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21 de novembro de 2023

Pedro, o escravo negro do pároco de S. Mamede de Guisande

 


Quem tem um bocadinho de interesse pela nossa História, saberá que Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura, com o decreto publicado em 1761 pelo Marquês de Pombal. 

Apesar dessa espécie de galardão, não nos retira o peso da consciência de termos sido, em contraponto, o primeiro estado do mundo a fazer comércio global de escravos provenientes de África. Estima-se que entre 1450 e 1900, Portugal terá traficado cerca de 11 milhões de pessoas. 

O referido decreto publicado em 1761 pelo Marquês de Pombal a abolir a escravatura em rigor não acabou com os escravos, pois em boa verdade apenas foi proibida, a entrada de novos escravos. Desse modo tal decreto não resultou só por si no fim da escravatura, pois para além dos escravos que já existiam à data, havia também os que nasciam de mãe escrava e que desse modo continuavam na condição de escravos. O propósito foi melhorado e pouco tempo depois, em 1763, o Marquês de Pombal voltou ao assunto fazendo aprovar uma nova lei, designada de "lei do ventre livre", que determinava que os filhos de escravos passavam a ser homens livres e que todos os escravos cuja bisavó já era escrava podiam ser libertados.

Certo é que, dizem estudiosos do assunto da escravatura no nosso país, esta continuou, embora já à margem da lei o que não era difícil contornar, mantendo-se a entrada ilegal de escravos provenientes das nossas colónias. Desta situação que se prolongou no tempo, é considerado que a última pessoa que havia sido escrava em Portugal terá morrido apenas na década de 1930, já em plena república. Os jornais da época escreveram que teria 120 anos e que vivia no Bairro Alto em Lisboa, onde vendia amendoins e tinha sido escrava até 1869 data em que um novo decreto abolia de facto a escravatura em todo o nosso território. 

Depois desta introdução histórica, descobri que mesmo aqui em Guisande também existiu alguém na condição de escravo. E logo do pároco, conforme o atesta o documento acima, precisamente o assento de óbito de um Pedro, descrito como "solteiro, homem preto, escravo do Reverendo Manuel Rodrigues da Silva, Abade desta freguesia de Guisande". 

Faleceu este Pedro em 3 de Dezembro de 1787, como se vê já depois dos decretos publicados pelo Marquês de Pombal. O assento é omisso quanto à sua idade, Não sabemos também a sua origem e proveniência, sendo de supor que já seria criado escravo do abade quando este tomou conta de Guisande e que o terá trazido consigo.

Este pároco de Guisande, sacerdote e advogado, Dr. Manuel Rodrigues da Silva, sucedeu na nossa paróquia ao Abade Manuel de Carvalho, fundador da Irmandade e Confraria de Nossa Senhora do Rosário. 

Este dono do escravo Pedro era natural da freguesia de S. Ildefonso, no Porto, tendo sido formado em cânones pela Universidade de Coimbra. Sobre ele escreveu o visitador da Sé em 1769. “É bom pároco, letrado, com limpeza e asseio na sua igreja".  

A torre da nossa igreja foi construída em 1764, por iniciativa deste pároco Manuel Rodrigues da Silva. Faleceu em 12 de Abril de 1790, com cerca de 80 anos ("pouco mais ou menos" como dito no seu assento de óbito), sobrevivendo ao seu escravo em cerca de dois anos e meio. 

Deixou este Abade Manuel Rodrigues da Silva um testamento o qual foi aberto pelo Reverendo João Leite de Bastos, pároco de Santa Maria de Pigeiros. Do testamento, com caligrafia gasta e de difícil leitura, sabe-se que instituiu como seu testamenteiro um seu primo, de nome Pantaleão da Silva Coimbra, a quem deixou bens tal como a uns irmãos, mas ainda várias doações e bens aos seus criados, às confrarias da paróquia e mesmo a Maria, sua afilhada, filha de António Gomes Loureiro, da Barrosa. Também se percebe que do seu atrás referido criado escravo Pedro, este teria uma filha chamada Maria que também terá recebido alguns bens móveis.

Apesar de algum modo podermos ficar surpreendidos que logo o pároco, a autoridade moral e espiritual, tivesse um criado na condição de escravo, temos, todavia, que atentar nos valores da época e que tal não seria caso único. Além do mais, estamos em crer que seria bem tratado e com toda a dignidade humana. De resto teve direito a um ofício exequial com a presença de 11 sacerdotes e até como os demais paroquianos foi sepultado no interior da nossa igreja. E como atrás se disse, à filha deste escravo foram deixados em testamento alguns bens.

Este documento e esta constatação não deixam, porém, de ser uma interessante curiosidade.

20 de novembro de 2023

Missas ao Senhor do Bonfim e outros apontamentos


Retomando o assunto da origem ou antiguidade da nossa capelinha ao Senhor do Bonfim, no lugar da Barrosa, continuamos sem o saber em rigor. Todavia, podemos dizer que seguramente será da segunda metade do século XVIII. Esta suposição assenta naturalmente pelas escassas referências orais que se têm transmitido e tido em conta, pelo estilo da sua construção e ainda por um ou outro documento. Por exemplo, pesquisei um assento de óbito (imagem acima) de António Gomes Loureiro, a cuja família está ligada a origem da Casa do Loureiro na Barrosa, que se sabe estar relacionada à construção da capelinha.

Este António Gomes Loureiro faleceu em 12 de Setembro de 1790, sem os sagrados sacramentos porque falecido de repente, mas deixou testamento das suas vontades instituindo o seu filho Manuel Gomes Loureiro e suas filhas Maria e Margarida, como herdeiros.

O testamento aberto e testemunhado pelo padre José António de Azevedo, encomendado da paróquia de S. Mamede de Guisande, incumbia os filhos de mandar celebrar uma série de missas, incluindo umas dez ao Senhor do Bonfim.

Em resumo, por este documento confirma-se que à data a capelinha já existia e tinha relação com a família do Loureiro e esta mantinha uma devoção ao Senhor do Bonfim.

Este António Gomes Loureiro foi casado com Joana Pinto de Jesus. Dos seus filhos, o Manuel casou com Tomázia Rosa da Silva de Jesus, esta filha de João Alves da Silva e de Maria Joana de Jesus.

Deste casal Manuel Gomes Loureiro e Tomázia Rosa, nasceram vários filhos, incluindo a Maria Felizarda de S. José Loureiro da Silva que casou com Domingos José Francisco de Almeida, meu tetra-avô paterno porque era pai de Domingos José Gomes de Almeida, meu trisavô, este pai de Raimundo Gomes de Almeida, meu bisavô e este pai de Joaquim Gomes de Almeida, meu avô.

Da união desses meus tetra-avôs, Domingos José Francisco de Almeida e Maria Felizarada de S. José Loureiro da Silva, nasceram bastantes filhos, pelo menos uns oito, nomeadamente o referido Domingos José Gomes de Almeida, nascido a 22 de Março de 1813 e falecido em 14 de Abril de 1894, a Rita Felizarda de S. José, falecida solteira em 25 de Setembro de 1895 com 70 anos, a Ana Felizarda de S. José falecida solteira em 20 de Setembro de 1891 com 65 anos, o António Joaquim Gomes de Almeida, falecido em 21 de Fevereiro de 1890 com 70 anos, o Raimundo José Gomes de Almeida, nascido a 23 de Novembro de 1809 e falecido em 23 de Janeiro de 1897, o José Gomes de Almeida (padre do Loureiro), nascido a 22 de Setembro de 1807 e falecido em 03 de Agosto de 1879, a Maria Felizarda de S. José, nascida em 29 de Julho de 1815 e a Rita Felizarda de S. José que nasceu em 18 de Fevereiro de 1817 e faleceu em 25 de Setembro de 1895 com 78 anos, solteira sem filhos. Alguns destes filhos ramificaram com outras famílias e de algumas dessas ligações descedem a maioria dos Almeidas da freguesia de Guisande. Ou seja, os Almeidas de Guisande têm também ligações ascendentes à família Loureiro da Barrosa.

Uma nota digna de registo pela surpresa e curiosidade que desperta:

O atrás referido Domingos José Gomes de Almeida, meu trisavô paterno, casou com Joaquina Rosa de Oliveira. Aqui começa a surpresa: em 6 de Abril de 1894 morre um seu filho solteiro, com 32 anos de idade, negociante de madeiras, de nome Domingos Gomes de Almeida. A sua mãe, a referida Joaquina Rosa de Oliveira morre passados 4 dias, em 10 de Abril de 1894, com 77 anos de idade. E como não há duas sem três, passados outros 4 dias, em 14 de Abril de 1894 morre o seu pai, o tal Domingos José Gomes de Almeida, com 81 anos de idade.

Não conheço os motivos desta sucessão de mortes na mesma casa. Se por desgosto consecutivo da mãe após a morte do filho e depois do pai pela morte do filho e da esposa ou se por alguma circunstância de doença contagiosa ou de outra natureza. Provavelmente nunca o viremos a saber. Apesar de falecer jovem o filho, por esses tempos eram muito comum o falecimento com essas idades. Por outro lado o pai com 81 anos e a mãe com 77 já tinham umas bonitas idades, tanto mais naqueles tempos quase sem grandes cuidados e tratamentos de saúde. Por conseguinte, fica apenas a surpresa e a curiosidade pela coincidência, mas é provável que tenha havido uma relação de doença ou emocional.

22 de outubro de 2023

Entrevista de Elísio Mota - Factos e curiosidades


Em Setembro de 1982, o saudoso Elísio Mota, então presidente do Centro Cultural e Recreativo "O Despertar" de Guisande, concedeu uma entrevista ao jornal "O Mês de Guisande", traçando um resumo da história e actividades da associação. 

Falou da origem do nome "O Despertar", falou da actividade da secção de teatro e das actuações com sucesso nas freguesias de Vila Maior e Milheirós de Poiares e do subsídio recebido da Câmara Municipal da Feira (7.440,00 escudos anualmente).

Enalteceu o espírito de camaradagem que se vivia entre os elementos do grupo e a sua vontade de fazer coisas pelo desenvolvimento da freguesia, até aí estagnada no movimento associativo, cultural e recreativo e o desporto resumido ao futebol.

Falou igualmente da realização da Festa do Emigrante em 1977 com  a organização de um prova de atletismo em diferentes escalões e que reuniu 500 atletas. Falou da atleta que então estava inscrita na Federação (a Isaura Lopes). Falou dos muitos troféus, taças  e galhardetes conquistados pelos atletas de "O Despertar" em várias provas de atletismo.

Abordou o evento das Mini-Olimpíadas concelhias e a participação da associação no mesmo, que por esses tempos tinha muita importância concelhia. Posteriormente a associação viria a conquistar inúmeros troféus e pódiuns nessas provas.

Falou também dos projectos que tinha em mente para a promoção de outras disciplinas desportivas (como basquetebol, andebol e voleibol) mas que para tal ser possível faltava um rinque polidesportivo ( o que só veio a concretizar-se vários anos mais tarde e mesmo assim não coberto e que hoje está abandonado e degradado).

Bons tempos. Infelizmente, factos já um pouco ou totalmente esquecidos, que importa, digo eu, relembrar aos mais novos que, naturalmente, por razões óbvias não se lembram nem deles têm memória.

11 de outubro de 2023

Venda da residência paroquial em 1923

 


Passa nesta dia de hoje, 11 de Outubro de 2023, um século após a data da escritura de venda do edifício da residência paroquial de Guisande, conforme o atesta o cabeçalho da escritura acima reproduzido.

A venda foi realizada pelo então pároco Pe. Abel Alves de Pinho a um outro sacerdote, o Pe. Joaquim Esteves Loureiro, de Ramalde - Porto, sendo que este representado no acto pelo então pároco de Pigeiros, Pe. António Inácio da Costa e Silva.

Todo este processo relacionado à residência paroquial é conturbado e ainda com vários segredos ou mistérios por desvendar. Oportunamente, por aqui ou no livro que tenho em preparação, procurarei transmitir o que se sabe sobre o assunto, sendo que ficarão sempre pontas soltas e enigmas por resolver.

Em todo o caso, o processo passa pela edificação da residência, dada como concluída em 1907, depois a compra da mesma à paróquia pelo então pároco Pe. Abel, e posteriormente a venda, de algum modo forçada, aquando da saída do referido padre, e ainda o mistério de ter sido vendida a um desconhecido do Porto, sendo que em princípio com ligações à Diocese e à Sé, presumindo-se que agindo como um testa-de-ferro. Posteriormente esse Pe.Loureiro, conforme previsto, veio também ele próprio a vender à paróquia, pelo que desde então lhe pertence. Foi depois no tempo do Pe. Francisco que a situação de propriedade, em termos de registo na Conservatória e Finanças se veio a resolver a favor do Benefício Paroquial, equivalente então à Comissão Fabriqueira.

É, pois, um processo obscuro e com contornos interessantes mas misteriosos e que, à falta de outros documentos, pelo falecimento dos intervenientes e pelo tempo decorrido, será difícil resolver de forma definitiva.

9 de outubro de 2023

Família Leite Resende - Trás-da-Igreja


D. Laurinda Resende e Dr. Joaquim Inácio

A descendência de um ramo da família Leite Resende, relacionada ao lugar designado, noutros tempos, de Trás-da-Igreja, ou mesmo Detrás-da-Igreja, mas actualmente apenas na forma simplificada de lugar da Igreja, é uma das mais importantes e consideradas da nossa freguesia. A mim parece-me interessante sob um ponto de vista documental e mesmo genealógico dispensar-lhe alguns apontamentos. Na actualidade relacionamos esta família à Casa do Dr. Joaquim Inácio.

A importância desta família, como de outras similares e noutras aldeias, naturalmente decorre da sua  posição social no contexto da freguesia, mas porventura terá sido de forma mais notória noutros tempos quando os extractos sociais eram mais vincados. Nesses tempos em que a subsistência da maioria das pessoas dependia das terras e do rendimento que retiravam delas, fosse na parte agrícola ou nos matos e pinhais, logo quem as possuía em quantidade era considerado como proprietário e a sua família como abastada.

Em regra, pela quantidade de propriedades, sobretudo as agrícolas, e face à incapacidade da própria família as explorar no seu todo, até porque, com recursos, os filhos em regra eram destinados a seguir estudos e formações académicas superiores, estas, pela sua disponibilidade, eram arrendadas a caseiros que assim as agricultavam mas pagando uma renda anual, eventualmente em dinheiro mas, à escassez deste, quase sempre com os próprios frutos da terra. Assim, dependendo das características e dimensões do campo, uns pagariam com um certo número de alqueires de milho, de feijão, centeio e mesmo de uvas. O meu pai, apesar de possuir como seus vários campos, como a família a manter era grande, chegou também a ter um tomado de renda a esta família da Casa do Dr. Joaquim Inácio e cuja renda era paga anualmente pelas vindimas com um determinado número de jigas de uvas, mais tarde convertidas em sacos. No caso eram uvas brancas que depois de vindimadas eram transportadas para a casa do senhorio e depositadas em lagar. Não raras vezes os caseiros ainda ajudariam na pisa.

Mais tarde o campo, que para além de uma extensa ramada de vinho que o circundava, era pouco produtivo, foi entregue e sem quem o cultivasse depressa se transformou em mato e hoje em dia está ocupado com parte de uma plantação de eucaliptos promovida pela família.




Casa da família do Dr. Joaquim Inácio



Espigueiros pertencentes à casa.

A esta família, que como todas as outras vão sofrendo alterações ao longo dos tempos, desde logo pela renovação das gerações, o povo de Guisande refere-se como a Casa do Dr. Joaquim Inácio, sendo que este nome a ela só é incorporado numa fase tardia e com ligação por via de casamento e não por descendência directa. Há algumas décadas atrás era mais conhecida pela Casa do Sr. Moreira, que era o pai da D. Laurinda Moreira de Resende e sogro do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva.

D. Laurinda Moreira de Resende

Laurinda Moreira de Resende, que muitos de nós ainda conhecemos, carinhosamente como D. Laurindinha, era uma figura muito respeitada na freguesia, sendo depois da morte do marido, Dr. Joaquim Inácio, a matriarca da casa e da família.

Laurinda Moreira de Resende nasceu no dia 20 de Novembro de 1917. Faleceu em 1 de Março de 2009. Era filha de Manuel da Costa Moreira e de Maria da Conceição Leite de Resende. A sua mãe, era a terceira filha de nome de Bernardo Leite Resende e de Margarida Pereira de Resende (de Fiães). Era neta paterna de José Leite de Resende e de Teresa Maria de Jesus e neta materna de João Pereira e Josefa Rodrigues Pereira.

Nota: Em alguns assentos, parece haver confusão com o nome da esposa de Bernardo Leite Resende, surgindo como Margarida Rodrigues Pereira (que condiz com a assinatura) e Margarida Pereira de Resende. Sendo que dadas ambas como esposa de Bernardo, não encontrei provas de serem pessoas diferentes. Também a Josefa Rodrigues Pereira aparece como Josefa Rodrigues de Oliveira.


No jazigo capela da família, existente no cemitério de Guisande, obra de cantaria e escultura do meu bisavô materno (Raimundo José da Fonseca), seu pai e irmãos (que foram do lugar do Carvalhal - Romariz), existe ali a lápide (conforme imagem acima) com os nomes de Margarida Pereira de Resende e  Josefa Rodrigues Pereira.

O avô materno da D. Laurinda, Bernardo Leite de Resende, como se disse atrás era filho de José Leite de Resende e de Teresa Maria de Jesus. Por sua vez este José Leite de Resende, de que temos nota de ter tido uma irmã de nome Custódia, falecida em 9 de Novembro de 1773, era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva (trisavôs maternos da D. Laurinda). Como irmã deste José consegui identificar uma Ana Maria que nasceu em 22 de Março de 1878. Por sua vez, este Manuel José de Resende, era filho de Bartolomeu José de Resende e de sua segunda mulher Josefa Maria de Resende (tetravôs maternos da D. Laurinda). Mariana da Silva, a esposa de Bernardo, era filha de Manuel da Silva e de Ana Fernandes.

Este Bartolomeu José de Resende e a sua mulher Josefa tiveram ainda duas filhas gémeas, a Maria e a Ana, nascidas a 30 de Outubro de 1730 e baptizadas em 2 de Novembro do mesmo ano. Como curiosidade, a Maria teve como padrinho o Pe. Manuel Gomes de Pinho, irmão da mãe, a Josefa, e então pároco da Santa Maria de Arrifana. Por sua vez a Ana também teve como padrinho um sacerdote, o Pe. Manuel Alves da Conceição, natural de Guisande e morador no lugar de Cimo de Vila.

Quanto a Maria Teresa de Jesus, esposa do José Leite de Resende, era filha de Veríssimo Fernandes dos Santos e de Maria Ferreira. 

Ainda quanto ao José Leite de Resende e Teresa Maria de Jesus, bisavôs maternos da D. Laurinda, para além do Bernardo Leite de Resende (seu avô materno), tiveram outros filhos, dos quais apurei o José Leite de Resende, nascido em 5 de Maio de 1806 e que casou em 28 de Setembro de 1846 com Maria Pinto de Almeida (esta falecida em 4 de Junho de 1869 com 56 anos), sendo esta filha de Manuel Caetano dos Santos e de Maria Joaquina, do lugar de Estôse; o António Leite de Resende, nascido em 28 de Maio de 1808, a Maria, a Ana, o Joaquim, nascido em 8 de Junho de 1811 e que casou em 23 de Janeiro de 1857 com Maria Felizarda Gomes, esta filha de Francisco de Paiva e de Ana Margarida, de Cimo de Vila, e o Domingos nascido em 26 de Maio de 1816.

Destes nomes acima, filhos de José Leite de Resende e Teresa Maria de Jesus, o António Leite de Resende, nascido em 28 de Maio de 1808, falecido em 17 de Dezembro de 1871, veio a casar  em 27 de Maio de 1856 com uma descendente da Casa do Loureiro, da Barrosa, a Margarida Felizarda de São José Gomes de Almeida, que foram os pais de, entre outros, da Teresa, nascida em 1 de Abril de 1860, a Maria e o Raimundo Almeida de Leite Resende, este que foi pai, de entre outros, da D. Anunciação de Leite Resende, de que aqui já falámos.

Quanto à mãe da D. Laurinda, a Maria da Conceição Leite de Resende, como já ficou dito atrás, era a terceira filha de nome de Bernardo Leite Resende e de Margarida Rodrigues Pereira (de Fiães). Nasceu em 20 de Agosto de 1883 e faleceu em 14 de Dezembro de 1956. Casou com Manuel da Costa Moreira,  em 14 de Junho de 1916.

Os pais da D. Laurinda, Manuel da Costa Moreira e Maria da Conceição Leite Resende

Manuel Moreira da Costa, pai de D. Laurinda, era natural do lugar de Goim da freguesia de Romariz. Nasceu em 8 de Dezembro de 1890. Era filho de António da Costa Moreira e de Delfina Rodrigues de Oliveira. Era neto paterno de Manuel Alves Moreira  e de Maria Josefa Rodrigues. Era neto materno de Manuel José Rodrigues de de Rosa de Oliveira. Faleceu viúvo em 18 de Fevereiro de 1962. Este Manuel da Costa Moreira foi padrinho de baptismo do meu tio paterno Manuel Joaquim Gomes de Almeida (acabado de completar 100 anos de vida - 7 de Outubro de 2023).


O Sr. Moreira com o seu automóvel, defronte da sua casa, com o Pe. Francisco - Anos 40. O Sr. Moreira foi sempre uma pessoa de proximidade do Pe. Francisco.


O Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva al lado do Pe. Francisco - 1979

A D. Laurinda veio a casar em 18 de Fevereiro de 1943 com o Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, do lugar de Aldeia da freguesia de Pigeiros, também proveniente de uma importante família e que por lá ainda tem descendentes. Era filho de Manuel Inácio da Costa Silva Júnior e de Ermelinda  Baptista de Pinho, que casaram em 19 de Julho de 1889. Era neto paterno de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus (esta de Romariz). Era neto materno de Custódio António de Pinho e de Joaquina Maria Baptista de Jesus, da Casa da Quintão, do Outeiro - Guisande.

Por parte de seu avô, era sobrinho do reverendo Pe. António Inácio da Costa e Silva, que nasceu em 17 de Julho de 1864 e faleceu em 18 de Julho de 1938. Foi pároco da sua terra natal onde se encontra sepultado.


O Pe. José Inácio da Costa e Silva, tio paterno do Dr. Joaquim Inácio


Era ainda, pelo mesmo ramo, igualmente sobrinho do Pe. José Inácio da Costa e Silva, nascido em 21 de Junho de 1872 e que faleceu em 12 de Março de 1944, com 74 anos de idade, encontrando-se sepultado em Pigeiros. Este sacerdote foi pároco em Fermedo-Arouca e em Caldas de S. Jorge desde 1905 a 1939.

Ainda quanto a clérigos na família. o Dr. Joaquim Inácio teve um irmão sacerdote, o Pe. António Inácio da Costa e Silva Júnior, nascido em 6 de Junho de 1899. Chegou a ser pároco na freguesia do Vale. O ainda vivo e pároco de S. Vicente de Louredo, Pe. Eugénio de Oliveira e Pinho, é primo do Dr. Joaquim Inácio, já que é filho do seu tio António Baptista de Pinho.

Ainda da família Leite Resende, existiu o Pe.Manuel Leite de Resende, que nasceu em 4 de Setembro de 1758. Era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva (trisavôs maternos da D. Laurinda). Era neto paterno de Bartolomeu João e de sua segunda mulher Josefa Maria de Resende. Era neto materno de Manuel da Silva e de Ana Fernandes, do lugar da Lama. Era  irmão do Pe. José Leite de Resende, este nascido em 19 de Setembro de 1766.  

A mãe do Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva, Ermelinda  Baptista de Pinho, era de Guisande, filha de António Custódio de Pinho, da Casa da Quintão, do lugar do Outeiro.

O Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva era advogado com escritório na Vila da Feira. Era uma importante figura em Guisande. Após as primeiras eleições autárquicas realizadas depois do 25 de Abril de 1974, concretamente em 12 de Dezembro de 1976, chegou a ser presidente da Mesa da Assembleia de Freguesia de Guisande, entre 1976 e 1979.

Foi sempre o Dr. Joaquim Inácio uma figura respeitada e estimada pelos guisandenses e ajudou em muito ao desenvolvimento da freguesia, cedendo parcelas de terreno para benefício de abertura e alargamento de ruas bem como possibilitou a venda, a preços justos, de várias parcelas onde alguns guisandenses puderem edificar a sua habitação. Mesmo depois de falecido, a sua esposa e família continuaram receptivos à cedência de terrenos para permitir melhoramentos, como o caso do terreno onde existe a alameda frontal à igreja matriz. A freguesia, reconhecida, propôs ali a instalação de um busto de reconhecimento à sua figura mas a família, considerou, numa atitude de desprendimento, não a aceitar, mas em todo o caso a freguesia deu, com justiça e reconhecimento, o seu nome à respectiva alameda, no que foi inteiramente de justiça. 

Mais recentemente, e já depois do falecimento da D. Laurinda, a família acolheu a proposta da então Junta de Freguesia no sentido de ceder os terrenos envolventes à sede da Junta onde  seriam edificados futuros equipamentos, numa contrapartida a envolver a Câmara Municipal e compensações no processo de urbanização de terrenos no sítio de Linhares que a família estava a concretizar.

Apesar deste acordo ter suscitado por parte da oposição municipal algumas dúvidas e creio que mesmo uma fiscalização, considero pessoalmente, sem sombra de dúvidas que a freguesia de Guisande saíu a ganhar com esta permuta pois ficou com um amplo terreno pronto a ser utilizado em futuras necessidades de equipamentos e simultaneamente ficaram disponíveis parcelas de terreno para venda. A cena política deu uma reviravolta e os projectos então previstos, como o Centro Escolar de Guisande e a futura sede da Junta, não passaram de boas intenções. Mas isso são outras histórias.

Do casamento da D. Laurinda com o Dr. Joaquim Inácio, nasceram vários filhos, de que tenho memória da Manuela, a Odete, a Maria José, a Alcina, o António e o Manuel Inácio.

Nesta renovação própria das famílias, continua a Casa do Dr. Joaquim Inácio a pertencer a uma importante família no contexto da nossa freguesia e ainda muito considerada e respeitada.

Creio que das várias famílias guisandenses consideradas pelo povo como de abastadas, terá sido esta que ao longo dos tempos mais tem contribuído para o desenvolvimento da freguesia. 

Das demais famílias de Guisande com algum estatuto social, pouco se sabe e conhece de cedências, apoios e contributos a favor da freguesia ou se sim com contrapartidas bastantes. Eventualmente a Casa da Quintão, no tempo de António Custódio de Pinho (avô materno do Dr. Joaquim Inácio), que foi benfeitor em várias obras de melhoramentos na igreja matriz, mas pouco mais. Para além disso, alguns desses outros grandes proprietários raramente se mostraram disponíveis a dispensar património e a vender parcelas de terreno para construção e com isso condicionando e atrasando o progresso e crescimento urbanístico, bem ao contrário do que aconteceu em freguesias similares e nossas vizinhas que desse modo nos ultrapassaram em crescimento demográfico.

Para além do motivo meramente documental destes meus simples apontamentos genealógicos de uma importante família de Guisande, há uma outra leitura que deles se pode extrair, que de resto nem é novidade. Refiro-me ao facto das principais famílias abastadas de Guisande nesses outros tempos, terem ligações entre si por força de casamentos entre os seus membros. Assim é possível verificar ligações e relações familiares entre esta família de Trás-da-Igreja, com a da Casa da Quintão e a Casa do Loureiro. Com a Casa da Quintão, por via de descendência, também a Casa do Santiago. Mas há ainda outras ligações a outras casas igualmente consideradas no então contexto social da freguesia de Guisande.

Era de facto normal e de forma geral e sobretudo pelo estatuto social em que os grandes proprietários procuravam que os seus filhos e filhas casassem com outros da sua condição, mantendo e ampliando os patrimónios. Foi assim durante muito tempo. Na actualidade, com as melhores condições de vida e o aparecimento da classe média, as coisas são bastante diferentes e por isso vemos príncipes e princesas a casar com gente da "plebe". 

Por outro lado, os estatutos sociais e diferenças de classes foi-se diluindo e perdendo importância e já qualquer modesta família vive relativamente bem e com os seus filhos a poderem também asiprar, até por direito, a serem doutores e engenheiros. Filhos padres, como era vulgar nesses tempos passados nas famílias bastadas, é que já não, ou raridades.

Naturalmente que muito mais, mesmo em termos genealógicos poderia ser escrito sobre esta família, mas parece-me que o que aqui ficou escrito já é um bom contributo para a sua caracterização e, sobretudo para os mais novos, uma forma de melhor conhecerem as raízes de algumas das famílias da nossa freguesia e comunidade.

Bem sei que, à maioria, o tema e assunto pouco importará, até porque sempre teve sentido do provérbio que sentencia que "Deus dá nozes a quem não tem dentes". Ontem como hoje há verdades imutáveis.


Nota final: Os apontamentos aqui escritos, por dificuldades várias e escassez de documentos podem padecer de alguns erros ou imprecisões ou omissos quanto a alguns dados como nomes de familiares e datas. Por conseguinte baseiam-se apenas no que foi pssível pesquisar. Quaisquer informações que possam servir para completar ou corrigir são bem-vindas.

25 de setembro de 2023

Casamentos? Nem por isso...

 


Ao contrário do que se possa pensar, noutros tempos, mesmo quando era grande o número de filhos em qualquer família, e 6, 7, 8, 9 ou 10 eram números normais, não se realizavam muitos casamentos. Por exemplo, aqui em Guisande, os assentos paroquiais dos anos 1901 e 1902 não registam qualquer enlace e mesmo no ano seguinte, em 1903, apenas se realizaram 3.

Mesmo quanto a filhos, eram comuns os filhos de mães solteiras. Numa época em que não havia planeamento familiar nem prática de métodos contraceptivos, e a pílula só veio a ser criada já na década de 1960 e a generalizar-se entre nós sobretudo a partir da década de 1980, os constrangimentos morais e religiosos conduziam ao forçoso respeito pela vida que assim prevaleciam sobre a "vergonha" social. Os casos de abortos ou "desmanchos" voluntários eram reduzidos, pelo menos nos meios rurais.

Não supreende que em face do elevado número de filhos e da falta de condições de higiene, de assistência médica, nomeadamente durante a gravidez e parto, e meios de tratamento, e por conseguinte à mercê de doenças mais ou menos infecciosas, a mortalidade infantil por esses tempos era alta e mesmo nos adultos eram frequentes os falecimento em idade jovem ou meia idade.

Nas minhas pesquisas de genealogia, são vários os casos em que um qualquer Manuel ou uma Maria, nomes muito vulgares, serem baptizados como segundos ou terceiros de nome, isto é, que vinham substituir outros filhos a quem já havia sido dado esses nomes mas que faleceram com idades de criança ou mesmo de bébés.

Em resumo, pesquisar este tipo de documentos nos velhos assentos paroquiais de baptizados, casamentos e óbitos, é simultaneamente uma forma de observar outros apontamentos sociais e demográficos.

20 de setembro de 2023

Alfaiate setecentista


Por este assento de baptismo de um José, nascido em 28 de Abril, do ano de 1742, ficamos a saber que existia em Guisande, no lugar de Fornos, um alfaiate, de nome Manuel Francisco, marido de Maria de Pinho, que era sua segunda mulher. Curioso o facto do seu filho José ter tido como padrinho de baptismo o padre José Pinto, do lugar das Quintães. À falta de mais elementos, incluindo os apelidos e os nomes dos avôs, que o assento não fornece, ficamos sem saber se esse sacerdote era ou não familiar do alfaiate, presumindo-se que sim pois era normal ser alguém da família. 

Ainda deste alfaiate encontrei o nascimento de outros filhos, o  Mateus, nascido em 21 de Setembro de 1743, a Jacinta nascida em 14 de Abril de 1745 e a Teresa nascida em 20 de Setembro de 1746.

Percebe-se pelas datas aproximadas do nascimento dos filhos, que o alfaiate não perdeu tempo a trabalhar com as linhas com que se cosem a família.

Nesse ano de 1742 era pároco em Guisande o abade Manuel de Carvalho, que fez o referido assento de baptismo, tendo sido o fundador da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário aqui em Guisande, secular entidade que ainda existe.

Quanto ao padre José Pinto, das Quintães, o seu nome consta na lista de sacerdotes nascidos em Guisande, a qual integra a monografia "Defendei Vossas Terras", do Cónego Dr. António Ferreira Pinto, edição de 1936. Sobre o referido sacerdote das Quintães é dito que "...em 1769, tinha 79 anos e fora ordenado cm 1724. Rebentou-lhe na mão uma espingarda, ficou muito doente dos olhos e nunca fez exame de confessor."

Dos alfaiates conhecidos que tiveram oficina em Guisande, desde logo lembramos o Joaquim Dias de Paiva, "O Pisco", que viveu no lugar da Igreja. Este Joaquim Dias de Paiva, nasceu em 24 de Setembro de 1906, sendo baptizado no dia 27 do mesmo mês e ano, tendo como padrinho Manuel de Pinho e Maria da Luz, do lugar do Viso. 

Era filho de Francisco Dias de Paiva (este natural de Caldas de S. Jorge) e de Margarida Augusta da Conceição (esta natural de Guisande). Era neto paterno de Jerónimo de Paiva e de Maria Teresa de Oliveira. Era neto materno de António de Pinho e de Maria de Jesus. No seu baptismo, em 27 de Dezembro de 1907. Teve vários irmãos, entre os quais o António, o Bernardo, a Miquelina, o José e o Guilherme. 

Casou em 26 de maio de 1926 com Luzia Rosa de Jesus, de Nogueira da Regedoura. Faleceu em 11 de Fevereiro de 2003. Foi como atrás se disse, um exímio alfaiate. Viveu no lugar da Igreja, junto à ribeira. Deixou filhos e filhas.

Desta família Dias de Paiva publiquei aqui já alguns apontamentos genealógicos.

Quanto a alfaiates em Guisande, para além do Joaquim Dias de Paiva, e o mais recente de que tenho memória, foi o senhor Delfim Gomes da Conceição, no lugar de Casaldaça, conhecido pelo "Delfim do Serra" ou pela alcunha "o Piranga" que trabalhava com as filhas.

Pelas minhas pesquisas pelos velhos assentos paroquiais recordo-me de passar ainda por um outro alfaiate guisandense, ali pelo século XIX, mas não anotei o nome, pelo que oportunamente tentarei procurar e actualizar aqui este apontamento.

15 de setembro de 2023

A D. Anunciação da Barrosa





Ali no lugar da Barrosa, aqui em Guisande, no gaveto entre a Rua 25 de Abril e a Rua Senhor do Bonfim, ainda sobram as ruínas do que foi uma casa abastada e importante e de uma das ilustres famílias guisandenses. Ali morou uma figura ainda conhecida dos mais velhos e de que eu próprio ainda tenho memória, mas uma ilustre desconhecida para os mais novos. Falo da figura da D. Maria da Anunciação de Leite Resende, que, sabem os mais velhos, chegou a ser organista no Grupo Coral de Guisande. Aquele velho órgão de foles que existia na nossa igreja matriz, e no qual ainda eu toquei, e que no tempo do Pe. Francisco, já sem a D. Anunciação a tocar, ele usava para os ensaios dos novos cânticos.

Esta ilustre senhora terá tido, pois, uma esmerada educação, incluindo formação musical, e dizem que terá estudado piano no Porto.

Os pais da D. Maria da Anunciação, Raimundo de Almeida de Leite Resende e Jovita Gomes da Conceição casaram na paróquia de Nossa Senhora da Vitória, na cidade do Porto, em 22 de Agosto de 1887. Quando casaram tinha ele 25 anos e ela 17. Do que foi possível apurar, do casamento nasceram duas filhas, a Maria da Anunciação, a Maria e o António, que abaixo identificaremos.

O pai da D. Anunciação era um ilustre guisandense do seu tempo e chegou a ser presidente da Junta Paroquial de Guisande, equivalente à Junta de Freguesia, no final do séc. XIX.

Raimundo Almeida de Leite Resende nasceu no dia 24 de Fevereiro do ano de 1872.  Era filho de António Leite de Resende e Margarida Felizarda de S. José. Era neto paterno de José Leite de Resende e Teresa de Jesus e neto materno de Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de S. José. Foi padrinho de baptismo Raimundo José de Almeida (morador no lugar da Lama e tio materno, e Rita Felizarda de S. José (tia materna). Faleceu em Guisande em 1933 com 61 anos.

Este Raimundo Almeida Leite de Resende teve pelo menos uma irmã, a Maria Felizarda de Almeida, nascida em 28 de Julho de 1858 e que casou em 25 de Maio de 1880 com António Joaquim dos Reis Oliveira, filho de Manuel de Oliveira e de Ana Joaquina. Faleceu em 5 de Julho de 1941 e o seu marido em 30 de Novembro de 1944. Este casal teve filhos, nomeadamente a Angelina Leite de Oliveira, que por sua vez casou com José Leite Gomes, natural de Pigeiros, filho de Manuel Gomes Henriques Leite e de Rosa Maria Pereira de Jesus. Por sua vez estes foram pais da Maria Angelina que casou com o Américo Pinto dos Santos (Chefe) e da  Maria da Anunciação Leite de Oliveira Gomes, nascida a 10 de Maio de 1931, que casou em 25 de Fevereiro de 1964 com Rogério Fernandes da Costa Neves, que por sua vez  foram pais da Maria José Gomes Neves que casou com Rui Manuel de Azevedo Gomes Giro.

Quanto a Margarida Felizarda de S. José, esposa de Raimundo Almeida de Leite Resende, era bisneta paterna de Domingos Francisco de Almeida Vasconcelos (de Mafamude - Gaia) e Clara Angélica Rosa. Este Domingos Francisco era filho de Manuel Francisco Trindade e de Maria de Almeida (da Sé-Porto). Esta Clara Angélica era filha de Domingos Francisco e de Teresa Vitória (de Cortegaça-Ovar)

Ainda quanto ao Raimundo, era bisneto paterno de José Leite de Resende (do lugar de Trás-da- Igreja) e Teresa Maria de Jesus. Este José Leite de Resende era filho de Manuel José de Resende e de Mariana da Silva. Esta Teresa era filha de Veríssimo Fernandes dos Santos e de Maria Francisca

Jovita Gomes da Conceição nasceu no lugar da Estrada, freguesia de Mansores, concelho de Arouca, a 31 de Janeiro de 1870, tendo sido baptizada na igreja paroquial local em 25 de Março de 1870. Era filha de António da Conceição Neves Cardoso e de Ana Gomes da Conceição Neves Cardoso (de Estrada - Mansores - Arouca). Era neta paterna de Manuel da Conceição e de Maria Rosa. Era neta materna de Ana Margarida. Faleceu em Guisande em 12 de Abril de 1940 com 70 anos. Sobreviveu ao marido 9 anos.



D. Jovita Gomes da Conceição


Os filhos de Raimundo de Almeida Leite Resende e Jovita Gomes da Conceição:


Do que consegui pesquisar, Raimundo e Jovita tiverem os seguintes filhos:

Maria da Conceição Leite Resende

Esta Maria da Conceição casou com Arnaldo Borges da Silva Neto, filho de Manuel Borges da Silva Neto e de Leopoldina Gomes da Conceição, de S. Miguel de Silvares, concelho de Lousada. 

Este Arnaldo Borges da Silva Neto chegou a ser presidente e secretário da Junta de Freguesia de Guisande no início da década de 1920.

Do que consegui apurar este casal, o Arnaldo e a Maria da Conceição teve um filho, o António Neto de Resende Borges, que nasceu em 3 de Maio de 1921.

Teve ainda uma filha, a Maria Isaura da Conceição Resende Borges, que nasceu a 17 de Fevereiro de 1917 e faleceu em 20 de Agosto de 2015, e que veio a casar em 20 de Setembro de 1940 com o Dr. António Ferreira da Silva e Sá, de S. Tiago de Lobão, este nascido em 28 de Maio de 1913 e falecido em 5 de Junho de 1995.

Por sua vez, a Maria Isaura e o Dr. António Sá tiveram vários filhos entre os quais o Prof. José, o Arnaldo, nascido a 5 de Novembro de 1947, o Fernando António, nascido em 29 de Abril de 1951, a Maria Lúcia, nascida em 5 de Março de 1953, Francisco e a Fernanda, esta que está casada com o S. José Alves da Costa, que vivem em parte da Casa do Loureiro, no lugar da Barrosa. Ainda a Maria Jacinta.

António Leite de Resende, primeiro de nome, nasceu em Junho de 1888 e faleceu no dia 27 do mesmo mês e ano, com 17 dias de vida.

António Leite de Resende, segundo de nome, nasceu em 21 de Abril de 1889. Foi baptizado em Guisande em 24 de Abril de 1889. Foi padrinho Raimundo José de Almeida, seu tio e a avó materna Ana Gomes da Conceição Neves Cardoso. Faleceu em 27 de Fevereiro de 1890 apenas com 10 meses de idade.

Maria Leite de Resende, nasceu a 30 de Novembro de 1890. Foi baptizada em Guisande no dia 1 de Dezembro de 1890.

Foram padrinhos de baptismo António Joaquim dos Reis Oliveira (do Reguengo) e Margarida Felizarda de S. José (avó paterna).

Foi casada com Joaquim Gomes de Almeida, este falecido em Guisande no dia 1 de Julho de 1915 e ela faleceu em 15 de Dezembro de 1927.

Maria da Anunciação Leite de Resende, nasceu em 4 de Julho de 1908. Foi baptizada no dia 9 do mesmo mês e ano na igreja matriz de Guisande. Foram padrinhos de baptismo António Joaquim dos Reis Oliveira (do Reguengo) e a sua irmã Maria, então solteira, com 17 anos. Faleceu a 5 de Maio de 1989, no Hospital em S. Paio de Oleiros, com 81 anos de idade.


Nota final: Os apontamentos aqui escritos, por dificuldades várias e escassez de documentos podem padecer de alguns erros ou imprecisões ou omissos quanto a alguns dados como nomes de familiares e datas. Por conseguinte baseiam-se apenas no que foi pssível pesquisar. Quaisquer informações que possam servir para completar ou corrigir são bem-vindas.

10 de setembro de 2023

Voto da paróquia de Guisande à Senhora das Dores e ao Mártir S. Sebastião

 


Poucos o saberão, mas a devoção à Senhora das Dores e ao Mártir S. Sebastião na nossa paróquia de S. Mamede de Guisande, completará neste ano de 2023, 105 anos. Precisamente em 13 de Outubro próximo.

Ora esta devoção decorre de um voto feito pela paróquia no ano de 1918, por iniciativa do então pároco, o fianense Pe. Abel Alves de Pinho. Esse voto, assinado por 38 paroquianos, entre eles o pároco e 5 mulheres, está escrito e assinado no Livro de Visitações, com a data de 20 de Janeiro de 1919, nos seguintes termos (com uma ou outra adaptação da ortografia ou gramática):


"Verdadeiramente alarmado com os estragos enormes que se vão fazendo por toda a parte pelo terrível flagelo da peste, o povo de Guisande reunido na igreja paroquial, no Domingo 13 de Outubro de 1918, por ocasião da missa conventual, e por lembrança do seu pároco, Abel Alves de Pinho, fez o seguinte voto a Nossa Senhora das Dores e ao mártir S.Sebastião, se o flagelo da peste poupasse a freguesia: 

1.º - Guardar sempre o dia 20 de Janeiro e fazer nesse dia uma festa, só de portas da igreja adentro, a Nossa Senhora das Dores e a S.Sebastião; 

2.º - Confessar-se na véspera e comungar no dia da festa; 

3.º - Fazer nesse dia, antes da missa cantada na igreja, uma procissão da capela do Vizo para a igreja com as imagens da Senhora das Dores e do mártir, em andores, rezando no percurso a coroa das Dores e a ladaínha. 

Esta procissão nunca poderá ter música e se por qualquer circunstância a festa e procissão não puderem fazer-se no dia 20 ficarão transferidas para o Domingo seguinte. 

A festa contará de missa solene e com exposição do Santíssimo à tarde e nunca poderá ter véspera nesse arraial. 

Promete ainda recomendar esta devoção aos vindouros e concorrer com as suas esmolas para custear as despezas e fazer consultas. 

O povo de Guisande foi ouvido e pode dizer-se que o flagelo não chegou a penetrar aqui; e por isso e para quem conste se escreveu este voto no livro das visitações desta freguesia e vão assiná-lo todos os que o queiram fazer.

"Guisande, 20 de Janeiro de 1919." 

Assinaram: O Pároco - Abel Alves de Pinho; - Joaquim José da Silva; - Manuel José Henriques; - Domingos José da Silva; - Manuel Ferreira Linhares; - Joaquim da Silva; - Francisco Dias de Paiva; - Manuel Henriques Correia; - António Alves de Castro; - Alberto d'Almeida Leite d'Oliveira; - José Alves de Pinho; - António Augusto Guedes; - Joaquim Gomes d'Almeida; - José Joaquim Gomes; - José Ferreira Linhares; - Rita Sousa de Jesus; - Manuel Augusto Guedes; - António Ferreira Linhares, - José Ferreira dos Santos; - Tomás Alves da Silva; - António Castro Silva; - Manuel _António dos Santos; - José da Silva; - António Gomes da Silva; - Manuel José António; -Jerónimo dos Santos; - Manuel Francisco da Silva; - Manuel da Costa Moreira; - Domingos António Almeida; - Rufino da Silva Santos; - Rufino Ferreira Pinto; - Rodrigo Ferreira Pinto; - Laurinda Henriques Baptista; - Margarida Ferreira Linhares;-  Raimundo Leite Loureiro; - Rosária Rosa Duarte; - Rosa Teresa de Jesus ; - Joaquim António de Almeida. 

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Notas: Pelo que se percebe, alguns dos pressupostos do voto conforme feito não têm sido cumpridos nos últimos anos, nomeadamente por quase nunca se realizar a festa no próprio dia 20. Mesmo a possibilidade de transitar para o Domingo seguinte, também nem sempre tem sido garantida pois por vezes tem sido no Domingo anterior.

Seja como for, não deixa de ser interessante este voto, que confirma que a devoção ao mártir e à Senhora das Dores aqui em Guisande não decorre directamente do voto expresso pelo povo das terras de Santa Maria, incluindo a Feira, com origem em 1505, mas de um voto próprio. Naturalmente desconheço se este tipo de voto a nível paroquial existe em outras freguesias do nosso concelho.

31 de agosto de 2023

Crisma em Guisande - 27 de Fevereiro de 1983

 


Em 27 de Fevereiro de 1983 realizou-se na pároquia de S. Mamede de Guisande uma Visita Pastoral, pelo bispo auxiliar da Diocese de Porto, D. Domingos de Pinho Brandão, (natural de Rossas - Arouca) que culminou com a administração do sacramento do Crisma. 

No total foram crismadas 124 pessoas, na sua maioria jovens, sendo que chegaram a estar inscritas 132. Recorde-se que por essa data, há já vários anos que a paróquia de Guisande não tinha cerimónia de Crisma, pelo que se explica o elevado número de participantes. Os mesmos tiveram desde Janeiro desse ano várias reuniões preparatórias. Cerca de dois terços dos crismandos fizeram-se acompanhar pelos próprios padrinhos de baptismo e os restantes tiverem como padrinhos o casal Joaquim Alves de Pinho Santiago e Maria Zélia Baptista Henriques Santiago (ambos já falecidos).

Na semana que antecedeu a Visita Pastoral, de 21 a 27 de Fevereiro, a paróquia preparou-se espiritualmente e viveu uma semana de pregações com o Pe. José Pinto de Carvalho, da Congregação do Espírito Santo. Foram ainda realizadas reuniões com os participantes e forças vivas da freguesia.

A recepção ao Bispo foi efusiva, tendo-se preparado tapete com flores entre o salão paroquial e a entrada da igreja e cânticos. O grupo coral foi auxiliado com violinistas vindos de fora.

Para além do bispo D. Domingos de Pinho Brandão, que presidiu à celebração, concelebraram o Pe. Francisco, o Pe. Leonel Lopes, o Pe. Santos Silva (vigário da vara), o Pe. Domingos, pároco de Pigeiros e ainda o pregador, Pe. José Pinto de Carvalho. Foram ainda convidados para a celebração os padres guisandenses, padre José Oliveira, padre Agostinho Silva e padre António Santiago, que por motivos maiores não puderam participar.

Depois das cerimónias decorreu na residência paroquial um almoço onde participaram os sacerdotes que tomaram parte na celebração, o motorista do Sr. bispo e ainda o o Pe. Aguiar, delegado episcopal, que apareceu já pelo final do almoço. 

Depois dessa data tão importante para a comunidade de Guisande, as cerimónias de Crisma tornaram-se mais regulares na nossa paróquia.

21 de agosto de 2023

O padre Eugénio Pinho e Guisande


Creio que todos em Guisande e arredores conhecem a ilustre figura, doutor e reverendo Pe. Eugénio de Oliveira e Pinho, actual pároco da paróquia e freguesia nossa vizinha, de S. Vicente de Louredo. Já poucos saberão, porém, da sua ligação à nossa freguesia de Guisande. De facto, este ilustre louredense é também guisandense, já que é filho de António Baptista de Pinho, que foi da Casa da Quintão, no lugar do Outeiro.

Assim, por parte do pai, é neto de Custódio António de Pinho e de Joaquina Maria Baptista de Jesus (esta de S Tiago de Lobão). Por sua vez, o seu pai António era neto paterno de Manuel António de Pinho e Maria Rosa de Jesus e neto materno de Manuel Caetano Cardoso e Maria Rosa da Mota.

António Baptista de Pinho, pai do Pe. Eugénio, nasceu em 18 de Março de 1877. Casou com Madalena Fontes de Oliveira, natural do Vale, em 6 de Agosto de 1937, por isso tardiamente, já com 60 anos. Faleceu em 7 de Fevereiro de 1950. A Madalena, a esposa deste António Baptista de Pinho, nasceu em 25 de Janeiro de 1901, por isso mais nova 24 anos que o marido. Era filha de António Francisco de Oliveira e de Ana Ferreira de Fontes, esta natural de Romariz. Era neta paterna de Domingos Francisco de Oliveira e de Rosa Maria de Oliveira e neta materna de Manuel Ferreira de Fontes e de Ana dos Santos. Faleceu em 29 de Maio de 1984, com 83 anos de idade, sobrevivendo ao marido por cerca de 34 anos.

António Baptista de Pinho teve vários e numerosos  irmãos (pesquisei 14) sendo que alguns faleceram pelo meio. Entre eles:

A Ermelinda  Baptista de Pinho, tia do Pe. Eugénio, que casou em 19 de Julho de 1898 com Manuel Inácio da Costa Silva Júnior (filho de Manuel Inácio da Costa e Silva e de Margarida Henriques de Jesus - esta de Romariz), da freguesia de Pigeiros, dando origem a uma das abastadas famílias, de que teve origem o Dr. Joaquim Inácio da Costa e Silva que veio a casar em Guisande com D. Laurinda de Leite Resende, da casa do Sr. Moreira, do lugar da Igreja. As testemunhas desse casamento foram o o Pe. António Inácio da Costa e Silva (17-07-1864<>18-07-1938), então pároco de Pigeiros, irmão do noivo, e  António Baptista de Pinho (pai do Pe. Eugénio), irmão da noiva.

Ainda outra curiosidade, este Pe. António Inácio da Costa e Silva tinha outro irmão sacerdote, o Pe. José Inácio da Costa e Silva (21-06-1872<>12-03-1947), que chegou a ser pároco das freguesias de Fermedo e depois de Caldas de S. Jorge. Estes irmãos padres tinham como avôs paternos José Inácio da Costa e Silva e Ana Joaquina Henriques da Silva e avós maternos António José de Paiva e Ana Maria Henriques, de Romariz.

Deste casamento de Manuel Inácio da Costa e Silva Júnior com a  Ermelinda Baptista de Pinho, tia do Pe. Eugénio, também saiu um filho sacerdote, o Pe. António Inácio da Costa e Silva, nascido em Pigeiros em 6 de Junho de 1899. Rezou missa nova a 8 de Novembro de 1921. Esteve como vigário cooperador em Santo Ildefonso - Porto e depois de 4 de Julho de 1924 foi pároco na freguesia do Vale, Vila da Feira.

Este António, pai do Pe. Eugénio, casou com Madalena Fontes de Oliveira, natural do Vale, em 6 de Agosto de 1937, por isso tardiamente, já com 60 anos. Faleceu em 7 de Fevereiro de 1950. 

Para além das ligações pela parte do pai a Guisande e a Louredo, pela parte da mãe tem o Pe. Eugénio ligações familiares às freguesias do Vale e de Romariz. 

Por sua vez, a mãe do Pe. Eugénio, Madalena, nasceu em 25 de Janeiro de 1901, por isso mais nova 24 anos que o marido. Era filha de António Francisco de Oliveira e de Ana Ferreira de Fontes, esta natural de Romariz. Era neta paterna de Domingos Francisco de Oliveira e de Rosa Maria de Oliveira e neta materna de Manuel Ferreira de Fontes e de Ana dos Santos. Faleceu em 29 de Maio de 1984, com 83 anos de idade, sobrevivendo ao marido por cerca de 34 anos.

De referir ainda que, em termos familiares, o Pe. Eugénio Pinho é um de três irmãos, com o Custódio, já falecido e, ainda por cá, a Isabel, professora primária, que vive na freguesia do Vale.

Mais dados biográficos (*)

Quanto ao Pe. Eugénio, nasceu aos 17 de Agosto de 1939 (dia de S. Mamede), no lugar de Louredo, da freguesia de Louredo, concelho de Vila da Feira, onde residiam os pais.

Principiou a sua instrução na Escola Primária de Vila Seca, na freguesia de Louredo, de 1945 a 1949, sendo seu professor António Pereira da Silva Cabral, de Duas Igrejas -  Romariz, de quem recebeu, além dos conhecimentos académicos, uma personalidade e verticalidade que o marcou e tem orientado na vida. 

Quanto ao ensino secundário, em 1949, com 10 anos, ingressou no Seminário Diocesano de de Ermesinde, onde frequentou o 1° ano do Curso Secundário. Em 1950 transitou para o Seminário de Trancoso, em Vila Nova de Gaia, onde frequentou os 2° e 3° anos do Curso Secundário. Em 1953, transitou para o Seminário de Vilar,na cidade do Porto, onde fez os 4°, 5°, 6° e 7° anos. Em 1957 veio para o Seminário Maior de Teologia, junto à Sé do Porto, onde frequentou o Curso de Teologia, tendo-o terminado em 1961 com as mais elevadas classificações. 

Sacerdócio - Em 07 de Abril de 1962 recebeu a Ordenação Sacerdotal na Capela do então Paço Episcopal do Porto, hoje Casa da Torre da Marca, sendo Bispo ordenante D. Florentino de Andrade e Silva, Administrador Apostólico da Diocese do Porto, pelo facto de o Bispo Ordinário da Diocese, D. António Ferreira Gomes se encontrar no exílio, às ordens do Dr. António de Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros da República Portuguesa. 

De 1961 a 1963 exerceu as funções de Prefeito e Professor de Português e Latim no Seminário de Trancoso, em Vila Nova de Gaia. Estudos Superiores: - De 1963 a 1967 frequentou, em Roma, a Pontifícia Universidade Gregoriana, onde se licenciou em Direito Canónico, e a Academia Alfonsiana -  Instituto de Teologia Moral da Pontifícia Universidade Lateranense. 

Regressado a Portugal exerceu as funções de Superior Interno e Professor de Teologia, de 1967 a 1972, no Seminário Maior do Porto. De 1970 a 1972 frequentou a Faculdade de Direito da Uni-versidade de Coimbra, como aluno voluntário, tendo concluído a Licenciatura em Direito Civil em Julho de 1976. 

Outras actividades:

Em Novembro de 1976 iniciou funções de Juiz no Tribunal Eclesiástico do Porto. Em Outubro de 1977 assumiu funções de Professor Contratado de Teologia Moral no Instituto de Ciências Humanas e Teológicas do Porto. Ao mesmo tempo exerceu actividade forense, como advogado, inscrito pela Comarca de Santa Maria da Feira, onde teve seu escritório, encontrando-se presentemente na situação de Reforma. 

Em Outubro de 1987 iniciou funções de docência da Cadeira de Ética Social, como Professor contratado da Faculdade de Teologia - Centro Regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa. Desde 1991 exerce funções de Defensor do Vínculo no Tribunal Eclesiástico do Porto e em 1999 foi nomeado Promotor da Justiça da Diocese do Porto. 

É Sócio fundador da Associação Portuguesa de Canonistas. 

Em 1991-92 frequentou, no Instituto de Defesa Nacional, o Curso de Defesa Nacional  e é Sócio n° 404/ CD. N92 da Associação dos Auditores dos Cursos de Defesa Nacional. É Sócio n° 200 do Centro Social, Cultural e Recreativo de Louredo. 

Após o falecimento do Pe. Acácio de Freitas, em Setembro de 2014, foi  nomeado pároco da sua terra natal, encontrando-se até ao momento ao seu serviço, com amor e muita dedicação, apesar das limitações da sua já bonita idade (84 anos) que lhe permitiria a retirada de funções há já vários anos. 

Que Deus o conserve com todas as faculdades por muitos mais anos.


Uma curiosidade:

De acordo com o Pe. Acácio de Freitas, de cuja monografia sobre Louredo extraí a foto acima e alguns dos dados biográficos (*) sobre o Pe. Eugénio, o edifício da residência paroquial de Louredo, terá sido mandado construir por 1903, com as obras pagas pelo Sr. Custódio António de Pinho, avô do Pe. Eugénio, pois para além de um grande lavrador e proprietário de Guisande, também detinha muitas propriedades em Louredo, algumas delas, por herança, nos dias de hoje na posse do actual pároco de Louredo.

Este Custódio António de Pinho, da Casa da Quintão, no Outeiro, foi também, em diferentes tempos, um benemérito na sua freguesia de Guisande, pois custeou ou contribuiu para muitas obras na paróquia, sobretudo na igreja matriz e residência paroquial, que foi edificada por 1907.

Custódio António de Pinho, nasceu em 21 de Fevereiro de 1846, sendo filho de Manuel António de Pinho e de Maria Rosa. Era neto paterno de Manuel António de Pinho e de Josefa Francisca de Sá, do lugar de Vila Seca, freguesia de Louredo, e neto materno de António Fernandes e Maria Luisa, do lugar de Azevedo, freguesia de S. Jorge de Caldelas.

Foi padrinho deste Custódio, avô do Pe. Eugénio, o reverendo Pe. Rodrigo António Pereira do Vabo de Sá Coutinho, da vila de Barcelos. Como curiosidade, este sacerdote,  faleceu com 83 anos em 22/1/1880, na rua da Madalena, em Barcelos. Creio que a ligação ao baptizado se prende à família Sá da avó materna, de Vila Seca - Louredo.

17 de agosto de 2023

Padre Delfim Augusto Guedes

 


Delfim Augusto Guedes, nasceu no lugar da Leira, na Casa do Ferreiro, na freguesia de Guisande, em 14 de Março de 1889. Era filho de Manuel Augusto Guedes, ferreiro de profissão, natural da freguesia de S. Jorge de Caldelas e de Rosa Gomes da Silva, doméstica, natural de Guisande.

Era neto paterno de Bernardo Guedes e de Maria Henriques, do lugar de Azevedo, de S. Jorge de Caldelas e neto materno de Manuel da Silva e de Margarida Gomes, do lugar da Leira, de Guisande.

Foram seus padrinhos de baptismo, em 18 de Março de 1889, Inácio Francisco e Custódia Gomes da Silva, do lugar dos Valos, freguesia de Fiães.

Ingressou no seminário do Porto e recebeu o presbiterado a 12 de Novembro de 1911, em Remelhe, durante a expulsão do bispo D. António Barroso. 

Foi durante vários anos pároco de Santa Eulália de Sanguedo, concelho de Vila da Feira e de seguida paroquiou a freguesia de S. Jorge de Caldelas (Caldas de S. Jorge), terra natal de seu pai, a partir de 28 de Setembro de 1939, sucedendo ao Pe. José Inácio da Costa e Silva, este natural de Pigeiros, que resignou nesse ano, seguindo depois, em 1943,  para a freguesia de Escariz - Arouca, onde faleceu em 1961 e ali foi sepultado no cemitério local, tendo sido muito estimado pelos seus paroquianos. A foto que ilustra este apontamento foi recolhida da respectiva lápide.

1 - Nota à margem:

Sobre este sacerdote, aquando da sua paroquialidade em Escariz - Arouca, José António Rocha, no documento intitulado "A Senhora da Abelheira", inserto no Lusitânia Sacra, 2ª série, Tomo 19-20 (2007-2008), a páginas 449, narra como lhe tendo sido contado pelos locais um episódio que considerou anedótico, mas que numa perspectiva sociológica ou de história das mentalidades, dizia muito. Assim, lá por Escariz dizia-se que o Pe. Delfim (ali pároco entre 1943 e 1961) não era muito devoto da capela da Senhora da Abelheira (porventura pela polémica da sua história e fundação) e que a ela se referia depreciativamente como "...lá em cima do monte". Ora por volta de 1960, numa celebração na dita capela da Abelheira, quando a missa estava a "santos" lançaram os tradicionais foguetes, sendo que um deles caiu sobre o telhado, furando-o e ferindo o pároco na cabeça, tendo sangrado..

Fosse ou não "castigo divino", certo é que a partir dessa data o padre não terá voltado a maldizer a capela.

Nota: Sendo que faleceu em 1961, verdade se diga, o Pe. Delfim também não teve muito mais vida para continuar a depreciar a capela da Abelheira. Não se consta que tenha morrido por causa do episódio do foguete, de resto um acontecimento algo mitificado e lendário, como reconheceu o atrás referido autor José António Rocha.

2 - Nota à margem:

Ainda sobre o Pe. Delfim Guedes, contou-me em vida o avô materno de minha esposa, Belmiro Gomes Henriques, do lugar da Igreja, que o formato da cúpula da torre da nossa igreja matriz de Guisande, em pirâmide de oito faces, se deveu ao pai do referido padre, o qual custeou as obras de remodelação da torre da igreja, que até então era mais baixa e aproximadamente esférica, na condição prévia de ser igual à da torre da igreja da freguesia de Sanguedo, onde ali paroquiava o filho.

Contou-me ainda a propósito, o Sr. Belmiro, que até então o formato da cúpula da torre da nossa igreja fazia lembrar um forno pelo que era alvo de troça das pessoas das freguesias vizinhas, que frequentemente se metiam com os de Guisande, questionando: - Então, vai haver fornada? - Já tiraram o pão do forno?

Resumo:

O Pe. Delfim Augusto Guedes, foi, pois, uma figura com relevância, mas quase ignorada e desconhecida na nossa freguesia, sua terra natal. Não surpreende, pela distância temporal sobre a época em que viveu, mas também porque a sua vida sacerdotal foi toda passada fora de Guisande, mesmo que em paróquias próximas.

Mais gostaríamos de saber e escrever sobre este sacerdote, mas fica para já este apontamento, que de algum modo, lhe faz a devida evocação.

13 de agosto de 2023

Nossa Senhora da Boa Fortuna - Borralhoso

 

Uma das particularidades com a Nossa Senhora da Boa Fortuna, que se venera na capela do Viso, aqui em Guisande, é o facto de relativamente perto de nós, precisamente no lugar de Borralhoso, da freguesia de Fermedo, concelho de Arouca, existir também uma capela com a mesma invocação. Além do mais, habitualmente a festividade em sua honra ocorre precisamente no primeiro Domingo do mês de Agosto, coincidindo a data com a da nossa própria festa.

Com esta particularidade e de algum modo uma coincidência, seríamos levados a pensar se alguma delas exerceu influência sobre a outra. Todavia, a capela original em Borralhoso, demolida e substituída há já alguns anos por uma de traça mais moderna e incaracterística, diga-se, foi edificada em 1885, por isso posterior à data de construção da capela do Viso em 16 anos, já que esta foi terminada por 1869.

Entretanto, neste ano de 2023, a nossa festa do Viso foi antecipada uma semana, por razões conhecidas e devido à data da Jornada Mundial da Juventude, e a festa em Fermedo foi adiada, pelo que assim tive a oportunidade de fazer a visita à capela e à festa para assistir à procissão.

Alguém me havia dito que para além do nome comum, Senhora da Boa Fortuna, as imagens também seriam muito parecidas. E de facto, a ter em conta a imagem usada no cartaz da festa, é exactamente igual, mas como as aparências iludem e nem sempre o que parece é, na realidade a imagem no cartaz da festa em Borralhoso corresponde à imagem da senhora em Guisande, de resto de minha autoria. Por conseguinte a imagem da capela de Borralhoso é em tudo diferente, como se pode comparar pelas fotos que ilustram este artigo.

No meio de tudo isto, não se percebe como é que alguém elabora e imprime um cartaz sem ter esta situação em consideração, bem como da parte da Comissão de Festas se permita uma situação destas. O seu a seu dono e as imagens usadas nos cartazes ou nos chamados santinhos, que se colocam junto das caixas de recolha de esmolas, devem ser as correspondentes ás existentes nas próprias igrejas ou capelas. Já aqui em Guisande, há alguns anos, não no cartaz mas nos santinhos, se cometeu essa asneirada, ao usar-se a imagem de um Santo António que não o de Guisande. E mesmo quanto ao nosso Santo António, deve usar-se sempre o existente na capela e não o que está na igreja.

Fica bem o seu a seu dono, para além da elementar coerência. A Senhora da Boa Fortuna de Borralhoso certamente que perdoará esta falha, o ser confundida com a do Viso, mas convém que não se abuse, porque, de facto, não fica bem e nem há necessidade, mesmo que em rigor, Nossa Senhora, Maria, Mãe de Jesus, seja uma só, independentemente da invocação e do aspecto que lhe damos.




9 de agosto de 2023

Capelinha do Senhor do Bonfim - Apontamentos históricos


Todos nós guisandenses conhecemos de há muito a capelinha ao Senhor do Bonfim, erigida ali no limite entre os lugares da Barrosa e Reguengo, mas em rigor, porque nela não está lavrada, desconhecemos a data da sua construção. Já quanto à origem ou motivo, foram transmitidos oralmente alguns testemunhos, mesmo que com poucas certezas.

Tendo em conta o testemunho recolhido pessoalmente pelo André do Reguengo junto da D. Maria Isaura Borges, da Casa do Loureiro, nascida em 1917 e falecida em 2015, casada que foi com o Dr. António Ferreira da Silva e Sá, o mandante da edificação da Capelinha ao Senhor do Bonfim teria sido um Raimundo, também conhecido por Raimundinho. Posteriormente,  terá sido dada a informação por um dos filhos da D. Isaura que trataria de um avô do avô da mãe.

Em todo o caso, deve haver aqui alguma confusão (um dos problemas da oralidade) pois sendo certo que existe pelo lado do ramo paterno um Raimundo, antepessado da D. Maria Isaura, da Casa do Loureiro, este seria seu bisavô e não trisavô. Para ser um trisavô (avô do avô) do ramo de Raimundo teria que ser Domingos José (avô paterno) ou Manuel José (avô materno).

Inicialmente, ainda antes de ter logrado obter a certidão de nascimento, fiz as seguintes considerações: Tomando em conta o ano de nascimento da D. Maria Isaura (1917), recuando no tempo e considerando gerações médias de 25 anos, como era comum na época, poderemos especular com alguma proximidade à realidade que esse seu trisavô Raimundo poderá ter nascido por volta de 1817. Se mesmo usando a média de 30 anos, resulta que poder-se-ía estimar ainda por volta de 1797. Ou seja, quase seguramente entre o intervalo temporário de 1797 e 1817.

Entretanto, após aturadas diligências e buscas, consegui chegar à certidão de nascimento do tal Raimundo, que no final desta artigo transcrevo, e a mesma confirma a estimativa feita. Ou seja, na realidade o Raimundo, suposto mandante da edificação da capelinha ao Senhor do Bonfim, nasceu a 23 de Novembro de 1809, por isso dentro do tal intervalo temporário estimado de 1797 a 1817.

Em segundo lugar, tendo em conta que a promessa de construção da capela terá ocorrido no contexto de uma viagem marítima aflitiva e atribulada por tempestade no Atlântico, em que do Brasil, onde foi emigrante, regressava a Portugal, podemos supor que teria entre 50 a 60 anos de idade, o que somado a 1809 poderemos igualmente extrapolar que a construção da capela terá ocorrido entre 1859 e 1869. Grosso modo será da época da construção da capela do Viso, precisamente de 1869, dedicada à Senhora da Boa Fortuna e a Santo António.

Continuando no campo da especulação, à falta de documentos escritos e testemunhos orais consistentes, pelas datas e circunstâncias, a construção da capela do Viso poderá perfeitamente ter tido mão, motivação e financiamento desse antepassado da Casa do Loureiro, até porque a invocação de "Boa Fortuna", para além de outras interpretações, remete para o de uma grande graça ou sorte alcançada. Além do mais, para tão grande aflição na viagem, com risco de naufrágio, e tamanha fortuna alcançada pelo seu bom fim, parece-me que o pagamento da promessa apenas com a pequenina capela seria coisa de pouca monta para quem supostamente seria tão abastado e com fortuna trazida do Brasil.  Não custa, por isso, acreditar que para além da promessa ao Senhor do Bonfim também fosse feita uma à Senhora da Boa Fortuna.

De resto, por esses tempos, não fosse gente endinheirada, não estou a ver como a pequena e pobre freguesia de Guisande, marcadamente de pequenos lavradores e famílias que subsistiam do que a terra dava, e na sua larga maioria ainda a pagar rendas, tributos e quinhões a meia dúzia de proprietários mais abastados, conseguisse reunir dinheiro para tal construção, já que a capela do Viso é de generosas dimensões e edificada de forma sólida, com boa cantaria e ainda com três altares, coro e púlpito. É, pois, uma mera especulação mas com indícios de alguma sustentação. Quem sabe se algum dia poderemos vir a encontrar fontes e documentos que confirmem ou desmintam esta hipotética mas plausível relação?

Quanto a este tal Raimundo, conforme certidão de nascimento abaixo transcrita, era  filho de Domingos José Francisco de Almeida (natural de Mafamude - Vila Nova de Gaia) e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, da Barrosa, Guisande. 

Por conseguinte este Raimundo, seria irmão do Pe. José Gomes de Almeida, ou também referido como Pe. José Gomes Loureiro, ou mais popularmente como Abade Loureiro, nascido em 22 de Setembro de 1807 (mais velho 2 anos do que seu irmão) e que foi pároco nas freguesias de Pigeiros e de S. Jorge de Caldelas (Caldas de S. Jorge) - Vila da Feira. Também consegui aceder à certidão de nascimento deste José.

Por conseguinte, este Raimundo, que a ter em conta o nome do irmão clérigo, seria suposto ter como nome completo  Raimundo Gomes de Almeida, mas vim a confirmar, na certidão de nascimento de meu bisavô paterno, que lhe era afilhado, que era Raimundo José de Almeida. Era, como o irmão abade, neto paterno de Domingos Pereira de Almeida e Vasconcelos e de Clara Angélica Rosa e neto materno de Manuel Gomes Loureiro e Tomázia Rosa da Silva Jesus.

Este Raimundo foi ainda padrinho de um outro Raimundo, do lugar do Reguengo, nascido no dia 14 do mês de Julho do ano de 1833, este filho legítimo de Manuel Caetano Henriques e de Maria Joaquina, neto paterno de Caetano José Henriques e de Custódia Maria, do mesmo lugar, e neto materno de Manuel de Pinho e de sua mulher Anna Ferreira do lugar do Casal, freguesia de Gião. 

Em resumo, há neste artigo nomes, datas e factos concretos mas também algumas considerações que resultam de mera estimativa ou especulação. Mas com base e a partir do tal testemunho da D. Maria Isaura da Casa do Loureiro, é legítimo considerar os dados até aqui expressos. Ou seja, que a capelinha do Senhor do Bonfim terá sido mandada edificar por Raimundo José de Almeida, da Casa do Loureiro, da Barrosa, na sequência de uma promessa em situação de aflição, e que tal terá sido concretizada na segunda metade do século XIX, aproximadamente por ocasião da construção da capela do Viso em invocação à Senhora da Boa Fortuna, em 1869.


Transcrição da certidão de nascimento de Raimundo José de Almeida

Raimundo (*), filho legítimo de Domingos José Francisco de Almeida e sua mulher Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, do lugar da Barrosa, desta freguesia de Guisande, neto paterno de Domingos Francisco de Almeida e Vasconcelos e de sua primeira mulher Clara Angélica Rosa, moradores que foram na freguesia de São Cristóvao de Mafamude, mieira com a freguesia de Santa Marinha de Gaia e agora nas Vendas Novas da freguesia de S. Tiago de Lourosa, e materno de Manuel Gomes Loureiro e de sua mulher Tomázia Rosa da Silva de Jesus, do dito lugar da Barrosa desta freguesia de Guisande.

Nasceu no dia vinte e três (23) do mês de Novembro do ano de mil e oitocentos e nove (1809). Foi por mim, José dos Santos Figueiredo, abade desta mesma freguesia, baptizado no dia vinte e sete (27) do dito mês e ano.

Foram padrinhos Manuel Francisco de Almeida, do lugar do Boco, freguesia de Lourosa, tio do mesmo baptizado, e Tomázia Rosa da Silva de Jesus, avó materna do mesmo baptizado, e testemunhas o sobrinho Domingos Francisco de Almeida e Vasconcelos, avô paterno, e o sobrinho Manuel Gomes Loureiro, avô materno do mesmo baptizado, que aqui assinarão, dia, mês e ano (...)

(*) O nome completo: Raimundo José de Almeida


Outra consideração factual:

Tendo em conta os nomes acima referidos, resulta que eu próprio sou descendente de antepassados da casa e família dos Loureiros da Barrosa, já que o meu bisavô paterno, Raimundo Gomes de Almeida, que nasceu em 19 de Janeiro de 1849 e faleceu com 56 anos de idade no dia 10 de Dezembro de 1905, era neto paterno de  Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva (meus tetravós), estes do lugar da Barrosa, Guisande, e neto materno de Manuel José de Matos e de Maria Rosa de Jesus (meus tetravós), do lugar da Lama, Guisande. 

Ou seja, este meu bisavô era filho de um dos irmãos do tal Raimundo (por isso sobrinho) de que temos vindo a falar, no caso, filho de Domingos José Gomes de Almeida (meu trisavô paterno) e de Joaquina Rosa de Oliveira, do lugar da Barrosa (minha trisavó paterna). Acabei também por descobrir que este meu bisavô paterno era afilhado do referido Raimundo José de Almeida.

Mais se conclui, e pela ordem natural das coisas, que em rigor somos todos parentes uns dos outros o que se comprova se formos a estabelecer as nossas árvores genealógicas, o que não é de todo tarefa fácil, senão mesmo impossível.

Creio que por tudo quanto foi escrito, mesmo sem todos os factos, temos já um conjunto de apontamentos que enriquecem a história da origem da nossa popular capelinha do Senhor do Bonfim.


A.Almeida - 08-08-2023


Actualização: 10-08-2023

Já depois de escrito e publicado o artigo acima, consegui aceder à certidão de óbito do até aqui falado Raimundo José de Almeida, tido como suposto (não confirmado) mandante da edificação da capelinha ao Senhor do Bonfim. 

Nesta certidão, para além da confimação de alguns dados biográficos, como a filiação, sendo filho de Domingos José Francisco de Almeida e de Maria Felizarda de São José Loureiro da Silva, fica-se a saber que faleceu em 23 de Janeiro de 1897, por isso com 87 anos de idade e que foi casado com Joana Rosa de Almeida e que vivia no lugar da Lama, na freguesia de Guisande.

Até aqui, tudo certo só que a ter em conta o que relata a mesma certidão de óbito, este Raimundo não deixou filhos, logo não poderia ser avô de quem quer que fosse, incluindo a D. Maria Isaura. Portanto, a ser Raimundo, terá que ser outro.

Assim sendo, tomando como fidedigna a informação contida na certidão, cai pela base a suposta relação deste Raimundo José de Almeida à construção da capela ao Senhor do Bonfim. 

A manter-se ainda como válido o testemunho oral colhido junto da D. Maria Isaura, apesar de posteriormente já não se recordar do nome, a ter existido e a ter Raimundo como nome, então, eventualmente só de outro ramo do qual ainda não encontramos ligação e esta terá que ser analisada da actualidade para cima, ou seja saber o nome dos pais e avôs da D. Maria Isaura e por aí acima, como quem diz, recuado no tempo.

Ora, por enquanto, apesar de buscas, ainda nada consegui encontrar desta relação. Por conseguinte, até novas evidências, esta história da origem da capelinha ao Senhor do Bonfim continua por resolver e a pertencer ao campo da especulação.


Outros aspectos:

A capelinha conforme existe na actualidade, não corresponde em termos de aspecto ao que seria a sua forma original. Na verdade já sofreu obras, nomeadamente pelo início da década de 1980, sendo as mais notórias o revestimento das fachadas em azulejo bem como refeita a cobertura já que esta originalmente seria em estrutura de madeira e telha. Para além disso foi pintada a imagem de Cristo no cruzeiro interior em pedra, o qual, apesar da boa intenção do artista, ficou de facto com uma qualidade artística de baixa qualidade. Também a porta não corresponde à original que naturalmente seria em madeira.

A propósito destas obras, recordo-me de na altura ter tido uma conversa com o então pároco, Pe. Francisco, o qual torceu o nariz ao revestimento em azulejo, dizendo ter preferido que se mantivessa o reboco original ou então, se em azulejo, que fosse branco mas sem padrão. Também o revestimento do roda pé foi de mau gosto. Também não apreciou que fosse colocado um painel da Sagrada Família, na fachada sul e que, no mínimo deveria ser monocromático, apenas em tom azul, como é tradicional e que melhor combinaria com o tom azulado do restante revestimento.

O revestimento da cobertura em azulejo depressa ficou em mau estado e posteriormente foi substituido por pastilha cerâmica em tom cinza. Pessoalmente, creio que seria valorizada a capelinha se fosse novamente instalada uma cobertura em telha mantendo a configuração de "quatro-águas" e que corresponderia à imagem original.

Por outro lado, aquele poste eléctrico ali encostado do lado norte é uma aberração estética e que deveria ser mudado.