20 de maio de 2023

Brincar às bonecas

 


O Sábado nasceu fresco e algo nublado mas logo às primeiras horas começou a abrir o azul e o sol a fazer o melhor que sabe, iluminar e aquecer, embora a sentir-se um ventozinho a armar-se em valente, que acompanhou o grupo durante todo o percurso de subida pela bonita e áspera Serra da Boneca. 

É verdade! O grupo hoje rumou a terras de Penafiel, pela freguesia de Sebolido onde trilhou o PR5 Serra da Boneca e Douro. 

O trilho vale sobretudo pelo percurso na serra, porque a dureza da subida, e mesmo das descidas, é sempre compensada pelas magníficas vistas sobre o rio Douro e suas margens. 

A segunda parte que desce junto ao Douro é menos interessante e quase sem pontos de interesse para além do caminhar. Vê-se sobretudo as margens infestadas de mimosas e eucaliptos e lixo, muito lixo, desde colchões a latas de tinta e restos de obras. O português tuga no seu melhor (pior).

O restabelecimento de forças deu-se no Jardim do Arda, em Pedorido. Já se comeu bem melhor, mas foram refeições quanto baste e económicas pelo que pedir melhor já é abuso. Nenhum do grupo é patrão.

Em resumo, os mesmos ingredientes: Exercício físico, contacto com a natureza, o conhecimento de gentes, lugares e sítios, convívio e partilha. Afinal que mais se pode desejar?

De seguida os habituais olhares.








































































18 de maio de 2023

Andar às notas e aos galambuzinos

Eu bem sei que a maioria da malta ontem preferiu assistir na TVI à segunda-mão da meia final da Liga dos Campeões em futebol, um jogo entre o Manchester City e o Real Madrid. Todavia, como nestas coisas tenho uma costela masoquista, passei a maior parte dessa hora e meia a assistir à CPI - Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão da TAP, onde era inquirida a chefe de gabinete do ministro das Infra-Estruturas, Dr.ª Eugénia Cabaço. No jogo anterior tinha sido ouvido na mesma Comissão o Dr. Frederico Pinheiro, ex-adjunto do ministro, figura central na novela mexicana a que temos vindo a assistir, o tal que depois de exonerado terá tentado levar o computador das instalações do ministério contra as directrizes do pessoal presente incluindo a tal Dr.ª Eugénia, certamente boa pessoa e que até tem o nome da minha mãe.

Em resumo, do resumo do que vi e ouvi da parte destes dois intervenientes bem como do que já amplamente foi focado pela imprensa nas últimas semanas, é ponto assente que esta CPI é definitivamente uma telenovela mas igualmente uma espécie de Liga dos Campeões do descrédito da classe política e depois das meias-finais, hoje lá por volta das cinco da tarde terá início a grande final com a audição do ministro Galambuzinos das Infra-Estruturas. Ainda há-de ser chamado o ex-ministro Pedro Nuno Santos, mas esse, como já deu de fresques, já pouco terá a dizer que não se saiba.

É ainda uma certeza que no meio desta grande trapalhada alguém está a mentir ou, simpaticamente, a dizer meias-verdades. E mesmo sem qualquer apreciação clubista, parece-me que independentemente de quem tenha mais razão e capacidade de drible, ficam todos muito mal na fotografia. E são muitos, desde o pessoal da TAP até à malta das Infra-Estruturas e até mesmo do SIS, este serviço já com tiques de autoritarismo como se estivéssemos na Rússia ou China.

No meio desta açorda, o país cansa-se desta baixa qualidade de quem vai a jogo, exercendo cargos de governação ou da esfera do Estado. O presidente Marcelo, que por vezes fala mais que um papagio, teve razão na apreciação ao assunto do Galamba e companhia, mas o primeiro ministro não lhe fez a vontade e manteve no cargo um político medíocre e infectado com toda esta questão. Como bem disse um comentarista, João Galamba não passa de um cadáver político. Mesmo que na audição de logo não lhe façam definitivamente o enterro, nunca terá grandes condições para o exercício do cargo.

Toda aquela estrutura está a precisar de uma desinfestação e já agora, muita estruturação pois ficamos a saber que todos os documentos relevantes e importantes referentes à TAP estavam num único computador. Haverá por aí algumas tascas de comes-e-bebes bem mais organizadas informaticamente. 

Também achei curiosa a alegação da Dr.ª Eugénia Cabaço a dar ênfase aos documentos importantes e classificados e com informação priveligiada sobre a TAP, essa empresa "estratégica para todos os portugueses". Poupe-me, Dr.ª Eugénia e tire-me da lista dos portugueses interessados em meter milhões na TAP. Além disso, "documentos com informação relevante para a TAP"? Ui, ui! Podiam cair nas mãos da concorrência e estes ficavam a saber (como se não soubessem) os contornos de tão deficiente gestão ao longo das últimas décadas. O que é que dali podiam retirar? Lições e exemplos de como não se deve gerir uma transportadora aérea? Pode ser! Informações dessas se vendidas pelo "terrorista" Frederico aos concorrentes da TAP podiam valer milhões! 

Perante versões tão contraditórias a envolver um alegado furto, ameças de dois murros, agressões, agarranço de mochila, barramento de portas, 4 chamada para o 112 e para as polícias e ainda refúgio nas casas de banho, como se o Frederico, até ali uma pessoa de confiança, fosse um terrorista fanático do Estado Islámico armado até aos dentes e disposto a mandar meia Lisboa pelos ares, tudo parece realmente deplorável e mesmo irreal. Até houve idas ao hospital porque isto de apanhar alegados murros é coisa de partir costelas e fracturar o cránio. Terão recebido pulseira laranja ou vermelha no serviço de urgências?

Eu não sei como há-de terminar este jogo porque um empate numa final tem que ir a prolongamento ou mesmo a penalties. Vamos lá a ver quem falhará menos e possa cantar vitória mas perante este triste espectáculo o mais certo é que não haja taça para ninguém. O melhor mesmo é à primeira oportunidade substituir a equipa toda, desde o treinador ao roupeiro e ao homem que fecha o balneário.

Vamos lá aguardar para ver o desfecho desta telenovela e da tal Comissão de Inquérito, que está visto que o Governo quer terminar quanto antes, antes que surjam novos episódios.

...Já agora, o Real Madrid, tão habituado a ganhar o caneco da coisa, levou uma valente cabazada!

16 de maio de 2023

Saudade seleccionada


A Editora Chiado Books está a organizar o I Volume da Antologia de Literatura Portuguesa Contemporânea “Saudade”.

No convite aos autores, justifica que "a saudade é um sentimento profundo e único, enraizado na cultura e na alma dos povos de língua portuguesa. É uma emoção que nos conecta com as nossas memórias, com pessoas queridas e com lugares distantes. Nesta antologia, queremos explorar e celebrar a saudade através da escrita.".

Na participação é informado que aos autores selecionados para a obra não será exigida nem oferecida nenhuma contrapartida pela participação. Além disso, não serão disponibilizados exemplares gratuitos da antologia.

Por outro lado, para garantir a uniformidade da antologia os poemas devem ter o limite máximo de 30 versos e as prosas devem ter o limite máximo de 250 palavras. Cada autor deverá enviar somente um poema ou prosa.

Face a este convite, encolhi os ombros e pensei para mim próprio: - Porque não? Não há nada a perder nem exigidas contrapartidas, como por vezes se faz ardilosamente como forma de publicar e vender, por isso abri a torneira da inspiração para ver se algumas gotas brotavam e em 15 minutos tinha um simples poema escrito. Poderia ir trabalhando nele ou noutras versões até à data limite para a submissão até ao dia 15 de Junho, mas foi quase de rajada e pouco depois já o remetia à editora.

Certamente que a antologia reunirá largas dezenas ou centenas de poemas e textos, mas será certo que nem todos os participantes verão a sua parte seleccionada e publicada. Por isso foi com surpresa e natural contentamento que horas depois tenha sido informado que o meu poema foi analisado e seleccionado e fará parte da referida antologia, pelo que devo ficar a aguardar a informação quando se der o lançamento da obra. É esperar para ver! 

Quanto ao meu poema, mesmo que não tenha sido colocada essa condição, por uma questão de princípio aqui o partilharei apenas e só após a publicação.

Uma feira de gente santa

Início da manhã numa Segunda-Feira fresca mas a prometer sol.  

Quando vamos a Santa Maria da Feira já parece que vamos ao Porto ou a Braga e o trânsito transborda pelas ruas como nos velhos regos quanto o Ti Manel abria o bueiro da presa das Corgas. Mas aí a água corria límpida e fresca pelos canais desimpedidos a caminho da rega dos milhos, do feijão ou das batatas ressequidas a estalar a terra. Já o trânsito de agora flui aos solavancos, porque ordenado pelas rotundas, pelos semáforos ou por alguém que se mete, ora da esquerda, ora da direita, um motard armado aos cucos que não aprendeu o significado de uma linha contínua ou um peão descontraído que atravessa a dois metros da passadeira. Um autêntico lufa-lufa e quem não quiser ter surpresas nesta batalha de máquinas quase voadoras, tem que sair mais cedo da toca para se pôr a horas aonde tem compromisso.

Desta vez, a caminho para uma consulta externa no Hospital da Feira. Não há quem o não saiba, mas o parque de estacionamento do hospital foi projectado como se fora para um pequeno centro de saúde e por isso de há anos que é pouco para as encomendas e encontrar um lugarzinho vago, mesmo que apertadinho ou nas bordas dos acessos, face a tantos carros tem que ter carradas de paciência e esperar em fila que algum saia ou andar por ali num interminável carrocel como a bolinha na roleta da sorte, como antigamente nas festas do Viso ou do Santo Ovídeo. O próprio hospital já recomenda que não se utilize o seu parque e o remédio é estacionar a pagar, uma praga moderna que veio para ficar e chular os já muito chupados contribuintes, ou bem ao largo dos parquímetros num daqueles parques privativos que são autênticas minas de fazer dinheiro sem que o dono ou explorador pague um cêntimo de impostos. Típico de portugueses espertos. 

Felizmente, construiram a cinco minutos dalia a pé o Lidl e o Mercadona e os respectivos parques têm servido como uma boa e grátis alternativa. O hospital bem que lhes podia pagar uma avença como recompensa. Mas não pagará, que o Estado, já se sabe, é mau pagador, e cheira-me que um dia destes os estabelecimentos vão ter que arranjar algum controlo de acesso aos parques porque já devem ter cheirado o refugado e percebido que muitos que ali estacionam não é para entrar e comprar batatas ou arroz mas sim para irem aos senhores doutores do hospital ali perto. Afinal, à vontade não é à vontadinha.

Na sala de acesso às consultas, e ainda não eram 8 horas, já havia fila para o check-point e os habituais remoques para quem, mais desenrascado, fazia a verificação nas máquinas laterais, estas sem pessoal da casa a orientar. Mas explicou a auxiliar que as máquinas laterais eram para quem as soubesse utilizar pelo que quem estava na fila e a elas não recorria não podia reclamar que outros o fizessem. Mas reclamavam porque português que se preze, reclama por tudo e por nada. Eu também reclamo, por vezes por nada e tantas por tudo, mas por ali não dei razão ao senhor de bigode farfalhudo nem à senhora enorme (porque agora é politicamente incorrecto classificar alguém como gordo ou gorda). Que fizessem o mesmo e enfrentassem as tecnologias! Mas qual quê? Isto de inserir o cartão de cidadão numa ranhura, esperar e carregar com o dedo na marca para imprimir a senha, é para muitos uma tarefa de todo o tamanho. Mais fácil sachar um campo de batatas ou deitar abaixo um pires de moelas no Ramadinha.

- Siga a linha laranja! Uma terminologia de metropolitano que depois de passar por um corredor sem grandes paisagens, apesar da bonitona de mini-saia e salto alto que seguia na frente, desembocava numa apertada sala de espera já cheia de gente à espera e alguma gente já cheia de esperar. Depois, a voz artificial da menina do ecrã das chamadas que ora chamava a senha M76 como a seguir a M12 como depois a M99 ou a R35 ou a A25, pelo que não valia pena a quem naquela anarquia procurava algum padrão harmónico. Matutar nessa confusão era aumentar o stress. Pois se então a minha senha era o 22 e o fulano do 99 chegou à sala muito depois de mim, porque é que foi chamado muito antes? É esquecer! Ali não há lugar a lógica nem à lei da gravidade pelo que  sol é que circunda a terra e os rios nascem no mar!

Depois é gente a ir às casas de banho e a deixarem as portas abertas para o pessoal ouvir o troar dos canhões e a cascata da sanita. Saem aliviadas as criaturas mas as portas abertas ficam porque o aroma deve ser a alecrim e a alfazema como em dia de procissão. Há criancinhas a berrarem a faltarem ao infantário, já com problemas de oftalmologia mas não de garganta, velhinhos amparados por filhos que faltaram ao trabalho a tossir numa pigarreira desgraçada, mas já todos livres, sem máscara, porque isto de tossir para dentro de uma fralda tem que se lhe diga. Além do mais, para mal dos pecados do arejamento, diz o regulamento das construções que os compartimentos de estebelecimentos têm que ter um mínimo de 3,00 m de pé-direito (altura do piso ao tecto) mas ali acharam por bem fazer por menos e desconfio que não chega aos 2,40 m. Para a próxima levo a fita métrica ou o medidor laser para matar aquela dúvida mesmo não a tendo.

Finalmente, depois de quase uma hora ainda dentro do horário da consulta, que já havia sido adiada duas vezes, e depois de meia hora para além da hora marcada, fui chamado pelo próprio senhor doutor que estava com ares de ter acordado tarde e tarde chegado ao trabalho, mesmo que não tenha tido necessidade de ir estacionar no Mercadona. Mas era tão simpático quanto novo e passou a consulta a escrever no teclado pelo que fiquei sem ter a certeza se estava a tomar notas do que se ía falando ou se a entreter-se no Whatsapp  ou no Tinder.

Como suspeitava, e sempre que espero carradas de tempo nestes sítios, em 5 minutos estava despachado. Na despedida disse-me que ficasse tranquilo que a coisa parecia normal, mas que por via de dúvidas seria chamado para um exame a confirmar o tamanho exacto da coisa, mas que a tal máquina sofisticada que há-de fazer a medição estava ausente, e que não sabiam se iria demorar um mês ou um ano a regressar à casa. Por isso ou seria ali no dia de Santo Não Se Sabe Quando ou então no Porto, dali a uns meses ou mais uns picos. Quantos, também não sabia dizer, mas que depois notificavam a dar a novidade.

Aviado, passo pela sala de entrada com uma fila ainda maior e a serpentear pelo que deu-me um flashback e por momentos vi-me no processo de vacina Covid no Europarque. Mas não, era tudo gente para tirar a senha pelo que a maior parte, supostamente doente, haveria de passar ali o resto da manhã ou mesmo parte da tarde. Ele há coisas e fora as greves, há sempre médicos entupidos no trânsito e a tomarem café a toda a hora.

Regresso aliviado ao Mercadona por um passeio repleto de peões a marchar nos dois sentidos, quase todos com exames do Centro Médio da Praça nas mãos, com ares de quem nao íam a Fátima a pé, mas ali ao lado ao hospital de S. Sebastião que, não sendo Nossa Senhora, foi mártir e faz parte da gente santa. 

- Vale-nos, S. Sebastião, que te enchemos de doces fogaças, para que nos livres desta fome peste e guerra que é ir à cidade em hora de ponta a uma consulta hospitalar! 

Santa Maria da Feira, uma feira de gente santa!

15 de maio de 2023

Maus hábitos e piores comportamentos

Uma pessoa reles é sempre uma pessoa reles. Isto para não usar um eufemismo mais condizente com a terminologia vernácula popular. 

Assim, parece-me que alguém que deposita lixos na berma de um caminho ou num barroco, seja resíduos e entulhos de obras de construção, electrodomésticos, colchões, sofás, ou mesmo restos de limpeza florestal e de jardins, etc, não merece outra classificação. Podem até ser boas pessoas em muitas questões, estudadas e bem formadas e até estarem devidamente integradas na sociedade, como  se diz agora nos tribunais para amenizar comportamentos criminosos e reduzir as respectivas penas, mas em em rigor quando adoptam comportamentos destes, tanto mais que censuráveis nos tempos que correm, perdem muito daquilo que podem valer como cidadãos.

Infelizmente, estes maus comportamentos continuam a ter palco um pouco por todo o lado e basta um caminho que permita o acesso de um carro ou carrinha para que pela calada da noite, ou nem por isso e mesmo de forma descarada, se faça a descarga e tantas vezes de maneira que até seja difícil e remoção pelas entidades competentes.

É certo que os ecocentros são poucos e tantas vezes não passam de meras inutilidades porque no geral não garantem na totalidade os propósitos para os quais foram criados, mas mesmo assim não há necessidade destes atropelos porque bem ou mal vão existindo alternativas adequadas para dar sumiço ao lixo, nomeadamente quanto aos ditos "monos", havendo um serviço de recolha que pode ser solicitado. 

Um dos mais descarados atropelos ocorrre em pleno centro da freguesia num dos troços da Rua das Fogaceiras, entre Casaldaça e Gândara. Mas há mais, como na zona do campo de futebol e zona dos Corgos entre o lugar de Estôze e Azevedo. Até ali uma sanita se via, no que de algum modo é simbólico da coisa.

Em resumo, nesta questão de civismo e urbanidade ainda há um longo caminho a percorrer e das autoridades nem sempre se pode esperar grandes acções  de vigilância e intimação, porque as prioridades vão para o que dá nas vistas. Já os espaços mais escondidos, os caminhos menos utilizados, esses são pura e simplesmente abandonados na sua manutenção e limpeza, permitindo-se e facilitando estas atitudes de gente pequena.

Assim vamos andando!