22 de setembro de 2021

Dá jeito um furacão...

Vamos ser claros! Com a concretização das nefastas Uniões de Freguesias e com isso o aumento do território e população de cada  respectiva unidade administrativa, e no caso concreto com a nossa União a englobar quatro freguesias e uma população que já estará acima dos 10 mil habitantes (aguarda-se o resultado dos Censos 2021), deixou de ser possível realizar campanhas eleitorais casa-a-acasa, rosto-a-rosto. 

Recordo-me que há sete anos quando decidi integrar uma lista participante nas eleições intercalares de 2014, com todos os aspectos positivos e negativos daí decorrentes, optei por dialogar pessoalmente com cada pessoa, exprimindo e esclarecendo os meus pontos de vista e as expectativas que me moviam no sentido de nessa transição procurar defender melhor a parte guisandense no bolo. 

Apesar de, forma quase generalizada, ir recebendo indicações de que caso fosse eleito teria uma missão quase impossível, a verdade é que quase sozinho, sem procissões, sem andores nem figurantes, lá realizei a campanha da forma mais esclarecedora possível, que deu naturalmente os seus frutos, com a vitória ampla, reconhecida e conseguida, revertendo a anterior tendência de voto em que em duas eleições anteriores havia ganho um partido concorrente.

Depois, num mandato mais curto e com heranças pesadas em dívida que cortaram as pernas a algumas obras, e com um presidencialismo demasiado rígido e mesmo inadequado face ao que se pretendia e esperava para uma nova realidade de uma União a quatro, os resultados foram o que se sabe e deles uma enorme decepção pessoal pela incapacidade de reverter as coisas, porque apenas um elemento à luz da lei sem poder e  sem competências atribuídas, para além do muito trabalho voluntário. Basicamente um moço de recados. 

Com essa incapcidade de levar a cabo as obras e melhoramentos que haviam sido propostos em programa, e apesar do forte sentimento de dever cumprido em face das responsabilidades, naturalmente que não encontrei condições objectivas e de princípio para enfrentar uma recandidatura. Nestas coisas, ou cumprimos e honramos a palavra dada aos eleitores ou damos o lugar a outros, mesmo que a tendência geral seja fazer tábua rasa das promessas e compromissos assumidos e voltar à cena com cinismo de actor e como ares de que nada se passou. Há que ter princípios!

Mas dizia eu, esta realidade de fazer uma campanha individual e personalizada, foi chão que deu uvas e torna-se agora tarefa impossível. Assim, as actuais campanhas resumem-se a uma procissão de gente que muitas vezes nem tem nada a ver com as freguesias, actuando como figurantes a quem se paga um jantar no final, fazendo barulho e distribuindo brindes e uns infomails todos janotas e coloridos, com gente sorridente, estampados com uma dúzia de considerações vagas sobre o que se promete realizar. No fundo um copy/paste de anteriores programas, porque em rigor do muito que habitualmente se promete, pouco ou nada se concretiza.

Ora este tipo de campanha, tipo um tornado ou furacção que varre alguma das nossas ruas, mesmo em horas inadequadas, até é o indicado para alguns recandidatos com  "heranças infelizes e pouco nada produtivas", porque assim não têm necessidade de se justificar cara-a-cara, de esclarecer, de ver questionada a palavra de honra, mesmo que já ela pouco valha. Conveniente! 

É, pois, no geral, esta uma campanha que não esclarece, que não argumenta, mas não compromete, o que até se encaixa nas exigências gerais, já que muito do eleitorado olha para estas coisas dos partidos e da política como o seu clube de futebol, em que pode perder, fazer maus resultados, jogar mal, ter um deficiente plano de jogo, um péssimo treinador e jogadores fraquinhos, mas tem sempre o seu apoio e aplauso. E com isso, com esta dedicação e lealdade caninas, se perpetuam, tantas vezes, incompetentes políticos. No fundo as campanhas eleitorais, salvo raras excepções, são um exercício teatral onde importa o espectáculo, o show off e em que o argumento invariavelmente é uma ficção, um faz-de-conta, como diz o povo.

Para mal dos nossos pecados, sinais dos tempos!