20 de setembro de 2019

Mal e porcamente...


Uma das coisas que arrelia nas redes sociais, é a constatação de que a generalidade dos utilizadores escreve mal, e muitas vezes porcamente. E escreve mal não por alguma dificuldade técnica com os teclados, mas porque realmente não sabe escrever em bom português.
Pode, a malta, até falar um português mais ou menos correcto mas não o sabe traduzir para a escrita. Mesmo descontando o condicionalismo de se escrever através de um minúsculo teclado num qualquer telemóvel, o que origina algumas gralhas, essa não é, de todo, uma desculpa e justificação.

Todos estamos sujeitos ao erro, à gralha ou mesmo a um incorrecto uso das elementares regras da gramática, e trocar um "houve" por um "houveram", mas de forma grosseira, consistente e recorrente, é que doí e faz mossa no Camões.
O que mais espanta, é a naturalidade de quem escreve mal, não se envergonhando ou inibindo de "postar", como se fosse a coisa mais natural do mundo. 

Confesso que fosse assim tão inadaptado a escrever bom português, preferia não escrever. Não que quem escreva mal e porcamente não consiga expressar o que pretende dizer ou transmitir mas porque, diabo, está em causa a forma como tratamos a nossa língua mãe. É que, bem ou mal, a generalidade de quem frequenta as redes sociais corresponde às novas gerações e por isso não há quem não tenha frequentado a escola. Paradoxalmente, é nas gerações mais velhas que se encontram os melhores exemplos de bem escrever.

Mas é apenas uma arrelia e esta reflexão pode até nem ser do agrado de quem escreve mal, o que não é minha  intenção. Antes deveria servir de reflexão e, quiçá, ponto de partida para voltar a pegar nos livros, no compêndio de gramática, dicionário, etc. Enfim, ler, ler muito e escrever. É que entre o muito que mal se vai escrevendo há calinadas de bradar, ou mesmo de fazer rir.

Nesse aspecto, como noutros, claro, tenho saudade redobrada da boa prosa e do bom escrever de alguns "cotas" da nossa praça social, como, por exemplo, do saudoso Pinto da Silva.
Felizmente ainda encontramos bons exemplos de bem escrever, mas apesar de todas as facilidades e ferramentas ao alcance do dedo, como dicionários e, nomeadamente, correctores (até incorporados nas tecnologias de comunicação, como um simples ou complexo telemóvel, o erro persiste e, diga-se, é triste verificar a rapaziada nova a dar "tiros" com fartura na nossa língua.

Por mim, longe de ser perfeito na escrita,  penso, todavia, que o que vou escrevendo não me envergonha;  e não de agora, mas desde que aprendi a ler e a escrever na escola primária pelas professoras Lúcia  e Eugénia. E já lá vão uns anitos.

Para terminar, vamos lá verificar se este texto também tem erros ou falhas gramaticais. Acredito que sim.

17 de setembro de 2019

Justiça castiça


Na qualidade de testemunha de um simples processo judicial, tinha sido notificado há cerca de dois meses e meio para hoje comparecer em audiência no Tribunal Cível da Feira. Não soube por quem fui indicado, se pela parte do autor, se do réu, ou de qualquer outra iluminada figura. Ninguém me deu a mínima satisfação.

Faltei ao  trabalho, perdi tempo e tive gastos, para além do desconforto de ser testemunha em algo que nada tem a ver comigo. 

Depois da habitual chamada e algum tempo de espera, a audiência foi desmarcada por falta de qualquer formalismo.

Em suma, um cidadão livre e de folha limpa e que cumpre com rigor os seus compromissos com a máquina do Estado, é tratado como um simples pião, como um simples número de nove algarismos. 
O sistema judicial no seu melhor (pior), a brincar com o tempo das pessoas. 

Como dizia ontem o Dr. Rui Rio, a propósito e também em contexto de Justiça, a interrogar "que moralidade tem este sistema ou esta democracia em julgar e criticar o Estado Novo quando diariamente se constatam atropelos à lei e justiça ?

É certo que o caso em questão é quase irrelevante e um assunto de alecrim e manjerona, que até se podia resolver à moda do João Soares, mas, quando nada temos a ver e a haver com a questão, arrelia como pedra no sapato e formiga no umbigo.

Fica-se, assim, arreliado, neste limbo, à espera de nova notificação, nova audiência e, quiçá, novo adiamento. Tic tac tic tac...

Rui Costa em debate com António Rio


No debate de ontem na televisão, Rui Rio pareceu-me muito bem e uns bons pontos acima de António Costa, mesmo que este numa posição de quem sabe que está em vantagem nas sondagens.

Todavia, hoje em dia, mais do que no passado, as eleições e os seus resultados decidem-se muito em função do antes parecer que ser e neste palco Rui Rio dificilmente ganhará vantagem porque o seu estilo de frontalidade e desprendimento dos truques e manha politiqueira e demagógica não lhe permite dançar como virtuoso nesse folclore.

Apesar de Rui Rio me parecer bem melhor, no geral foi um debate em que as diferenças de fundo nunca foram substanciais a ponto de o Rio poder ser o Costa e vice-versa.

Creio, contudo, que os debates pouco ajudam a decidir eleições mas apenas para pasto de quem vive do comentário e da análise, tal qual como quem disseca um jogo de futebol (no fundo, o que estamos aqui a fazer). Na hora da verdade, poucos querem saber das reformas estruturais e do jogo dos números e estatísticas, investimento e desenvolvimento e demais panaceias do discurso político. 

No geral o voto decide-se por quem no final do mês tem mais 4 ou 5 euros na reforma ou no vencimento, mesmo que o disperse nos múltiplos impostos indirectos, desde logo no combustível e em tantos outros bens e serviços, agravados pelo actual Governo.

A generalidade do eleitorado não militante e clubista, vota quase sempre em função do sentimento de que as coisas estão melhores ou piores. E convenhamos que não estando melhores de forma substancial, o sentimento é de que já estiveram piores e o facto de ter sido numa legislatura condicionada por um quadro de ajuda externa e controlo da troika, certo é que poucos lhe dão importância e nem lhes serve de desculpa o contexto de quem foi obrigado a cortar para resolver desmandos de anteriores.

Assim pode-se (posso) concluir que o sentimento do eleitorado não obedece tanto a questões de consistências programáticas ou estruturais para o futuro e num contexto de bem comum, mas apenas para o presente e se para o futuro, apenas o amanhã, mas acima de tudo num quadro individual.


[foto: JN]

16 de setembro de 2019

S. Cipriano


Neste dia 16 de Setembro, é venerado S. Cipriano.

Os dados biográficos disponíveis em algumas fontes, dizem que Táscio Cecílio Cipriano nasceu no século III, em Cartago, no norte de África (em território da actual Tunísia), descendente de uma família nobre e rica. Pela sua formação, cultura, posição social e intervenção na acção da então jovem igreja cristã, e seus escritos teológicos, é tido como uma das personalidades mais importantes do século III.

Cipriano terá deixado a vida pagã e a profissão de advocacia por volta dos 35 anos, passando a envolver-se nos movimentos cristãos que na altura se propagavam pelo império romano.  Como era então uma figura muito popular, a sua conversão gerou um grande impacto na população. Desprendeu-se da sua riqueza e posição social em Cartago e distribuiu a fortuna pelos pobres.

De pagão a um sacerdote respeitado e seguido foi um passo e em 249 foi nomeado bispo de Cartago. Cipriano de Cartago, como viria a ficar conhecido, foi um famoso mestre da retórica e as suas inspiradas cartas (dizem que por intervenção divina) depressa se transformaram em fonte de fé e mesmo de culto.

Na época o cristianismo que começava a implantar-se era ferozmente perseguido e castigado pelo que também Cipriano, como aconteceu a muitos outras figuras daqueles tempos, acabou por ser perseguido e preso por ordem do imperador romano Décio. Depois de torturado e sem negação da sua forte fé, terá sido executado a 14 de Setembro do ano de 258. Os documentos que narram o seu martírio registam como as suas únicas palavras proferidas "Graças a Deus!".

Cipriano ficou conhecido e popularizado pela sua fidelidade à Igreja e por seus textos teológicos onde defendeu com firmeza o bom comportamento dos fiéis. A Igreja foi um dos seus temas preferidos. Distinguia a Igreja visível, hierárquica da Igreja invisível, mística, afirmando com convicção que a Igreja é uma só, a fundada sobre Pedro. Repetia que “quem abandona a cátedra de Pedro, sobre a qual está fundada a Igreja, fica na ilusão de permanecer na Igreja”

Frequentemente tem sido confundido com S. Cipriano de Antioquia, a quem a história relacionou com o ocultismo,  exorcismo, práticas de bruxaria e feitiçaria antes da sua conversão e mudança num caminho de fé e santidade. Dizem mesmo que ao homólogo de Antioquia é atribuída a autoria de um livro negro de bruxedos e feitiços a que a superstição e ignorância de uns e oportunismo de outros têm contribuído para a sua disseminação.
Na realidade existem várias versões de um livro conhecido pelo "Livro de S. Cipriano) mas trata-se de um grimório, ou seja, uma coletânea de meros rituais e supostos encantamentos mágicos, que, segundo diversas lendas nunca confirmadas documentalmente teriam supostamente sido  escritos por Cipriano de Antioquia antes da sua conversão ao cristianismo. De resto, as referências a esse livro só surgem apenas no século XIX, por isso centenas de anos depois da da data atribuída à morte de Cipriano de Antioquia, que também viveu no século III.

Entre nós, S. Cipriano de Cartago é padroeiro de muitas paróquias, nomeadamente na freguesia de Paços de Brandão - Santa Maria da Feira, sendo igualmente padroeiro no lugar de Parada, da freguesia vizinha de Louredo (a que se refere a imagem acima). Mas, sem confusões, porque já basta a do "Ferreira" ou "Ferrer", o patrono de Louredo é S. Vicente Mártir

15 de setembro de 2019

"S. Vicente, nem terra, nem gente"


"S. Vicente, nem terra, nem gente". Certamente que pelas freguesias vizinhas de Louredo, desde logo Guisande, muitos conhecem e sabem de cor e salteado este estribilho. E de um modo geral o mesmo é entendido como pejorativo, isto é, com um sentido negativo, mas sem lhe conheceram os fundamentos.

Contudo, este estribilho, quase como um ditado do povo desta nossa zona, foi eloquentemente explicado pelo saudoso Pe. Acácio Freitas, que foi pároco de S. Vicente de Louredo, no prefácio da sua monografia sobre a freguesia que paroquiou, desde 23 de Novembro de 1958 até aos seus últimos dias, e na qual foi sepultado. 

Ora segundo a sua explicação,"S. Vicente, nem terra, nem gente" tinha origens no facto de esta freguesia ter sido durante séculos propriedade de mosteiros e de conventos (daí o "nem terra") e que na ganância feudal dos rendimentos e exploração do povo e dos trabalhadores num regime de quase escravatura assentava o "nem gente".

O clérigo rematava que com a extinção das ordens religiosas foram arrumados os senhores e entidades proprietárias de Louredo pelo que assim o povo tomou posse das terras que cultivava deixando de pagar as rendas e foros, ficando livre desses e outros "jugos" que de tal modo alcançou a sua libertação. Dessa mudança de estado e de espírito e recuperação do empreendimento em prol do progresso pessoal mas também comunitário,  o autor da "Monografia de Louredo" concluía que em oposição ao estribilho original e negativo o actualizado e fiel era o de "São Vicente, boa terra e boa gente".

É certo que não se esperaria uma apreciação diferente de uma comunidade e terra que foi sua casa durante quase sessenta anos, mas pela parte que me toca, concordo em absoluto e tenho uma simpatia e consideração global pela freguesia e comunidade de Louredo. Fosse possível e imperiosa uma União de Freguesias a dois, pessoalmente não hesitaria em escolher Louredo como parceira. Infelizmente, neste aspecto de união de freguesias, por cá as coisas não correram nem têm corrido bem e todos saíram a perder com uma união a quatro, pesada e desequilibrada. 

Infelizmente, apesar de passos que foram dados nesse sentido e de alguns indícios de possível mudança pela parte governamental, tudo indica que não será fácil pelo que o mal feito dificilmente será desfeito, obviamente que para prejuízo de todas as freguesias envolvidas.

Como numa certa cantiga, nestas como noutras asneiradas de gente dita graúda, "o povo é que paga". Apesar do rumo da história no sentido do respeito pelas pessoas, comunidades e culturas, parece que mesmo pelos nossos dias ainda vigora uma certa "posse" por parte de certos "mosteiros" e "conventos", com a teimosia destes em fazer das suas boas terras e boas  gentes, "nem terras nem gentes".

9 de setembro de 2019

Troca de santidade


Sabemos que estas coisas acontecem e só não se engana ou não comete erros quem nada faz. E daí e por aí há muita santa gente a não se enganar nem a errar. Todavia, quando crasso, não ficará mal detectar o erro e dar o alerta para que pelo menos possa ser corrigido, se for caso disso.

Isto a propósito de numa consulta casual na página da Cáritas Diocesana do Porto, em que na referência à Paróquia de Cristo-Rei da Vergada a ficha esteja ilustrada com a Igreja Matriz de S. Tiago de Lobão. Ora o S. Tiago, certamente que não pretende nem quer tomar conta do que não é seu, tanto mais uma paróquia com a superior dedicação e invocação ao seu mestre Cristo-Rei. A Cristo o que é de Cristo e a S. Tiago o que é de S. Tiago.

Obviamente, que não sendo eu nem lobonense nem vergadense, este lapso é algo que não me põe em cuidados, mas quem sabe, se alguém de Lobão ou da Vergada procure alertar e reclamar da fífia e pôr o seu em seu dono.

Na foto abaixo, a igreja de Cristo-Rei da Vergada.

8 de setembro de 2019

Concertando...








Concerto de Órgão de Tubos, por Rui Soares - Igreja Matriz de Santo André de Mosteirô - Santa Maria da Feira.