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22 de novembro de 2022

Princípios

Eu sei que se fosse no contrário da barricada, também Jerónimo e os seus correligionários, com um alto grau de probabilidade, provavelmente ficariam sentadinhos. Mas há princípios que definem quem está nas coisas por eles, pelos princípios. 

Ora estes, os princípios, podem ser muitos e diversos, nomeadamente os de carácter ideológio e doutrinário, mas os do respeito pelas pessoas e pelas diferenças devem ser comuns e transversais. 

Por isso, a posição dos deputados do CHEGA na despedida de Jerónimo de Sousa da Assembleia da República, ficando sentados e indiferentes, enquanto todas as demais bancadas estavam a aplaudir em pé, em jeito de homenagem, sendo que os deputados da IL aplaudindo mas também sentados, fica mesmo mal e a roçar uma indiferença desrespeitosa. 

Mas as atitudes ficam com quem as praticam. Não é com isto, com este radicalismo, que o Chega, ganha respeito. Por mim seguramente que não. Seria uma boa oportunidade de vincarem alguma diferença positiva, senão nas ideias, pelo menos no respeito político, democrático e pessoal, mas nem isso. Fracos!

Não sou comunista, sendo que até  já votei pelo partido, e naturalmente com muitos princípios políticos opostos, mas acima de tudo tenho apreço e respeito por Jerónimo de Sousa, que de resto sempre me pareceu ele próprio respeitoso, cordial e de muita verticalidade. 

Teve uma larga maioria de respeito e consideração na hora de sair, mas merecia, parece-me, uma unanimidade.

21 de novembro de 2022

The show must go on

Sempre se soube que todo o processo que culminou com a nomeação do Catar como país organizador do Mundial de Futebol de 2022, ontem começado, foi uma farsa. Uma valente e muito bem paga farsa. 

Um dos Judas intervenientes, um tal de Blatter, já se mostrou arrependido, mas não foi ao ponto do final do Iscariotes, e tanto que saiba, há-de morrer de velhice e nunca por falta de dinheiro, incluindo as 30 moedas, e dos confortos que ele proporciona.

Para além dessa trafulhice imensa que só os ricos e os poderosos conseguem afinar como mestres relojoeiros, seguiram-se as questões relacionados com a segurança dos trabalhadores, ou falta dela, nas construções faraónicas ou das mil-e-uma-noites, o respeito pelos direitos humanos, sobretudo sobre as mulheres, o tratamento para com os homossexuais, etc, etc.

As nações e as selecções delas apuradas para tão majestoso evento, foram dandos uns palpites, uns bitaites, tudo dentro do politicamente correcto, mas em rigor, tanto quanto se saiba, nenhuma boicotou a prova primando pela ausência. 

Mesmos os jogadores, ali verdadeiros príncipes nas arábias, foram também dizendos umas porreirices avulsas, mas na verdade estão lá todos muito contentinhos.

Os adeptos, esses também aparte alguns arrufos, estão lá, senão todos, os que têm carteira para isso.

Finalmente, o chefão da FIFA veio menorizar a questão e esgrimir o velho engodo do copo meio cheio ou meio vazio. Louvou os esforços feitos pelo país anfitrião e o muito que mudou, mesmo sabendo que quando as tendas se levantarem e cada um seguir à sua vida, o mais certo é que tudo vai voltar ao mesmo. 

Em rigor, as declarações do senhor Infantino andaram mais ou menos como quem desculpa o violador pela atitude e aparência provocadoras da violada e pelos esforços em violar o menos possível. 

Posto isto, as tendas estão montadas e por uns largos dias vamos ter circo com palhaços pagos a peso de ouro. 

The show must go on!

19 de novembro de 2022

Do que a casa gasta

Quando os telejornais, incluindo o da televisão dita de serviço público, abrem com o assunto da entrevista do Cristiano Ronaldo e lhe dão largos minutos de atenção, o mesmo acontecendo com os jornais a ocuparem páginas, diz muito do tipo de sociedade em que vamos navegando.

Mas há, naturalmente, quem salive por este tipo de assuntos. O acessório e o privado como fundamental. Os média, como boas moscas, vão atrás da coisa enquanto fumega de fresca.

15 de novembro de 2022

Em inglês dá outra pinta - Parolismos


Eu não sei por que carga de água, talvez por provincianismo, para não dizer parolismo, insistimos em dar nomes ou designações em inglês às coisas só nossas. Até compreendo esta falta de amor próprio numa perspectiva de eventos ou negócios em muito virados para o turismo estrangeiro, em que há uma intenção de internacionalizar, de informar, mas já extender isso a coisas objectivamente portuguesas, comuns e para consumo próprio, é mesmo algo intrigante para não o adjectivar de outra forma.

Veja-se, no caso de eventos desportivos, nomeadamentes corridas agora ditas de runnings e trails e que são mais que as mães, no que parece, pelas muitas que são pagas, evidenciar ser um negócio interessante.

"Bio Run", "Xmas Trail", "Urban Run", "Last Man Standing", "Pisão Extreme", "Atlantic Clifs Adventure", "Trail Running Vila de Nisa", "Urban Trail Night Eurocidade" - Valença, "Mâmoa River Trail", "Noctis Trail", "Leiria X-Mas", "Vulcan Trail", "Lousa Mountain Trail", "Linhas de Torres Challenge","Peninha Sky Race", "Trail of Road", "Wine Trail", "Extrem Trail", "Night Trail", "Trail Summer Chalenge", "OCR Fireman Sernancelhe", "Louza Sky Race", "Dark Side Night Trail", "Cork Trail Running", "Viana Race" e muitas, muitas outras.

Mas como nem tudo está perdido, ainda há provas que têm a designação tão portuguesa, tão nossa, de "corrida", "corta-mato", "trilhos", "maratona" e "caminhada".

Posto isto, inglês é que é e dá outra pinta à coisa. Correr uma corrida ou simplesmente fazer uma caminhada é coisa de atrasados.

Mas, claro está, a coisa, o excessivo e mesmo despropositado uso de inglesismos é extensível e muitas outras actividades e sectores. Mas fiquemos por aqui como amostra.

10 de outubro de 2022

Clientes e minotauros

O meu fornecedor de telecomunicações é a Meo. Não por ser a melhor, mas é o que se pode arranjar na sentença do mal o menor.

Prezo-me por nunca  ter deixado de pagar uma factura a tempo e horas, no máximo, com um dia dia de atraso, isto porque, por opção, não tenho débito directo, e assim sujeito ao esquecimento.

Mas ontem, estava já deitado quando me lembrei que o prazo limite era o dia 7 e se o fizesse ainda hoje, mesmo que à primeira hora, já seriam 3 dias de incumprimento. Que remédio, saltar da cama e ir ao computador ajustar as contas, no limite dos 2 dias. 

Não sei se dormi melhor do que dormiria, caso não o tivesse feito, mas pelo sim pelo não, ficou feito.

Mas admito que esta situação acaba por ser caricata porque creio que poucos farão o mesmo. A regra até será arrastar ao limite dos limites, até à ameaça de corte. De resto, numa certa empresa de que me falaram, a norma é mesmo essa, os atrasos e incumprimentos são recorrentes e por conseguinte a suspensão do serviço é também frequente, com a agravante de ser indispensável à actividade.

 O certo é que, pagando, mesmo com o atraso do costume, por vezes já com duas ou três facturas somadas, a coisa vai rolando, porque a operadora naturalmente quer evitar ao máximo perder o cliente.

Mas dou comigo a pensar, novamente, nestas como noutras coisas, qual é, afinal, o merecimento, ou o oposto, o desmerecimento por um cliente ser fiel e cumpridor, ou o contrário: Quem quer mesmo saber? Eu acho que nenhum, e até, feitas as contas, os incumpridores são regra geral os mais beneficiados, como naquela parábola evangélica do filho pródigo em que o desbaratador da fortuna é recebido com beijos, abraços e jantarada com vitelo gordo. O outro, o certinho, o cumpridor, esse continua no campo a trabalhar para o bem comum, sem prémios ou distinções.

Mas isto acontece porque acima de tudo, para as empresas, como no caso as operadores de telecomunicações, mas outras mais, desde logo como os bancos, etc, os clientes já deixaram há muito de ser pessoas, mas apenas simples números com uma data de dados associados. 

Nas agências há cada vez menos pessoas e tudo é encaminhado para processos digitais. Somos atendidos por vozes virtuais e encaminhados por um labirinto de opções, como um minotauro a dar marradas nas paredes até que encontre uma saída. 

Por conseguinte, os valores associados ao respeito e cumprimento pelos acordos, pela seriedade, honestidade e verticalidade, em rigor nada valem ou significam. 

Os algoritmos que gerem as relações entre empresas e clientes, não são programados para fazerem distinções positivas e premiarem os valores e atitudes que nos foram ensinados pelos nossos pais como sendo os correctos.

As coisas são como são. 

Tudo se resume a números. O Sr. António, o Sr. Justino ou a Sr.ºa Josefina, são um qualquer código binário composto por zeros e uns.

Para o caso, o Sr. Américo não passa disto:

01000001 01101101 11101001 01110010 01101001 01100011 01101111

6 de outubro de 2022

Andamos tapados


A malta da TAP é muito eficiente. Vai-se fazer transportar em carrões e diz que com isso vai poupar uns milhares. 

É assim mesmo. Esta TAP é um exemplo exemplar. Não são Porches como o que já teve o ministro da tutela, mas convenhamos que BMWs acima dos 52 e 65 mil euros são um bacadito melhores que o meu Citroen Saxo de 2001.

Até para voar é preciso sonhar alto.

Paga Américo, tu que nunca puseste o cu num aviãozinho da TAP!

14 de setembro de 2022

Selvajaria

O que aconteceu por estes dias com o rapazito no estádio de futebol do F.C. Famalicão, é do pior que pode haver no futebol. Era adepto do Benfica, e que do Porto, Sporting, Arouca ou Feirense fosse.

Mas, estranhamente, há uma sensação de que isto não tem nada de surpreendente porque as tribos do futebol andam há muito extremadas. As claques andam desvirtuadas e são, regra geral, grupos de arruaceiros, sem respeito por eles próprios quanto mais pelos adversários. Pior do que isso, encobertos e apoiados pelos clubes, dos vermelhos aos azuis passando pelos pretos, verdes e amarelos.

Talvez por isso cada vez mais me interessa menos o futebol e, felizmente,  já dou comigo sem saber a que horas e com quem joga o meu clube. Vâo à bardamerda!

No dia em que nas bancadas não houver lugares distintos para grupos e grupinhos, onde cada um, do mais novo ao mais velho, se puder sentar de forma misturada com os seus e com os outros, sem que sejam discriminados e ofendidos, talvez esteja dado um salto civilizacional. 

Até lá tudo não passa de uma estrumeira, onde o conceito do desporto e do desportivismo é vilipendiado e com gente a contribuir risonhamente para isso.

Mas é esperar sentado. Volta e meia surgem estes casos, há indignação por se ver um rapazito obrigado por gandulas a despir a camisola do seu clube, ou por uma companheira de um conhecido macaco ofender no espaço público uma adepta de outro clube, porque vestida com cores diferentes, mas depois de algumas posições politicamente correctas, o estado normal volta à normalidade.

Já dizia Miguel Torga, aquando da sua passagem pela universidade de Coimbra, a propósito de selvajaria, "não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada".

E mais um...

Mais um acidente na produtiva rotunda da Cruz de Ferro. Já perdi a conta. 20? 30? Mais?

Felizmente, sem danos físicos.

Siga! As oficinas agradecem!

Quem riscou e sobretudo quem aprovou esta ratoeira, dormem tranquilos.

A rotunda tal como está realizada proporciona o acidente porque na realidade quem circula de norte para sul pode fazê-lo a 120 Km por hora, porque não tem qualquer obstáculo.

Quem surge do lado direito vindo da Teixugueira, mesmo que parando e entrando com cautela, não tem hipótese com alguém que lhe surge acima da velocidade regulamentar. 

No meu humilde entendimento, e já falei nisso, bastaria que o troço de norte para sul inflectisse para o centro da rotunda, obrigando à redução da velocidade. 

Em resumo, sem ilibar quem entre do lado da Teixugueira, na maior parte dos acidentes neste local, moralmente são da responsabilidade de quem vem de norte a alta velocidade. Claro que as seguradores e os tribunais não julgam moralismos.

Siga!

13 de setembro de 2022

Selvajaria

O que aconteceu com o rapazito no estádio de futebol do F.C. Famalicão, independentemente das razões de cada parte, é do pior que pode haver no futebol. Era adepto do Benfica, e que do Porto, Sporting, Arouca ou Feirense fosse. Até admito que o pai da criança tenha forçado a situação e também ele acicatador do que aconteceu.

Mas, estranhamente, há uma sensação de que isto não tem nada de surpreendente porque as tribos do futebol andam há muito extremadas. As claques andam desvirtuadas e são, regra geral, grupos de arruaceiros, sem respeito por eles próprios quanto mais pelos adversários. Pior do que isso, encobertos e apoiados pelos clubes, dos vermelhos aos azuis passando pelos pretos, verdes e amarelos.

Talvez por isso cada vez mais me interessa menos o futebol e, felizmente,  já dou comigo sem saber a que horas e com quem joga o meu clube. Vâo à bardamerda!

No dia em que nas bancadas não houver lugares distintos para grupos e grupinhos, onde cada um, do mais novo ao mais velho, se puder sentar de forma misturada com os seus e com os outros, sem que sejam discriminados e ofendidos, talvez esteja dado um salto civilizacional. 

Até lá tudo não passa de uma estrumeira, onde o conceito do desporto e do desportivismo é vilipendiado e com gente a contribuir risonhamente para isso.

Mas é esperar sentado. Volta e meia surgem estes casos, há indignação por se ver um rapazito obrigado por gandulas a despir a camisola do seu clube, ou por uma companheira de um conhecido macaco ofender no espaço público uma adepta de outro clube, porque vestida com cores diferentes, mas depois de algumas posições politicamente correctas, o estado normal volta à normalidade.

Já dizia Miguel Torga, aquando da sua passagem pela universidade de Coimbra, a propósito de selvajaria, "não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada".

9 de setembro de 2022

Trotinetas e Trotitretas

Segundo o Decreto-Lei nº 102-B/2020, em vigor desde o início de 2021, que pretende regulamentar o uso das trotinetas eléctricas, estas enquadram-se na categoria dos velocípedes. 

São veículos com duas ou mais rodas, cujo motor (se existir) é acionado pelo esforço do próprio condutor. Devem ter uma potência máxima contínua de 0,25 kW, ou seja, não podem exceder a velocidade máxima de 25 km/h.

O Decreto diz ainda que "são proibidos os comportamentos que representam perigo para a circulação, como manobras indevidas. As mãos devem estar sempre no guiador, exceto no caso de assinalar manobras. A condução sob o efeito de álcool também deve ser evitada, e os agentes de autoridade podem requisitar fazer-se um teste de alcoolemia.

Devem circular apenas nas ciclovias, ou pistas mistas. Podem transitar nas vias de trânsito, do lado direito pela direita e sem perturbar o trânsito, mantendo uma distância suficiente dos passeios ou bermas. Os passeios são para evitar - com a exceção das trotinetes sem motor - salvo se o condutor levar a trotinete pela mão, sem a conduzir.

Pode circular paralelamente, mas não em par, até duas trotinetes eléctricas, excepto em casos de fraca visibilidade ou sempre que exista intensidade de trânsito. Assim, evitam-se bloqueios ou situações de perigo."

Estas e outras regras expressas pelo dito cujo Decreto, são importantes quando cumpridas, de resto como qualquer lei. Mas no essencial, do que se tem visto é uma anarquia e mesmo situações de abuso e perigo.

Ainda um destes dias, descia eu de bicicleta pela Estrada Nacional 326, de Escariz para Cabeçais, a cerca de 40 Km hora, com o meu capecete e com o meu seguro de responsabilidade civil. Pois bem, de repente fui ultrapassado por um jovem numa trotineta, sem capacete, seguramente a mais de 50 Km hora e de seguida vi-o a ultrapassar um carro quase em zona de curva.

Porventura era uma benção que se esbardalhasse à frente para aprender que aquilo não se faz e é contra todas as regras, incluindo a do bom senso. Felizmente, não! Mas se sim e na ultrapassagem e no acidente provocasse danos a terceiros? Quem seria o responsável e de que modo pagaria?

Mas estas são perguntas difíceis e nem vale a pena perguntar. Asneira minha.

Entretanto, informa-se que em Guisande já é possível usar trotinetas e bicicletas eléctricas. É verdade! Desde que as comprem, claro!

22 de agosto de 2022

As bandas à banda

 




Na Festa de Canedo, tudo parece ser grande e desmesurado. Apesar disso, algumas coisas são pequenas, pequeninas.

Não se compreende, de todo, que duas bandas filarmónicas, com o prestígio da dos Mineiros do Pejão e da de Lousada, sejam remetidas para pequenos coretos, sem condições aos tamanhos das bandas (sobretudo a do Pejão), com os músicos apertados como sardinhas em lata, sem se poderem mexer. Ainda, por agravo, ali juntinho dos barulhos das diversões.

Caricato e ilustrador disto, o facto do 1.º flautista da Banda dos Mineiros do Pejão (ver foto), à falta de espaço ter que tocar com o braço por fora de um dos pilares do coreto e com os pés mesmo na borda. 

Por sua vez, o homem dos bombos teve que ficar numa espécie de varanda suspensa, acrescentada como um anexo. Algum músico que pretendesse dali sair em emergência, tinha que passar por cima dos colegas e, como um ginasta, transpor o varandim do coreto com os naturais riscos, como vi.

Não sei como os responsáveis pelas bandas acedem e concordam a actuar naquela vergonhosa falta de condições, que os desprestigiam porque desconsiderados. Todos precisam de facturar, mas é triste.

Paradoxalmente, o palco principal, imenso, à sombra, na parte central do arraial, vazio, com os apetrechos da cantora pimba que ali actuará à noitinha.

Paradoxos e exemplos de como as bandas filarmónicas, baluartes da nossa melhor cultura e tradição são tantas vezes assim desconsideradas por organizações com pouca sensibilidade para estas coisas. 

Demasiado mau para bandas com tanta qualidade. Provavelmente não voltarei ali para ver bandas postas à banda.

Há limites!

Que Nossa Senhora deles tenha piedade!

15 de agosto de 2022

Aperta, aperta com ela


Da recente polémica com a gravação de um videoclipe do cantor José Malhoa defronte da igreja matriz de Cortegaça, basta ler alguns comentários nas redes sociais para perceber que hoje em dia não há meios termos nem razoabilidade nas discussões e apresentação de pontos de vista. Há literalmente dois lados da barricada e os argumentos de uns e outros são igualmente extremados e todos se indignam. Apanha por tabela o artista, os padres, a igreja e até o autarca.

Uns defendem que houve abuso e banalização da imagem de um templo religioso como cenário de um cantor de matriz brejeira, e que não raras vezes banaliza nas suas cantigas as figuras a ela ligadas. Nos entretenimentos de José Malhoa, os padres e os sacristãos andam pelos bailaricos a incentivar namoricos, a "apertar com elas” e a obrigar a "rezar porque se ajoelhou".

Outros, mais receptivos a pimbalhadas do que a missas, coisas religiosas e espirituais, defendem o cantor e atacam a Igreja e os padres, "todos uma cambada de pedófilos", sem moral para criticar o inocente Malhoa. Depois, quanto a autorizações ou licenças, parece que toda a gente autorizou e até incentivou a coisa. Há-de haver sempre alguém que julga decidir por todos.

Mas por mim, sobretudo quanto aos mais extremistas, que fiquem a discutir uns com os outros, porque a burros não se deve dar conversa mas palha. Mas sempre digo, porque também tenho opinião, e porque venho do tempo em que me ensinaram que o respeitinho é sempre bonito, cada um deve ocupar o seu lugar. Misturar alhos com bugalhos é que não é de bom senso. Um fio de esparguete é tão inconveniente numa cabeleira como um fio de cabelo no meio de uma "bolonhesa".

Por conseguinte, José Malhoa fazer-se filmar com as suas "acólitas" frente a um templo religioso tem o mesmo cabimento que um coro gregoriano fazer-se filmar no Moulin Rouge.

Mas há quem ache tudo normal e que daí não vem o mal ao mundo e que só por isso tudo se justifica. Certamente que não vem, mas, repito, quando as coisas são feitas com bom senso e respeito por todas as partes e de forma contextual aos propósitos, as coisas funcionam melhor.

De resto, este mal da brejeirice se misturar com a religiosidade é velha e não é apenas de agora e o mal é geral. Tomemos como exemplo a recente actuação dos  "4Mens" na festa do Viso: Sem dúvida que proporcionaram um bom momento de entretenimento, mas o seu grau de brejeirice e mesmo de ordinarice rasca nos seus sketchs ditos “comédia “, não se coaduna de todo com o contexto de uma festa religiosa. Mas porque o povo gosta, ri e bate palmas, tudo parece estar bem e o êxito mede-se sempre por aí. 

Creio que é possível numa festa de base religiosa ter um programa de entretenimento e qualidade artística sem cair no facilitismo da excessiva brejeirice e ordinarice. Por conseguinte, qualquer comissão de festas deve ter sempre algum cuidado na escolha do cartaz, porque numa festa religiosa e de identidade de uma freguesia, há muitas sensibilidades em jogo. Não é propriamente um festival de verão ou um parque temático onde vai quem quer, gosta e paga para isso. De resto, o que não faltam é bons grupos e bons artistas onde a sua qualidade intrínseca não depende de bailarinas esbeltas em movimentos insinuantes, de anedotas ou sketchs ordinários.

Mas este é e será sempre um tema polémico e contraditório, porque a banalização ou mesmo subversão de certos valores, incluindo os da religiosidade de uma festa de aldeia, está em curso já há muito.

Assim, em remate, importará sempre, parece-me, que haja bom senso e equilíbrio nas escolhas e nas decisões. A opção por situações de ruptura e confronto não é de todo positivo. Hoje em dia as sensibilidades estão todas em ponto de caramelo e basta uma gota para fazer transbordar o copo da indignação.

1 de agosto de 2022

À tripa farra, esfarrapadas


Uma das muitas virtudes em se percorrer trilhos, é que há sempre tempo e oportunidade para olhar, reter e captar pormenores. Afinal, desta forma, um minuto a mais nunca é um minuto perdido, mas ganho.

Ora das muitas coisas que vamos vendo, por este nosso interior próximo, e basta ter em conta o nosso próprio concelho, Castelo de Paiva, Arouca, Vale de Cambra, Sever do Vouga e S. Pedro do Sul, são mais que muitas as estufas abandonadas. Certamente que decorrentes de projectos iniciados com apoios a fundos perdidos e logo que estes terminaram, os projectos foram-se à vida e as instalações e equipamentos abandonados. Os exemplos são mais que muitos.

Ainda há dias, nas margens do Caima, em Vale de Cambra, uma instalação com viveiro de trutas, de grandes dimensões, desactivado e bandonado à lei da natureza, já com os espaços a serem dominados e absorvidos por plantas, silvados e mesmo árvores.

Este tipo de situações estão replicados por todo o país e quase todos têm em comum essa matriz de aproveitamento de fundos perdidos mas, no geral, logo depois, a desactivação, o desmazelo, o abandono.

Esta política de dar à mão-cheia, à tripa farra, foi dominante ao longo dos anos em que temos estado a mamar da teta da União Europeia e todos os seus programas no geral têm dado bom leite e boas mamadas a muitos empresários espertalhões que desapareceram com a mesma rapidez que apareceram.

Admito que por ora as coisas sejam mais controladas e escrutinadas, mas de facto, houve sempre muito esbanjamento, muito dinheiro investido que não deu nada, que pouca ou nenhuma riqueza gerou e se alguém mamou, foram obviamente aqueles que aproveitarem esse jorrar de dinheiro fácil e troco de pouco ou nada. No máximo, o serviço mínimo.

Face a este laxismo, a esta facilidade de lançar mão a dinheiros públicos, as coisas são como são e por isso, viveiros e sobretudo estufas, são mais que muitas por aí abandonadas. Têm um único aspecto positivo. O de servir como exemplo de más polítcas e de maus empresários. Enfim, o exemplo do que não deve ser feito sem rigor e sem compromisso e responsabilidade.

27 de julho de 2022

Big Brother e cuecas


Quem utiliza a internet e pesquisa assuntos ou produtos, já terá percebido que logo de seguida será bombardeado com publicidade a esses mesmos produtos. 

Por exemplo, se pesquisa cuecas, logo de seguida será atafulhado de propostas para cuecas de todos os tamanhos, cores e feitios, mesmo daquelas que têm buracos pela frente e por trás. Se pesquisa por locais de férias, de seguida será tentado com mil e uma propostas, desde um fim-de-semana em Escariz até um mês nas exclusivas ilhas gregas, Antilhas ou Caraíbas, como se tivesse uma carteira com o tamanho da do Cristiano Ronaldo.

Ora isso decorre dos algoritmos usados pelas operadores como a Google, Facebook, etc. Em rigor, como num Big Brother global, andamos constantemente a ser vigiados, onde vivemos, onde estamos, o que fazemos e os nossos gostos. E não há volta a dar pois não me parece que estejamos, sobretudos os mais novos, dispostos a fazer dietas rigorosas de uso de redes sociais e internet em geral, e capazes de deixar os telélés desligados na gaveta.

Esta situação para além de tudo o mais, tem outros efeitos perniciosos e até mesmo paradoxais. Por exemplo: Há dias doei um donativo para a Unicef como um simples contributo e dar um pouco mais de esperança de vida e cuidados médicos básicos às crianças do Corno de África (nomeadamente Somália, Etiópia). Não foi a primeira vez e não será a última, pela justeza da causa e pela idoneidade da entidade, mas sempre de acordo com a minha possibilidade e calendário. 

Pois bem, apesar de dar esses contributos, só porque o fiz e mostrei interesse e sensibilidade para com esse assunto, desde então que tenho sido bombardeado por anúncios ligados à Unicef e a essa causa, o que compreensivelmente me deixa incomodado. 

É como darmos uma esmola a um arrumador à porta de uma média superfície aqui nas redondezas, que dali não descola, apesar de já lhe ter oferecido trabalho para pedreiro ou trolha, que obviamente não lhe interessa porque significa trabalhar, e assim termos que apanhar com ele todas as vezes que lá vamos para o ajudar a angariar 100 euros por dia. E nas suas argumentações para a pedinchice, o homem já teve uma série de nacionalidades, desde marroquino a ucarniano. Depende da história que quer contar. Umas vezes porque tem uma doença, outras porque tem filhos na Ucrânia que quer resgatar, outras que tem a pobrezinha da mãe em Marrocos, a depender da sua ajuda.

Não compreendo, de todo, como é possível que alguém estrangeiro por cá continue indefenidamente, sem trabalho, a viver destes expedientes, e aparentemente sem qualquer controlo das autoridades.

Mas voltando ao assunto principal, tenham, pois, cuidado com aquilo que procuram porque, acreditem, estão a ser vigiados, já não por um qualquer bufo da PIDE mas por quem tem bem mais poder de seguir cada passo das nossas vidas, dos nossos gostos, preferências e mesmo pensamentos.

Nem fod... nem sair de cima


Um pouco a propósito do assunto das ORU, Operações de Reabilitação Urbana, de que se tem falado no nosso município, pela minha experiência e profissão chego a uma conclusão: Ao longo dos anos foram muitos os projectos submetidos a diferentes câmaras municipais, incluindo a Feira, para reconstrução e requalificação de construções antigas, na maior parte dos casos mantendo as características originais de fachadas, mas que, por inconformidades regulamentares, por vezes cegas, porque tratando edifícios antigos ou mesmo seculares, como construções novas e de raíz, outras vezes por "pintelhos" e questões de semântica, acabaram por ser reprovados. Com isso, na larga maioria dos casos, os proprietários desistem e os edifícios permanecem na mesma, ou mesmo pior, porque a degradarem-se de dia para dia e com isso até à ruína total.

Ou seja, por parte de quem controla e licencia, as Câmaras, muito raramente se conseguem equlíbrios entre o cumprimento dos regulamentos e a realidade muito específica de existências antigas, com todos os seus defeitos ou virtudes.

Assim, as leis e os regulamentos, por mais que lhes mexam, continuam a não ser capazes de dar respostas sérias e sobretudo ajustáveis e flexíveis à realidade do edificado antigo e que promovam e incentivem a sua recuperação, sem engulhos ou pintelhos, e não se baseiem, apenas, ou quase sempre, em matar o bébé à nascença, por inconformidades anacrónicas. Por mais que  retoquem a coisa, parece-me, assim não vai lá. E repare-se que o RJUE - Regulamento Jurídio da Urbanização e Edificação, emanado do Decreto Lei n.º 555/99, de 16 de Dezembro, já vai na sua 21ª versão. Por aqui percebe-se muito dos caminhos que levam a preferir ou a promover a existência de casas em ruínas do que casas requalificadas.

Por outro lado, face a estas dificuldades legais, algumas vão sendo restauradas sem qualquer controlo, clandestinamente. E, porventura, porque ficam novas, habitáveis, recuperadas e tantas vezes com qualidade funcional, e dotadas de todas as infra-estruturas básicas, digo eu, do mal o menos,

É o que temos!

21 de julho de 2022

Malhar em ferro frio


A malta irrita-se mas não há volta a dar. No geral falamos mal e escrevemos pior. Tenho-o dito e escrito, até de forma persistente, mas é tarefa ingrata, senão inglória, bem justificada pela máxima popular de que "lavar a cabeça a burros dá trabalho e gasta sabão". Mas prometo que vou continuar a gastar sabão, já que o sabonete é bem mais caro e só deve usar-se em cabeças de burros finórios.

Podemos todos ter mil e uma desculpas para esta nossa quase ileteracia, ou, bondosamente, azelhice, mas creio que todos, pelo menos de há meio século a esta parte, andamos na escola, tivemos as mesmas oportunidades de aprender. E os velhos professores, pouco ou muito ao contrário dos novos, até nem davam moleza nessa trilogia do saber ler, escrever e falar. Ah, pois, e as contas... Mas essas, as contas, são outras contas.

Por conseguinte, se não lemos, escrevemos e falamos bem, ou pelo menos benzinho, é porque disso nunca fizemos questão. Que importa trocar os "vês" pelos "bês", mesmo não se sendo tripeiro? Que importa saber se aquele pequeno fruto doce e sumarento é cereja ou cereija ou mesmo sereija? A quem interessa que não se deva dizer "houveram pessoas" em vez de "houve pessoas", porque o verbo "haver" é impessoal e só se conjuga na terceira pessoa do singular, nas frases em que o seu significado equivale a existir? Ainda, serão poucos os que se preocupam se forem pedir um"concelho" ao presidente do "conselho".  O autarca até poderá nem dar pela troca desde que o munícipe lhe garanta o "boto". Ademais, se a coisa estiver amarga, adoça-se com açúcar ou "assucar", com ou sem "acento" porque o "assento" dá jeito ou "geito" quando estamos cansados desta conversa, ou será "converça" ou mesmo "comberssa" ? Estamos conversados ou pelo menos "comberssados".

Mas como somos bons nas desculpas, desculpamo-nos sempre. Como diz o bom português, principalmente o que escreve mal, "não é por isso que não nos entendemos!" Pois não! E se assim nos entendemos, "bora lá, a continuar a escrever mal!" e se nos servir de consolo ou "conçolo", não estaremos sós nesta demanda. Esta do "bora" usada por tudo e por nada, quase parolamente, também dá que falar e dará pano para mangas.

Em resumo, alguns de nós leem jornais, outros livros, outros ambos, mas, no geral, e sempre não generalizando, a maioria não lê uns nem outros e muito menos com a preocupação de aprender ou reaprender. Ora quem não lê nem escreve de forma rotineira e interessada, não exercitando, dificilmente fala, lê ou escreve bem. Vemos muita malta a correr e a saltar com frequência, "para manter a forma física", o que é positivo, mas já quanto ao "manter a forma" a ler e a escrever, esquece ou mesmo "esquesse". Somos muito esquecidos ou "esquessidos", talvez devido ao "eixesso" de "keijo".

Para além de tudo, mesmo, lendo e escrevendo mal, somos também uns mestres no uso e aplicação de estrangeirimos, sobretudos os anglicismos, empregando-os por tudo e por nada. Como exemplo, é ver o que por aí vai no mundo dos eventos e provas desportivas: Eles é run, trails, trophy, challenge, etc. Se não tiver um nome ou uma designação em inglês, a coisa não será fixe porque "démodé". Voilá!

Last man standing! I'm out!

15 de julho de 2022

Incêndios. Mais do mesmo!


Nesta altura do ano, Verão, os incêndios tornam-se o "pão-nosso-de-cada-dia". É mais do mesmo! Abrem e fecham telejornais, fazendo esquecer a Covid, a Guerra na Ucrânia, os caos nos aeroportos e SNS.

Como alguém disse, nunca houve tantos meios, tanto dinheiro, tanta coordenação, tantos bombeiros com formação, tanto especialista em teatro de operações, até o presidente da república, nem tantos meios terrestres e aéreos. Nunca houve tantas proibições nem tantas obrigações e, contudo, os incêndios são cada vez mais, e ano após ano temos esta persistente realidade de que as coisas não mudam ou se sim, para pior.

E de quem é a culpa? O Governo diz que são as pessoas, como se fôssemos todos irresponsáveis, bandidos e criminosos. As pessoas dizem que são os criminosos e os lobies da indústria dos incendios (bué de lucrativa). As pessoas também dizem que é do Governo, das Juntas, das Câmaras e das autoridades, que multam uns e não multam outros. Obrigam uns a limpar a erva e permitem a outros as manchas compactas de arvoredo a cobrir as estradas (Em Guisande é um fartote). Enfim, um rol de culpas, responsabilidade e incompetências. Todos com e sem razão.

Mesmo que os javalis não fumem nem os texugos usem roçadoras nem os coelhos façam churrascadas, a verdade é que os grandes incêndios, aqueles que têm impacto, deflagram invariavelmente a altas horas da noite e mesmo de madrugada, em que são detectados mais tarde e os alertas transmitidos quando a dimensão é já grande. Mas aqui o Governo desvaloriza e continua a apontar baterias para a irresponsabilidade dos cidadãos.

Por sua vez, os criminosos, tantas vezes apanhados em flagrante, são ouvidos em Tribunal e postos cá fora para dar continuidade à actividade, quando deviam ser obrigados a irem de férias para a Gronelândia nos meses de Verão.

E não! A culpa não será também das alterações climáticas, porque se é certo que os verões são cada vez mais secos, certo é que já nos antigamentes os meses de Verão eram muitos quentes e também havia vagas de calor. Mas havia uma coisa que agora não há: Limpeza sistemática das florestas e áreas agrícolas e seu total aproveitamento económico, mesmo que ao nível familiar. Tudo no mato era aproveitado, desde o tojo aos gravetos, ramos, caruma dos pinheiros e folhas. Era uma maravilha caminhar pelos matos. Pareciam campos. Um incêndio por esses tempos eram mesmo uma coisa rara e havia mais gente a trabalhar nos campos e matos, o que agora se proibe. Credo, em cruz! Passear nos matos? Nem pensar!

Hoje em dia é o que se vê: Os modos de vida alteraram-se, dizem que para muito melhor, e por isso já ninguém precisa de andar ao mato ou às pinhas. Assim, a floresta cresce de forma selvagem, acumulando-se matéria combustível ano após ano, até que venha novamente o fogo para limpar e o ciclo recomeça. 2+2=4.

O Governo prefere pagar todos anos balúrdios de milhões à indústria dos incêndios, em vez de promover e subsidiar as limpezas e acções de vigilância e prevenção. O Governo proibe e obriga, muitas vezes de forma contraditória, retirando capacidade de ganho económico a quem tem propriedades florestais, pequenas ou grandes, levando ao seu desinteresse e abandono. 

O Governo não se impõe no ordenamento da floresta e não tem política florestal. Vai-se falando disso sempre que a coisa dá em tragédia. O Governo não limita nem reduz a mancha de eucaliptos nem promove a obrigatoriedade de plantar árvores autóctenes de modo a contrabalançar gradualmente a diversidade dos povoamentos florestais. O Governo não promove a abertura e alargamento de caminhos, estradões e aceiros. Enfim, um Governo ou Governos que, mandato após mandato, se mostram ineficazes apesar de muita conversa para adormecer burros.

Por conseguinte e em resumo, as coisas são como são e cada vez vão ser mais do mesmo até que o país seja uma macha cinzenta. Afinal, o que não tem remédio, remediado está!

12 de julho de 2022

O gangue das churrascadas e roçadoras


1) Proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais previamente definidos nos Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios, bem como nos caminhos florestais, caminhos rurais e outras vias que os atravessem;

Esta é a primeira de um conjunto de 5 medidas preventivas definidas pelos serviços de Protecção Civil no âmbito da Declaração da Situação de Alerta devido às altas temparaturas e ao risco de incêndios.

Parece-me, a mim, ao contrário das demais medidas (que abaixo transcrevo), despropositada, abusiva e atentatória de liberdades, direitos e garantias.

Desde logo porque assenta em pressupostos naturalmente errados de que todos somos uma cambada de irresponsáveis e criminosos a ponto de não podermos circular livremente nas nossas florestas e caminhos públicos. 

Pegando nos mesmos pressupostos de quem determinou essa desproporcionada e mesmo abusiva medida, porque não proibir os condutores de utilizarem estradas e auto-estradas sob o argumento de poderem causar acidentes ou serem vítimas deles? Em rigor qual a diferença? É que acidentes nas estradas são diários e com consequências de ferimentos, mortes e prejuizos materiais.

Por outro lado: Há dias foi detido o presumível autor do maior incêndio florestal deste ano, e isto porque houve testemunhas. Ora proibindo as pessoas de acederem aos espaços florestais, mesmo e apenas para simples caminhadas, os criminosos podem agir à vontade sem risco de serem testemunhados.

Ou seja, quando seria de aumentar a vigilância das florestas e com ela a dissuasão dos criminosos, constata-se e promove-se o contrário.

Recordo-me, de aqui há alguns anos, um colega estar a fazer BTT numa floresta da zona e detectou o início de um incêndio. Conseguiu combater o seu alastramento bem como deu o imediato alerta às autoridades e bombeiros. Não fora isso, e proibido que fosse de andar por ali, o incêndio tinha alastrado e atingido naturalmente outras proporções.

Mas as nossas autoridades pensam de maneira diferente e por isso não surpreende que de ano para ano, apesar de medidas e mais medidas, proibições e mais proibições, obrigações e mais obrigações, de limpezas e outras que tais, os incêndios sejam sempre um fartote. Os criminosos, autores comprovados dos maiores incêndios florestais, esses são relevados. Os cidadãos, esses são os criminosos que só pensam em churrascadas e roçar mato, como autênticos gangues de malfeitores e, por isso,  há que lhes pôr a rédea curta. O Estado não confia, de todo, nos seus cidadãos. Devemos nós confiar no Estado?

É o que temos.



Restantes medidas:

2) Proibição da realização de queimadas e queimas de sobrantes de exploração;

3) Proibição de realização de trabalhos nos espaços florestais com recurso a qualquer tipo de maquinaria, com exceção dos associados a situações de combate a incêndios rurais;  

4) Proibição de realização de trabalhos nos demais espaços rurais com recurso a motorroçadoras de lâminas ou discos metálicos, corta-matos, destroçadores e máquinas com lâminas ou pá frontal.

5) Proibição total da utilização de fogo-de-artifício ou outros artefactos pirotécnicos, independentemente da sua forma de combustão, bem como a suspensão das autorizações que tenham sido emitidas;

A proibição não abrange:

1) Os trabalhos associados à alimentação e abeberamento de animais, ao tratamento fitossanitário ou de fertilização, regas, podas, colheita e transporte de culturas agrícolas, desde que as mesmas sejam de carácter essencial e inadiável e se desenvolvam em zonas de regadio ou desprovidas de florestas, matas ou materiais inflamáveis, e das quais não decorra perigo de ignição;

2) A extração de cortiça por métodos manuais e a extração (cresta) de mel, desde que realizada sem recurso a métodos de fumigação obtidos por material incandescente ou gerador de temperatura;

3) Os trabalhos de construção civil, desde que inadiáveis e que sejam adotadas as adequadas medidas de mitigação de risco de incêndio rural.

10 de julho de 2022

Desprezo



Bem sabemos que, por novos modos e estilos de vida, algumas coisas perderam a sua importância quanto à sua finalidade. Todavia, e tome-se como exemplo este antigo lavadouro com fonte, mesmo já sem utilização, frequente ou mesmo residual, parece-me que continua a ser um elemento do património colectivo e rural de uma terra. Afina de contas, parte intrínseca da sua cultura e identidade. 

Ora quando tal é desprezado ao ponto de nem merecer, sequer,  uma limpeza envolvente, então algo está mal e quem tem essa responsabilidade e quem representa essa terra e comunidade, não tem muito como justificação. 

O problema, apesar de tudo, é que a maioria dos cidadãos que elegem esses tais representantes, e que lhes conferem a legitimidade, padece, ela própria, de falta de sentido de comunidade e de orgulho e amor à terra. 

A coisa está a ser erodida há muito e já pouco mais há a fazer. 

Os mais velhos, aqueles que ainda sentem nos pés e na alma o apego das suas raízes, e conhecem os lavadouros e as fontes, e as memórias a elas associadas, são cada vez menos e as suas vozes e estados de alma  já pouco são considerados porque, por questões naturalmente compreensíveis, não são dados a fazerem-se ouvir pelas redes sociais. São raros os casos e mesmo esses, pregando no deserto, acabam por desistir .

É pena, mas, como diz o meu amigo Pinto, numa sentença como pé para toda a chinela, "...as coisas são como são!!

30 de junho de 2022

Furiosamente fixe


Portugal parece estar na moda como local e cenário para filmagens de cenas de exterior para diversos filmes. O caso recente de "Velocidade Furiosa 10", com cenas a gravar em Portugal, tem sido público e já deu azo a polémicas, nomeadamente em Lisboa, com o corte previsto de ruas.

O país, pelo Estado ou pelas autarquias, investe milhões em incentivos à vinda destas produções e dizem que o retorno é superior. 

A verdade, porém, porque há números e aspectos contratuais que serão sempre segredo, em rigor qualquer proveito é sempre residual e apenas para alguns. O comum dos portugueses, como eu e quem eventualmente lê estas palavras, nunca verá no seu bolso um cêntimo que seja resultado da coisa.

Depois há sempre uma certa (muita) parolice só porque alguns locais do país são palco de filmagens. Na realidade, as cenas destes filmes, como o caso de "Velocidade Furiosa", são sempre muito rápidas e curtas e muitas delas alteradas digitalmente pelo que em rigor quando alguém assiste ao filme não vai estar a apreciar a paisagem e muito menos saber que é de Portugal, Itália ou de outro sítio qualquer. Um dia de filmagens pode resultar numa cena de 5 segundos. Vai é ver tiros, muitos, explosões, a potes, choques à fartazana, etc, etc. De resto o "Velocidade Furiosa" é tudo menos cinema para apreciar a natureza. Para isso, temos o BBC, Vida Selvagem ou o National Geographic.

Mas, ok, vamos fazendo de conta que é uma coisa fixe ter cá o Vin Diesel e Companhia, e que Portugal e todos os portugueses ganham balúrdios de massa com isto. Pessoalmente estou a contar que me dê para pagar umas férias de sonho numa qualquer ilha paradisíaca.Não quero por menos. Obrigado Toretto!

Mas, ok, agora a sério: Apesar de não ser o que parece, não deixa de ser positiva esta exposição mediática do nosso país, com uma indústria que rende milhões e milhões a vir cá aproveitar incentivos, serviços e mão-de-obra baratucha. Com este mediatismo, de algum modo, há sempre excursões a quererem vir ver as novidades, e por onde passam vão deixando algum, no Porto e em Lisboa, sobretudo. 

Pena que Guisande não seja palco de filmagens, nem sequer do Domingão da SIC.

Tretas! Bullsith!