15 de novembro de 2022

Em inglês dá outra pinta - Parolismos


Eu não sei por que carga de água, talvez por provincianismo, para não dizer parolismo, insistimos em dar nomes ou designações em inglês às coisas só nossas. Até compreendo esta falta de amor próprio numa perspectiva de eventos ou negócios em muito virados para o turismo estrangeiro, em que há uma intenção de internacionalizar, de informar, mas já extender isso a coisas objectivamente portuguesas, comuns e para consumo próprio, é mesmo algo intrigante para não o adjectivar de outra forma.

Veja-se, no caso de eventos desportivos, nomeadamentes corridas agora ditas de runnings e trails e que são mais que as mães, no que parece, pelas muitas que são pagas, evidenciar ser um negócio interessante.

"Bio Run", "Xmas Trail", "Urban Run", "Last Man Standing", "Pisão Extreme", "Atlantic Clifs Adventure", "Trail Running Vila de Nisa", "Urban Trail Night Eurocidade" - Valença, "Mâmoa River Trail", "Noctis Trail", "Leiria X-Mas", "Vulcan Trail", "Lousa Mountain Trail", "Linhas de Torres Challenge","Peninha Sky Race", "Trail of Road", "Wine Trail", "Extrem Trail", "Night Trail", "Trail Summer Chalenge", "OCR Fireman Sernancelhe", "Louza Sky Race", "Dark Side Night Trail", "Cork Trail Running", "Viana Race" e muitas, muitas outras.

Mas como nem tudo está perdido, ainda há provas que têm a designação tão portuguesa, tão nossa, de "corrida", "corta-mato", "trilhos", "maratona" e "caminhada".

Posto isto, inglês é que é e dá outra pinta à coisa. Correr uma corrida ou simplesmente fazer uma caminhada é coisa de atrasados.

Mas, claro está, a coisa, o excessivo e mesmo despropositado uso de inglesismos é extensível e muitas outras actividades e sectores. Mas fiquemos por aqui como amostra.

14 de novembro de 2022

Dilema



Pensou com seus dourados botões

A bela fidalga Dona Ana Maria:

-Quero casar, ter filhos varões

Que perpetuem minha fidalguia.


- Neste dilema profundo fico

Entre D. Gil, glamoroso nobre,

Feiote mas poderoso de rico

Ou então Antão, bonito e pobre


Quem deles escolher p´ra casar

Com tão ilustre e fina donzela,

Se ao amor ou estatuto atentar?

Decisão ingrata de tal chancela.


- Sobra tempo e não tenho pressa!

Adiou a setença.- Fica pra depois!

Um dia, decidida, à coisa regressa

Resolvendo assim: - Fico c´os dois!

13 de novembro de 2022

O tempo e o vento


O vento é vento,
Contratempo  da brisa 
Alterada;
O tempo é tempo,
Sentimento que pisa
A passada.

O tempo é o vento
A soprar
Enfurecido, em ronco
Ou em murmúrio apenas;
Ora a derrubar o tronco,
Ora a afagar penas.

O tempo e o vento
São a alma a esvair
Num despreendimento
Total da vida,
Como um abraço lento,
Na calma a resumir
O descontentamento
Da despedida.

A.Almeida - 13112022

Ilusão



De quem é o olhar que te espreita,

A boca que te sorri e beija,

As mãos que o cabelo te ajeita?


E quem o teu corpo macio deseja?


Serei eu? Mereço-te?

Quero manter a ilusão,

De que me queres a mim.

Mas se não, peço-te,

Não me digas que não,

Mesmo que não digas que sim.

Nota de falecimento



Faleceu Franclim dos Santos Oliveira, de 60 anos de idade [01 de Agosto de 1962 - 12 de Novembro de 2022].

Era natural do lugar de  Orvida, freguesia de Fermedo - Arouca, mas vivia em Guisande, na Rua da Zona Desportiva, no lugar de Casaldaça, companheiro de Maria Celeste Conceição Almeida.

O funeral tem lugar na Segunda-Feira, 14 de Novembro pelas 15:30 horas, na igreja matriz de Fermedo indo no final a sepultar no cemitério local.

Sentidos sentimentos à sua companheira e a todos os seus familiares e amigos.

Descanse em paz!

12 de novembro de 2022

Santinhos



Hoje em dia, qualquer celebração religiosa, da mais simples à mais significativa, comporta um caderno de encargos detalhado, a que não faltam naturalmente as bodas, os copos de água e afins, em quintas, quintarolas e espaços de eventos, todos xpto. 

Os vídeos e a fotografias são indispensáveis e obrigam a sessões prévias e detalhadas. Tudo muito profissional. 

Os convites, esses obedecem a uma escolha a envolver design, papel, tipografia, originalidade, etc, etc. 

Dizem, e eu acredito, que, por exemplo, um casamento assim a seguir à risca todos estes aspectos indispensáveis, é mais duradouro, vacinado contra divórcios extemporâneos e por isso, com grandes probabilidades de, com vida e saúde, chegarem a bodas de prata e depois de ouro.

Pois bem, ainda bem que assim é. Afinal, a garantia da felicidade a dois custa dinheiro mas é possível.

Longe vão os tempos em que o convite de um casamento se resumia a mandar imprimir umas pequenas estampas, ditas "santinhos", do tamanho de um cromo de jogador da bola. 

Até  mesmo o nosso saudoso pároco Pe. Francisco quando fez Bodas de Prata paroquiais e sacerdotais, assim fez, mandando imprimir uns santinhos, com pelo menos três diferentes ilustrações e no verso os dados e data do acontecimento, de que reproduzo na imagem que ilustra este apontamento.

Outros tempos, em que o acessório era mesmo isso, acessório. Mesmo com uns convites tão simples, certo é que não só fez as Bodas de Prata em 15 de Agosto de 1964,  como 25 anos mais tarde, em 15 de Agosto de 1989, completou Bodas de Ouro. Afinal, parece que o aparato dos convites e  afins pouco ou nada contará para o totobola da felicidade e matrimónio duradouro. Mas conta, pelo menos, para o dia. O seguinte já pouco importa. Peanuts!

11 de novembro de 2022

-Bem vindo ao mundo da realidade!



Há dias, alguém que estimo e da minha reduzida rede de amigos facebookianos, dizia-me pessoalmente que não compreendia que algumas das coisas que pelo Facebook partilho, sobretudo artigos ou apontamentos relacionados à história da freguesia, fotografias, poemas e ilustrações, não tenham mais comentários e "gostos".

Respondi-lhe: - Caro amigo, bem vindo ao mundo da realidade! Aqui não é um espaço de reconhecimentos e de sinceridades. Aqui valem sobretudo os grandes grupos e os interesses que se estabelecem entre eles. Se tens uma grande tribo que cultivas na arte do bajulatório, basta dares um peidinho de uma qualquer insignificância ou egocentricidade do teu dia-a-dia para teres largas dezenas de likes e comentários e sentires-te importante, inflamado. Uma alarvidade ou, vá lá, banalidade, se dita por alguém que bajulas, é certinho e direitinho que tem direito a dezenas de deferências. Ao contrário, qualquer laivo ou rasgo de meritório, de inspiração artística ou poética, opiniões e pensamentos próprios e escritos pela tua caneta, se porventura a necessitarem de um qualquer incentivo à continuação e melhoramento, a coisa morre logo ali à nascença, quase sem ninguém que lhe acuda verdadeiramente.

Por conseguinte, farto-me de dizer o óbvio: As redes sociais não são mais que uma extensão do que somos lá fora, porventura com o mérito de realçar aquilo que somos, nas coisas boas e menos boas, nas qualidades ou falta delas. 

Posto isto, o que vou por aqui partilhando é mesmo uma teimosia a pensar numa boa dúzia de mentes sensíveis e com capacidade de admirar e valorizar. Nem mais nem menos!

Mas vejamos sempre a coisa pela positiva, até porque, de novo socorrendo-me da velha sabedoria popular, "ovelhas não são para mato" ou mesmo "os burros também se ensinam". Talvez por isso, muitos dos meus bons amigos, por quem tenho apreço cultural e de cidadania, andam afastados destas coisas e se até têm página pessoal, pouco ou nada escrevem e só aparecem esporadicamente como quem a abrir as janelas num dia de sol para arejar a casa fechada.  

De alguns, bons, que por cá andaram no início, acabaram por sair ou deixar de aparecer porque perceberam que isto de andar a partilhar e a escrever coisas próprias, a exercer cidadania, sem ser egocentrismos e banalidades, tem custos e sobretudo não gera clientela à altura. É o que é. 

Desses bons, tenho sobretudo saudade do José Marques Pinto da Silva, das Caldas de S. Jorge, figura de saber falar e melhor escrever, senhor de princípios e lutas a que nunca virou costas às vagas, mesmo com as bategadas fortes de quem não tinha estofo para estar à sua altura. Andou literalmente a chover no molhado e a malhar em ferro frio, porque sem concorrência à altura. Mas era um gosto ler e reflectir no que escrevia, mesmo não sendo da sua freguesia.

Obrigado pois a todos os bons amigos que ainda têm bom gosto, sabem ver a beleza de uma fotografia e o que ela apresenta e representa, o sentido transcendente de um poema, a reflexão de um qualquer pensamento ou opinião, a arte, mesmo que não académica, de um rabisco. 

Quanto ao resto, a caravana, esta passa e os cães ladram. Não fosse assim, esta lei da natureza, e um pai pinguim nunca conseguiria encontrar o seu filho no magote de milhares dos seus quando regressa do mar com o estômago cheiro de peixe para partilhar.

A natureza humana tem muito a aprender e a reflectir com a natureza animal, mas aquela sempre em desvantagem, porque esta, mais pura, genuína.