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23 de abril de 2023

Galinheiros não, viadutos, sim.

 


No Reino dos Paradoxos, era uma vez uma vasta zona verde na qual, por ser protegida, não era permitido construir um galinheiro ou um curral de cabras...

21 de abril de 2023

Cada terra tem o regedor que merece

Eu bem que tento desviar-me destas coisas da nossa política, até por uma questão de saúde mental e de higiene, porque o Governo nesta altura devia usar fraldas porque está num estado de incontinência tal que as cagadas são a toda a hora. Mas como hoje somos bombardeados de tudo quanto é buraco mediático, e até no relógio temos notícias, é complicado fugir a elas. Teria que ir como ermitão para a solidão do monte mais inóspito, mas não me estou a ver a viver de comer gafanhotos e rebentos de silvas e amoras, até porque estas só no Verão. Adiante.

Mas voltando ao Governo, ainda agora esta história de que Costa, o primeiro ministro, recusou fornecer um certo parecer jurídico que fundamentava o despedimento por justa causa da CEO da TAP, uma tal francesa, alegando a "defesa do interesse público". Ou seja, para o nosso Governo o defender o interesse público é ocultar os documentos ao  público ou aos seus representantes. Está tudo esclarecido!

Mas pasme-se, a coisa não ficou por aqui, porque ouvido o ministro das Finanças, o Medina, este veio dizer que afinal não havia qualquer parecer jurídico. Ou seja, se não for mais uma mentira e trapalhada, António Costa não queria divulgar um parecer que  afinal não existia? Vá lá, organizem-se!

Como diz alguém por aí, cada terra tem o regedor que merece. Ou então, se isto fosse um país a sério, como o Paquistão, já tinha havido um glope de estado.

Olha a novidade...

 Da imprensa: 


"FC Porto é a quarta equipa com mais penáltis no mundo desde 2020 - Apenas os costa-riquenhos do Herediano (44), os egípcios do Zamalek (43) e os croatas do Hajduk Split (43) beneficiaram de mais grandes penalidades desde 2020.

O FC Porto foi a quarta equipa das 75 principais ligas mundiais que beneficiou de mais grandes penalidades desde 2020, segundo uma conclusão publicada esta quinta-feira pelo Observatório do Futebol (CIES).

Neste período, os dragões viram ser-lhe assinaladas a favor 41 penáltis a favor, o mesmo número dos turcos do Fenerbahçe. Apenas os costa-riquenhos do Herediano (44), os egípcios do Zamalek (43) e os croatas do Hajduk Split (43) beneficiaram de mais grandes penalidades.

O top 10 fica completo com os colombianos do Deportivo Cali (40), os sauditas do Al Nassr (39) e do Al Hilal (38), os turcos do Galatasaray (38) e os gregos do PAOK (3)".

[fonte: JN] 

Esta estatística não tem nada de surpreendente. De resto, bem à maneira portuguesa, até a "olhómetro" se sabia dessa particularidade que tem, em muito, ajudado o  F.C. do Porto a conseguir títulos. Ainda no último jogo, beneficiou de 2 penalties. Não é por acaso que nas últimas décadas tem tido bons profissionais da arte do mergulho na relva. Tantos e tão bons. Afinal, o azul faz-nos sempre lembrar uma piscina e é fácil a tentação, tanto mais quando os homens que apitam jogos do Porto vêm mosquitos em África.

Já agora, com os devidos créditos ao blog "Influência Arbitral", fica aqui um quadro mais pormenorizado relativo às épocas de 2021/2022 a 2022/2023.


Caso se pretenda recuar a análise a uns anos mais para trás: Desde a época 2008/2009 a 2022/2023 (esta ainda a decorrer), o F.C.do Porto continua a liderar no número de penalties a favor, no caso 140, contra 130 para o Sporting, 118 para o Benfica e 82 para o Braga,

Coisas do futebol...

4 de abril de 2023

Nota de partida do Sr. Almoço do Juíz da Cruz

De partida tristinha mas não totalmente inesperada, porque após maleita prolongada, "bateu a bota" na nossa comunidade  o Sr. Almoço do Juíz da Cruz, dono de uma mui antiga e respeitável tradição da nossa não menos velhinha paróquia. 

Tinha já uma vetusta idade, pelo que o ancião já há algum tempo, principalmente devido à pandemia, vinha dando sinais de debilidade, em certa medida por alguns maus tratos de alguns paroquianos mais ariscos e menos dados a estes sentimentalismos de comunidade, que se recusaram a dar-lhe os devidos tratamentos, negando-lhe mesmo, alguns, o dever cristão de o amparar, deixando-o abandonado à sua sorte.

Merecia bem mais respeito este nosso velho ansião, até porque ainda eram muitas as pessoas de sua relação, que o estimavam, mas as coisas complicaram-se e acabou mesmo por ser deixado à sua sorte. 

As exéquias não têm dia nem hora marcada porque provavelmente será congelado e exposto numa vitrine do melhor cristal de Alcobaça, para que os paroquianos mais sensíveis lhe possam prestar as devidas homenagens e expressar as saudades e ainda  na ténue e cristã esperança de que um dia possa milagrosamente  ressucistar do reino das tradições desaparecidas e voltar ao convívio dos vivos.

Tenhamos fé! Amém!

Pessoalmente, num tom mais sério, fico algo triste, porque completam-se neste ano de 2023 precisamente 10 anos após o ano de 2013 em que com ele convivi proximamente e nessa altura ainda estava forte e pujante e em seu nome conseguiu reunir 120 almas masculinas à volta de uma mesa farta no que foi um bom convívio e reviver dessa velha tradição que nos honrava.

3 de abril de 2023

Pau-de-marmeleiro, precisa-se!

 


Noutros tempos estas coisas resolviam-se com um pau-de-marmeleiro. Mas por agora o normal das notícias é os agentes da autoridades serem agredidos, e quando as notícias nos dão conta que Sindicato dos Profissionais de Policia queixou-se de "sentimento generalizado de impunidade" no que diz respeito às agressões a agentes, com o seu presidente a lamentar-se que não exista, ao nível da tutela, quem censure publicamente as agressões "que ocorrem diariamente". Tem potes de razão, mas que fazer? Derrubar o Governo, sendo que ainda há dias o nosso povo lhe deu a maioria? Portanto, a coisa está como a maioria quer que esteja. 

Neste laxismo e "dolce far niente", a foto com que ilustramos a nota é típica de quem vai considerando ser fixe sujar os lugares que são de todos, abandonando o lixo como troféus. Um dia destes, à falta de melhor, lá terá o povo que organizar umas milícias armadas com paus-de-marmeleiro e dar uma voltinha para confratermizar com "Beirão".

2 de abril de 2023

Casa dos horrores

Num destes dias, estive na dentista onde sofri a bem sofrer. Claro que não foi a primeira vez nem, infelizmente será a última. Mas apasar desse sofrimento, tenho que me dar por satisfeito porque parece que há coisas bem piores. Por exemplo, o futebol. Ainda hoje, no rescaldo do jogo Chaves-Braga (1-2) um analista da Antena 1 sentenciava que o resultado dos bracarenses foi conseguido "com sangue, suor e lágrimas".  O colega foi fiel testemunha desse horror porque logo rematou que "o resultado foi arrancado a ferros". 

Este "arrancado a ferros" deu-me calafrios e remeteu-me para a cadeira da dentista de onde lá saí a transpirar e sem forças, e ainda para as salas de parto onde muita criancinha cabeçuda tem mesmo que ser arrancada a ferros ou então por cesariana, no que parece que agora é regra.

Ufa! Este mundo é mesmo perigoso, e até um estádio de futebol pode ser uma autêntica casa dos horrores, mesmo sem brocas, alicates e desvitalizações.

Não quero de todo, nem é este o propósito de fazer humor negro, mas é comum dizer-se que há jogos de futebol que são impróprios para cardíacos. Não foi certamente por isso (cruzes credo!) porque aparte o humor da minha nota acima, entretanto e já depois do texto, li nas notícias que durante o referido jogo em Chaves terá falecido um adepto em consequência de paragem cardio-respiratória, o que me levou a acrescentar esta nota. 

Infelizmente, este caso de adeptos que sucumbem de emoção nas bancadas, não é inédito nem será o último. Afinal, as emoções por vezes fazem com que a nossa mais importante máquina nos traia! Ora o futebol, para o bem e para o mal, por vezes gera arritmias que acabam por ser fatais, mesmo que no caso em concreto até possa não ter tido qualquer relação. Simplesmente aconteceu.

Que Deus o tenha em paz! 

27 de março de 2023

Engolias a do David

O país do futebol está todo contentinho. A nossa selecção luso-brasileira lá despachou esses dois colossos do futebol europeu e mundial, o Liechtenstein e o Luxemburgo. Pena foi que a Islândia, que havia perdido por 3-0 com a Bósnia, aplicasse a chapa 7-0 à malta encravada entre a Suiça e Alemanha, ofuscando o nosso 4-0 caseiro.

Mas as coisas são como são, e com estas duas fantásticas vitórias sobre duas potências do desporto de pontapé na bola, podemos ter esperança de chegar à fase final. Entretanto temos que ter cuidados redobrados com as outras superpotências que integram o Grupo J mesmo que todas elas já com feridas de morte nas lutas entre si.

Por mim, fosse o tal de Martinez, tinha feito uma convocatória com malta dos distritais. Haveria de ser suficiente, digo eu!

No mundo das corridas de motas, outro desporto que excita muitos adeptos das duas rodas, um tal de Miguel Oliveira, parece que foi abalroado e teve que desistir. Uma decepção para os largos milhares que alheios a esta coisita chamada inflacção, rumaram de norte a sul para acompanhar a corrida no Algarve.

Boa segunda-feira e cuidado com aquele malta que tem horror a ver as minudências da estátua do David de Miguel Ângelo. Uma violência para a rapaziada do país onde se vendem armas com a mesma facilidade com que em Badajoz se compram caramelos e onde se fazem filmes onde a violência e pornografia se respiram como o ar fresco de uma manhã de primavera. Começo a perceber o filho da Putin: isto para ir ao sítio já só mesmo com um Armagedon.

24 de março de 2023

Abrir, tapar, voltar a abrir e voltar a tapar

Aqui em Guisande, a Rua de Trás-os-Lagos, no troço da Rua da Zona Desportiva até à Rua Nossa Senhora de Fátima tem estado em obras de instalação de redes de saneamento e abastecimento de água, coisa que dura há semanas e durará. 

Estas obras já deveriam ter sido realizadas aquando da instalação das respectivas redes públicas, aqui há uns anos, mas como a Indáqua só realiza obras onde vê interesse económico, deixando para trás ruas com poucas habitações mesmo que necessitadas dessas redes, a referida rua ficou sem tais infraestruturas.  Agora, porque parece que há necessidade de pavimentar a rua bem como a Rua da Zona Industrial (em estado reles), e como entretanto foram construídas algumas habitações, a coisa parece que foi considerada, faltando saber se à conta da Câmara se da Indáqua. Em última análise, não será nem de uma nem de outra entidades, mas dos contribuintes, porque nestas coisas ninguém faz nada de graça.

Seja como for, eu não sei se a forma de trabalhar e as normas técnicas recomendadas para a instalação de redes de águas e esgotos são as ali adoptadas, mas acho estranho que se tenha aberto a vala, colocado o ramal do saneamento, tapada e compactada a vala e posteriormente, uns dias depois, a mesma vala volta a ser reaberta, colocado o ramal da água e novamente tapada a vala. Será mesmo assim? A mesma vala precisa de ser aberta e tapada duas vezes? Ou será como aquela história de dois dedicados funcionários públicos a quem alguém estranhou que um abrisse uma cova e o outro a tapasse, assim sem mais nem menos. Interrogados sobre essa estranha forma de trabalhar, perguntaram-lhes porque assim precediam, ao que responderam que normalmente seriam três funcionários, em que um abria a cova, o segundo colocava lá uma árvore e o terceiro tapava a cova cobrindo assim as raízes da planta, mas como o funcionário que colocava as árvores na cova faltou nesse dia ao serviço eles estavam apenas a fazer o seu trabalho. Nem mais nem menos!

Que há coisas estranhas e difícies de compreender pelo senso comum, há!

14 de março de 2023

A causa da pausa

Parecendo que não, tenho estado afastado da rede social Facebook há quase três meses. Apenas alguns breves segundos para uma ou outra partilha que considerei com motivo para a interrupção da pausa, de resto, népias, zero!

Por conseguinte não tenho publicado, nem sequer lido o que os "amigos" e os outros publicam, partilham e comentam. Tenho estado mesmo a leste.

A verdade é que, como alguém que nunca se viciou na coisa, não custa fazer a pausa, seja de dias, semanas ou meses. De resto, a maioria das coisas ali publicadas são banalidades que se dispensam. Na larga maioria, egocentricidades, vaidades, partilha e replicação em cadeia de coisas de terceiros. A originalidade, aquilo que é nosso e vem de nós, que nos diferencia , é coisa pouco abundante. 

Assim, mesmo que periodicamente, sabe bem passar ao lado dessas banalidades, de gente que fala muito quando devia estar calada e que se cala quando devia falar, dos vaidosos, dos mestres das poses, das simpatias, dos likes dos mesmos aos mesmos, dos tomilhos, dos alecrins, dos loureiros, dos exageros e fundamentalismos da malta da bola, do chover no molhado, da cegueira da malta da política, dos diários dos extraordinários, dos "olha p´ra mim!" e das proezas dos novos inventores da roda e da pólvora. E agora com o ChatGPT, não devem faltar por ali novas novidades como se de repente, num click, o mais bronco seja o maior poeta e o analfabeto uma promessa das artes e da escrita a debitar pensamentos e reflexões. Fantástico! Nada como um mundo inclusivo!

Sabe bem, muito bem, como quem sorve a brisa fresca e iodada numa praia deserta pela manhã! Como costuma dizer o meu amigo A.P., as "coisas são como são" e "nem sempre nem nunca". Nunca digas "desta água não beberei" porque podes vir a ter sede, mas considera não a beber se ao lado tiveres uma fresca cerveja. Se com tremoços, melhor!

2 de fevereiro de 2023

O ChatGPT é um poeta do caralho

O ChatGPT está na bera. Do que tenho testado, está ao nível de um cientista e simultaneamente de uma criança que frequenta o Jardim Escola. Mas é muito interessante se bem usado, e tem caminho para andar, para além de que vai ajudar muitos cábulas, sobretudo aqueles que gostam de fazer brilharetes à custa do conhecimento dos outros. Mas adiante que a coisa está dar muita discussão e vai revolucionar muitas coisas.

Por estes dias pedi ao ChatGPT para escrever um poema sobre as virtudes do campo. Cá vai:


No campo, a natureza brilha,

Com virtudes que nos encantam.

O ar puro, a calma e a vida simples,

Tudo é perfeito, tudo é harmonia.


O canto dos pássaros e o barulho do vento,

É uma música que nos faz bem.

As árvores e os campos verdejantes,

Nos oferecem sombra e frescor.


No campo, a paciência e a simplicidade,

São virtudes que nos ajudam a crescer.

A gratidão pelo que temos,

É algo que aprendemos com a terra.


E não podemos esquecer,

Do amor e da amizade,

Que encontramos nas pessoas,

Do campo, que são tão sinceras.


Assim, deixamos aqui,

Nossa homenagem ao campo,

Com suas virtudes e belezas,

Que nos fazem bem a alma e o coração.


- Convenhamos que tudo tem lógica e soa bem, mas na realidade são todos lugares e ideias comuns ao tema e ao nível do que uma criança poderia escrever. É apenas texto de uma redacção dividido em quadras. 

Falta, pois, a alma e a profundidade da poesia que sai de uma pessoa e não de uma máquina. Mesmo assim, para pretensos e medíocres poetas, será uma mina de salomão e não tarda a sermos bombardeados por supostos poemas sobre tudo e mais alguma coisa, até, talvez, sobre um caldo de nabos. Mas quanto a isso, já me adiantei e pedi ao poeta máquina para o escrever. Cá vai e deliciem-se:


Sopa de nabos, doce e quente,

É um prato simples, porém tão saboroso.

Com cenoura, batata e temperos a condizer,

É uma delícia que aquecerá seu coração.


É a combinação perfeita de sabores,

Que se misturam em cada colherada.

E o cheiro que emana da panela,

É uma promessa de conforto e bem-estar.


Com um pão crocante a acompanhar,

A sopa de nabos é um banquete.

E o melhor de tudo é que é fácil de fazer,

E com ingredientes que você sempre tem em casa.


Assim, na cozinha ou na mesa,

A sopa de nabos é uma alegria.

É um prato que traz conforto e saúde,

E é um amigo fiel, que sempre está lá.

25 de dezembro de 2022

A cagar fininho

O Arménio começou o dia  de Natal a cagar fininho. 

Pergunta aos seus botões se terá sido dos rojões com grelos, besuntados com azeite extra e dentes de alho, comidos na consoada vespertina em casa da sogra, ou se pelos clisteres de  longos intervalos de 20 minutos de publicidade no filme "Sozinho em Casa", já com mais tradição natalícia do que ir à Missa do Galo. 

Sentenciou que não, que não foi dos rojões com grelos, porque lhe souberam pela vida, mas sim da publicidade, dos perfumes, dos relógios, dos azeites e dos telemóveis. Foi, de facto, uma overdose e neste enjoo matinal não arrotava a alhos mas a Chanel N.º 5.

Mais logo à noite, como qualquer bom guisandense bem sabe, é que se cumpre a verdadeira tradição com a consoada no próprio dia 25. Prometeu a si mesmo, o Arménio, desligar a puta da televisão. Mais uma dose daquilo, ou apanhar nas ventas com a notícia de que uma tal Alexandra Reis foi prendada pela TAP com uma insignificância de meio milhão de euros, só porque não cumpriu o contrato, porque lhe arranjaram outro arranjinho, ou mesmo ver o nosso presidente entertainer com uma multidão atrás de si para o ver tomar uma ginginha, poderá resultar numa verdadeira caganeira. É que tratamentos desses são mais fortes do que o PLENVU ou PICOPREC.  A mais grossa será como azeite.

O povo por ora anda entretido com consoadas, rabanadas e aletria, mas logo que as luzes sejam desligadas e os presépios desmontados,  vai arrotar de fastio e enjoo e as caganeiras serão tão óbvias  que até podem ser previstas pelo IPMA e resultar em alertas alaranjados pela Protecção Civil.

Portem-se bem! Com jeitinho, a senhora Reis vai distribuir a prenda pelos mais pobrezinhos.

Feliz Natal!

12 de setembro de 2022

Bizarro


...E o Manuel Pizarro, que nestas coisas do Facebook não me tem como amigo nem eu o tenho como tal, aparece-me por cá, na minha página pessoal, descontraído, sorridente, com ar de quem foi meu colega da primária ou meu companheiro da comunhão solene.

Ainda por cima ao lado de uma pilha de livros que diz ter comprado na Feira deles, em Lisboa.

Bem sei que que o Dr. Pizarro é doutor, embora, em boa verdade, o ditado diga que um burro carregado de livros também o é.

Longe de mim dizer que o novo ministro da nossa Saúde é burro. De resto não o conheço tanto assim, para além de o ouvir ser falado como crónico interveniente nas lutas pela presidência da Câmara Municipal do Porto.

De resto deve ser uma figura inteligente e sobretudo destemida, para aceitar substituir a Temido.

A talhe de foice, não tenho, como alguns, uma opinião maternalista do que fez ou deixou de fazer a D.ra Marta, e fizesse o que fizesse, fê-lo no dever do ofício e foi paga a propósito. Para além de aguentar com a onda da pandemia, o que não foi pouco, de concreto, pela Saúde, pelas suas reformas e estruturação, pouco ou nada fez, e deixa um SNS como um barquito de papel a afundar-se. Os políticos, por mais competentes e sérios que sejam (e não são muitos), como a Dr.ª Marta temido, têm sempre este problema, o de serem descortinados não pelas suas competências e méritos, mas pelos olhos inquistórios de quem leva a ideologia para lá do exercício democrático e nela as competências passam a incompetências e as pequenas falhas a erros crassos. D resto, as trincheiras ideológicas têm sido o nosso principal entrave à necessidade das nossas reformas. E vamos continuando entrincheirados. 

Assim sendo, retomando o Dr. Pizarro, desejo bom trabalho ao novo ministro, o que não será fácil com o SNS de pantanas.

Quanto ao essencial, o motivo de me aparecer por cá esta figura, o Facebook é manipulador e sabe usar marionetas e dá-nos este teatro, de borla, como sugestão, diz. 

Obrigado Facebook, mas quanto a seguir políticos e figuras públicas eu gosto de seguir os meus instintos e gostos. Dispenso, pois, sugestões destas. Prefiro o Manel da Esquina e o Zé da Micas aos Drs. Pizarros, aos Ronaldos, aos Gouchas, Cristinas e outros que tais. Todos juntos não valem um Zé da Micas.

Ademais o Dr. Pizarro se levar a sua nova função a sério não terá muito tempo para perder tempo com redes sociais, até porque a assistência é implacável a criticar e a julgar. Que o diga o Taremi, que tem sido crucificado, só porque recorrentemente confunde o azul da piscina com o verde da relva. E isto do futebol, bem vistas as coisas, não passa de lana caprina.

Ora o Dr. Pizarro deve querer aguentar pelo menos até ao fim da legislatura. Depois, quem sabe poderá voltar a tentar a Câmara do Porto e o assalto aos Aliados.

22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

21 de agosto de 2022

Sempre a aprender

Uma festa genuína, algures por aí. Está-se mesmo a ver!

Mas, sempre a aprender, os altifalantes não debitavam música de folclore ou de cantores pimba. Nada disso! Nada mais que um relato de futebol!!!

Eu não sei se o S. Miguel Arcanjo ou a Nª Sª da Saúde são adeptos do Porto ou do Sporting, e até acho que não são por ninguém em particular, porque são pelas pessoas e não por clubes de futebol. E gente fanática pelos clubes é o que mais há por aí e não é preciso que o fanatismo chegue a gente santificada. Era o que faltava! 

Mas, esta é novidade, e  se a moda pegar, até pode ser vantajosa para as comissões de festas. Assim, quem sabe, em vez de gastarem balúrdios em cantores pimbas e em bandas de baile, passamos a ter uns relatos de futebol. Na sexta á noite, um Arouca-Vizela, no sábado, um Braga - Famalicão, e na segunda feira, uma coisa em grande, um Benfica-Porto ou um Sporting-Benfica. 

Josés Malhoas, Toys e Zés Amaros, ponde-vos finos! A pólvora acaba de ser inventada!

Abençoados tempos de fartura


(gente boa da "Quinta do Canastro", que tive o privilégio de me terem ajudado na minha caseirinha boda de casamento (final dos anos 80)


Noutros tempos, uma boda de casamento era tão genuína quanto top. Desculpem usar esta palavra “top”, mas está na moda, e fica fixe ser usada. Dá-nos um ar de quem usa t-shirts floridas.

Mas, dizia, a boda de casamento, era genuína porque conseguia reunir festa, celebração e simplicidade. Assim, o jovem casal definia a data de casamento e ia de seguida dar uma volta pelos restaurantes da moda, contratar o serviço da boda, que era só o almoço. Nada de ceias ou merendas: Assim, visitava-se o Dindão, o Senhora da Hora, o Taco Dourado, o Lano, o Topa, o Cruzeiro, o Pinheiro, o Algarvio, depois o Bolhão, etc, etc.

Mesas corridas, dispostas em forma de U, os familiares juntinhos aos noivos, no topo, escondidos atrás de um bolo parecido com a torre de Pisa, os casados de um lado, os solteiros do outro, por aí fora.

Depois as entradas com camarões, rojõezinhos, croquetes, moelas, polvo, orelha de porco, etc. Depois vinha a canjinha ou uma sopa de legumes bem passada, seguindo-se, mais a sério, a salada russa com filetes de pescada e, se mais ao luxo, bacalhau com puré de batata. Confortada a barriga, lá vinha o cozido à portuguesa, se a família de origem mais lavradoresca assim o determinava, ou em alternativa um assado misto num bordel gorduroso de carnes de cabrito, vitela e porco.

Depois lá vinha o desfile de doces e frutas, onde não podiam faltar as laranjas e as bananas e as uvas ou cerejas, dependendo da época. Já com o estômago a abarrotar, o remate com café e bagaço. Depois os amigos mais atrevidos começavam a bater e a partir pratos com os talheres, desafiando os casais, casados ou namoradeiros, a darem o seu beijinho. - E é p´rá noiva! - E é p´rós padrinhos!...  

Também podia acontecer o leilão com o corte da gravata do noivo e a subida do vestido da noiva, isto quando o ambiente já estava mais descontrolado. E alguns noivos aproveitavam porque poderia dar para ir ao Algarve. Finalmente, despedidos os convidados, umas fotos para o quadro do quarto num qualquer jardim público, depois, xixi e cama.

No dia seguinte o jovem casal ia em lua de mel à praia a Espinho ou ao jardim do Palácio de Cristal ou ainda, se mais endinheirado, até Troia, ou mesmo ao Algarve. E não era para todos.

Era assim, e a coisa aos convidados ficava quase sempre barata, porque sabiam quanto em cada restaurante custava a despesa aos noivos. Era à certa, cabendo aos familiares um esforço suplementar para uma ajuda ao início da vida de casados. 

Mas em pouco tempo a coisa deu uma volta de 180 graus e os casamentos e bodas dos anos 70 e 80 parecem anedotas quando comparados com os de hoje.

Vieram as quintas, as quintarolas, os protocolos, os vídeos, os drones, os palhaços, as bandas, as casas dos queijos, dos enchidos, dos doces, das frutas,  das esculturas de melancias e abacaxis, fontes e cascatas de chocolate, corta-sabores, desemperra línguas, etc, etc.. No protocolo ou na etiqueta da indumentária, as madames são um S. Miguel para cabeleireiras e esteticistas. Usam um vestidinho na cerimónia, outro no almoço e outro ainda na ceia. 

Já a ida para a igreja é uma preocupação definir se de carro normal, se de Ferrari, se de carro clássico antigo, se de limousine, se de charrete puxada por cavalos ou póneis, se de mota, de bicicleta, de trotinete, etc, etc. A pé, como eu, ninguém vai!

Os convites com design de artista, de seda, papiro ou papel biológico, prendinhas e lembranças todas xpto, fotos dentro de corações, no lago, no baloiço, na bicicleta, etc. 

As cerimónias na igreja, quando as há, e há porque as igrejas, com padres e acólitos, são sempre cenários irrecusáveis, mesmo se os noivos não são de missas, são de arromba com flores importadas, arranjos dignos de um casamento da realeza inglesa, grupo coral contratado, o Avé Maria do Schuberth e o Aleluia do Cohen.

Quando o álcool começa a fazer das suas, há danças do pinguim, do comboio, do quadrado, do quizomba, do kuduro, do barão, etc, etc. Há banho de espumante e de champagne francês e no fim da noite o fogo de artifício, 

Nas redes sociais os noivos e convidados partilham tudo e mais alguma coisa e até agradecem e destacam a lista dos "patrocinadores" das flores, dos sapatos, dos fatos, dos vestidos, das cuecas, dos bolos, dos convites, do vídeo, das fotos, o operador do drone, o banda, o grupo polifónico, a menina do violino, o rapaz do piano, o hotel, a quinta, o chefe, o condutor da charrete, a agência de viagens, etc, etc. É uma produção e peras.

Uma orgia de felicidade e de coisas boas que enchem os corações e as almas, dizem! Os convidados pagam para comer numa tarde o que daria para comer num mês. Mas pagam, porque sacrifícios destes valem a pena. É um investimento duradouro e conteúdo para as redes sociais de fazer inveja.

Claro está, os convidados na maior parte dos casos pagam tudo isso e até mesmo a lua-de-mel num qualquer resort paradisíaco.

E isto é mau? Claro que não! É sinal que até o mais humilde casal, mesmo que com ordenados mínimos ou mesmo desempregado,  tem direito ao seu grande dia, à sua celebração.

Finalmente, uma outra grande mudança, significativa nestas coisas: A data do casamento já não é definida pelo casal ou pelo padre ou pela altura em que ambos têm férias. Quem a define é a agenda da quinta ou da quintarola. Nalgumas há listas de espera de anos, dizem! Espere-se, pois, que é o mais importante!

Tanta coisa e tanta mudança em tão poucos anos, digo eu, que quase me envergonho da minha boda de casamento, humilde, simples, caseirinha, mesmo em casa, sob uma tenda de pano florido, e da trabalheira em matar porcos, vitelas e uma capoeira inteira, para que nada faltasse aos amigos e familiares.

O dinheiro deve ter sido à certa para o que se comprou na mercearia e se pagou a quem serviu, porque não sobrou para ir à Torreira ou ao Furadouro, quanto mais à Madeira ou Puta Cana.

Uma voltinha nocturna ao bilhar grande de um parque de uma cidade nas redondezas, umas farturas ou um novelo de algodão doce para adoçar as bocas sedentes de beijos, e no resto, xixi e cama. Naquelas alturas a maioria das mulheres casavam virgens, mas isso poderia ficar para depois do cansaço do dia e da boda. Nem era o mais importante, e de resto paciência pelo dia D era o que se aprendia a ter  durante o namoro. Hoje, no geral, as coisas já vão adiantadas.

Abençoados tempos modernos e de fartura, onde "todos somos tão felizes" e os casais chegam "quase todos" a "bodas de oiro" e em que os divórcios contam-se pelos dedos das mãos. 

Ainda bem que há Facebook para nos testemunharem estas coisas, porque se não fossem vistas, contadas ninguém acreditaria.

Se alguém vai dizendo que "vivemos acima das nossas possibilidades", isso é pura má língua. Na realidade vivemos muito modestamente.

Mas ainda em tempos mais recuados, os nossos pais e avôs casavam-se, comiam uma refeição melhorada, com arroz de galinha, e no dia seguinte iam em lua de mel para a puta da vida, no campo ou no mato. Hoje, vão quase todos para a Puta da Cana, ou outros paraísos tropicais. Diferenças, para além da semântica e dos trocadilhos.

Abençoados tempos de fartura!

18 de agosto de 2022

A inflacção é uma treta

Contou-me, hoje, o Manel do Mindo, que ontem por volta das 21:00, porque atrasado por um biscate de última hora, a modos de grávida deu-lhe, a ele e à patroa, apetites por uma "francesinha". 

 Para não irem ao engano, ligou para quatro restaurantes onde o pitéu tem fama, e ainda para mais outros três, onde à falta da francesinha marcharia qualquer coisa que lhe pusessem no prato, mas qual quê? O Wimpy, em Sanguedo, àquela hora tinha  gente à espera e a cozinha fecharia pelas 10. Os restantes, que nem pensar, porque estavam cheios e a abarrotar.

Ora o Manel, porque ainda ligou para mais dois mas ninguém atendeu, a modos de férias sem precisar de facturar,  depois de uma valente rodada de impropérios, lá decidiu, com a patroa, recolher aos aposentos domésticos e preparar uma saladinha de tomates com atum. Bem bô!

Moral da história (verdadeira), esta cena da inflacção, preços altos e dificuldades e coisa e tal, é apenas um ar que lhe deu. No geral, o povo está todo bom de saúde (graças a Deus!), incluindo a financeira. Tudo a assapar!

Cozinhar em casa numa quarta-feira? Esquece!

15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

10 de agosto de 2022

Coisas de regedores e foucinhas

Na minha pesquisa relacionada aos apontamentos sobre os regedores em Guisande, que como já confidenciei por aqui, tenciono incluir no livro que pretendo publicar lá para o princípio do próximo ano, tenho falado com os mais velhos e escutado histórias curiosas e mesmo divertidas. Algumas serão naturalmente como os contos, em que, conforme vão sendo contadas, alguém sempre lhes acrescenta um ponto.

É claro que por razões óbvias não interessa nem importa referir nomes e os aqui usados são fictícios. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência, como é costume avisar. É certo que os intervenientes já partiram, mas há familiares que poderiam ficar melindrados. Mas, o mais importante, o essencial, é que fiquem registadas as particularidade deste nosso género humano, tão rico em diversidade de personalidade, do ser e do viver.

Assim, conta-se que um certo guisandense, com fama e proveito de ser amigo do alheio, apesar de ser uma alma mansa e pacífica, terá "mudado" de lugar uma certa alfaia agrícola, no caso uma foucinha, artefacto imprescindível ao corte de ervas, centeios e aveias nos campos ou mesmo corte das canas do milho  após a colheita das espigas. 

O dono, o lesado, desconfiado do larápio do costume, queixou-se ao regedor, homem austero e experimentado com as coisas da vida e conhecedor do dia-a-dia das suas "ovelhas" e suas manhas. Ora o regedor,  após o final da missa, dirigiu-se calma e pacatamente a casa do suposto subtractor. Bateu na porta fronha e logo depois, da negrura do quinteiro assomava a figura de quem procurava, no seu aspecto franzino mas vivaço.

- Ora viva, Sr. regedor! A que devo o prazer da sua visita?

- Ouve lá, ó Justo! Devolve-me a foucinha do Ti Correia, que ele amanhã vai cortar centeio e precisa dela - Ordenou em voz grave e austera.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! - respondeu o Justo num tom apaziguador procurando amansar o ar autoritário do regedor. - Mas, Sr. regedor, venha ali comigo!

Dirigiu-se a uma barraquita ao lado da capoeira e ali estavam penduradas na velha parede uma dúzia de foucinhas e outras alfaias, que mais parecia uma tenda de ferreiro na Feira dos Dezoito.

- Qual será destas, Sr. Regedor? Qual será destas? - perguntou nervosamente o Ti Justo. 

- Mas então tu não sabes a que roubaste? Achas que eu sou entendido em foucinhas e que conheço todas as foucinhas da freguesia? - ripostou o regedor, já a perder as estribeiras com aquela humilde descaradeza  do Justo.

- Tá, bém, tá bem, tá bem! Deve ser esta! Deve ser esta! É mesmo esta! Até tem a marca com o nome do Correia! - respondeu com ar de entendido, enquanto pegava na foucinha, quase nova, e a devolveu ao regedor.

O regedor, habituado a estas tropelias do Justo, pegou na foucinha, virou costas, mas antes de transpor as portas fronhas, voltou-se e sentenciou! - Olha lá, não me obrigues a voltar cá por causa de foucinhas, que eu tenho mais que fazer!  Além disso, para que raio queres tu tantas foucinhas?

Respondeu-lhe o mãos levezinhas, encolhendo os ombros estreitos: - Sabe, Sr. Regedor, nestas cousas é melhor ter a mais que a menos! É! É melhor a mais que a menos! - repetiu, encolhendo novamente os ombros, justificando-se.

25 de julho de 2022

O meu comandante é cor, cor, cor, ...coronel da infantaria


Há dias um amigo confessava-me que em termos de relações as coisas andam esquisitas nas redes sociais. Que vira um velho conhecido seu com uma raparigota nova ao lado e que, comentando, lhe dera os parabéns por certamente ser um pai babado. Mas desse velho conhecido, que não via há uns anos, recebeu a informação de que, afinal, divorciara-se e aquela que parecia sua filha, era a sua nova companheira e com quem cavalgava novas aventuras.

Ficou perdoada a gaffe do meu amigo, mas este jurou não comentar mais este tipo de coisas. É que hoje veem-se pessoas a exporem-se desbragadamente, entrelaçadas, a declararem mutuamente um amor tão profundo e intenso que parece que vai ser eterno e chegar, no mínimo às bodas de ouro. Mas, pasme-se, dali a nada, a reviravolta, o mesmo enredo, e com a mesma lata as mesmas juras e declarações, mas a outros ou a outras. 

Portanto, em resumo e como lição, é melhor não comentar relações nem quadros de gente que se mostra apaixonada, porque a coisa por regra dura tanto como manteiga em nariz de cão.

É melhor fazermos de conta que, apesar da coisa ser com pessoas reais, as suas vidas e os seus amores, são como as encenadas e exibidas numa qualquer novela. Mas não falta quem goste de novelas e jure que são reais.

E a coisa calha a todos porque, vá lá saber-se porquê, não nos livramos dos telhados de vidro. Mas quem mais sobe e se expõe, mais se sujeita a cair com estrondo no chão do ridículo. Bom senso e discrição nunca fizeram mal.

Quem também percebe disto, é o meu amigo Luís B. que ainda há pouco viu um velho coronel, seu comandante na tropa, fardado e de pose militar, a lamentar-se por ter sido enxotado pela companheira de um casamento de décadas, trocando-o por um antigo namorico. Não havia necessidade de esperar pelos setenta e muitos para encornar o garboso militar. Ademais, para além da espada de prata, como todos os militares tinha uma boa e choruda reforma, coisa que agrada às mulheres. De pouco lhe valeu.

Mas as coisas são mesmo assim. As redes sociais são a antítese das velhas casamenteiras da aldeia e estão aí para abrir portas e janelas de forma vergonhosamente descancarada a novas relações e aventuras.

Quanto ao velho e brioso coronel, mesmo lamentando a situação, que não se afunde em lágrimas, que vá para o Tinder ou mesmo para o Facebook, cúmplice da traição, e um dia destes o Luís B. ainda lhe vai dizer que é um pai babado.

Love is in the air.

22 de julho de 2022

Gente jovem, bonita e feliz


Não sei se já repararam, mas eu que até fujo da publicidade televisiva como fugia o José Pratas dos jogadores do F.C. do Porto, já reparei: Os spots publicitários, nas diferentes situações já nos mostram casais homossexuais, inter-raciais e outras modernas combinações que até há pouco eram desconsideradas.

Está na moda e como na cantiga dos adeptos do futebol "...e quem não salta não é da malta", temos todos que saltar e estar contentes e maravilhados por esta onda de inclusão sem preconceitos de género, orientação sexual, de raça, credo, etc. Por mim, não me aquece nem arrefece. Limito-me a respeitar, porque no fundo tudo se deve resumir a isso. 

O mercado publicitário nunca se compadeceu com valores para além dos puramente comerciais, do marketing, do vender o produto, mesmo que gato por lebre. Por conseguinte, sempre foi eficiente a ajustar-se às modas e às tendências e como tal não surpreende a nova onda.

Apesar disso, não sei se também já repararam, e porque quase nunca é tema criticado e não está na ordem do dia, quase todos os anúncios metem gente jovem bonita e sorridente e raramente idosos, a não ser nos intervalos e espaços que antecedem programas como o "O Preço Certo", em que se se vendem carrinhos Egiros, plataformas elevatórias, aparelhos auditivos, cola para dentaduras, pensos para incontinentes, calcitrins, etc, etc. Muito raramente ou quase nunca vemos velhinhos em anúncios de pastas de dentes, de iogurtes, de telemóveis, shampôos, automóveis, etc, etc. 

Bem sei que a coisa designa-se por "target", por "público alvo". Ou seja, nós, consumidores, somos meros alvos a quem a publicidade tenta acertar na mouche. Mas, que raio, os idosos também comem iogurtes, bebem refrigerantes, usam telemóveis, usam perfumes, etc, etc. 

Em resumo: A coisa já mete casais homossexuais mas os velhinhos esses continuam discriminados. Importa, aos anunciantes e agências de publicidade meter gente jovem, bonita e feliz. Esse é o padrão. Gente velha, com rugas, gordos, sem cabelo, não vão lá. Nem mesmo face à realidade de que temos um país de gente envelhecida. Ele há coisas!

Assim, importa não perder o foco e tratar a publicidade com o valor que tem: Pouco ou nenhum e apenas como instrumentos de venda e promoção em que se tenta influenciar a decisão de compra. Os seus valores são muitas vezes baixos e questionáveis. Mas quem liga aos valores? Mandam as modas!


[foto: marcas.meioemensagem.com.br]