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4 de abril de 2024

Irritações

Eu irrito-me! Claro que sim! E quem com um bocadinho de senso crítico, capaz de distinguir uma sardinha de um arenque, não se irrita com certas coisas que se vão expondo ao público como em tendas das feiras os casacos, calças e cuecas?

Ora nesta feira, de vaidades, que é o Facebook, são mais que as mães as situações. É um sítio digital, é certo, mas bem que pode ombrear com qualquer terra de fenómenos e milagres, como o Entroncamento ou Fátima, tal é a quantidade de coisas dadas como extraordinárias. É ver os novos inventores da pólvora e da roda, os mestres das coisas fantásticas, os modernos Midas que em tudo que tocam, incluindo cagalhotos, se transforma em ouro. E todos bem considerados e como bons pastores, seguidos por rebanhos fiéis e bajuladores. Mée, mée, mée!

Olha p´ra mim em pé! Olha p´ra mim sentado! Olha p´ra mim a correr! Olha p´ra mim a saltar! 

Olha p´ra mim na praia, no restaurante, junto à cascata, no passadiço, na rua, a segurar o cão, a acariciar o gato! 

Olha p´ra mim vestidinho de cor-de-rosa, de azul, de amarelo, às riscas, aos quadrados, às pintas!

Olha p´ra mim! Olhem p´ra mim! Sim, porque tudo gira  à minha volta. Sou o sol, o centro do universo!

Arre, que é dose!

Estamos na era dos "influencers" e estes existem, prosperam, porque há sempre idiotas chapados que os seguem, e cada peidinho que os seus influentes traseiros tenham a bondade de partilhar, recolhem uma milada de gostos e partilhas. É disso que vivem!

Haja paciência! 

...Ups! Estava com o microfone ligado! Estava a brincar! :-)

25 de março de 2024

Viver não custa, custa é saber viver

Não tenho inveja de quem vive bem à custa do seu talento, da capacidade de trabalho e seu suor. Já o contrário, dos outros é que não. E não faltam destes a viver à fartazana, rodeados, eles e os seus, de tudo, do bom e melhor. Ele é boas casas, de boas vistas, com amplas garagens, potentes carros, motas, bicicletas, relógios de ouro, piscinas, churrasqueiras, ginásios, etc, etc. Sempre bem vestidos e calçados, perfumados, unhas e cabelos nos trinques, férias a toda a hora, mesmo passando fronteiras, etc, etc. Alguns até se permitem a viver à grande e à francesa em suites de hotéis de luxo, não de férias, uma vez por outra, mas como residência. Outros até têm motoristas que acumulam a leal função de entregas de envelopes atestados de notas vindas dos cofres generosos de mãezinahs ricas e amigos empresários de sucesso. Vidinhas fartas, é o que é.

Ensinado pela vida de que só com o trabalho se pode aspirar a uma vida condigna, mesmo que sem luxos, e certo de que lotarias, totolotos e euromilhões são sortes tão prováveis acontecer como a uma hora certa cair um meteorito pelo buraco da nossa chaminé, sempre desconfio de quem vende cabritos sem ter cabras, mesmo que não um rebanho, pelo menos as suficientes para alimentarem um pastor e família.

Mas isto sou eu, com a mania de que na vida as coisas devem ser justificadas e merecidas e devem obedecer ás leis da física, da matemática e da biologia, ou, mais prosaicamente com o parecer a encaixar no ser. Mas, estou certo, ando de passo desacertado, porque isso é esperar ciência complexa quando a alguns basta fazer as contas básicas de contar pelos dedos para perceberem que juntar o que ao próximo se subtrai é somar para si. Afinal, o que vai dando é o viver à custa dos outros, com estratagemas, chico-espertices, burlar tanto o vizinho como o Estado, desenvolver uma teia de negócios escuros e obscuros e com trabalhos invisíveis ou nocturnos sem que sejam padeiros ou agraciados com milagres divinos.

Eles andam por aí, tantas vezes disfarçados de empreendedores, de empresários, de políticos, etc. Em suma, gente esperta e qualificada para viver sem nada fazer. É uma classe em crescimento, reconheça-se. 

14 de março de 2024

O carteiro já não toca duas vezes


Vão longe os tempos em que o carteiro nos merecia tanta confiança quanto o médico ou o padre. 

Como sou rapaz que já não vai para novo, ainda sou do tempo em que o carteiro andava de bicicleta e quando passava ao fundo do lugar, o toque da sua corneta chamava a gente que esperava carta. Era assim diariamente e quase sempre com pontualidade.

Mas isso já foi há muito, num tempo em que havia a mania das pessoas serem sérias e responsáveis cumprindo a sua profissão, sobretudo quando implicavam serviço público, com honra e sentido de dever.

Hoje em dia todos sabemos  como é que andam os correios, o CTT, numa balbúrdia tal que já nem sabemos se é carne, peixe ou nem uma coisa ou outra. Terá dono? Quem manda? Quem responde pelo reles serviço prestado?

Por conseguinte, pelo menos por cá, anda tudo ao sabor do vento e a correspondência vai sendo distribuiída conforme dá mais jeito. Assim, não raras vezes, alguma dela chega tarde e a más horas e mesmo com prejuízo. Ainda agora, nesta semana, a minha esposa recebeu uma convocatória para um rastreio já depois da data. Mesmo para a entrega de uma carta registada não se perde tempo a verificar se está alguém em casa. É mais fácil e rápido e colocar o aviso de que terá que ser levantada no posto, com a fácil justificação de que ninguém atendeu. 

Certamente que para além de um eventual mau profissionalismo,  no geral os próprios carteiros são vítimas do sistema e desorganização da empresa, que não lhe dá as devidas condições de trabalho e de acordo com as responsabilidades, porque não raras vezes andam assoberbados de correspondência para circuitos extensos e horários apertados.

Com frequência há relatos de atrasos nas cartas de cobrança de serviços, como dos telefones, da água e electricidade, levando, por falta de pagamento atempado, à aplicação de coimas, ameaças de cortes e de todos os incovenientes para pagar depois dos prazos.

Uma autêntica balbúrdia e obviamente que não há como fazer queixa porque é causa e tempo perdidos. Posto isto, e para além da questão da desorganização dos postos, que vão sendo suprimidos ou mudados de poiso, o carteiro já não toca duas vezes e na maior parte das vezes já nem toca vez nenhuma.

28 de fevereiro de 2024

Cenouras gratuitas

Uma certa Junta de Freguesia, no Facebook, anunciou como "novidade" aulas de fitness para a população, "totalmente gratuito". Numa das partilhas da "novidade", alguém considera que "isto é que é uma freguesia preocupada com os habitantes".

Respeitando ambas as coisas e o benefício fantástico de tão espectacular medida, questiono o que é que as pessoas acham do "totalmente gratuito". Se os orientadores, o espaço, a electricidade, a limpeza e custos associados forem mesmo oferecidos, pró bono, à borlix, acho que sim, é de aproveitar a quem gosta. Dê-se já um voto de louvor a essa boa gente.

Já se a coisa, aos orientadores, os espaços, água, electricidade, e logística, forem do orçamento da Junta, aí o "gratuito" tem que se lhe diga. É o que o orçamento da Junta vem de algum lado, da Câmara, do Estado, e em última análise dos impostos e taxas dos contribuintes. Por conseguinte, e é aqui onde pretendo chegar, o conceito de "gratuito" é sempre muito relativo. Fazer brilharetes com o dinheiro dos outros, mesmo que dos contribuintes, é uma alegria. Mas partilhado nas redes sociais tem impacto e cheira a coisa bonita e há quem goste. 

Num tempo em que ninguém dá nada a ninguém, espanta que alinhemos com facilidade nestas cenouras à frente do burro sem qualquer sentido crítico quanto a qualquer forma de "engana-me que eu gosto".

7 de fevereiro de 2024

Sem contar para nada

Parece que foi ontem, mas em 1992 deu entrada na Câmara Municipal o projecto da minha habitação e pouco depois começou a construção.

Já nessa altura éramos um país de sonhadores e se ainda não havia leis que obrigassem a fazer garagens para nelas caberem três Mercedes (e lá chegaremos), já era obrigatório apresentar projecto de rede de abastecimento de gás natural e a sua ligação à rede pública. Gastei pois, como muitos milhares, mais umas boas massas com o projecto e com o picheleiro a instalar a rede e a caixa-de-contador no muro da rua.

Mas se neste país não faltam politicos sonhadores, sobretudo a fazerem coisas com o dinheiro ganho por terceiros, como uns que defendem agora que os ricos devem repartir com os jovens um pézinho de meia para começarem as extravagâncias da vida, a que chamam como Herança Social, há igualmente outros que, desculpem a boa expressão popular,  "não fodem nem saem de cima" e por isso tantas coisas não passam de projectos. Tem sido assim com os nossos aeroportos, com a ferrovia, com  a habitação, etc, etc.

E também foi assim com a rede de gás natural que apenas foi realizada em certos lugares. Tal como as redes de água e saneamento que foram feitas e obrigados os contribuintes a ligar e pagar, mesmo que as dispensassem, mas outros ainda hoje necessitados delas foram deixados de lado. Tudo isto em nome da vantagem económica das concessões porque o serviço público puro e duro é e será sempre coisa secundária.

Por conseguinte, na minha casa e de muitos portugueses, passados trinta e tal anos a coisa ainda não foi instalada e nem porventura daqui a mais trinta. Assim, a caixa do contador do gás está ali como um monumento e uma lembrança permanente à megalomania dos nossos políticos e autarcas autênticos fazedores de chuva e exímios a andarem com o carro à frente dos bois. 

Tenho uma grande estima por aquela caixa de contador do gás porque tal como uma grande parte dos nossos governantes nacionais e locais, nunca contaram para nada mas contam a qualidade da lata de quem nos obriga a estes paradoxos. 

5 de fevereiro de 2024

O que é que andam a beber ou a fumar?

Eu pecador me confesso: Comecei a trabalhar numa fábrica um mês antes de completar 12 anos de idade. O meu ordenado começou em 900 escudos. Saí dessa fábrica para cumprir o serviço militar obrigatório, que durou 2 anos completos, em que o valor do pré recebido não dava sequer para as viagens de comboio de Espinho a Lisboa, mesmo que com direito a desconto, quanto mais para outras coisas da juventude. Felizmente não fumava nem bebia. Foram-se as poupanças porque dos pais também não podia esperar ajuda e mesadas é coisa de meninos ricos ou com papás bem remediados e até esses arranjavam quem os livrasse, nem que fosse por uma unha encravada.

Terminei a tropa e vi-me sem emprego porque na fábrica entretanto matara-se o patrão e encerrara a actividade e ainda com algum dinheiro por receber e que jamais recebi. Não tive nem nunca tive subsídio de desemprego e tive que rabiar a arranjar ocupação, mesmo que precária, até chegar a emprego com maior estabilidade o que aconteceu ainda antes de casar. 

Depois casei, comprei terreno, fiz projecto e construi casa, e literalmente, porque com muita mão-de-obra dispensada porque o dinheiro era contado e em parte com um empréstimo que, na parte final, ainda pago e sem incumprimento ao longo de quase 25 anos. Criei e eduquei filhos, cães e gatos, e continuando esse encargo filial mesmo já depois de adultos. Pelo meio, com muita actividade cívica e associativa que me orgulha, consegui completar formações profissionais e escolares e obter o nível secundário e andam por aí doutores e engenheiros a quem não lhes reconheço mais competência ou conhecimentos, mas as coisas são mesmo assim, porque neste país um burro carregado de livros há-de ser sempre doutor. E isto, pouco ou muito, sempre sem qualquer apoio ou subsidiozito. 

Dizia o poeta cubano José Martí que "Há uma coisa que um homem deve fazer na sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro." Ora árvores plantei muitas, filhos tive dois e livros já escrevi também dois e ainda outros em projecto. Assim, a ter em conta essa filosofia, o dever foi cumprido.

Neste simples percurso de vida pouco ou nada recebi do estado social, incluindo, felizmente, por situações de baixa médica, mas a ele, pelo contrário, sempre paguei e continuo a pagar, impostos, contribuições, desde parte dos rendimentos de trabalho, a IMI da casa que construí com o meu esforço, IUC, como IVA em cada rebuçado chupado, em cada cerveja bebida, em cada litro de gasolina gasto e pão comido. Consultas e exames e um ou outro episódio de urgência médica foram sempre, graças a Deus, raros e rápidos. Apesar disso, e porque agora preciso, uns exames prescritos e marcados no Hospital da Feira vão já no 4.º reagendamento e um ano depois não tenho certeza de quando virão a ser feitos. Se tentar marcar hoje uma consulta no médico de família arrisco-me que seja atendido só lá para a Festa do Viso, em Agosto. É este o nosso SNS tão ideológica e radicalmente avesso a outras opções que deem respostas a quem delas precisam. Mas há quem o defenda assim, sem tirar nem pôr. Perguntem ao neto do sapateiro, o que acha do assunto!

Este é o meu exemplo, retrato comum e vulgar, mas como ele ou semelhante no percurso, o de muitos milhares de portugueses mais ou menos da minha geração, que não nasceram de cu para o ar ou em palhas douradas,  e que tanto deram a este país e pouco ou nada receberam para além de pagar impostos, adiamentos de consultas e exames, multas por dá cá aquela palha e outras desconsiderações como uma reforma tardia mesmo para quem começou cedo, mesmo cedo demais. 

Alguns, mais espertos ou mais ousados, pelo menos foram para outras bandas onde o rácio do dar e receber é bem mais justo e alguns até por uma simples dor de cabeça ou um osso amassado por terras da estranja, e que aqui seriam ossos do ofício porque trabalham no duro velhos e coxos, vivem de há anos com rendimento mensal garantido, sem fazer puto, usufruindo de uma larga e dourada reforma. Por aqui, com esses atributos, só mesmo alguns felizes reformados de um certo funcionalismo público que em certo tempo teve tetas fartas.

Mas são diferentes os tempos e até temos um partido de um homem só que quer criar uma Herança Social para ajudar os jovens entre os 18 e os 35 anos, para começarem a vida, eles que até essas idades limitaram-se a ser encargos pesados para os pais, tantas vezes hipotecando alguma folga na reforma, gastando e investindo nos filhos recursos minguados.

Esta é a realidade e o tempo da subversão das ideias e ideais e sempre à custa de quem trabalha e produz. Certos políticos extremados têm inveja ou mesmo um ódio de estimação a quem produz e a quem teve a descaradeza de trabalhar e poupar. Por ora, armados em robins dos bosques,  a apalogia de dar a cana e ensinar a pescar é uma merdice, uma treta, porque o que se vai defendendo é dar o peixinho pescado e se possível limpo de tripas e já temperado. Mais uns tempos à frente e o peixe será servido em louça da Vista Alegre,  pronto a meter-lhe os dentes. 

Sou a favor do Estado Social e dos justos apoios a quem realmente deles carece, com critérios de aplicação rigorosos e escrutinados a todo o momento, mas não o que promove e apoia a sornice, a subsídio-dependência, o chico-espertismo, e sobretudo sem respeitar, em contraponto, quem trabalhou, trabalha e cumpre deveres e obrigações. 

Que estranhos tempos estes em que se desrepeita quem fez pela vida mesmo que em condições difíceis. Esta gente ou anda a beber e a fumar coisas estranhas, ou a tomar comprimidos para bater na tola, ou então vive numa bolha muito singular mas em ambos os casos a pedirem que os mandem para aquele sítio onde apanhar sabonetes do chão é perigoso.

Desculpem qualquer coisinha os mais sensíveis, mas chegado a esta idade já não há pachorra nem paciência para aturar certos desmandos e para certas pessoas e políticos, pouco mais resta que mandá-os todos à merdinha, isto para ser diplomático e não responsabilizar as mãezinhas que, sem culpa, os pariram.

30 de janeiro de 2024

Atrás dos sonhos a coxear


Amiúde, porventura com uma frequência que mais que incentivar só banaliza, lá vamos ouvindo e lendo que não devemos deixar de ir atrás dos nossos sonhos e que importa sempre não desistir de lutar por eles. O que não falta nos livros são pensamentos sobre os sonhos, mais ou menos lineares ou filosóficos como o de Fernando Pessoa: "De sonhar ninguém se cansa, porque sonhar é esquecer, e esquecer não pesa e é um sono sem sonhos em que estamos despertos" ou do António Gedeão com o intemporal "O sonho comanda a vida" no poema da "Pedra Filosofal".

Mas qual quê? Todos os sonhos ou só aqueles que é lícito pensar como exequíveis e no tamanho da nossa natural passada? É que também sempre fomos ouvindo como conselho que não é sensato dar passos maiores que as pernas, vender cabritos de cabras que não temos e que quem alto sobe mais dói a queda. Há ainda a fábula do sapo que queria ser boi a ponto de se insuflar até estourar. Como se não bastasse, ainda a realidade pura e dura sempre a dar lições mesmo que nem todos queiram aprender.

Além do mais, ouvir tais conselhos em ir atrás dos sonhos por parte de quem vive num mundo de fantasia, onde as nuvens são cor de rosa como as revistas que existem para falar deles próprios, não é lá grande pistola. Ou isso ou ler com todas as letras em livros de auto-conhecimento e auto-ajuda, como se os seus autores sejam gente experiente tanto na na caça aos sonhos como aos gambuzinos, desinteressada e metida a distribuir incentivos como a repartir fortunas ou a ensinar os truques e segredos de como as alcançar. Sempre fiquei de pé atrás quanto a maluquinhos que vendem a troco de tostões curas milagrosas, receitas milionárias, galinhas de ovos de ouro, heranças de príncipes tribais africanos, etc. Mas isto sou eu e poucos mais, porque no geral o que não faltam por aí é vítimas de sonhos, de aldrabices, contos do vigário, vendedores de banha da cobra, desde os mais suspeitos aos mais respeitáveis atrás de balcões de instituições, bancárias incluídas. Mas pior do que essa gente "preocupada" com os nossos sonhos é haver quem, mesmo acordada e de olhos abertos, se deixe embalar no dorso de unicórnios e cristas de dragões.

Os sonhos, para além dos aspectos e interpretações filosóficas e poéticas, são isso mesmo, sonhados a dormir ou  bem acordados, mas quase sempre longínquos e inalcançáveis que não por sortilégio de muito trabalho, de um grande prémio nos jogos da Santa Casa ou de ambos. Ora nos dias que correm poucos são os que chegam aos calcanhares dos mais ambiciosos sonhos apenas com vontade, trabalho e dedicação. No resto andamos todos a sonhar acordados, a fazer viagens a tudo quanto seja canto neste planeta esférico, a olhar as horas em relógios de ouro, a passar umas noites com as mais belas modelos, a pernoitar nas mais luxuosas suites, a ter segundas e terceiras casas em paraísos turísticos, um portefólio de máquinas como motos, carros, iates e jactos.

Ora, ora! Isso será apenas para alguns, pelo menos para o 1% das figuras que detêm 99% da riqueza mundial, onde talvez para além dos Musks, Gates, Bezzos e Zuckerbergs, estejam por lá o Ronaldo e o Messi. Para os restantes 99% resta-lhes, quando muito, irem sonhando os sonhos dos outros.

Não fora a importância da realidade e do ter ambos os pés bem assentes na terra, e também eu andaria ocupado a correr atrás de certos sonhos. Mas porque raio não sonho em ter fortuna material, casas, carros, motas, relógios e milhões no banco? Logo só me dá para sonhar em voar como as águias, correr como um alazão, saltar como o Spiderman, poder tornar-me invisível, viajar através do tempo, percorrer pelo universo como o Superman, etc, etc, como se fora um dos milhentos herói da Marvel. Que raio de sonhos! É que para estes não há receita que os transformem em realidade e por isso só mesmo sonhando, de preferência a dormir.

Em resumo, a mim, e creio que a todos, bastará ter saúde e ser feliz com o que temos, usando de honestidade e honradez e sem prejudicar os demais, mas haverá sempre quem ache isto sonhar rasteiro e sinal de falta de ambição e daí não surpreende que os sonhos de uns se concretizem com o atropelo e pesadelo de outros. Talvez por isso haverá sempre e cada vez mais no nosso modelo de sociedade ocidental uma legítima justificação dos meiso face aos fins, como parafraseava Maquiavel. Talvez...

28 de janeiro de 2024

Não há pachorra


Entre o que se vai passando na Madeira  dos Albuquerques e Calados, com os Cafofos já a aprontarem-se para um segundo round, e a campanha eleitoral nos Açores com Cordeiros e Bolieiros nos lados opostos da barricada, por cá também em pré-campanha, de um lado e doutro vamos ouvindo umas fogachadas, como se nós, eleitores, sejamos todos uma cambada de mentecaptos incapazes de distinguir certas coisas.

Por exemplo Pedro Nuno dos Santos, o neto do sapateiro, candidato a primeiro ministro pelo partido Socialista, diz que há cinco autoestradas (SCUTs) em que vai deixar de se pagar portagens no caso de o PS formar governo nas próximas eleições. E justifica-se de que os anteriores governos fizeram uma "maldade aos portugueses". E afirma-o com uma convicção tal que parece alheio ao facto do seu partido ter governado o país nos últimos 10 anos, dele fazendo parte, como se não fora tempo bastante para, logo no primeiro ano, concretizar o que uma década depois promete. Parece igualmente ignorar, ou esperar que não nos lembremos, que tal promessa havia sido já feita pelo seu correligionário António Costa em 2015 e que nunca foi cumprida. Realmente, uma maldade nunca vem só asim como a falta de memória.

Da esquerda à direita, passando pelos extremos, vamos assim assistindo a um bombardeamento de atoardas que mais do que incentivarem ao voto quando o calendário marcar 10 de Março, convidam, em boa verdade, à abstenção, ou então ir votar e nos boletins, em vez da cruzinha no sítio certo, desenhar uns manguitos ou uns erectos marsapos.

Não há pachorra!

18 de janeiro de 2024

Já há luz mas cerejas só lá para Maio.

Há uma semana dei conta aqui de que reportei à E-Redes uma avaria na iluminação pública no troço da Rua da Leira até ao limite com o lugar de Azevedo, o qual se encontrava às escuras há várias semanas. Independentemente de mais alguém ter reportado ou não a situação, e tenho dúvidas que sim, certo é que já foi restabelecida a ligação. Grosso modo foram ligados meia-dúzia de postes com iluminárias.

Mas escusam de agradecer, que a E-Redes também não agradece. Nesta nova modernidade dispensam-se funcionários na fiscalização e conta-se com o serviço dos contribuintes, naturalmente  à borla. O trabalhar pró bono tem agora o eufemismo de "cidadania".

É o que é, e quem quer comer cerejas tem mesmo que trepar à cerejeira e ainda pagar imposto delas.

17 de janeiro de 2024

TAP - Tenham Alguma Paciência (que isto ainda dura)

Quem segue as notícias sabe mais ou menos das broncas e grandes trapalhadas que têm voado à volta da TAP, uma empresa que alguns políticos teimam em classificar de estratégica para o país, mesmo que a maioria dos portugueses, os mesmos de cujos bolsos comuns saíram 3 mil e 200 milhões de euros para a sua dita reestruturação, nunca tenha posto o cu nos assentos dos aviões nem viajado sequer de Lisboa ao Porto ou vice-versa. É ruinosa mas é estratégica!

Dessas trapalhadas, incluindo uma indemnização milionária a uma gestora, assinada pelo então ministro das Infra-Estruturas, um tal de Pedro Nuno Santos, agora candidato a patrão dos ministros, mas que se esqueceu disso e que depois de se demitir lá se lembrou, ainda um filme de acção e comédia a envolver  o roubo de um computador e um ministro Galamba e a demissão de Christine Ourmiéres-Widener, a CEO da TAP, por suposta justa causa e pelo meio uma Comissão Parlamentar de Inquérito que foi assim uma espécie de Big Brother a entreter o país.

No entretanto, enquanto aguardamos pelo desfecho do processo judicial do pedido de indemnização pela gestora francesa, que levou a mal o despedimento, vem agora a público um conjunto de considerações pela própria TAP em que grosso modo deita por terra a situação da CEO francesa na empresa, que afinal nada fez para além de ter um vínculo e um ordenado ilegais, bem como contradiz e descalça a posição política do governo do PS. Tudo o que sobre esta questão foi agora escrito e noticiado é grave de mais e vem adensar sobremaneira tudo o que já nos parecia como uma valente dose de borradas. 

Espera-se agora, para mais já em pré-campanha eleitoral, que o PS, António Costa, Fernando Medina, Pedro Nuno dos Santos, Galamba, etc, etc, venham dar explicações e prendar-nos com habilidosos números acrobáticos porque, convenhamos, começa a ser difícil considerar como séria e lógica qualquer justificação. É daqueles casos em que em cada cavadela, cada minhoca, em cada tiro, cada melro.

Mas lá vamos indo sorridentes e os nossos 3 mil e 200 milhões ainda a voar. Não esqueçam de que há eleições para 10 de Março!

16 de janeiro de 2024

A senhora culpa continua solteira e virgem

Os nossos políticos, em geral, sabem que estão mal considerados perante os eleitores e que daí, em muito, decorrem as altas taxas de abstenção nos actos eleitorais, mas mesmo assim continuam a falar para os mesmos como se estes sejam todos uma cambada de tontos, palermas, sem capacidade de escrutínio e de julgamento e incapazes de ver gatos escondidos com os rabos de fora. Assim, é de facto motivo de arrelia constante  ir assistindo às suas campanhas, intervenções e discursos.

Uma ds capacidades destes políticos rasteiros é de fazerem de conta que certas coisas não são nada com eles, que não lhes diz respeito e que certas más políticas são sempre da responsabilidade dos outros e sobretudo de quem em diferentes cargos os precederam. Por exemplo, o senhor Pedro Nuno Santos, agora líder do Partido Socialista, candidato a primeiro-ministro, e que presumivelmente será, tem falado como se o seu partido não nos tenha governado nos últimos 10 anos e que em 25 anos tenha estado 18 no poder, e que dele não tenha feito parte com cargos de responsabilidade. 

Por conseguinte, as trapalhadas da TAP, com indemnizações milionárias autorizadas e esquecidas,  as da localização do aeroporto, o estado da Educação, o caos e a degradação do Serviço Nacional de Saúde, com serviços encerrados e urgências entupidas, instabilidade social constante com professores, médicos, forças da segurança, confronto verbal com o Ministério Público, etc, etc, não têm nada a ver com o PS e o Pedro Nuno. Não, a culpa é do inquilino histriónico do Palácio de Belém e de quem deixou de governar há 10 anos. Ganhem e governem por mais 10 e nessa altura os culpados e responsáveis do que não estiver bem serão ainda os do passado.

Perante esta situação, não supreende que um partido mais extremado como o CHEGA continue a ganhar adeptos, porventura não pelos lindos olhos e do discurso populista e demagógico do artista do seu líder, André Ventura, mas simplesmente em reacção a este sistema muito politicamente correcto e de políticos frouxos,  carreiristas, a quem se exigia mais frontalidade, honestidade e sobretudo assunção de responsabilidades quando as têm. Não tem sido esse o caso por parte do PS nem do neto do sapateiro, o qual até tem raízes familiares aqui em Guisande. 

É pena! Pois é! Mas, pelos vistos, basta que se prometa um ordenado mínimo de mil euros daqui a quatro anos para que tudo volte a ser cor-de-rosa. Falta de ambição! Porque não 2 ou 3 mil? Isso é que era!

29 de dezembro de 2023

Paradoxos e incúrias

Há dias, numa situação de corrida, testemunhei na freguesia de Pigeiros uma senhora a tropeçar num buraco no passeio onde caminhava. Felizmente só uns ligeiros arranhões e umas pragas contra certos senhores, mas poderia ter sido bem pior. De resto, eu próprio já tropecei nuns buracos na Rua da Zona Industrial, pelo que a caminhar ou a correr, seja em Pigeiros, Guisande ou qualquer outra das nossas freguesias, tenho que andar com os sentidos alerta pois as irregularidades e buracos são mais que muitos e nalguns casos autênticas armadilhas e ratoeiras, sobretudo de noite e em tempo de chuva. De resto, não havendo trânsito evito o seu uso, quando deveria ser o contrário. Passe o exagero, correr nas nossas ruas e passeios é quase realizar um trail em plena serra, pelo menos quanto à atenção onde se põe cada pé.

Sempre que se registam estes acidentes seria de apresentar queixa na autoridade, mas para além do custo de formalizar a própria queixa, diz-nos quem sabe que é tempo perdido porque são mais que muitas e invariavelmente sem decisão. Ainda há alguns poucos meses um nosso ciclista espetou-se num buraco ali por Duas Igrejas, aberto por alguém que trata das redes de águas e esgotos, sem sinalização adequada, magoando-se e danificando a bicicleta. Poderia ser uma situação grave. A própria GNR chamada ao local recomendou que apresentasse queixa mas que para além do custo, creio que a rondar os 75 euros, que se preparasse para não dar em nada, embora o caso fosse grave e tivesse a seu favor o próprio testemunho quanto à ausência de sinalização da ratoeira. Certo é que no dia seguinte o buraco estava sinalizado. Bem à maneira portuguesa, remediar antes de precaver. De resto, pela Indáqua ou empresas por si contratadas, são mais que muitas as ratoeiras nas nossas ruas.

Com tudo isto, e não é de agora que abordo o assunto (por exemplo, aqui), considero que tanto as nossas juntas de freguesia como a Câmara Municipal têm tido uma postura, para não usar um termo mais contundente, de pelo menos irresponsabilidade, desleixo e incúria na manutenção e requalificação dos nossos passeios públicos, que na maioria dos casos até foram obrigados a ser realizados às custas dos proprietários das edificações frontais. Se não em toda a extensão, pelo menos em certos pontos onde são notórios os buracos e a degradação. 

Para além do mais, quando se indefere um projecto de edificação por uma soleira ter 3 cm e não 2, ou por outros pintelhos, soa a ridículo que os entraves à circulação a pessoas com mobilidade condicionada sejam mais que muitos e evidentes no espaço público, para além dos buracos, sinais e marcos de água implantados a meio dos passeios. O paradoxo desta incúria é ainda maior quando se sabe que não há dinheiro nem investimento na requalificação dos passeios mas sobra para festanças e entretenimentos, porque esses é que dão visibilidade.

Por conseguinte, sempre que há acidentes nas ratoeiras dos nossos passeios deveria ser formalizada a queixa e levada até às últimas consequência. Como diz alguém que conheço adepto dos aforismos, "...os burros também se ensinam".

28 de dezembro de 2023

A raposa vai continuar dentro do galinheiro

As notícias por estes dias abrem com o caos que se regista nas urgências dos principais hospitais do país, sobretudo da Grande Lisboa, em que doentes urgentes chegam a esperar entre 12 horas (Santa Maria) a 20 horas (Beatriz Ângelo) pelo atendimento. 

Concorrem para esta situação os habituais episódios nesta altura do ano, devido às variações de gripe que originam problemas respiratórios. Mas não só, até porque ainda hoje de manhã ouvi um médico de uma associção de profissionais de medicina geral a dizer que a afluência não é significativamente superior à de anos anteriores, mas que o agravamento das condições de atendimento e tempo de espera, esse sim, resulta, em muito, dos problemas crescentes que o SNS atravessa e que o Governo não tem sabido resolver.

Por sua vez, o ministro da Saúde, mesmo que já a prazo, não faz outra coisa que não relativizar, a recusar alarmismos, e dizer que lá para o fim de Janeiro talvez os portugueses já andem melhorzinhos da saúde e com isso reduzir o impacto no sistema. Assim com esta incapacidade e ineficácia também eu poderia ser ministro neste país.

Em resumo, uma situação que cada vez mais parece ser normal. A anormalidade está ser normalizada. O pior de tudo é que a avaliar por algumas sondagens os portugueses, ou pelo menos os que pretendem votar nas próximas legislativas em 10 de Março, preparam-se para continuar a legitimar a raposa dentro do galinheiro. Assim sendo, é mesmo aguentar porque dali não virão mudanças substanciais e será mais, muito mais, do mesmo.

António Costa despediu-se do país com uma mensagem natalícia em que fala de um país irreal, só com coisas boas e bonitas. Deste caos que tem abalado o SNS, dos muitos  tiros nos próprios pés bem como das grandes e pequenas trapalhadas que fizeram ruir por dentro um Governo que (des)governava em maioria, não falou, nem sequer ao de leve. 

Agora, democraticamente, é aguentar porque já se percebeu que os portugueses na sua maioria gostam deste estado de coisas. Eu não gosto, mas pelo menos não os legitimo.

18 de dezembro de 2023

Espírito de Natal ou de Carnaval?

Um bonito e soalheiro dia de Domingo a pouco mais de uma semana do Natal. Depois do almoço caseiro, decidi ir tomar café ao centro da vila de Arouca na expectativa de ali encontrar o espírito de Natal, mas prevenido de que anda fugidio. 

Em pouco mais de meia hora lá estava e não tive dificuldade em estacionar no parque. Mas logo aos primeiros momentos percebia-se que o espírito natalício já dali andava arredado. No que parece ser já uma tradição, talvez uma ou duas centenas de motards e motorizadeiros vestidos com trajes chineses de pais natais, andavam por ali para cima e para baixo a encher as ruas de roncaria e cheiro a gasolina queimada. Tomamos um bom café mesmo no centro, a 80 cêntimos com direito a uma pequena "castanha doce". 

Em frente ao convento e na Praça Brandão de Vasconcelos, os ditos pais natais emprestavam ao local e ao ambiente um ar de Carnaval e fiquei na dúvida se por ali andava o espírito dele. Pareceu-me que não! Na igreja imponente, ladeada de motos e motorizadas, dentro dela apenas duas ou três pessoas e nem um único daqueles que lá fora se exibiam. Apesar da imponência da igreja e do seu ar barroco, o presépio era do mais simples possível, digno de uma qualquer ermida isolada no alto de uma serrania e ali captei um bocadinho do espírito natalício. Mas o ambiente de silêncio tão característico desse local de culto era apenas uma falsa sensação pois lá fora o barulho de motorizadas a roncar e motas a estourar com os escapes era ensurdecedor e remetia-me para um poço da morte numa qualquer feira popular ou para um Carnaval de Ovar ou de Torres Vedras.

Bem ao lado do convento, na sede da Associação dos Amigos de Arouca, estava patente, com entrada gratuita, uma exposição de presépios, mas ninguém a visitar, apenas o responsável que nos acompanhou para servir de cicerone. Uma amostra muito interessante e diversificada mas ignorada pelas centenas que enchiam as ruas e praças.

No átrio exterior do lado poente do convento, uma enorme tenda aquecida com muitos e variados quiosques dispostos lateralmente com bons produtos desde artesanato aos hortículas, com frutas, legumes, nozes, castanhas, azeite, charcutaria, bebidas e licores, etc. Tudo coisas boas e dos produtores locais para ajudar a uma boa ceia de Natal. Um bom espaço e bem organizado. Ali vi um bocadinho do espírito de Natal e até gastei algum dinheiro em nozes e artesanato alusivo à quadra.

Na ilusão de que entretanto os carnavalescos pais natais já se tinham ido embora, afinal devem ter ido reabastecer os depósitos e regressaram com todo o barulho, confusão e mau cheiro pois limitavam-se a andar por ali para trás e para a frente a mostrarem-se como se fosse algo extraordinário. Não foi, apenas uma vulgaridade bacoca, porventura mais adequada a carnavais ou desfiles de paradas gays. Mas isto sou eu a falar, que fui ali áquela bonita vila à procura de outro Natal, mesmo que com as expectativas baixas, mas percebi que isto do Natal simples, genuíno e ligado às origens e de matriz religiosa e espiritual, é apenas um faz de conta e coisa já passada, do antigamente. Agora os tempos são outros, mais dados ao antes parecer que ser  e que a generalidade das pessoas gosta! 

Ao deixar o parque de estacionamento tive dificuldades em saír,  porque à boa maneira portuguesa os espaços destinados a acessos estavam ocupados. Mas polícias e guardas, porque também mascarados ou simplesmente ausentes, não os vi por ali a manter a ordem na desordem. Com dificuldade e várias manobras lá saí e regressei. 

Em resumo, uma bonita tarde de Carnaval!

17 de dezembro de 2023

Quando do Natal se faz um Carnaval

 












Não deve haver nada com mais de espírito natalício que o encher o centro de uma vila com barulho, ruído e fumo de gasolina e obstrução ao trânsito. Polícias, nem vê-los. Mas quando o Natal se confunde com o Carnaval tudo é possível. Por estas e por outras o Natal já foi um ar que lhe deu...

14 de dezembro de 2023

Blackout ao Natal mágico

Estamos tão dependente dela, para ajudar a matar o pouco tempo que nos sobra do lufa-lufa do quotidiano, que não a dispensamos. A televisão tornou-se companheira e substituta de gente e em muitos lares é a única voz que se ouve na solidão de quem vive só, por opção ou por fatalidade. 

Pessoalmente sou fraco consumidor de televisão. Apenas algum serviço noticioso, comentários e análise das actualidades, depois alguns documentários, alguma música clássica um ou outro episódio de uma qualquer série, sobretudo de comédia. Filmes, raramente e apenas os climaxes finais. O futebol nunca me prendeu, mas porque definitivamente sem paciência para essas chuvas no molhado, deixou, quase definitivamente, de fazer parte do cardápio e apenas um ou outro resumo da coisa já acabada só para me sentir informado o bastante.

Mas tantas vezes chego à conclusão que em rigor nem vejo televisão porque o mudar de canal (dizem que zapping) é constante na procura do que poderá ter interesse e naquelas duas centenas de canais, ou por aí, poucas vezes dou de caras com algo que me prenda a atenção e, pasme-se, por vezes paro nos canais chineses. E se encontro algo de interesse, tantas vezes constato de seguida que é algo que já se viu, sim, porque na nossa televisão as coisas repetem-se vezes sem conta como o "Sozinho em Casa" na proximidade do Natal.

Em todo o caso, e era aqui que queria chegar, por estas alturas em que está na mira o Natal, e que nas televisões começa bem cedo, com bombardeamento de anúncios de produtos de mercearia, relógios, perfumes, carros, chocolates, etc, etc. Creio que, passe o humor negro, nem em Gaza há um bombardeamento tão persistente. Por conseguinte imagino, sem que ponha em prática, como seria bom desligar as nossas televisões no dia 1 de Dezembro e só as voltar a ligar já perto do Carnaval. Uma espécie de blackout sanitário. Poderia custar nos primeiros dias, como qualquer desabituação, mas depois os benefícios seriam sentidos. Assim como uma espécie de desintoxicação.

Mas é esquecer, porque na realidade o que estou a dizer ou a imaginar, para a larga maioria das pessoas consumidoras, a coisa cheira a heresia. Então como havia de ser nas salas de espera de centros de saúde, hospitais, cafés, restaurantes, etc, etc? Como é que a juventude sem a Netflix e semelhantes? E de que maneira os adeptos fanáticos iriam passar o mês sem assistir a jogos do Porto e Benfica e às análises na CMTV com os broncos do Rudolfo Reis, Fernando Mendes e outros que tais? E os idosos, sozinhos em casa, sem ouvir as missas e aquelas coisas intermináveis nos domingos à tarde num desfile de cantores pimba e venda de chouriços? E com que depressão ficariam se inibidos de assitir ao "Preço Certo" e às piadolas do Fernando Mendes? E em que companhia fariam as domésticas o almoço, sem Gouchas, Cláudios, Sóninhas, Gabriéis e outros da mesma igualha, a falarem da vida deles próprios e de vidas alheias? Poderia lá ser! Era o fim do mundo!

Continuemos, pois, a estimar a nossa querida televisão até porque como nela nos dizem repetidamente, que este Natal vai ser mágico!

13 de dezembro de 2023

No país das replicações - Estamos nesta

Anda por aí uma febre desmesurada, que não é de agora, mas tão nossa, genuinamente portuguesa, a de copiar e replicar coisas e eventos que vemos e invejamos no vizinho ao lado, na freguesia, vila, na cidade ou no estrangeiro. 

Nesta onda do "também nós podemos e somos capazes", são mais que muitas coisas que têm sido replicadas. Senão veja-se: São os baloiços, implantados em tudo quanto é portela, monte ou serra; Os passadiços, essas estruturas em madeira começaram a ganhar e a galgar terreno e como serpentes estão já em todo o lado, tanto em escarpas imponentes e desfiladeiros só acessíveis a águias e abutres como a bordejar insignificantes ribeiras e charcos.

Mesmo as pontes que para nada servem senão para entretar e pôr à prova medos ou coragem de turistas, também já são negócio de milhões e se Arouca tem miseráveis caminhos de cabras promovidos a estradas e aldeias sem redes de água e de esgotos tem uma dessas maravilhas da engenharia das coisas suspensas.

Também os eventos de entretenimento ditos de época estão na moda e assim temos viagens, festas e feiras romanas, medievais, napoleónicas, mercados recriados como os que se fazim nos tempos dos nossos bisavós e outras que tais em várias aldeias, vilas e cidades; Mesmo por cá na nossa Feira, de vaidades, não fazemos a coisa por menos e desde a interminável churrascada da Viagem Medieval no Verão à sombra do castelo que se desmorona no Inverno,  temos ainda o mundo do faz-de-conta chamado Perlim, a entreter crianças e adultos, também a condicionar trânsito e acessos a quem tão somente quer ali pacatamente à baixa tomar chã e comer fogaça.

A criançada também não está dispensada destas réplicas e já não faltam, por tudo quanto é sítio, parques temáticos, vilas natais, feiras e feirnhas, mercados e mercadinhos de Natal, dos mais sofisticados com arenas de gelo aos mais simples; Depois, mesmo que a perder espaço, porque o Natal já pouco tem de religioso, há ainda os presépios, simples à moda napolitana com figuras de barro sobre cascos de cortiça atapetados de musgo, aos mecanizados ou com figuras ao vivo.

As iluminações, essas coisinhas a piscar, coloridas e brilhantes, em que as autarquias gastam balúrdios do orçamento a enfeitar pinheiros naturais e artificiais, a arcar ruas, praças e largos, a delinear cruzeiros, capelas e igrejas, são já atracção em várias cidades e para elas organizam-se excursões com dezenas de autocarros cheios de curiosos. Em Vigo, Espanha, por tanta afluência de locais e sobretudo portugueses, a assistir a esse céu brilhante tem sido um inferno para os moradores, com ruas entupidas de multidões, mesmo a ponto de obstacularizar o normal fluxo do trânsito e até mesmo situações de emergência médica; Por cá e para cá há excursões e filas de trânsito para entrar em Águeda e em Óbidos, propagandeada como Vila Natal, no que tem sido um quebra-cabeças e dores de cornos e filas intermináveis nas bilheteiras e nas ruas apertadas para sentir essa coisa tão larga e comercial traduzida como espírito de Natal; 

Estamos nesta! 

Mas a coisa não se fica por aqui e mesmo no entretenimento desportivo as provas de corridas, com designações parolamente a abusar dos inglesismos, são um negócio da china e é ver os calendários nas empresas que as organizam, promovem ou controlam para ver que do Minho ao Algarve, dos Açores à Madeira, são mais que muitas e todas a reunir rebanhos de atletas, dos verdadeiros e vitaminados aos aspirantes, dos que acabam as provas em passo de lebre como se quenianos ou etípoes, aos que as terminam com horas de atraso e sofrimento nas pernas e no rosto mas com a mesma publicitada satisfação de um épico dever cumprido. Desde Lisboa ao Porto, do litoral ao mais humilde lugarejo no Portugal interior desertificado, todos querem ter a sua prova de corrida ou trail.

Estamos e continuamos nesta!

E tudo isto é positivo? Ou negativo? Nem sim nem não, antes pelo contrário, até porque tudo se resume a ganhar e gastar dinheiro, esse binómio que dizem que faz movimentar as rodas do mundo e a engrenagem da sociedade, mas é sobretudo um exagerado exagero e a prova provada que hoje em dia, muito à conta das modas, das tendências (trends) e redes sociais que as ampliam e dão espaço aos egos colectivos e individuais, damos um excessiva e desmesurada importância às coisas, mesmo às que a não tem, a ponto de nos surpreendermos com a mais insignificante, corriqueira ou normalíssima delas. 

Estamos nesta! 

Compreendo que assim seja e será, mas para quem tem já muito caminho trilhado e já viu de tudo e de muito, começa a faltar a paciência para estas novas réplicas de replicações. Andamos por aí a apregoar que a China não sabe mais que copiar o que os outros fazem, desde um isqueiro a um avião, passando por relógios e mercedes, e nós, pobres tugas, nesse campeonato de copiar e replicar damos cartas e deixamos os chineses, eles próprios, de olhos em bico.

Estamos nesta!

11 de dezembro de 2023

Rebanho de cordeiros

Hoje li mais uma das habituais e sempre certeiras impressões escritas pelo escritor José Rentes de Carvalho, no caso sobre esta forma de ser da pandilha que de há décadas, revezando-se entre si, faz de conta que nos governa, quando na realidade é apenas um desgoverno desmedido, ainda e muito sujeito aos arbítrios dos interesses próprios e corporativos. Como diz o velho transmontano, "...fingindo que governam, os sortidos donos daquilo tudo, os que se dobram ajoelhados como escravos de galé. E ainda os jeitos, as luvas, o fatalismo, as vénias, a cunha, a subserviência para com os que estão acima, o desprezo para com os que dependem. O medo generalizado, os brandos costumes, as manhas, o respeitinho. Aquela inveja, que de tão extraordinária e corrente parece ser genética. A promessa raro cumprida, idem a sornice, o deixa para amanhã, a fatuidade, o valor das aparências, o gosto da rasteira."

Não poderia, pois, o José Rentes de Carvalho ter traçado melhor retrato deste pobre país de espertalhões e com a bonita idade que conta, 93 anos, diz já não ter tempo nem ilusões em mudanças e ver chegar novos amanhãs que durante anos esperançosamente esperou. 

O que se vai lendo, vendo e ouvindo na comunicação social, a propósito do estado da nossa Educação, do Serviço Nacional de Saúde em colapso, o caso da TAP e aeroportos, agora o caso que levou à dissolução do parlamento e convocatória de eleições legislativas antecipadas, o mal-cheiroso caso das cunhas para o tratamento milionário das gémeas brasileiras, à pressa naturalizadas, são exemplos factuais e bastantes que atestam este estado de podridão política e estrutural a que nem a figura do seu mais alto cargo da nação escapa. Mas como povo não temos emenda e no geral vamos andando como cordeiros obedientes atrás dos pastores do costume nesse papel de chefes, arvorados desde a data supostamente revolucionária em que a partir dela seria só democracia, paz, pão, povo desenvolvido, saúde e liberdade. O tanas!

Para o próximo Abril comemorar-se-á com pompa e circunstância e molhadas de cravos vermelhos, os 50 anos, o meio século passado sobre esse evento, mas na realidade as coisas continuam  e continuarão como sempre, modeladas por uns poucos ao sabor dos seus interesses e agendas. O resto é paisagem, um constante faz de conta, um mero e permanente simulacro de sociedade democrática, desenvolvida e civilizada. Mas, paradoxo, não falta quem goste de fazer parte deste rebanho seguidor, sem carneiros a tresmalhar, só com cordeiros mansos e humildes. 

Temos o que merecemos. Venha daí outra rodada!

Vem aí uma guerra civil e a democracia está por um fiozinho

Vai engraçada a campanha interna no PS - Partido Socialista que decidirá o candidato a próximo primeiro ministro da nação lusa. Não sigo nem é assunto que me ocupe, mas como a televisão tanto nos mostra destas coisas como os reclames de perfumes e de outras lamechices do Natal comercial, sempre vou, mesmo que sem querer, ouvindo algumas coisas. 

O poeta Manuel Alegre convidado para o plantel dos opinadores, terá dito que "a democracia está em risco". Não ouvi nada para além do título de rodapé da televisão mas deduzo que encontra ele em Pedro Nuno Santos o garante da continuidade da nossa democracia. Não sei a que democracia se referia o poeta de Águeda, se à democracia como ele a concebe ou se a democracia em que o povo e o eleitorado é quem decide, mesmo que, a seu contragosto, numa viragem ao centro direita ou direita. Ou serão os de esquerda e dela da extrema, mais democratas que os do centro e da direita? Que raio de ideologias estas que compartimentam estas coisas de quem é mais ou menos. Se é democracia, que se respeite a vontade da maioria, mesmo que quem decida seja o Zé da Esquina.

Já Eduardo Cabrita, o ex-ministro que gostava de viajar em velocidade acima da regulamentar, sempre a assapar nas auto-estradas com o seu pópó e a arrastar literalmente que se atravessasse à frente, também disse que "a direita está em guerra civil" e que o salvador da pátria é Pedro Nuno, o messias dos tempos modernos.

Isto mesmo sem tiros e bombardeamentos está a ficar um pouco extremado. A democracia está em perigo e a direita está em guerra, dizem! Está dado o mote para quem tem que decidir pela cabeça dos outros e não pela sua. Pela parte que me toca, como decido pela minha cabecinha, com o devido respeito, quero mandar esses políticos anunciadores do apocalipse e do armagedeão à merdinha com uma giga.

7 de dezembro de 2023

Vou pôr as poupanças na serra da Freita

Poderia aqui dizer que este caso passou-se com o Timóteo Barnabé, mas na realidade passou-se comigo: Num certo Banco, onde tenho uma ridícula poupança, uma funcionária na altura aconselhou-me a fazer uma aplicação de Plano Poupança Reforma, a 10 anos, com baixo risco e com garantia do capital investido. O resto da poupança continua lá desde há mais de 10 anos e apenas como dinheiro à ordem, por isso sem dele receber um cêntimo de rendimento. 

Certo é que a tal aplicação começou por acumular algum ganho mas com a garantia de pelo menos o retorno do capital investido, deixei de me preocupar e de seguir a sua evoluação. Por estes dias fui ver como estava e percebi que de uma altura em que esteve a dar lucro passou, com o despoletar da guerra na Ucrânia, a uma situação de dar prejuízo e já mesmo sem a tal garantia do capital investido. Isto é, como tantas vezes já vimos este filme, nomeadamente no antigo BES, em que os clientes são enganados ou mal informados e as muitas letras pequeninas não ajudam à compreensão das condições. E isso já tinha acontecido com uma outra aplicação embora nessa eu tivesse noção do risco e que depois de estar em ganho acabou em perda devido ao impacto da pandemia. Logo que recuperou pelo menos para o capital investido, resgatei.

Apesar disso, desengane-se quem pensa que, logo que estas aplicações começam a perder e com tendência negativa devido a factores como conflitos e crises globais, os clientes são avisados ou alertados pelos ditos gestores de conta de modo a tomarem acções e mitigar perdas. É esquecer! Dali ninguem alerta ninguém porque o Banco nunca perde e os funcionários já não são da escola antiga e também eles são tratados abaixo de cão pelas administrações e administradores. Um vez feita qualquer aplicação em qualquer Banco é mesmo com total responsabilidade e risco do cliente. O Banco esse ganha sempre.

Resumindo, neste momento apesar de em ligeira recuperação a dita aplicação ainda está a dar prejuízo e  isto ao fim de meia dúzia de anos. Como disse é uma aplicação com trocos mas dá que pensar a quem as tem em grandes montantes. Mas, em verdade se diga, quem tem grandes valores, em rigor não precisa destes extras e pode assumir com relativo à vontade um maior risco nos seus investimentos. Mas mesmo assim, sem um acompanhamento regular e atento, os lucros podem ser amplos mas os prejuízos também em grande escala.

Certinha e direitinha é a comissão de conta que todos os meses, a horas certas, o Banco retira da conta. São quase 7 euros o que dá quase 90 euros anuais.

Posto isto, vou resgatar a aplicação, mesmo em perda e anular a conta nesse Banco mudando os trocos para outro onde já tenho conta, dispensando assim o pesado encargo de pagar duas comissões.

Em resumo, eu como muitos pequenos clientes de pequenas poupanças, nunca recebemos um cêntimo de rendimento deste e doutros Bancos. Antes pelo contrário, somos nós a ajudar a que apresentem grandes lucros e em muito em face destas comissões escandalosas, tanto mais que hoje em dia quase não há atendimento personalizado e humano e apenas por canais manhosos e burocráticos. Já nem sequer gastam dinheiro em papel e correspondência visto ser tudo electrónico ou digital. Tempos modernos.

A este propósito dos contactos, usei um email de atendimento aos clientes homebanking e não foram capazes de esclarecer a questão nem sequer de a encaminhar para o canal adequado. Ou seja, terei mesmo que ligar directamente para o Banco e o mais certo é ter que perder tempo do emprego para lá ir pessoalmente no reduzido horário que têm disponível.

Infelizmente, por questões várias e administrativas, temos quase que obrigatoriamente ter conta em Bancos, mas de facto como as coisas estão compensa e muito em ter o dinheiro enterrado no quintal ou numa caixa hermética  debaixo de umas pedras na serra da Freita, como alguém me disse que tinha. Convém é não perder o tino ou coordenadas geográficas do sítio. 

Tempos modernos a pedirem medidas à antiga!