26 de janeiro de 2022

Pedro e o lobo

Dos políticos podemos dizer que não gostamos deste ou daquele. De resto pelas redes sociais até se vêem alguns ódios de estimação, a meu ver injustificados e sem qualquer sentido democrático e de respeito pelos outros e sobretudo pelas diferenças. Mas adiante.

Pela minha parte, sempre que me refiro a um político, faço-o sem qualquer sentido pessoal até porque confio que no essencial, da esquerda à direita, todos são boas pessoas e excelentes mães, pais e chefes de família. Será, pois, apenas uma mera opinião pessoal e com base numa percepção programática e de personalidade meramente política ou, se quisermos, ideológica.

Neste pressuposto e para as próximas Eleições Legislativas, até admito que no círculo de Aveiro poderia equacionar em votar num qualquer outro cabeça-de-lista do PS, incluindo António Costa se tal fosse o caso e noutro contexto que não o actual, mas não, de todo, em Pedro Nuno Santos, mesmo sendo "nosso vizinho".

Mas, como disse, é apenas uma mera opinião sobre um político que, não tenho dúvidas que, mais coisa menos coisa, virá a tomar de "assalto" o poder no reino da rosa. Nessa altura veremos se o Pedro será um lobo e qual o comportamento dos lobos face a Pedro.

Até poderei estar enganado e com uma percepção desajustada, mas simpatia política por este Pedro, é coisa que por ora não cultivo, entre outros motivos de análise, por o considerar demasiado extremado à esquerda. Ora os extremismos, como a carne gorda, não são nada saudáveis.

24 de janeiro de 2022

Reversão da União de Freguesias

Tem estado a decorrer pela freguesia a recolha de assinaturas com vista à convocatória de uma Assembleia de Freguesia Extraordinária, de modo a iniciar o processo que, espera-se, volte a repor a freguesia de Guisande como uma única unidade administrativa. 

Tenho sérias dúvidas que a coisa se venha a concretizar, não por vontade da população, mas eventualmente por engulhos, critérios apertados, obstáculos da lei ou de outras entidades, mas vamos pensar que vai ser possível e que a reversão interessa ao conjunto das quatro freguesias.

Seja como for, e nem poderia ser de outra forma, já assinei e dou os parabéns a quem está envolvido nesse processo, nomeadamente ao Celestino Sacramento.

Apesar de tudo, e apenas como um reparo, a coisa não começa bem, pois na introdução do documento, um pouco confusa, o nome da União está mal escrito, com a ordem das freguesias incorrecta. 

Vai dar ao mesmo, certamente que sim, e muitos nem repararão, mas é um lapso que deveria ter sido evitado e revisto antes de ser posto em circulação.

O que é Nacional, é bom!

 


Quem nunca ouviu este slogan?  Certamente que quase todos, pelo menos os mais velhos.

Pois bem, esta marca, a "Nacional", tem já uma longa história, concretamente desde 1849 quando a raínha D. Maria II concede a João de Brito a autorização para a utilização da marca nos seus produtos. 

Volvidos 30 anos, em 1879, os herdeiros de João de Brito constituem a firma com o nome de Companhia Nacional de Moagem e nela os cereais começam a ser processados com diversas finalidades, como para massas alimentícias, bolachas mas também para rações de animais.

Mais tarde, num contexto político conturbado por uma nova república nascida em sangue, a firma muda de nome, para CIPC - Companhia Industrial de Portugal e Colónias, voltando a mudar, em 1986, após a adesão de Portugal à CEE, para a designação Nacional - Companhia Industrial de Transformação de Cereais, S.A. 

Posteriormente, em 1999, é adquirida pelo Grupo Amorim Lage, S.A. e já em 2005 o Grupo Amorim Lage sofre uma reestruturação e a empresa passa a designar-se de Cerealis Produtos Alimentares, S.A.

Em todo o seu percurso a expansão e inovação foram crescentes, numa constante adaptação às tecnologias de fabrico, necessidades e tendências de mercado, sempre com o lançamento de produtos inovadores e que, muitos deles, se tornaram emblemáticos.

A Nacional é, pois, uma marca de prestígio no nosso pequeno país, com produtos de qualidade, e remete-nos para memórias bem antigas, sobretudo as relacionadas às massas e às bolachas, no tempo em que estas eram vendidas a avulso. Ia-se à mercearia  e pedia-se cinco tostões de bolachas.

Muitas vezes consumimos um produto de uma marca antiga e não nos apercebemos da história que a mesma comporta e de todo um percurso de evolução.

Por tudo isto, muitas marcas e delas muitos produtos, fazem parte das nossas memórias, vivências e convivências colectivas. 

23 de janeiro de 2022

A caminho de sei lá o quê


Dei comigo a pensar e a perguntar quantas pessoas residentes em Guisande terão falecido nos últimos 12 meses, isto é, num ano. E a resposta, mesmo que mais ou menos, terão sido umas 10 ou 12. Em sentido contrário, quantas crianças nasceram em Guisande nesse prazo? Confesso que não sei a resposta mas arrisco-me a dizer que eventualmente uma, duas ou mesmo nenhuma.

Não é preciso muito exercício para se pensar neste saldo negativo e perceber para onde é que ele nos leva inexoravelmente  enquanto comunidade. Obviamente que a uma redução da população e o seu envelhecimento. 

Todos sabemos que a baixa natalidade não só é um realidade nas pequenas aldeias do interior, como também nas zonas urbanas do litoral, das pequenas ás grandes cidades. Também não é um problema de Portugal mas da Europa em geral. 

Tratamos a baixa natalidade como um problema mas em rigor por si só não é problema algum. Só é problema à luz dos convencionalismos e modelos das sociedades modernas e ocidentais, em que se espera que uma boa parte da população seja jovem e activa de modo a suportar as outras partes, nomeadamente as que já atingiram a reforma. 

Ora é precisamente este modelo de sociedade e das suas exigências e padrões que acabam por concorrer em muito para a baixa natalidade. Para uma família, mesmo da classe média, ter um filho implica um enorme esforço financeiro durante pelo menos 25 anos, ou mesmo mais. Ora para cada filho a mais, o acréscimo é, naturalmente, proporcional. 

Os pais na sua maior parte investem as suas poucas poupanças na criação, educação e formação de um filho e assim, sem capacidade de realizar um pé-de-meia, arriscam-se a atingir a reforma depauperados e sem protecção, podendo a partir daí passar dificuldades. E na maior parte dos casos, o investimento feito a favor dos filhos, raramente tem retorno porque o modelo familiar tem-se vindo a erodir bem como os seus valores fundamentais. Estão, por isso, os lares a abarrotar e idosos a viverem sozinhos e abandonados por quem em primeiro lugar deles deveriam cuidar.

Posto isto, não surpreende que cada vez mais a opção de se ter um único filho seja adiada para tarde ou mesmo posta de parte. 

E não se pense que esta situação resulta apenas da velha desculpa de falta de apoios e políticas dos diferentes governos à natalidade. Também por aí, certamente, por fracas políticas ou falta delas, mas porque na realidade os padrões modernos estão formatados para isso e não há sistema que aguente um apoio efectivo e que faça a diferença de modo a inverter os gráficos. 

É estrutural mas também  cultural. De resto, veja-se, mesmo pensando em casos concretos à nossa volta em que casais supostamente com bons empregos, bons rendimentos e património, alguns até protegidos no emprego porque ligados ao funcionalismo público, tiveram ou têm apenas um filho, no máximo dois. E porque não tiveram mais? Por dificuldades económicas? No essencial porque não quiseram porque tal era um inconveniente do caraças, mesmo que o pudessem fazer sem problemas financeiros. Paradoxalmente, continuando a olhar ao perto, as poucas famílias que têm mais filhos, são aquelas que aparentemente são de origens mais humildes e sem as costas largas de patrimónios herdados ou de serem trabalhadores do Estado. Será apenas um paradoxo?

Em resumo, e sobre isto as opiniões serão diversas ou mesmo contrárias, as coisas estão neste pé porque desde há décadas que caminhamos nesse sentido, mesmo que com medidas avulsas, como no caso do município de Santa Maria da Feira ao decidir apoiar crianças durante e até aos 3 anos de idade, com um subsídio anual de, creio, 600 euros. Na prática, sendo uma ajuda, isso vai dar em nada no que toca ao incentivo concreto da natalidade e no final, daqui a uma década, se forem feitas contas, os números da natalidade no concelho pouco ou nada terão mudado e o normal será continuar a registar-se um decréscimo. Ninguém toma a opção de ter mais um filho exclusivamente pelo facto de poder receber 1800 euros em 3 anos.

Mas, face a esta realidade e contexto, vamos todos continuar a fazer de conta que isto há-de resolver-se, mesmo que a Segurança Social em breve se torne insustentável. Nem que se escancarem as portas a uma imigração sem critério para repormos os contadores e encher vilas e aldeias. E não faltam por aí Dons Sanchos com ares  e vontades de modernos povoadores. Com eles, até a aldeia de Drave voltará a latejar de gente nova.

Diabos e anjinhos

Considero que António Costa é um político hábil e habilidoso. Apesar disso, na percepção de um simples cidadão, no geral e com alguns descontos, tenho-o como uma boa pessoa e honesto. 

A habilidade é uma qualidade nos políticos e faz parte intrínseca da coisa. Não devia ser, porque a essência de quem é político e candidato ao serviço da causa pública e dela dos cidadãos, importaria ser de verdade e transparência, sem manhas ou subterfúgios que de algum modo ludibriem ou desinformem os cidadãos. Mas, não sejamos ingénuos, mais vale esperar sentados se estamos à espera de que a política e os políticos sejam, no geral, exemplos a toda a prova da boa moral e dos bons princípios.

Talvez por isso, ainda hoje ouvi António Costa em campanha a dramatizar a situação, relacionando os números da Covid, levando a supor ou a ludibriar que perante estes números os portugueses não devem ir em aventuras como se uma questão de saúde pública tenha a ver com políticas e propostas. António Costa está a dizer-nos que se votarmos em qualquer outro partido e sobretudo no PSD é um risco porque aí a Covid vai aumentar e agravar-se nas suas consequência. Não o disse literalmente, mas guiou as águas nesse sentido.

É mau demais ir por aí. Esgrimir de forma enfadonha a metáfora do diabo relacionando-o a um partido concorrente, como se todos fôssemos uns idiotas chapados e um bando de criancinhas sem capacidade de pensamento, e depois, ele próprio, entrar despudoradamente numa narrativa de drama e medo com argumentos despropositados. Em democracia há que respeitar as ideias e propostas dos demais. Apoucá-las e menosprezar os seus intervenientes não ajuda. 

Isto, de parte a parte, porque mesmo Rui Rio, político que igualmente considero boa pessoa e honesto, também tido tido estas tentações e algumas sentenças despropositadas e inúteis. 

21 de janeiro de 2022

O Abel não tem apps

O Abelzinho da Nanda anda desactualizado. E isto porque, ignorante ou analfabeto digital, não usa as redes sociais nem apps.

Já quase na reforma, corre desde há longos anos, e para ele fazer 10 Km em 50 minutos ou 20 em 100, é canja. Por vezes, conforme a gana, tanto vai mais lento como mais rápido. Apenas porque sim, literalmente a cagar-se para as médias, ritmos ou recordes pessoais. Não vai para o cú de Judas participar em provas ou em trails porque tem boas estradas e melhores caminho perto de casa. A gasolina está cara!

Mas, cá está, poucos sabem disso, porque não usando apps para registar a coisa, nem redes sociais para a divulgar, não tem a preocupação de apregoar ao mundo e arredores as suas corridas e os seus resultados. 

Soubesse ele que isso é moda e a cereja no topo do bolo de alguns egos, e poderia tentra-se a abrir contas no Facebook, Instagram ou Twitter. Mas não e ninguém o convence disso e como ele corre como quem respira, não vê daí, de todo, qualquer façanha ou acto extraordinário a ponto de andar a fazer inveja aos amigos com coisa tão vulgar. Não o fez quando subiu de calções e galochas a um eucalipto para atacar um exército de vespas asiaticas e ía lá agora dizer à malta que Roma a Pavia não se fizeram num dia, como se tivesse agora inventado a roda ou descoberto a pólvora.

Mas o Abel da Nanda é assim. Tão humilde quanto magricela, corredor à moda antiga, sem roupa ou calçado de marca, e por isso não espanta que seja visto por aí a papar quilómetros como um galgo atrás da raposa. Mas destesta que o vejam e foge das ruas principais como o diabo da cruz, para que não lhe apitem e porque prefere respirar eucaliptol e louro a fumaça de escapes.

O Abel não tem apps, telélé no braço nem lanterna na cabeça, mas tem pés e noção de que não faz nada de extraordinário a ponto de envaidecer-se com a coisa. 

Espécie rara, este Abel, desenquadrado do que está a bombar!

Saber usar as palavras


Eu sei que quase ninguém ouve estas coisas, mas ainda nesta semana, na rubrica "Palavras Cruzadas" na Antena 2 (e quem ouve a Antena 2, questiono?), Dalila Carvalho falava com Miguel Bastos, jornalista da RTP a propósito da vulgarização no uso da palavra, sobretudo na imprensa, em que por tudo e por nada se abusa da dramatização de certos termos quando porventura os mesmos se não justificam. 

No caso, a palavra ou adjectivo "caos". A imprensa tanto a usa para se referir a um ligeiro engarrafamento no Porto ou em Lisboa, como com a uma situação vivida recentemente no aeroporto de Kabul aquando da fuga ao regime talibã, ou como consequência de uma catástrofe natural.

E é mesmo assim: o uso e abuso de termos ou adjectivos com impacto por tudo e por nada, até para situações de lana caprina, acabam por esvaziar o sentido dos mesmos e como na história de "Pedro e o Lobo", às tantas quando a mensagem ou a palavra se justificam, acabam por não surtir efeito ou ser encaradas de forma insensível.

Mas esta situação na nossa imprensa não é de todo surpreendente já que o falar bem e correctamente deixou de ser requisito. As redacções não querem profissionais idosos, grisalhos e a usar óculos. Gente nova, no geral impreparada em que uma certa burrice e ignorância são recorrentes, são quem povoam as redacções e nelas fazem falta os velhos mestres do verdadeiro jornalismo e do correcto e contextual uso da palavra. Na actualidade a força da palavra está na vulgarização de adjectivos dramáticos e sensacionalistas. Veja-se o caso do termo "arrasar" que é empregue por tudo e por nada, ao ponto de tornar-se um ridículo. 

Mas é disto que a casa vai gastando e o escrutínio é quase inexistente porque de um modo geral a audiência está tão mal preparada e instruída quanto quem dá a notícia. Assim sendo...