscais, mesmo que apenas por umas horas.
É caso para se dizer, com o devido distanciamento e a bater na madeira, que o que compensa é estar morto. Lamentável.

Em todo o caso, quem recebe indevidamente devia devolver e alertar, desde logo porque deveria desconfiar de grandes esmolas, tanto mais do Estado. Mas numa cultura de desconfiança mútua, em que ninguém confia no Estado e nas pessoas que o personalizam e governam, pelo sim e pelo não, aceita-se e fica-se com o dinheirinho mesmo que indevido, que mais não seja para rezar missas por quem já partiu.

25 de fevereiro de 2019

Esta mania da preocupação

As coisas foram como foram, aquém do que se esperava, reconheço pela minha parte, mas mesmo que muito limitadamente e sem poder algum , enquanto elemento do anterior executivo da Junta procurei estar atento e transmitir as diferentes situações relacionadas a Guisande. Podem não ter sido atendidas mas não deixaram de ser sinalizadas e pedidas. Uma delas, mesmo que de somenos importância, foi a de estar atento e reportar as avarias na iluminação pública. Foram largas dezenas de situações por mim comunicadas e quase todas resolvidas. Para além de dar atenção e seguimento a quem indicava cada situação, eu próprio percorria as ruas da freguesia com frequência semanal de modo a tomar nota das várias avarias. Isso era importante numa altura em que vigorava o programa de economia que desligou muitas iluminárias no concelho e sobretudo em Guisande, e que por isso uma iluminária desligada significava três postes seguidos sem luz  e a escuridão notória de muitas ruas. Esse programa terminou pelo que na teoria e na prática todos os postes com iluminárias têm que estar a funcionar, isto é, a iluminar.

Mas agora, já estando de fora de responsabilidades públicas, vejo que há muitas situações de iluminárias desligadas ou variadas, durante semanas e meses sem que aparentemente alguém se preocupe com a situação. É certo que essa não é uma responsabilidade directa de uma Junta, mas numa perspectiva de estar ao serviço, esta tem responsabilidades de chamar à atenção e comunicar à entidade da EDP responsável pela rede.

Seja como for, e quem te manda a ti sapateiro tocar o rabecão da preocupação, tendo recomeçado umas caminhadas nocturnas, verifico que em apenas duas ou três ruas são mais que muitas as avarias. Duas delas na Rua da Fonte (parcialmente às escuras) e uma na Rua das Quintães. Com esta mania da preocupação, que ninguém agradece ou reconhece, já as reportei, esperando que entretanto se dignem efectuar a reparação.

Para além do mais, para dificultar a coisa, os meios e os contactos disponíveis para o comum cidadão reportar a avaria, cada vez são mais mecanizados e menos ou nada pessoais. Terminaram os canais telefónicos e mesmo os canais por email. Cada vez mais as entidades fogem das reclamações e do atendimento personalizado como o diabo da cruz. Os cidadãos e clientes são apenas números a quem interessa cobrar. Somos regra geral atendidos por máquinas e encaminhados por opções que quase nunca dão resposta aos nossos problemas concretos. É o que é.

Quanto a esta gente da EDP, ou a mando dela, fazem o que podem e o que lhes mandam, mas, vá lá saber-se porquê, quase sempre fazem pouco, devagar e demoradamente. Mas como sabemos que o dar à luz leva-nos 9 meses, vamos esperar que para o caso leve um pouco menos. 

18 de fevereiro de 2019

Crónicas do cavalheiro de calças clássicas - Límpidos e azuis

"As leis são como as mulheres, existem para ser violadas". Creio que foi um espanhol, um tal de advogado José Manuel Castelao Bragaño, durante uma reunião do Conselho Geral da Cidadania no Exterior, órgão consultivo pertencente ao Ministério do Emprego espanhol, presidido por este ex deputado do PP no Parlamento da Galiza, a proferir esta emblemática e irreflectida frase no contexto de ultrapassar um problema de quórum da tal reunião. 

Mas para o caso, não é caso este espanhol, mas o sentido do que disse. Embora na altura fosse polémica e obrigasse o autor à demissão, aparte o politicamente correcto, todos perceberam o alcance da sentença. É certo que lhe bastaria dizer que as leis existem para serem desrespeitadas ou violadas, sem meter as mulheres na molhada, para o caso ter as mesmas consequências, mas as coisas são como são. Foi dito, foi dito. E de resto, assim é. As leis por si só não são imperativas do seu cumprimento. Por isso não falta quem no dia-a-dia, nas mais diversas situações, procure escapar da malha da rede das leis e das acções das autoridades ou de quem tem o dever de as fiscalizar e fazer cumprir. 

Tudo isto para dizer que pela aldeia vizinha de Cagalhães, Vendas de Pigeirães, há dias, por um acaso de visita a uns carvalhais plantados nas imediações,  assistimos a uma descarga pura e dura de esgotos de uma pocilga escorrendo directamente para um dos mais belos rios da zona, o rio Uíça. A instalação,  dizem alguns vizinhos ecologistas, comete tripla ilegalidade porque não retém nem trata os esgotos, encaminha-os directamente para o rio e está edificada em solo de reserva agrícola, mesmo na borda de reserva ecológica.

Bem sabemos que as pocilgas são necessárias e pelo impacto que geram, desde logo os fortes odores, imperativo é que se localizem afastadas dos núcleos habitacionais, mas nos tempos que correm esperar-se-ía que não acumulassem tanta ilegalidade quanto fezes e estrume. Há mínimos.

Aparte disso, a tal pocilga, diz quem sabe, é uma espécie de infantário pois o que ali se cultiva é leitões para serem assados e servidos como tal, dourados e estaladiços por um afamado restaurante da zona.

Mas, feitas as contas, é porque tudo está dentro da legalidade. Afinal, de outras contas, gente que tem poder e manda é cliente mais ou menos habitual do famoso petisco com origens na Bairrada. É porque tudo está bem. Estamos todos descansados. A pocilga fica bem longe do restaurante e os esgotos quando passam a jusante já são límpidos e azuis como a demais água do Uíça e até alimentam bogas e trutas, se é que as há. Pelo menos ajudam a medrar amieiros, choupos e salgueiros. Afinal, há merdas que bem lavadas deixam de o ser. Ora, como poderia proferir o tal galego Bragaño, "os rios existem para serem poluídos e os peixinhos também cagam".

CCCC

29 de janeiro de 2019

Crónicas do cavalheiro de calças clássicas - O Anjos

Soube há dias, poucos, que o Anjos, o Jorge Anjos, será candidato à presidência do Figães Sport Clube, agremiação graúda nas redondezas, já com uma vetusta história e uma sala repleta de canecos e galhardetes conquistados entre o futebol, o voleibol, o bilhar e os matraquilhos. Mas não sem surpresa, pois Figães é terra de segunda vizinhança, a uma boa légua de distância de Cagalhães. Aqui ,o Anjos a bem dizer nunca por cá fez parte de nada, nem de grupo da paróquia, nem de Junta ou Assembleia de Freguesia. Apenas, na folha de serviço, época e meia como vogal do Conselho Fiscal do Cagalhães F.C.. Assim sendo, por que raio é agora candidato a presidente dum clube forasteiro e de uma terra alheia? Nem sequer de Lomba da Burra, onde nasceu? Já seria grande a admiração de que fosse sócio desse clube, com cotas em dia, quanto mais abalançar-se a uma candidatura à sua presidência.

Realmente, espalhada a notícia, cá em Cagalhães ficamos todos a fazer figura de anjinhos perante a novidade do Anjos. É certo que, já na pré-reforma de professor, que junta à da esposa, também ela docente reformada, tem tempo e dinheiro para "fazer qualquer coisa pela humanidade", como sentenciou o Zé do Portal na tasca da Micas, mas que é surpreendente, é.

Em todo o caso, o que mais há por aí são Anjos, que pouco ou nada fazem pela "humanidade" da terra onde nasceram ou moram, mas um dia, vá lá saber-se por que carga de água, abrem as asas e esvoaçam para outros poisos, para maiores desígnios, para ali fazerem parte da história da cidadania local. É certo que o Anjos, homem de igreja, sabe que Jesus foi expulso da sinagoga nazarena, tido como o simples filho do carpinteiro local e que por aí ninguém é profeta na sua terra, mas não precisava de tanto, armar-se como tal em terra alheia. Afinal de contas não faltam por Cagalhães cargos e funções onde possa demonstrar o seu voluntarismo. Junta, Assembleia, Comissões de Festas, Centro Social, Paróquia, etc, etc, um rosário de necessidades. Até o Pe. Agostinho está a precisar de um diácono para o ajudar na sua missão espiritual. Logo um anjo, vinha mesmo a calhar.

Mas ele há coisas, e o Anjos surpreendeu. Virá mesmo a ser presidente? Por mim acho que não! Deve ter sido aliciado por algum doutor importante, na expectativa de mais altos voos, porque, foda-se, o lugar de um Anjo, mesmo que só de apelido, deve ser num poiso mais alto, num poleiro ou pedestal aveludado de nuvens de algodão. Mas acho, eu e muita gente por cá, que não. Quando o peido espreitar ao cu, vai-se encolher e desistir, como desistiu da função de Juiz da Cruz. Regressará à placidez das tardes calmas e tranquilas na tasca do Petróleo, a desfiar os jornais do dia e a fazer caminhadas solitárias pelas ribeiras. Quanto ao Figães, só de longe a longe, e até duvido que tenha as cotas em dia, que abrir mão não é com ele.

Cagalhães não terá a urbanidade de Figães, há muito elevada a vila, mas é modesta, bonita, e maneirinha como um presépio napolitano, quase mesmo um céu, bem ao jeito de um anjinho. O Jorge é mesmo desses: na hora de meter pés ao caminho, encolhe-se, recolhe as asas e transforma-se em anjinho, o que nem se importa se tal significar distância de canseiras e responsabilidades.
Tudo no seu lugar. Como diria Mário Quintana, "Os anjos não dão os ombros, não; quando querem mostrar indiferença os anjos dão as asas.” 

 CCCC

16 de janeiro de 2019

- Acudam que é lobo!


De volta e meia lá surgem as atoardas sobre a política de privacidade da rede social Facebook e que muitos utilizadores partilham e replicam às cegas, tornando-se no que se diz viral.
Por estes dias a coisa voltou a atacar com uma mensagem do género "Não se esqueça que o prazo termina amanhã. Tudo o que você já postou torna-se público a partir de amanhã. Até as mensagens que foram apagadas ou as fotos não permitidas.".

Esta, como muitas outras, é uma treta que já tem alguns anos e que volta e meia, apesar de desmentida, retorna a circular com intensidade. O que espanta é a quantidade de utilizadores que alinham nesta cadeia e copiam e colam sem sequer procurar saber se há algum fundamento na coisa. Alarmante não é, contudo, a réplica desta treta mas a predisposição que demonstramos para replicar outras, porventura, mais graves e com propósitos oportunistas  por quem as lança. Para além de tudo, com tanta treta misturada e tantos falsos alarmes, às tantas adoptamos a atitude do povo da aldeia para com Pedro o pequeno guardador de rebanhos que à custa de tantos falsos alarmes de "-Acudam que é lobo!", por brincadeira, quando o pedido de socorro tinha fundamento ninguém lhe deu ouvidos por pensar que era mais uma  do mentiroso. 

Apesar das fraquezas do Facebook, há coisas que ainda podemos controlar, desde logo o regime ou grau de privacidade que queremos dar a cada publicação, fotos incluídas. Para além de tudo há uma ferramenta muito boa que é de ir apagando o que de certa forma se tornou desactualizado. 

É certo que é fácil fabricar falsidades tidas como verdades mas um bocadinho de auto-regulação e sentido crítico só fariam bem. Já agora, menos exposição dos nossos e das nossas coisas mais pessoais e íntimas também seriam uma ajuda.

14 de janeiro de 2019

Tempo a falar do tempo


Noutros tempos não se perdia tanto tempo a falar do tempo. Na RTP, no final do Telejornal lá vinham então o Costa Malheiro ou o Anthímio de Azevedo, formais de fato e gravata, de ponteiro apontado ao preto quadro de lousa, com gatafunhos por eles desenhados manualmente a giz, como nas escolas primárias, a explicar-nos os estados de alma do anti-ciclone dos Açores e as consequências do mesmo na ondulação, vento e temperatura. Era o Boletim Meteorológico, em dois ou três minutos, se tanto, a preto-e-branco, como no quadro.

Hoje em dia a coisa pia mais fino e ele é alertas de várias cores, porque faz frio, porque faz calor porque chove ou porque não chove. Falar do tempo e sobre o tempo faz parte do nosso dia-a-dia e já não basta deitarmos o nariz de fora da porta para, constatando o óbvio, vermos o tempo que está, ou comprar o Seringador nas feiras dos "quatro" ou dos "dezoito" para saber quando estará de feição e de boa lua semear os nabos  ou plantar batatas. Alguém tem que o dizer, comentar e fundamentar. Dá lugar a reportagens, entrevistas a populares anónimos e a cientistas e até mesmo no "teatro de operações" com uma qualquer repórter, de cabelos a esvoaçar, afanosamente a informar com ares de coisa nunca vista de que está a chover ou a nevar forte e feio. As coisas do tempo até têm nomes, como pessoas. Um aguaceiro pode chamar-se Custódio ou Isaías, uma ventania, Alice ou Josefina. Coisa que parece brincadeira mas para levar a sério.

Não andamos com o quadro de lousa do Malheiro ou do Anthímio, mas trazemos no telemóvel uma ou mais apps que nos dizem o tempo em cada momento e em cada lugar. Já não vivemos sem as previsões e não nos basta a do dia seguinte nem nos contentamos sequer com a de dois ou três. Pelo menos uma previsão para 15 ou mesmo 30 dias. É uma aflição e expectativa saber se no dia do casamento, do piquenique da família ou da festa da aldeia vai haver sol ou chuva. Nas redes sociais somos todos meteorologistas e replicamos as previsões, partilhando-as numa vontade samaritana de avisarmos os vizinhos do perigo, não vá eles, distraídos, estarem desprevenidos para uma chuva ou uma ventania. E logo nos nossos dias em que ninguém anda de guarda-chuva pendurado na gola do casaco.

Sinais dos tempos, estes em que o exagerado 80 deixou o humilde 8 envergonhado, lá trás.

6 de janeiro de 2019

Reservado


Por estes dias que foram de festas, de cuja quadra termina hoje, Dia de Reis, mesmo não indo a todas (bem ao contrário do José Malhoa), fui a algumas coisas chamadas eventos ou espectáculos que um pouco por todo o lado têm sido oferecidos (de borla) ao povo. Concertos, espectáculos e outros que tais, quase todos bons. Mas para além do que era suposto ver, viu-se mais coisas, uma delas a de que invariavelmente se continua a reservar lugares da frente, para supostas pessoas importantes, representantes de alguma coisa no sítio, na aldeia, eventualmente, nem sempre, doutores e engenheiros. Por isso, porque o respeitinho deve ser respeitoso, os importantes na frente, os menos importantes dali para trás.

Apesar desta deferência, que faz parte dos protocolos da nossa sociedade, dita inclusiva, invariavelmente verifica-se que uma vez iniciado o evento alguns desses lugares reservados para gente que seria importante, ficam parcialmente, se não todos, vazios, vagos ou até mesmo ocupados quando o espectáculo, avançado, já mereceu palmas.

Assim, apesar da simpatia das organizações e dos prévios convites,  há sempre quem não apareça (problemas de agenda), ou se aparecem marcam o ponto e esgueiram-se porque há mais pontos a marcar, ou então, porque, sem o dom da ubiquidade, fazem-se representar por gente secundária e terciária nas hierarquias ou mesmo por moços de recados e outros assistentes operacionais que vestem na perfeição o "em nome de".

Em resumo, e nada disto é crítica nem chapéu que caiba em qualquer cabeça, é apenas uma simples constatação de que apesar da preocupação, simpatia e deferência de quem organiza, seja para um concerto, uma noite de fados ou um festival de sopas de nabos, nem sempre existe uma correspondência à altura por parte de quem acaba por deixar os lugares vazios, seja num auditório, seja à mesa. Feitas as contas, em muitos casos (obviamente que não em todos), aqueles que deveriam merecer as palmas e a atenção, são os relegados para as filas secundarias. Mas quanto a isto não há nada a fazer até porque sempre se diz que a cada um é preciso saber "ocupar o seu lugar". Ora há por aí muitos lugares ocupados por quem os não sabe ocupar, literalmente. Porém, felizmente, também o contrário, e a estes seria mesmo bom que tivessem o tal dom da ubiquidade, que mais não fosse para retribuirem na primeira pessoa a deferência do convite e da reserva nos lugares de primazia.

26 de dezembro de 2018

Ressacas e cuecas


Dia 26 de Dezembro. Depois de uma mensagem de Natal do nosso primeiro ministro que por momentos me fez pensar que em termos de país estava, se não lá ainda, pelo menos nos arredores do céu, o Jornal da Tarde da RTP abre hoje, numa assentada, com o relato de quatro greves; dos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, dos funcionários da Autoridade Tributária, dos serviços de Notariado e da CP. Creio que não me enganei, ou haverá mais? Mas dizem que vem aí mais do mesmo.
Nada mal para um dia tradicionalmente de ressaca. Podia ser pior, pois podia, mas há prendas que são assim, que, como as cuecas usadas, não há loja que as aceite trocar. É certo que a coisa pode nem cheirar muito bem mas uma boa mensagem de Natal em muitos casos tem a eficácia do melhor detergente. Não só ficamos de cuecas aparentemente limpas como também com a alma. 
Como cantarolava a saudosa Beatriz Costa, ..ai rio não te queixes, ai que o sabão não mata, ai até lava os peixes, ai põem-nos como prata.

21 de dezembro de 2018

Coletes

Das primeiras indicações do início da manhã, parece que não é desta que Portugal vai parar. Nalgumas cidades são mais os polícias do que os chamados coletes amarelos. Certamente que na festa do colete encarnado em Vila Franca de Xira junta-se maior multidão. Somos bons em coisas originais mas no que toca a copiar...
Em todo o caso algumas conclusões: Os sindicatos cá do sítio não gostam destas manifestações. E não gostam porque, a exemplo daquele funcionário público que só era assíduo para que o chefe não percebesse que era perfeitamente dispensável, também os sindicatos temem que destas iniciativas se perceba que é possível juntar multidões com bandeiras e slogans mas sem a máquina e sem a liderança dos dinossauros das centrais. 

4 de dezembro de 2018

Pimentorium in anus outrem in nostrum refrescus est


Uma vitória, como diria alguém, arrancada já no primeiro minuto do jogo seguinte, para uns, para os interessados, é uma conquista da força, da garra, do querer, do acreditar até ao fim, do contra-tudo-e-contra-todos. Já quando tal benefício calha aos outros, aos adversários, áqueles que não nos deixam sossegados, nem dormir como santos, roubando-nos anos de vida, então o feito é uma vitória da aldrabice, do sistema, do favorecimento, do campo inclinado, do deixa-jogar-até-marcar.
Realmente, não que isto seja novidade, mas a pimenta no cuzinho dos outros no nosso não passa de um macio rebuçado de mel e mentol, doce e fresco. Ahhhhh!
Mas isto vale para o cu de todos. Nisto há democracia.

28 de outubro de 2018

O horário de Inverno é um inferno



Senhores passageiros do tempo, bem-vindos ao País do Horário de Inverno. Levantar tarde e cedo deitar é esse o segredo a revelar.
Parece que uma larga maioria dos europeus manifestou-se a favor da manutenção do Horário de Verão mas o nosso Governo, tão adepto da "vontade popular" decidiu-se por não a ter em conta, não alterando os velhos hábitos. 
Vamos, pois, sair do trabalho já com noite alta e a melatonina a pedir para ir para a caminha às seis, e com isso sem possibilidade de ir passear o cão ou ainda dar uma voltinha de bike. Apenas para quem despega as quatro. É a vida. Até Março!

27 de outubro de 2018

E se Portugal fosse para Espanha?



É mais ou menos público que as relações entre a Câmara Municipal da Feira e alguma imprensa local, escrita e falada, têm andado algo azedadas. 
 
Não discutindo aqui as razões que possam esgrimir as partes, certo é que sabendo do "dói-dói" da Câmara Municipal relativamente à questão da eventual saída da freguesia de Milheirós de Poiares para o concelho de S. João da Madeira, na berlinda da actualidade pelo facto de uns doutos da política, uns tais de Fernando Rocha Andrade (PS), Moisés Ferreira (BE), Rosa Maria Albernaz (PS), Filipe Neto Brandão (PS), Porfírio Silva (PS), Carla Tavares (PS) e Jorge Costa (BE) terem apresentado na Assembleia da República um projecto de lei que solicita a integração da freguesia feirense no minúsculo município sanjoanense, o jornal semanário "O Correio da Feira" fez uma espécie de inquérito em que a reboque da questão de Milheirós de Poiares e com uma boa dose de entendível provocação, perguntou a algumas individualidades políticas o que achavam da eventualidade do município de Santa Maria da Feira poder vir a ser integrado no do Porto.
 
 Obviamente um inquérito legítimo mas sobre uma questão hipotética quase a roçar a idiotice porque a partir dessa "eventualidade" poderiam ser colocadas milhentas outras igualmente sem sentido, como a que abaixo coloco com ironia. Ora para questões assim, seriam merecidas respostas à altura. Um dos inquiridos, ligado ao PSD, disse que percebia o alcance e sentido da pergunta mas que de facto era um assunto que não se colocava. Esteve bem. Estaria melhor se nem se dignasse a responder. Outros, nomeadamente do BE e do PS, não pretendendo alargar a guerra para além de Milheirós, porque seria muita fruta, frisaram que o importante é que nestas questões seja respeitada a vontade popular. Mas no caso de Milheirós de Poiares, a vontade de parte dos seus habitantes ou do concelho? Leram os resultados das últimas eleições autárquicas? E quantos eleitores de Milheirós ou do concelho representam os ilustres subscritores do projecto de lei?  E por vontade popular, o que acham os ilustres políticos do BE e do PS da possibilidade de Portugal vir a ser integrado na Espanha? É que com o ordenado mínimo e o preço dos combustíveis por lá, já não falando na qualidade dos políticos, fosse feito um referendo à tão importante vontade popular e  possivelmente a larga maioria dos portugueses não se importaria nada em ser espanhola. Moisés, Albernaz e companhia, pensem nisso e avancem com a proposta de um referendo. Têm o meu voto.

Já agora, pela tão inusitada questão, o que acham certos jornalistas da nossa praça quanto à possibilidade de irem cavar batatas?

23 de outubro de 2018

Infecções linguísticas


“INFECTED EXPERIENCE – the beggining”

O título em inglês dá cá uma pinta...e medo, muito medo!
Ah, Camões! (Camone).
Mas sim, dizem que é fixe e recorda-nos o tempo em que brincáva-mos, mas aos "cóbóis", e, claro, com 8 ou 10 anos. Das feiras populares para a Feira Popular, uma versão moderna do Combóio Fantasma. Que medo...

21 de outubro de 2018

Quem disse que o papel higiénico só serve para limpar o sr. doutor?



O papel higiénico dispensa apresentações nem necessita de workshops para ensinar a sua utilização. Com mais ou menos eficiência todos o usam, pelo menos no mundo chamado desenvolvido.
A acreditar na Wikipedia, antes de sua invenção para tal finalidade, que remontará ao início século XIX, as pessoas costumavam fazer a sua limpeza com folhas de hortelã, água e por vezes sabugos de milho. Diz-se que o papel higiênico foi inventado na China, em 875, mas a invenção também já foi atribuída a Joseph Gayetty, de Nova Iorque, Estados Unidos, que a teria concebido em 1857.
 
Seja como for, limpar o sr. doutor com sabugos, que por cá conhecemos como "canhiços" nem é novidade e anda por aí e por aqui muita gentinha que em determinada altura da vida já o fez.
Mas sim, o papel higiénico, tão subestimado, é hoje em dia, nos nossos padrões de higiene, um elemento indispensável e veio de há muito tirar lugar ao papel de jornal. É certo que com esta mudança andam por aí muitos sr.s doutores analfabetos e bem que precisavam que lhes esfregasse diariamente o alfabeto no olho, salvo seja. Mas isso levaria a outras histórias.

Mas, à falta de papel cavalinho ou de esquiço, o papel higiénico pode muito bem receber uma momentânea inspiração de um qualquer artista. Assim, se já não for hoje, amanhã quando estiver a usar este papel macio e absorvente, pense no que poderia fazer com ele em termos plásticos.

20 de outubro de 2018

O poder de uma letrinha



O Centro Social S. Mamede de Guisande vai promover no próximo sábado, dia 27 de Outubro, a sua 2ª Noite de Fados. Por pessoa, 20,00 euros, com entradas e sobremesa. Será um pouco puxadito mas está inerente o objectivo de angariação de fundos para ajudar as responsabilidades financeiras da instituiçao. Assim, quem reconhece a importância da associação e seus objectivos e tem acompanhado o esforço da Direcção num contexto de dificuldades, dará por bem empregues o tempo o custo do jantar e a noite de convívio. Pelo contrário, quem não reconhece ambas as coisas, a importância e a dedicação, não tem que se preocupar porque falta faz quem cá está. E há sempre andorinhas que se perdem pelo caminho da Primavera mas esta não deixa de florir nem espera por quem não vem..
 
Em todo o caso, não esquecendo o título da prosa, estava eu a preparar o convite para o evento, a pedido do presidente do Centro, quando por lapso troquei apenas umas letrinhas na palavra "fados", trocando as posições do "a" e do "o". Toca a corrigir, é claro, porque mesmo que acompanhada por guitarra e viola ninguém quereria participar numa 2ª Noite de Fodas. Ou talvez sim, mas não seguramente nesse local e contexto.
 
Ora como este processo do Centro Social já tem conhecido "fodas" suficientes, algumas de quem menos se esperava, venham antes os fados e as guitarradas, que sempre têm o condão de nos alegrar a alma. Depois de um bom jantar a alma fica mais receptiva às melodias choronas da guitarra e com isso ajuda-nos a esquecer as "fodas" da vida.
 
Silêncio, que se vai cantar o fado!

19 de outubro de 2018

Pobre tijolo de 7

Este tijolo é de 30x20x7cm e tem 8 buracos. Se fosse um tijolo de 30x20x15cm e de 12 buracos,  ou um bloco térmico, toda a gente fazia like e partilhava, mas como não, pobrezinho, todos o ignoram. 
Bem que gostaria de fazer parte de paredes exteriores de uma moradia moderna mas relegam-no para paredes interiores, de fiada simples e até já está a ser preterido pelas fininhas paredes de pladur. Por vezes até o assentam em paredes exteriores mas, veja-se só o desrespeito, apenas em galinheiros ou caixas-de-visita por onde passam os esgotos.
Vamos lá ser solidários com este pobre tijolo de 30x20x7cm, partilhando e fazendo likes. Afinal de contas, é da mesma massa, como quem diz, do mesmo barro, do gabarolas do tijolo de 30x20x15cm. É verdade que só tem 8 buracos mas há quem tenha só um e mesmo assim leva bem a vida.

- Raminhos Nogueira

1 de outubro de 2018

Elefante azul


Esta foto, que muitos reconhecerão, tem uma aldrabice, destas aldrabices que se justificam para eliminar ruídos, pingarelhos desnecessários à paisagem e salientar a sua harmonia. De facto, ali no canto superior esquerdo não ficava nada bem o azul metálico das chapas de um certo elefante que nem branco chegou a ser.  Desproporcional, a ferir o olhar e a paisagem. Por isso retocou-se a foto e reconheça-se que fica bem mais arejada.
Este elefante azul aqui retocado de verde, era então o desenvolvimento em figura, o oásis no deserto, levando a que por ele se procurasse justificar os mais variados atropelos à letra dos regulamentos e ao meio envolvente. Infelizmente para o tal progresso que justificava os meios e os fins e o seu suposto relevante interesse económico,  a coisa de tão insuflar, subiu, subiu e um dia peidou-se e, como um balão, esvaziou e desceu à terra. Lá se foi o tão propalado desenvolvimento de Guisande, que nunca o chegou a ser. Contudo, a coisa, azul berrante, lá ficou, quase fantasma a confundir os olhares e a lembrar pecados (por omissões e acções) de alguns. Fosse possível desmontar e meter num foguetão e mandar-se-ia para Marte. Mas não sendo e já que ali está, seria bom que pelo menos proveito tivesse e o emprego voltasse a ter rostos. Infelizmente, mesmo com a economia aparentemente favorável, parece que tarda a voltar ao que aparentemente foi. - Coisas da dinâmica do mercado e da economia -  dirão alguns. - Fosse assim fácil adivinhar a chave do euromilhões! - digo eu.

Auto simula(estimula)ções


São engraçadas as simulações online de seguros automóveis. No que devia ser apenas isso, uma simulação, para além dos compreensíveis dados relativos ao veículo, idade do condutor e tempo de carta de condução, eventualmente aqueles dados complementares de existência de garagem, tipo de utilização, extras, atrelados, estimativa de kilómetros/ano, etc,  as seguradores querem que lhes contemos toda a nossa vidinha. Por mim, dei o assunto como encerrado quando solicitaram como dados obrigatórios os elementos de identificação pessoal, contactos, morada, etc. 

Não tendo, pois, concluído a simulação, porque considero que tais informações pessoais não são necessárias à simulação e ao objectivo desta, não me surpreenderia que a seguir quisessem saber o nosso estado civil, a nossa tendência sexual, paixão clubística, religião, filiação partidária e se alinhamos em jantaradas de arroz de cabidela às sextas feiras, seguidas de orgias sexuais ou se no Verão vamos a banhos à praia do Meco e se usamos cuecas de fio dental ou ceroulas.

Bem vistas as coisas, estas auto simulações podem levar-nos a outras estimulações e excitações.