10 de abril de 2022

Veríssimo, um dos cinco reis da alegria


Nas minhas habituais voltas de bicicleta, em 99,99% das vezes ando sozinho. E não porque o não pudesse fazer com companhia, mas essencialmente porque gosto de andar sozinho. No fundo fazer, 40, 60 100 ou 120 Km é naturalmente um exercício físico mas é sobretudo uma jornada espiritual já que sou apenas eu próprio, a bicicleta, a estrada, os lugares e os meus pensamentos. Depois, o esforço e tantas vezes algum sofrimento quando já cansado, enfrenta-se mais uma subida de 6, 8, 10 ou mais quilómetros.

Mas por vezes lá arranjo um companheiro de viagem, não daqueles que andam por aí convencidos com eles próprios que ainda podem ir à Volta a Portugal ou mesmo ao Tour de França, e passam e andam sem qualquer aceno ou cumprimento, e por vezes até apanhados à frente, mas daqueles que se metem ao nosso ritmo e se dão a conhecer, dizem de onde vêm e para onde vão, e às tantas partilhamos parte da corrida num ritmo vivo mas ao lado e com boa conversa. Assim ficamos a conhecer aqueles ilustres desconhecidos que também por aí andam solitariamente a pedalar, sem se importarem em dar a conhecer ao mundo as suas voltas, os seus ritmos e a suas médias.

Pois bem, ontem, pedais ao caminho e mais uma volta por terras de Oliveira de Azeméis, Vale de Cambra e Arouca. Pelo caminho conheci o Veríssimo, com mais 12 do que eu e menos 30 do que eu. Descodifico: Mais 12 de idade e menos 30 de peso. Um autêntico pena de pavão, que bem poderia ser bailarino  ou jockey de um veloz garanhão. Mas simpático e falador e com muitas histórias para contar.

O Veríssimo será do lugar de Goím, Romariz e mora em S. João da Madeira. Na reforma, pois claro, pedala quase todos os dias e assim tão levezinho quase vai de barco à vela, sem esforço, ao sabor do vento. Para ele até as subidas são a descer.

Mas o Veríssimo é eclético e, tocador de acordeão,  também faz parte de uma banda de música popular, um trio, sendo que em tempos fez parte de um conjunto, de que, pasme-se, já eu tinha ouvido falar, ali pelos finais da década de 1970. É verdade, o Veríssimo era um dos "Cinco Reis da Alegria" e conhecedor dos meandros dos conjuntos típicos desses tempos. Até é amigo do Nocas, dos Irmãos Leais.

Gostei de conhecer este Veríssimo e um dia destes talvez o volte a encontrar a pedalar. É certo que me convidou para levar comigo a minha guitarra e aparecer nos ensaios, mas já não tenho vida para isso. Em casa vou dando uso à guitarra, concertina  e órgão, mas apenas por desfastio e por ora a minha música vai sendo outra. Quem sabe, quando e se chegar à reforma, faça um treininho com o Veríssimo a tocar o "Eras tu, ó Madalena".

Gostei de conhecer o Veríssimo. Um genuíno rei da alegria e camaradagem.