Mostrar mensagens com a etiqueta Política. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Política. Mostrar todas as mensagens

29 de julho de 2019

Monte do Viso - Ante-Projecto "Nova Face"


Com maior ou menor interesse, de um modo generalizado todos reconhecemos no Monte do Viso e na sua respectiva zona envolvente à Capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna e Santo António e edifício da Escola Primária, actualmente integrado no Centro Cívico do Centro Social S. Mamede de Guisande, um dos locais mais aprazíveis da freguesia e palco comunitário de muitas iniciativas  de índole recreativo, cultural e religioso, incluindo a nossa maior festividade popular, a qual dentro de dias, já no próximo fim-de-semana, volta a ter lugar.

Todavia, o arraial ou parque do Monte do Viso, apesar do empenho depositado nele por várias juntas de freguesia e indiferença de outras, como a anterior e a actual, é fruto de uma dinâmica de interesses colectivos e singulares que não é de agora, nem das duas últimas décadas, mas bem mais de trás. 

Neste contexto, muitos já estarão esquecidos, mesmo os mais velhos, mas toda a reformulação do arranjo do Monte do Viso tal como o conhecemos na actualidade, a partir do seu aspecto anterior, tal como vemos parcialmente na foto acima, datada de 1982, tem as suas raízes numa ideia apresentada em 1986 na Assembleia e à Junta de Freguesia de então, encabeçada pelo Sr. Manuel Alves, pelo jovem deputado Rui Giro em representação da lista  FJI - Força Jovem Independente que, recorde-se, concorreu às Eleições Autárquicas de 1985 e 1989.

Essa ideia traduzia-se num ante-projecto designado de "Monte do Viso - Nova Face", cujo esquema de apresentação (reproduzido abaixo) foi publicado no jornal "O Mês de Guisande" em Novembro de 1987, cuja capa abaixo se estampa.



É certo que a solução que veio a desenvolver-se não seguiu à risca a ideia plantada no ante-projecto (nem era isso que se pretendia), que desde logo previa uma circulação marginal e envolvente, ao arraial, mas dela nasceu o interesse colectivo pela importância de dar uma nova face a esse bonito local. e fazer dele uma das nossas salas de visita.

A ideia foi bem recebida tanto pela Junta como pela Assembleia de Freguesia e depois disso foi também envolvida a Câmara Municipal, a qual veio a dar seguimento ao levantamento topográfico,  estudo e projecto. As juntas de freguesia seguintes, lideradas por Rodrigo de Sá Correia, Manuel Ferreira e Celestino Sacramento corporizaram essa ideia e aos pouco o parque chegou à configuração actual, conforme foto área abaixo. De resto, o arraial até já esteve com melhor aspecto, pois já com alguns ano decorridos notam-se naturalmente os desgastes nas pavimentações, coreto e jardins. As obras de conservação  nunca tiveram lugar e as pedras da calçada vão por ali andado ao rebolo. 

No nosso entendimento e no da FJI de então, a solução adoptada não foi a melhor e isso comprova-se pelo constrangimento viário que se verifica em dias de eventos no local. Por outro lado, o percurso da capela até ao fundo do monte deveria ser directo e apenas pedestre e não misto, com uma transição mal conseguida. Adoptou-se uma solução com menos arruamento e mais zona de parque,é certo, mas na altura mandou quem podia e quem pode manda, mesmo que mal. 

Mesmo na actualidade podia-se melhorar os aspectos de circulação com uma postura de trânsito em sentido único a envolver a Rua Nossa Senhora da Boa Fortuna e Rua de Santo António, mas tal obrigaria à sua requalificação, com alargamentos e pavimentações e o poder local agora organizado numa mistura incaracterística de freguesias, cada uma a olhar para o seu próprio umbigo, não tem estado para aí virado, apesar de na Rua de Santo António, a nascente da capela, os proprietários terem chegado a acordo para ceder terreno para o alargamento o que em muito beneficiaria o local e a circulação, sobretudo em dias de eventos, tanto mais que mesmo que a meio gás,  por ali vai estando de portas abertas o Centro Cívico. 



De lá para cá, as juntas que se sucederam não deram importância ao local e as obras estagnaram e muito há a fazer. De minha parte, enquanto membro da Junta, elenquei o local como palco de intervenção e requalificação, mas, para meu desalento e decepção, sem êxito. Fala-se, agora, que estão previstas intervenções nos pavimentos e passeios, mas o mandato vai a meio e para já nada, nem sequer limpeza. Mas haja esperança porque o dinheiro quando não se gasta deve andar por algures.

Mas estas são histórias que já não são lembradas e seria bom que procurássemos saber a origem das coisas e das suas raízes. E esta do arraial do Monte do Viso tem uma, ou mesmo várias. Por aqui, aos poucos, vamos tentando contá-las, a quem interessar.

27 de maio de 2019

Ooooops! Acabei por não votar!


É verdade! Acabei por não votar para o Parlamento Europeu. De resto como a larga e esmagadora maioria, a rondar os 70%, dizem.
Parece que na secção de voto em Guisande venceu o PSD, por 41 votos de diferença para o PS, mas na União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande venceu o PS, como de resto em todas as demais freguesias no concelho de Santa Maria da Feira, com excepcção da União de Freguesias de Canedo, Vale e Vila Maior, em que venceu o PSD.

A nível nacional, como se esperava, a vitória do PS em todos os distritos excepto em Vila Real. Nos Açores só deu PS e na Madeira, a excepção que confirma a regra, quase só deu PSD. Mesmo com um cabeça-de-lista fraquinho, deu para o PS chegar folgado, com o PSD e CDS a perderem gás. Tudo indica que em Outubro será mais do mesmo, mesmo que com os protagonistas de agora já acomodados nos seus confortáveis assentos de Estrasburgo e Bruxelas. Em todo o caso eram apenas figuras secundárias, quase marionetas de um discurso e campanha centrados sobre o país e não sobre a Europa, como se impunha.

É escusado fazer leituras e interpretações porque elas são demasiado óbvias. Por mim, confesso, nem os muitos partidos e coligações concorrentes despertaram o mínimo interesse por esta coisa da Europa. Nem mesmo o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na sua mensagem de véspera, conseguiu colmatar esse desinteresse. Pode ser apenas a minha leitura, mas o professor, tentando, não fez mais que tratar a larga maioria abstencionista como uma cambada de iletrados e irresponsáveis, desconhecedores dos perigos do abstencionismo. Também ele pareceu ignorar que em grande parte a abstenção resulta de uma descrença na Europa tal como ela nos é apresentada e sobretudo num descrédito nos habituais partidos e seus representantes. É certo que, como disse, a escolha era ampla e diversificada, mas não disse, porque não ficava bem dizer, que nem sempre a quantidade é qualidade.

Feitas as contas, elas, as contas, fazem-se sempre à volta dos principais e habituais partidos. O resto é um conjunto de siglas e pessoas, algumas certamente com boas intenções e que até tiveram algum protagonismo na campanha, mas logo após os resultados desaparecem na sua insignificância percentual. Desses, apenas esperei, talvez pelo carisma do fundador, um pouco mais do Aliança, mesmo sabendo que está a começar a caminhada. Mas a coisa já não vai lá com carismas nem mesmo sendo de Pedro Santana Lopes, talvez por já não surpreender. Mas, pelo menos, pareceu-me ser coerente no discurso da desilusão.

Rui Rio também foi pragmático quanto baste, recusando fazer leituras onde elas não existiam, assumindo o fracasso nos objectivos traçados. Infelizmente, este pragmatismo e frontalidade, que se reconhecem a Rio, também já não casam bem na nossa política porque o povo no geral dá-se bem com os habilidosos e as suas habilidades. No fundo, como no título de um certo filme, "engana-me, que eu gosto", ou como cantava a Ana lá pelos idos dos anos 80, "Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti".

Ainda quanto à esmagadora abstenção, sobretudo para esta circo político das Europeias, ela continuará por estes níveis, ou mesmo a aumentar, enquanto os partidos e os políticos não perceberem o seu real  significado, porque ela não é só composta por gente preguiçosa e com compromissos agendados de ida à praia, à festa ou a casamentos e baptizados, ou simples e puramente desinteressada da coisa pública, mas essencialmente por gente que já não acredita nos partidos e nos políticos, pelo menos na configuração que teimam em manter, e que percebem que votar em A, B ou C vai dar exactamente ao mesmo. Sobretudo, que a Europa e o projecto europeu é essencialmente uma coisa de políticos, burocratas e tecnocratas. O povo, esse andará sempre a seu  toque de caixa.
Creio que a abstenção só vai merecer uma séria atenção quando os políticos caírem no ridículo de serem os únicos a votar neles próprios. É um exagero, obviamente, mas seria engraçado.

20 de maio de 2019

Banana Joe e outras semi breves

Tenho cá para mim que as audições em sede de Comissões Parlamentares, sobretudo as que procuraram ouvir figuras do mundo empresarial e bancário, só têm servido para os inquiridos fazerem de parvos os portugueses, em geral, e os deputados, em particular. Figuras e posturas como as do recente Joe Berardo, com estatuto de Comendador, são um retrato fiel desse gozo, desse ar de intocabilidade. Ora o gozo e a risada de escárnio ora a perda de memória e outras amnésias fazem deles figuras tristas e cómico-dramáticas.
Deste modo, esta gente não tem emenda nem tem quem os emende e por isso, nada podendo fazer o português comum para mudar este estado de coisas, mesmo que a Catarina Martins diga que o meu voto vale tanto quanto o do patrão da Jerónimo Martins, resta-me aplicar a velha máxima de que "lavar a cabeça a burros dá trabalho e  gasta sabão." Mas fazia falta um verdeiro Joe, o Banana, distribuir por essa gentinha umas valentes coças. Infelizmente, Bud Spencer já não não faz filmes nem já anda por cá para os pôr na linha.


O Benfica lá conquistou o 37º título do nosso futebol maior. Reconheço que com algum esporádico benefício de erros de arbitragem, de resto como é costume acontecer para os chamados "grandes", e deles também  beneficiou em muito o F.C. do Porto ao longo desta época, o campeonato ficou decidido pelo facto do F.C. do Porto não ter conseguido impor-se ao Benfica nos jogos entre si. Tivesse vencido no jogo caseiro a poucas jornadas do final da competição e a equipa azul-branca teria ganho distância pontual e anímica mais que suficiente para conquistar folgadamente o bi-campeonato. Não o tendo feito nem sido capaz, por mais que procure agora desvalorizar o mérito do Benfica, como naquela história da raposa para com as uvas que não conseguiu comer, e como é apanágio da casa, não se livra desse ónus. Ficava-lhe bem  reconhecer a sua culpa e incapacidade.
Para além de tudo, mais que um novo título, a reconquista do Benfica tem uma importância acrescida num ano em que supostamente, por uma "santa aliança" entre F.C. do Porto e Sporting, foi despoletado um vendaval de suspeitas, de divulgação criminosa de correspondência privada, alegadamente contendo esquemas de favorecimento e controlo da arbitragem, com os chamados casos dos "emails" e "toupeiras". Afinal de contas, parece que mesmo tendo sido posta a nú toda a "marosca", dizem, independentemente do que os processos em sede judicial possam vir a revelar, os efeitos das "santa aliança" parecem, para já, ter sido um tiro no pé, ou até mesmo saído pela culatra.
Mas, como é um capítulo ainda em aberto, a ver vamos.


A propósito da conquista de mais um título de futebol pelo Benfica, o nosso presidente da república, Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, endereçou os parabéns ao clube mas fê-lo justificando-se por também, em iguais circunstância o ter já feito aos outros clubes no passado.
Seria necessária esta justificação? Teve medo de quê ou de quem? Não quis ofender algumas virgens ou ferir susceptibilidades, destas que desencadeiam ondas de choque nas redes sociais?
Não gostei desta falta de pragmatismo do nosso presidente e o problema é que tem acontecido com mais frequência. Por vezes é preferível pragmatismo ao populismo.


Para o próximo Domingo, 26 de Maio, parece que há eleições para o parlamento Europeu. Dizem, os políticos, que são importantes. Sendo que cada um lhe dá a importância que quer, ao acto, por mim dou pouca ou de forma muito relativa, porque todos os actores candidatos às boas benesses de um assento confortável em Estrasburgo, da esquerda à direita, me parecem fraquinhos e todos falam como se cada um por si possa mudar os destinos da velha Europa, perigosamente escancarada e de cócoras. 
Pelo que vou vendo, os principais candidatos falam, falam, mas no fundo falam todos no sentido de que a Europa deva continuar escancarada e de cócoras, aberta à penetração fácil de culturas e fundamentalismos que não se enraízam, antes parasitam. A velha máxima de que "à terra onde fores ter faz como vires fazer" já não tem aplicação nesta Europa demasiado vulnerável,  até mesmo, num certo sentido, prostituída.

6 de maio de 2019

Desgraças engraçadas

A politica é engraçada e os políticos, porque seus protagonistas, engraçados. Alguns até malabaristas. Por exemplo, agora com este recente caso da ameaça de auto-demissão do Governo, a propósito do assunto do descongelamento das carreiras dos professores. O primeiro-ministro António Costa, na sequência da posição dos demais partidos na Assembleia sobre o assunto, disse à imprensa “Entendi ser meu dever de lealdade institucional informar o Presidente da República e Presidente da Assembleia da República que a aprovação final global desta iniciativa parlamentar, forçará o Governo a apresentar a sua demissão”, disse António Costa, em conferência de imprensa.

Confesso que para além do que entretanto fui vendo, lendo e ouvido, e das razões ou não razões das partes, e nem creio que a classe dos professores tenha mais razões que todos os demais portugueses e como tal direito a tratamento diferenciado, parece-me uma fraca peça teatral levada à cena pelo Governo e António Costa e, desde logo, porque em devido tempo usou e justificou a legitimidade da maioria parlamentar para formar um Governo mesmo não tendo vencido as eleições e agora parece fazer um drama pela "ilegitimidade" de uma posição que decorre, ela também, de uma maioria parlamentar.

Pela análise pessoal, percebendo que em Outubro próximo o PS não obterá a maioria, e que a "coligação" ou apoio de esquerda não terá pernas para andar num próximo Governo, nomeadamente porque o Bloco de Esquerda e o PCP a partir de agora, e ultrapassada a questão do Orçamento, e até às eleições querem o devido distanciamento e definir territórios próprios, António Costa considera que será preferível um "golpe de teatro" com a adequada dramatização que levando mesmo a eleições antecipadas pode colher frutos mais saborosos bem como no imediato para as eleições europeias, já que os indicadores e os "especialistas" vão prognosticando que a sua campanha não está a correr bem, de resto o que se percebe com um cabeça-de-lista "fraquinho".

Mas é ver no que vai dar, principalmente agora que os principais acusados pelo Governo, o CDS e o PSD têm vindo a público clarificar e "desmistificar" os contornos e condições do apoio ao tal descongelamento das carreiras dos profs, parecendo, pelo que dizem, menos "dramático", pelo menos a ponto de justificar a encenação do "drama" e da ameaça de demissão.

A ver vamos, mas a política e os políticos são engraçados.

29 de março de 2019

Falta de memória


Recordo-me, como se hoje fosse, da nota de 20 escudos, a verdinha do S.to António, que havia recebido de prenda de um familiar, que negligentemente perdi lá pelos idos dos anos 70, algures numa brincadeira de índios e cow-boys. Na altura uma pequena fortuna.

Por estes dias, porém, na Comissão Parlamentar à Caixa Geral de Depósitos, nem Carlos Costa, ex-administrador do referido Banco e actual governador do Banco de Portugal, nem Vitor Constâncio, o seu antecessor, se lembram, têm memória ou recordam-se de situações, de sinais e créditos ruinosos desbaratados no valor de largos milhões de euros, passando literalmente ao lado das suas funções e responsabilidades. 
Por aqui, creio que cargos desses, de Carlos Costas e Vitores Constâncios, mais valia serem ocupados por elefantes, pois estes, mesmo que andem de trombas, têm pelo menos o crédito de terem boa memória. E ficariam muito mais baratos pois em vez de largos milhares mensais contentar-se-iam com uns amendoins e uns repolhos. Quanto à competência para o cargo, não faria muita diferença, conhecida que é a inteligência dos quadrúpedes.

São, pois, estas algumas das figuras com responsabilidades nesse buraco sem fundo da banca portuguesa da última década, que inocente e despudoradamente apregoam a sua memória curta como se a importância disso se resuma à perda de uma notita de vinte escudos, coma  diferença de que, pela minha parte, nunca mais perdi a memória disso. E já lá vão quase cinquenta anos. 

19 de fevereiro de 2019

Bolachas Confiança

Parece que por estes dias vai haver uma moção de censura ao Governo de António Costa, a ser apresentada no parlamento pelo CDS. Sabe-se de antemão que, tal como na primeira apresentada pelo partido de Assunção Cristas, qual será o resultado desta moção, mesmo que o PSD tenha anunciado que, apesar de apenas de forma simbólica, votará ao lado dos centristas. Por conseguinte, o PS e partidos da esquerda que apoiam o Governo vão reunir forças e votar contra.

Sem querer fazer análise política dos prós e contras desta moção de censura, creio que tem razão quanto à importância de servir para clarificar a posição dos partidos à esquerda do PS, Bloco e PCP. Ora estes foram dos primeiros a anunciar a derrota da moção. 

O país está afundado em greves, como nunca se viu e as coisas parecem levar um rumo apenas virado para o presente e futuro imediato. O BE e o PCP estão ao lado dos grevistas e sindicatos, criticam forte e feio o Governo e a Europa, mas na hora de aflições lá estão fiéis ao lado de António Costa a proteger-lhe as costas. Ora isto é uma arrelia para a esquerda porque a mais ou menos oito meses das eleições legislativas de Outubro próximo conviria que cada um já lutasse apenas por si. Com esta moção vão ter que reafirmar o apoio ao Governo que lhes conviria criticar. Uma chatice. Como uma mosca que não faz mossa mas incomoda. 

A política afinal não é mais que um jogo de gato e rato e por vezes o gato gosta apenas de dar baile ao rato e vice-versa. Visto de fora é engraçado, sendo que no final de todas as contas, mesmo sem se comerem literalmente um ao outro estão ambos gordinhos e bem de vida e bem instalados no parlamento. Por isso, é tudo um faz de conta, da esquerda à direita.

Nós, de fora, somos meros espectadores, a assistir, com a agravante de ter que pagar bilhete.


18 de janeiro de 2019

Travessias


Já votei ao centro, à direita e à esquerda e até em coisa nenhuma, e continuo ainda a achar que esta discriminação de posicionamento partidário resulta apenas de uma prática histórica iniciada algures no pós-revolução francesa e que em rigor não tem qualquer valor. Apenas semântica. Há, pois, valores que não são exclusivo da direita ou da esquerda e por isso na politica o que importará são as ideias e os projectos e a qualidade das pessoas a eles associadas e que juntos correspondam ao que acreditamos ser o melhor para nós próprios, para os nossos e para a sociedade. Movimento e ordem são importantes, mas pouco se um sem a outra.

Tudo isto para dizer que não sou militante de coisa nenhuma mas militante de ideias, valores, projectos e pessoas. Neste não posicionamento clubístico, procuro ver estas coisas  da politica com o distanciamento possível, incluindo esta situação recente vivida no PSD, em que o seu líder Rui Rio em resposta ao posicionamento de Luís Montenegro, dito notável do partido, convocou o seu Conselho Nacional para se sujeitar a uma moção de confiança. Foi já no alvor da manhã de hoje que se soube que Rui Rio passou na moção, merecendo a confiança da larga maioria dos conselheiros, com percentagem até reforçada comparativamente à das eleições directas de há um ano. Clarificada esta questão, julga-se, o líder clama agora por tranquilidade e que o deixem trabalhar.

Todavia, visto de fora, não me parece que vá ter tranquilidade, até porque as vozes contra são muitas e mostram um ressabiamento que já vem do antes da vitória inequívoca nas anteriores eleições directas.
Montenegro, que quem o melhor conhece diz não ser grande "rifa", de resto na linha dos políticos com muita prosápia mas pouca substância, ainda o líder mal tinha acabado de ser empossado e contra ele já se levantava dizendo que ia estar por aí. Por isso adivinhava-se que a travessia do deserto do menino Luís seria curta, apenas até que lhe desse ganas de confrontar e desafiar o chefe, em resumo no momento em que achasse mais adequado. Assim, a meio do jogo, como as jogadas não lhe estavam a agradar, decidiu desafiar Rio a recomeçar o jogo e a submeter-se a uma nova equipa, bem ao jeito do tempo da escola em que o menino rico quando estava a perder decidia parar o jogo, formar a sua equipa com os melhores e voltar a começar o jogo a zeros.

Em todo o caso, Luís Montenegro e seus pares adeptos de golpes palacianos até podem ter razões quanto à estratégia de Rui Rio e da sua aparente fraca oposição à geringonça, mas pretender mudar as regras do jogo e questionar e desafiar a liderança legitimada por eleições directas, não é coisa que fique bem na fotografia. Mas é lá com eles. De resto, como as coisas estão, mesmo com uma liderança "mais forte e mais incisiva"  ao gosto do Montenegro e parceiros, o mais certo é que não seja suficiente para destronar Costa e seus pares nos próximos actos eleitorais. Porque é ciclíco e porque gostamos de rebuçados, pelo menos enquanto os não enjoarmos.

Finalmente, creio que de facto Rui Rio tem um grande ou mesmo enorme handicap contra ele e que lhe pode ser fatal nas eleições que aí vêm, e que reside no facto de ser um político objectivo e sério, coisa que, mesmo não generalizando, não casa bem com a classe política. A esse nível ganhariam mais, ele o partido, se fosse mais astuto, mais demagogo, mais antes parecer do que ser. Ora esse é de facto um grande problema até porque nós, portugueses, por mais que os tenhamos em baixa estima, temos uma predisposição para apostar nos políticos mais polítiqueiros, com tudo o que de pernicioso possam ter. 

20 de dezembro de 2018

O estado do Estado


Rui Rio, secretário geral do PSD, recorreu por estes dias a um ditado e a uma quadra populares para retratar a governação de António Costa apoiada pelos parceiros Jerónimo de Sousa e Catarina Martins. Quanto ao provérbio, ou aforismo, diz que o actual Governo tem enganado os portugueses "vendendo gato por lebre".
Quanto à quadra, "rouba-a" a António Aleixo:“Para a mentira ser segura e atingir profundidade, tem de trazer à mistura qualquer coisa de verdade.” 

É certo que Rui Rio, a quem lhe é reconhecida assertividade, fala, todavia, no sentido que lhe convém falar, porque é líder do maior partido da oposição. Todavia, há no uso desta "sabedoria" popular alguma verdade ou, para quem pretenda fazer um retrato menos clubístico da coisa, pelo menos contém situações que dão que pensar. Isto porque, por um lado, é indesmentível que tem havido uma melhoria geral da situação económica e social do país, nomeadamente com a redução do desemprego, reposição de alguns cortes anteriores e retoma de algum poder de compra, ou pelo menos uma maior predisposição para o consumo, mesmo que no geral andemos a reboque da conjunctura internacional e europeia. Mas em contrapartida e por outro lado, assiste-se a sinais que, recorrendo novamente à sabedoria popular,  são autênticos "gatos escondidos com rabo de fora". E não é só no aumento brutal dos impostos indirectos, a electricidade e combustíveis mais caros da Europa, mas também as cativações cegas que têm limitado e mesmo colocado em suspenso muitas e muitas situações que têm a ver com a Saúde, Educação e Estado Social. Como exemplo prático e que nos diz respeito, a situação do Centro Social S. Mamede de Guisande que mesmo depois de ver aprovado o contrato programa com a Segurança Social e a partir dele a sustentabilidade mínima para o funcionamento da instituição, depois de muitos impasses, viu o mesmo ser arquivado por falta de verba, sujeitando-o a uma nova candidatura e dela a mesma incerteza. Como a nossa associação, muitas por este país fora.

Para além de tudo, temos comprovadamente um Estado que tem dado provas de não assegurar a segurança dos cidadãos. Os casos de Pedrógão Grande e dos incêndios de 2017, os casos dos furtos de armas em Tancos e na PSP, o abatimento trágico da estrada em Borba e agora as falhas no processo de busca e socorro das vítimas da queda do helicóptero do INEM, são apenas alguns exemplos mais mediáticos da falha do Estado e das suas instituições, mas muito mais há e  são evidentes a degradação e desinvestimento em sectores importantes como os transportes, hospitais, educação, etc.

Para além do mais, têm duplicado as greves no funcionalismo público, algumas de impacto fatal para a vida dos portugueses, como a greve dos enfermeiros e com ela o adiamento de cirurgias, mesmo num contexto de supostas reposições de direitos e regalias. Mesmo a greve dos estivadores do Porto de Setúbal dizem muito da precariedade ainda não resolvida por mais que apregoada. Dizem os média que as greves duplicaram mas a ter em conta os anúncios do que aí virá, a coisa vai triplicar ou mesmo quadruplicar até ao final do mandato. Manifestam-se professores, magistrados, enfermeiros, médicos e tudo quanto é empregado do Estado. Que se saiba, ninguém se manifesta em greve por estar satisfeito com a governação, ou será apenas um oportunismo de classes que veem neste Governo uma porca de 18 tetas a quem se pode chorar por mama? Ou um pouco de ambas as coisas? 

Assim vamos andando e não me custa a acreditar que se as eleições legislativas fossem já no próximo mês, António Costa correria o sério risco de ser prendado com uma maioria. Nós, os portugueses, no geral, somos boas pessoas e de bem e não nos importamos nada de ser enganados, desde que com mestria e um sorriso.
Há, pois, muitas dúvidas a pairar no ar e situações concretas a merecer pelo menos uma reflexão do que temos e podemos vir a ter.  Mas o mal de tudo, é que não há muito por onde escolher e rematando com outro provérbio, "quem está no inferno está por conta do diabo".

[foto: fonte]

29 de outubro de 2018

É a democracia...


Bolsonaro venceu as eleições e será o futuro presidente do Brasil. É o que nos diz as notícias desta manhã. As coisas, a notícia e a realidade, não têm nada de extraordinário nem surpreendente, afinal apenas a normalíssima consequência da democracia. Agora, para o bem e para o mal, é aguentar. Ou a democracia só é válida e meritória quando vencem os nossos? É que, e isto chateia muitos "democratas", há sempre os outros, por mais bolsonaros e trumpistas que sejam. Nenhum barco resiste só com o lastro demasiado à esquerda ou excessivamente à direita. É preciso misturar e equilibrar princípios e valores, ideológicos, sociais e culturais, porque as sociedades são, regra geral, uma amálgama deles.
Porventura o Brasil e os brasileiros fartaram-se da ilusória realidade de que a um partido basta dar o nome de trabalhadores para que as virtudes intrínsecas de quem trabalha fossem extensíveis a quem governa. Não foi assim e o povo não só se cansou como se revoltou porque, parece-me,  esta eleição em Bolsonaro foi mais do que uma eleição, talvez mesmo uma revolução. Para já pelos votos, depois, quem sabe, pelas armas. Esperemos que não, porque o Brasil, essa imensa nação irmã, merece mais, muito mais, a começar pelos políticos e depois tudo o resto.

30 de setembro de 2018

Não quero o bife porque não tem ovo a cavalo


Diz-nos a imprensa: "CDS pediu "debate sério", esquerda "chumba" pacote do CDS sobre natalidade"
Na primeira hora do debate, ficou claro que socialistas, comunistas e bloquistas iriam "chumbar" os sete projetos de lei e um projeto de resolução do CDS, em que se prevê uma redução do Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) e do IRS, dependente do número de filhos.
PS e partidos à esquerda alinharam pelos mesmos argumentos, criticando os democratas-cristãos por nada proporem sobre salários, precariedade laboral ou horários de trabalho, fatores que pesam na decisão dos casais para terem filhos, antevendo um "chumbo", no final do debate.

Pessoalmente considero que a esquerda tem alguma ou mesmo bastante razão quanto a várias questões de fundo que em si mesmas contribuem para o problema da baixa natalidade. De facto importa criar condições ao nível da questão do emprego das mulheres, nomeadamente na condição de maternidade.
Em todo o caso, o pacote de propostas avançado pelos centristas também me parece igualmente importante. Nem de longe nem de perto as medidas nele empacotadas resolverão o problema de fundo, mas dariam um contributo. Mas, eventualmente com alguma hipocrisia, parte a parte, porque enquanto governos nem CDS nem PS impulsionaram medidas objectivas de apoio às famílias e às jovens mães e delas um apoio à natalidade, esta posição da esquerda unida não deixa de ser caricata já que enquanto dona do actual governo, e tendo condições para o fazer, uma vez que se mostrou igualmente unida na identificação das necessidades e crítica aos populares, não criou ainda as condições laborais que reclama faltar às propostas do CDS. Ou seja, numa analogia gastronômica, a esquerda, mesmo reconhecendo a fome do problema, não aceita o bife do CDS porque lhe falta o ovo a cavalo, ou mesmo que ao contrário, não aceita o ovo porque lhe falta o bife.
Política rasca a nossa, em que importa desvalorizar sempre o que vem do lado oposto mesmo que com aspectos positivos. Traduzindo pela sabedoria popular, é "nem comer nem deixar comer".

26 de setembro de 2018

É a democracia, certo?


Tenho ouvido e lido, sobretudo desde que sofreu um atentado durante uma acção de campanha, sobre o perfil do candidato às presidenciais do Brasil, Jair Bolsonaro
Independentemente do que possa achar do estilo, e de concordar ou não com as suas posições, que nitidamente parecem-me desajustadas e extremistas, fico, todavia, sempre algo intrigado por alguns ferozes ataques ao candidato já que se colocam estas questões: Goste-se ou não, é um candidato com os seus direitos em dia, certo? Concorre a umas eleições democráticas, certo? É o povo que vai escolher o que acha o melhor candidato para o Brasil, certo? Tratando-se de umas eleições democráticas deve-se respeitar a escolha do povo na sua maioria, certo?

Se as respostas forem certo, e não há como não ser, então que se deixe funcionar a democracia e que se respeite o resultado das eleições.  Que em campanha se esgrimam as personalidades, ideias e os projectos, que se denunciem e repudiem extremismos, mas depois dos resultados, que se respeite o povo.

Assim sendo, de que têm medo os seus críticos? Dele ou do medo da democracia funcionar? É que a democracia tem destas coisas, a de possibilitar a eleição de um tolo, um incompetente, um racista , um xenófobo, um populista, um extremista e tudo o mais que se queira referenciar como politicamente incorrecto ou mesmo como valores não humanistas. Mas a democracia é também o aceitar o direito de todos esses perfis poderem concorrer e mesmo ganhar. Goste-se ou não, é a democracia, certo?

Obviamente que esta conclusão serve igualmente para todos os intervenientes em todas as eleições realizadas em ambiente de democracia e sufrágio universal. Extremistas, fundamentalistas, populistas, nacionalistas e com outras vistas, sujeitam-se todos à democracia, nos deveres, direitos e garantias.

Como diria D. Trump, "let's work democracy!"

25 de setembro de 2018

Pagará Roma a traidores?

Confesso que tenho passado ao lado do assunto da criação de um novo partido ou movimento político por Pedro Santana Lopes, designado de ALIANÇA, sabendo que o processo de criação está feito faltando o parecer do Tribunal Constitucional.

O Aliança adoptou um logótipo azul claro como símbolo, tendo como lema "unir respeitando a diferença e as diferenças". Tem sido apresentado como "um partido personalista (inspirado em Francisco Sá Carneiro), liberalista e solidário. Interessado pelo contexto europeísta, mas sem dogmas, sem seguir orientações confinadas e que contesta a receita macroeconómica ditada pelos senhores de Bruxelas". Santana Lopes tem dito  que "...queremos garantir representação política que nos permita participar no processo de decisão, seja no Governo seja na oposição."  Não encabeçará, todavia, as listas que venham a concorrer pelo movimento. Será?

Olhando agora para o que os média têm noticiado e comentado sobre o assunto, chego obviamente a algumas conclusões pessoais. Em todo o caso, num sentido geral será mais um partido ou movimento que, como qualquer coisa nova, procura apregoar ideias arejadas por comparação ao status quo vigente. O que é novo é novidade e daí poderá sempre colher alguma aceitação de muito eleitorado que não é carne nem peixe, nomeadamente no PSD acolhendo os descontentes com a orientação de Rui Rio por o considerarem algo permeável à esquerda. Ora, ao contrário, como argumentou na sua carta aberta de despedida do PSD, publicada dia 4 no diário online Observador, Santana Lopes dizia querer “intervir politicamente num espaço em que não se dê liberdade de voto quando se é confrontado com a agenda moral da extrema-esquerda”. Por aqui se percebe ou se procura justificar o processo ALIANÇA.

Poderá ser apenas uma espécie de PRD mas duvida-se que nos próximos actos eleitorais que venha a concorrer possa obter tamanha fatia como então em 1985 sob a égide do general Ramalho Eanes. Então o PRD propunha-se a "moralizar a vida política nacional". 
Ainda hoje, volvidos mais de trinta anos continua a haver uma imperiosa necessidade de moralização da vida política ou, melhor dizendo, uma moralização dos políticos, mas não creio que seja este Aliança a fazê-lo pois os vícios estão demasiado entranhados. Ademais, o Aliança nasce com o ónus de uma fractura, uma desistência ou até mesmo, como já li, uma traição, a ponto de alguns militantes comentarem que "Roma não paga a traidores"(analogia à resposta dada pelos romanos ao pedido da recompensa pelos assassinos de Viriato - (139 a.C.).

Mas a ver vamos. Para o bem e para o mal, Santana Lopes, reconheça-se, sempre teve essa capacidade política de estar continuamente em intervenção no "teatro de operações". Creio que não lhe faltarão seguidores,  provenientes sobretudo deste actual PSD, onde é evidente um clima onde não faltam alguns lusitanos prontos a esfaquear o seu líder. Restará saber se em algum momento receberão a lendária resposta "Roma não paga a traidores". Ou, pelo contrário, estará com o seu Aliança de braços abertos a todos quantos não encontrem protagonismo no PSD de Rui Rio. Não duvido que à primeira investida venha a fazer mossa nas hostes laranja, pelo menos no actual contexto. Só o tempo dirá se, tal como ao PRD, depois não virá a erosão até à extinção.

Seja como for, só o tempo realmente dirá da importância e validade deste novo movimento. Devemos estar sempre abertos ao lado positivo das mudanças e ver se as ideias que vierem a ser cimentadas correspondem ao que cada um de nós tem como válidas na definição da politica. Não devemos ver os partidos como clubes de futebol onde quase sempre somos indefectíveis seguidores mesmo que mal treinados e pior dirigidos.
Devemos ter em conta as pessoas e os projectos e colher de todos o que de positivo apresentam. As ideologias por estes tempos são o que menos contam porque provenientes de tempos e contextos já passados, não raras vezes com resultados dramáticos. Ora se este Aliança conseguirá ou não aplicar esse conjunto de valores é o que o tempo dirá.

24 de setembro de 2018

Desconfiar é preciso


Como se suspeitava, Joana Marques Vidal, Procuradora Geral da República, não foi reconduzida no cargo. Poderia tê-lo sido, mas não foi. Em seu lugar o Governo nomeou Lucília Gago. Poderá ter sido para contrariar a pressão à direita, poderá ter sido apenas porque sim e lhe dava jeito.

Entre muitas leituras e questões, incluindo a de que o presidente da república e o 1º ministro ficaram chamuscados neste "fogo", achei curisosa a génese das justificações de António Costa e do seu Governo, a de que nunca tivera em mente reconduzir a Procuradora, porque se pretendia que a mesma não se sentisse pressionada nem de tal resultasse uma dependência da nomeada face ao nomeador, justificando-se basicamente nas virtudes da alternância e do mandato único, apesar de a Constituição não o prever. Afinando, obviamente, pelo mesmo diapasão, a ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, também reforça que "a existência de um único mandato é a solução que melhor respeita a autonomia do Ministério Público".

Ora se a independência da Justiça e dos seus agentes face ao Poder Politico está sempre a ser apregoada e enaltecida, porque raio é que o primeiro ministro e seus governantes vêm sugerir possibilidades de limitações, influências e pressões? Houve sinais de tal? Sintomas de cedência a eventuais e obscuros interesses?

Com estas justificações, será também legítimo estender tais pressupostos a todos os cargos públicos deste país? Se sim, que se comece por limitar mandatos a presidentes de junta, presidentes de câmara, deputados, ministros, presidente da república. Ou seja, porque assim pensa o Governo, mandatos únicos serão mais eficientes e menos "susceptíveis" de pressões, influências, acomodamentos, aproveitamentos, etc, etc.

Ora, de António Costa que daqui a meses tem a legítima pretensão de vencer as eleições e renovar o cargo de ministro primeiro, se possível com maioria, não seria mais adequado ao país, que se ficasse apenas por aqui e que desse o lugar a outro?

Por mim, acho que esta decisão passa em muito pelo facto do poder político na generalidade não ter gostado da actuação de Joana Marques Vidal, impertinente quanto baste porque investigando e acusando mais do que a anterior tendência de arquivamento. Acusar políticos e figuras públicas com o calibre de Sócrates, Vara, Salgado, clubes como o Benfica e ainda o caso do angolano Manuel Vicente que despoletou um clima "irritante" entre Portugal e Angola, não cai bem a um Estado que se quer sem irritações. Grande parte do poder político, mesmo que o apregoe, de facto parece não se dar bem com as questões de independência da Justiça, porque por vezes dá jeito que os pratos da balança possam pender um bocadinho. Se a justiça é cega, como dizem e a retratam, certamente que não dará conta de um ligeiro desequilíbrio, mesmo que um subtil toque.

Neste contexto e com estas razões, já gora com estes políticos, fiquemos todos desconfiados.

18 de setembro de 2018

M. R. Pum Pum





Quem viveu o contexto da revolução do 25 de Abril de 1974 recorda-se, concerteza, do MRPP, um sigla com mais uma letra para além do que era mais ou menos habitual no panorama partidário. Resumia-se ao Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado. 

Recordo-me que nos anos seguintes ao 25 de Abril, nomeadamente quando começaram a ter lugar as eleições e respectivas campanhas, a pequenada e mesmo os mais velhos frequentemente diziam M. R. Pum Pum, ao referirem-se ao respectivo movimento. Uma curiosidade.
Pessoalmente sempre dei atenção artística ao lado da propaganda eleitoral, nomeadamente panfletos, cartazes e murais. Ora o MRPP, sobretudo nas grandes áreas urbanas, nomeadamente na Grande Lisboa, onde de resto tinha a maioria dos seus militantes, primava pela qualidade artística dos seus murais, de inspiração da escola da Europa de Leste, e que tornaram-se testemunhos de um tempo revolucionário e hoje são tratados como elementos documentais em acervos de bibliotecas.

Por esses tempos, mesmo nas aldeias como Guisande, à falta de recursos financeiros e mesmo de tecnologia como a disponível hoje em dia, que produz grandes outdoors e requintados programas, as pinturas nos muros e mesmo nos pavimentos das ruas eram frequentes. Recordo-me que na campanha das eleições autárquicas de 1985, quando os jovens de então corporizaram a lista FJI - Força Jovem Independente, concorrente em Guisande, fizemos então alguns moldes em cartão e sob o manto da noite pintalgamos tudo quanto era muro ou estrada. Num ou noutro recanto ainda será possível ver esse testemunho. Bons tempos!

Quanto ao MRPP – Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, foi fundado precisamente neste dia 18 de Setembro mas no ano de 1970 e na  base da sua fundação defendia que o Partido Comunista Português adoptara uma ideologia "revisionista", tendo deixado de ser o "partido do proletariado". Para a prossecução da revolução era necessário reorganizá-lo – daí o nome escolhido.

Teve como Secretário-Geral Arnaldo Matos. O seu órgão central foi sempre o "Luta Popular", cuja primeira edição foi lançada em 1971 (ainda no tempo da ditadura). O MRPP foi um partido muito activo antes do 25 de Abril de 1974, especialmente entre estudantes e jovens operários de Lisboa e sofreu a repressão das forças policiais, reivindicando como mártir José Ribeiro dos Santos, um estudante assassinado pela polícia política durante uma reunião de estudantes da academia de Lisboa no então Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras (ISCEF) em 12 de Outubro de 1972.

O MRPP – e depois o PCTP/MRPP – ganhou fama com as suas grandes e vistosas pinturas murais. Continuou uma grande actividade durante os anos de 1974 e 1975. Nessa altura tinha nas suas fileiras membros que mais tarde vieram a ter grande relevo na política nacional, como José Manuel Durão Barroso e Fernando Rosas, entretanto expulsos e Maria José Morgado.

Logo a seguir ao 25 de Abril, o MRPP foi acusado pelo Partido Comunista Português (que desde sempre foi "eleito" como o seu maior inimigo, apelidado de "social-fascista" – uma prática fascista disfarçada por um discurso social), de ser subsidiado pela CIA, acusação destinada a "desmascarar" um partido que se mostrava incomodativo. Essa acusação terá tido como motivo uma crença baseada, em parte, na cooperação entre o MRPP e o Partido Socialista, durante o chamado "Verão quente", por serem ambos os partidos contra a via comunista ("revisionista" segundo o MRPP) defendida pelo PCP para Portugal.

A partir de 26 de Dezembro de 1976, o MRPP, após Congresso, passou a designar-se Partido Comunista dos Trabalhadores Portugueses, com a sigla PCTP/MRPP. O seu líder histórico é Arnaldo Matos. O primeiro director do "Luta Popular", na fase legal, foi Saldanha Sanches, a quem sucedeu Fernando Rosas. O jornal chegou a ser diário, durante um curto período.

fontes: [wikipedia] [ephemera] [ci.uc]

19 de fevereiro de 2018

Notas soltas do dia-a-dia - 19022018



Animais nos restaurantes: Nim. E porque não nas escolas, hospitais e fábricas? E porque não na Assembleia da República? Assim podíamos ver um António Costa a acariciar uma galinha enquanto defendia as virtudes do orçamento, uma Catarina Martins com uma arara a mordiscar-lhe as orelhinhas, um Jerónimo a esfregar manteiga no nariz de um Serra da Estrela, a Cristas com um persa, dos bem peludos, a aquecer-lhe as perninhas no frio austero de S. Bento, um Capoulas Santos com um imponente macho barrosã,  a defender energicamente o aumento das cotas leiteiras ou um Hugo Soares com um porco bísaro, bem lavadinho, é claro, a falar das sujidades da geringonça. E porque não? Afinal, eles políticos e legisladores, devem ser os primeiros a dar o exemplo deste acto de moderna civilidade em que, como já prognosticara George Orwell em 1945, leva caminho para que um dia sejamos dominados por uma vara de porcos triunfantes. E hão-de ter direito a um feriado por essa futura revolução.


Este tipo de leis, para muitos politicamente correctas, numa sociedade onde se pretende equiparar os animais com as pessoas e estas com aqueles, como se aqui a diferença seja discricionária e discriminatória e não decorrente da própria natureza que separou ambos os ramos na árvore da evolução, estão a abrir portas para uma irracionalidade cujos limites são ilimitados. Dá que pensar. E, no caso dos restaurantes, vai ser lindo para proprietários e clientes quando os problemas começarem a surgir. Que venham. Os tribunais estão a precisar de casos de caca. Por mim não vou arriscar e quando for almoçar fora deixarei em casa o cão(analfabeto quanto a regras de etiqueta), os três gatos e as três galinhas. 

Vitória de Guimarães: Pedro Martins não resistiu à derrota caseira por 0-5. Poderia ter resistido a este jogo de uma época menos conseguida fosse o resultado contra um Porto, Feirense ou Belenenses, mas não com o S.C. de Braga, o eterno rival do Minho. A derrota doeu a quintuplicar.
É pena, porque o Pedro Martins é um dos bons treinadores do futebol português.Mas sabendo-se que o cargo de treinador é volátil e com apenas dois sentidos, o de besta e o de bestial, é sempre a solução mais fácil para um presidente de um qualquer clube disfarçar as debilidades ou incompetências do plantel, demitindo um em vez de 11.
Pessoalmente desejo tudo de bom para o Pedro e certamente que prosseguirá com sucesso a carreira por aqui ou por fora.

F.C. do Porto: Dois resultados de 5-0. Mas convenhamos que diferentes. E diferentes porque jogar em casa com o Rio Ave não é a mesma coisa que jogar com o Liverpool, sobretudo quando os de Vila do Conde enchem o peito e vão ao Dragão convencidos que eram os da cidade dos The Beatles (Don't Let Me Down).
Por outro lado, estes resultados, diferentes mas iguais, demonstram que o nosso campeonato é uma locomotiva a carvão quando comparada a um TGV de outras ligas europeias. Temos o que podemos e até o que merecemos.

Bruno de Carvalho: Quando a vulgaridade precisa de eleições para legitimar eleições. Mas, é lá com eles. Os ditadores começam sempre por ser legitimados pelas massas. É claro que estas ditaduras são sólidas apenas e até quando os resultados desportivos deixarem de ser líquidos. O problema de Bruno de Carvalho e de quem o apoia poderá ser assim um problema de sublimação, caso esta aparente solidez conseguida na extraordinária assembleia geral deste sábado passado, no fim da época passe directamente a um estado gasoso, um ar que se lhe deu. 
Em todo o caso, por enquanto, tudo está em aberto e a química vai seguindo as suas leis.

14 de fevereiro de 2018

Vem aí o papão



Ainda há semanas foi anunciado que o Governo pretendia rever as leis de modo a acabar com as práticas agressivas de cobradores de dívidas, como as conhecidas pelo "homem do fraque". Por conseguinte, da ideia base, as empresas que se dediquem à cobrança de dívidas fora do contexto dos tribunais não poderão utilizar "métodos de cobrança e recuperação que sejam opressivos ou de intrusão, nomeadamente utilizando viaturas, indumentária ou materiais de comunicação que, pelo conteúdo da mensagem transmitida, procurem embaraçar ou transmitir uma imagem negativa do devedor".

Este projecto de lei teve a discordância do PSD, CDS-PP e PCP, a  manifestaram-se contra este projecto do PS sobre a cobrança extrajudicial de créditos vencidos por entenderem que legalizaria a procuradoria ilícita, invocando, inclusivamente, a discordância já manifestada pela ministra da Justiça. Com uma oposição maioritária à ideia do PS, parece que a mesma terá baixado para a comissão da especialidade, mas confesso que perdi o rasto ao assunto. Certamente que um dia destes voltará a ser tema do dia.

Até lá, tudo continua na mesma, e apesar de condenados com alguma frequência pela forma agressiva com que pretendem fazer cobranças, vão continuar por aí os "homens dos fraques".

A propósito, ou não, soubemos por estes dias que a Câmara Municipal de Santa Maria da Feira acordou com a Autoridade Tributária a celebração de um protocolo segundo o qual esta entidade passará a efectuar a cobrança coerciva do serviço de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e da Taxa de Rede, entre outros, a partir de 1 de Março de 2018. Deste modo, os munícipes que tenham valores em atraso, referentes aos citados tributos, poderão evitar a execução fiscal, efectuando o seu pagamento voluntário junto dos serviços do município até à referida data.

Qualquer cidadão que procura cumprir em tempo as obrigações para com o Estado e o Município e a empresas prestadores se serviços, não deixará de se sentir indignado com esta solução. Podemos percebê-la, mas algo despropositada, porque bem mais "agressiva" do que o "homem do fraque", porque implacável e cega e actuando não só sobre dívidas substanciais mas como também sobre trocos. E de resto, injusta, porque bem sabemos que o Estado cobra juros de mora por horas de atraso no pagamento de um qualquer imposto ou taxa, mas permite-se a não os pagar por dívidas de anos a contribuintes.

15 de janeiro de 2018

Agremiação de interesses individuais


Li na Rádio Renascença que "o antigo presidente do PSD Luis Marques Mendes defendeu que o líder parlamentar social-democrata deve colocar rapidamente o lugar à disposição, uma vez que o partido elegeu um novo presidente, Rui Rio".
Recorde-se que Hugo Soares, bem como o vice-presidente Luís Montenegro, entre outros, declararam o seu apoio a Pedro Santana Lopes na recente corrida eleitoral para a presidência do partido laranja. Certamente que Hugo Soares acabará por tomar essa posição de colocar o lugar à disposição a Rui Rio até porque é naturalmente expectável. De resto, não sendo Rui Rio deputado, precisa de ter no Parlamento uma voz de sua confiança e que seja naturalmente a sua extensão. Não nos parece que qualquer um dos que esteve declarada e empenhadamente do lado oposto possa reunir essas condições de confiança. 
As coisas são como são e embora seja politicamente correcto dizer-se que findas as eleições há que reunir e unir o partido, a realidade seguramente não será bem assim e as diferentes facções estão ali, sempre fracturantes, até porque é velhinho o ditado de que "quem não está comigo está contra mim". Alguns dos "perdedores" estarão já a contar os dias para o pós-eleições legislativas de 2019, para, caso não vença o PSD, o que será altamente provável, "fazerem-lhe a cama". Rui Rio sabe disso e, para além do sério aviso a Miguel Relvas, disse-o logo no discurso de vitória ao afirmar que o PSD não é um clube de amigos ou agremiação de interesses individuais. Creio que Rui Rio sabe quem tem e quem são e não quererá ter "amigos" destes do seu lado, ou pelo menos em lugares de importância. Porém, numa postura de líder, e até porque a sua vitória não foi esmagadora, poderá e quererá também dar mostras de pretender sarar já as feridas que ficam sempre de uma luta, mesmo que interna, e assim renovar a confiança em Hugo Soares como líder da bancada parlamentar do PSD. A ver vamos.

14 de janeiro de 2018

Rio navegável


Tal como se esperava, Rui Rio venceu ontem as eleições directas no PSD e vai ser assim o seu próximo presidente. O adversário neste acto eleitoral, Pedro Santana Lopes fez o que melhor sabe fazer, estar em todas, mas mesmo com um pressuposto, a meu ver, errado, de que as causas do partido são mais importantes que as causas do país, ou que estas só devem ser defendidas ou atingidas a partir daquelas, todavia, dignificou e enriqueceu a disputa e por isso sai naturalmente de consciência tranquila. Os militantes devem reconhecer-lhe esse mérito e, obviamente, poder contar com ele.
Sigo este assunto com um interesse relativo, sem ser militante e assim apenas como espectador independente, mas há coisas que à partida nos parecem demasiado evidentes para se pensar em cenários diferentes. Mas nestas coisas, ou por interesses vários, mesmo que legítimos, ou por má avaliação estratégica ou política, há sempre quem teime em apostar no "cavalo" errado, uma após outra vez.
De forma mais intimista e mesmo de amizade pessoal, de alguma maneira fico satisfeito e feliz por ver que alguns dos meus ex-colegas de Junta, com uma visão mais à frente, como o Pedro Serralva e a Marta Costa, estes bem mais políticos que eu, que tal como acontecera nas eleições para a distrital do PSD, se envolveram numa das alternativas, a vencedora, e por isso a sua satisfação com a vitória de Rui Rio, de algum modo, também é minha.

12 de janeiro de 2018

Arrelvamento


Miguel Relvas, o pai dessa grande “cagada” chamada Reforma Administrativa, foi, na generalidade um muito mau político. Felizmente, por enquanto, está fora da política, mas o risco de voltar é uma realidade até porque em recente entrevista à Rádio Renascença diz que nunca se deve dizer “nunca”.
Entre outras coisas, também disse que o país precisa pagar mais para ter melhores políticos e propõe salários de acordo com a média dos cinco anos anteriores às funções.
Não nos vamos alongar no que disse este senhor, mas seguramente, e não sabendo em rigor quanto ganhava enquanto político e membro do Governo do PSD-CDS, com toda a certeza que ganharia demasiado para o político que era, fraco, fraquinho, já para não falar da trapalhada da sua pseudo-licenciatura que o obrigou a voltar a estudar para ser doutor.
Posto isto, como o Sr. Relvas disse ainda sentir-se bem a dar a sua opinião, a exercer a  sua opção cívica, daquilo em que acredita para o seu partido e para o seu país, bem como não vive pressionado  nem frustrado por não estar na vida política, é caso para se dizer que então fique por aí muito tempo e que deixe a política para quem tem qualidade e, já agora, competência e seriedade, adjectivos que, no geral, pouco combinam com a nossa medíocre classe politica.

5 de janeiro de 2018

Trapalhadas


Ontem, lá se deu o aguardado debate entre Rui Rio e Pedro Santana Lopes, os candidatos à liderança do PSD - Partido Social Democrata, cujas eleições internas directas estão marcadas para 13 deste mês de Janeiro. Apenas vi a segunda metade e pelo que agora leio na imprensa, terei perdido a parte dos ataques mais pessoais, nomeadamente os de Rui Rio em que trouxe à baila, de forma contundente, as "trapalhadas" de Santana Lopes aquando da sua efémera passagem como primeiro ministro entre 2004 e 2005, sucedendo a Durão Barroso que deu de frosques para Bruxelas para agarrar o cargo de presidente da Comissão Europeia. Quanto ao resto, para além de diferentes personalidades e estilos, o debate pouco acrescentou e as divergências, poucas, serão também elas de estilo. 
Sobre os candidatos já deixei aqui uma simples opinião e deste debate nada alterou na minha apreciação.
Em certa medida o confronto televisivo resumiu-se à declaração final de Rui Rio em que ele próprio voltou à carga com a questão das "trapalhadas" e inabilidade de Pedro Santana Lopes enquanto primeiro ministro num pressuposto e aviso de que, em consequência, não tem condições nem capacidades de voltar a almejar a ocupar o cargo uma vez que quem se candidata ao lugar de presidente do partido fá-lo com o objectivo de vir a ser chefe do governo. 
É certo que o Governo de Santana Lopes e todas as circunstâncias que o envolveram, nomeadamente na sua composição, bem como aquele inesquecível e inenarrável discurso de tomada de posse, marcaram o seu curto reinado, mas é certo que tal "cama" foi devidamente preparada, não só por muitos companheiros de partido mas sobretudo pelo presidente Jorge Sampaio. Este apenas aceitou Santana Lopes numa perspectiva de mudança que já se adivinhava. Foi apenas a encenação do acto final para a subida do PS ao poder e de José Sócrates. 
Em todo o caso, e parecendo-me que Rui Rio de algum modo foi contundente e até injusto para com o seu colega de partido, e basta lembrar que ele próprio foi um dos seus apoiantes no antes, no durante e no depois da sua governação, creio que, mesmo virando  o "bico ao prego", terá agora algumas razões de fundo, porque percebe-se que Pedro Santana Lopes até poderá vir a ser presidente do partido, mas provavelmente nunca primeiro ministro. Para má experiência chegou uma vez.
Mas a ver vamos, e por mim apenas como espectador indiferente ao resultado. De resto a política apenas interessa aos políticos e a quem, de algum modo, vive dela.