1 de julho de 2018
Cromos da May - Quem se lembra?
11 de maio de 2018
Pe. Francisco - 20 anos de saudade
13 de abril de 2018
Nota de 20 escudos - A verdinha
5 de março de 2018
A alegre casinha
28 de fevereiro de 2018
Bate leve, levemente
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
– Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
(...)
A Balada da Neve - Augusto Gil
26 de fevereiro de 2018
Perceber da poda
24 de outubro de 2017
24 de Outubro de 1954–Inundação na ribeira da Mota
Hoje, dia 24 de Outubro de 2017 tivemos um dia quase de Verão, com céu azul e temperatura bem alta. Mas se recuarmos no tempo, mais precisamente 63 anos, por isso a 24 de Outubro de 1954, abateu-se sobre a nossa freguesia de Guisande e freguesias vizinhas, sobretudo do lado sul e poente, como Pigeiros, Caldas de S. Jorge, Fiães e Lobão, uma chuva forte e persistente, designada de tromba-de-água, que em poucas horas, naquele Domingo de manhã, galgou as margens da ribeira da Mota, arrastando dos campos, com a sua impetuosidade, toda a vegetação e medas de palha ou de canas de milho.
Em resultado, com a pressão da água e dos detritos dos campos e margens arrastados, a ponte da Lavandeira, entre os lugares do Reguengo e Viso, acabou por ceder, desmoronando-se, sendo, pouco depois, edificada a ainda actual ponte. Provisoriamente, como se vê na foto acima, foi realizado um estrado em vigas e tábuas de madeira para assegurar a passagem de carros e pessoas.
Ainda hoje, as pessoas mais idosas recordam-se desse Domingo chuvoso e daquela que foi certamente a maior cheia da ribeira da Mota de que há memória, o que de resto também sucedeu no rio Uíma
. Mesmo a cheia de 2001 terá sido apenas uma humilde amostra quando comparada com a de há 63 anos.
Neste foto acima vê-se o paredão norte totalmente demolido. Curiosamente percebe-se que o caudal da ribeira era quase diminuto, pelo que se deduz que estivesse a ser desviado pelos regos das levadas a montante, de modo a permitir a intervenção provisória na ponte. Também pode sugerir que essa cheia teve de facto características muito concentradas pelo que logo que passou a tromba-de-água, o caudal voltou ao seu normal.
24 de setembro de 2017
A sineta da capela de Nossa Senhora da Boa Fortuna no monte do Viso
Se não me falha a memória de criança, que ainda se recorda das obras, tenho a ideia (a confirmar) de que até essa data a sineta estava instalada numa estrutura de ferro sensivelmente na parte central da cobertura, na zona da transição da nave principal para a nave da capela-mor, sendo accionada por uma corda ligada directamente ao compartimento poente da sacristia (divisão que em dias de festa do Viso é ocupada pela Comissão de Festeiros), junto à reentrância onde há uns anos a comissão assentava o pipo de vinho com que, servido a copo, brindava quem ia pagar a promessa.
Foi pena que nas obras posteriores, nomeadamente em 2003 quando se procedeu à reformulação da estrutura da cobertura e reconstrução do coro, não se tivesse desmontado este sistema ou pelo menos mudado as cornetas para um local com menos impacto visual, eventualmente na zona mais central da cobertura. Em todo o caso, como se disse, este relógio sonoro toca a cada quarto de hora e é ouvido em quase toda a freguesia, dependendo da direcção do vento e já há muitos anos que é companhia de quem vive a contar as horas.
Também em 2016, o arco sineiro sofreu uma intervenção, sendo ligeiramente alteado de modo a ajustar o sistema mecânico de accionamento da sineta anteriormente instalado.
Por esta data, 1874, fica-se a saber que a sineta só foi instalada na capela cinco anos após a sua construção (1869).
Tudo indica, pois, que as tais obras acima referidas se realizaram durante o resto do mês de Junho e Julho. Creio que por esta altura da Comunhão Solene já estariam terminadas as obras na parte interior, nomeadamente o restauro/pintura dos altares e colocação do revestimento do tecto.
Prova disso, ou equivocado, certo é que Pinho Leal, no seu "Portugal Antigo e Moderno" de 1873, a páginas 370 do vol. III, referindo-se a Guisande diz que "...tem uma capela dedicada a Santo Ovídio onde se fazem três festas no ano, muito concorridas. A quem tiver padecimento nos ouvidos, tem (segundo a crença da gente d´aqui) um óptimo remédio. É furtar uma telha e levá-la de presente a este santo; fica logo bom e a ouvir perfeitamente. É medicamento muito experimentado e aprovado pela gente da terra da Feira. A telha há-de ser furtada senão não o vale".
Mas admite-se que Pinho Leal (que casou com Maria Rosa de Almeida, do lugar do Carvalhal, freguesia de Romariz, onde construiu casa e nela ali morou) tivesse feito confusão porque na sua descrição referente à freguesia de S. Tiago de Lobão também lhe atribui a pertença da capela do Santo Ovídio. Não nos parece, pois, que a capela fosse meeira das duas freguesias vizinhas nem que existissem duas distintas capelas sob a mesma invocação. Seja como for, essas referências de Pinho Leal, mais do que dissipar dúvidas, porventura aumentou-as.
De resto, tal como acontece no lugar de Azevedo, em que a freguesia de Caldas de S. Jorge se apropriou de uma ampla parcela do lugar de Estôze, reclamando-a como sua a pretexto de não perder uma parte das habitações ali edificadas entre os anos 80 e 90, os anteriores e sucessivos presidentes de Junta dessas freguesias nossas vizinhas nunca quiseram admitir a apropriação indevida de território mesmo que desmentidos perante factos. Daí que este tipo de disputas sejam antigas e comuns a muitas outras freguesias por esse nosso Portugal fora, e que invariavelmente não têm solução a não ser por imposição administrativa dos tribunais, o que raramente acontece. Em todo o caso, é tudo Portugal.
31 de agosto de 2017
Historiando - A lápide da sepultura do Padre Manuel Carvalho
Apesar de o assunto já ter sido pegado por alguém num passado recente, nomeadamente pelo Sr. Mário Baptista, honra lhe seja feita, certo é que nunca se chegou ao apuramento da verdade quanto ao destino ou paradeiro da lápide. Foi, obviamente uma irresponsabilidade de várias pessoas, mesmo que por negligência involuntária, mas seguramente uma enorme falta de sensibilidade pelas coisas da nossa história e memória colectiva mesmo que na forma de uma pedra. Infelizmente para muitos as pedras são isso mesmo, pedras ou calhaus, mesmo que nos contem histórias, recordem factos, nos lembrem ou evoquem pessoas.
Américo Almeida
26 de julho de 2017
Construção da Escola da Igreja
Infelizmente, por más políticas caseiras e decréscimo da população escolar, como quem diz das crianças, tanto a escola do Viso como da Igreja ficaram sem alunos, deslocados para Louredo e Lobão. Apenas subsiste uma amostra de alunos no Jardim de Infância no lugar de Fornos.
Do mal o menos, o emblemático edifício da escola do Viso está aproveitado e integrado no Centro Cívico, bem como parte da escola da Igreja está entregue por protocolo a uma associação local, sendo que aqui o desejável é que seja ocupado e dinamizado plenamente por outras colectividades da freguesia, nomeadamente a Associação "O Despertar". Veremos o que reserva o futuro para estes equipamentos que marcaram gerações, onde lá aprendemos e brincamos e de certa forma moldamos muito do que somos hoje como pessoas e cidadãos.
Actualização a 11 de Novembro de 2018:
A sala até aqui vaga, do lado nascente, será ocupada pelo Banco Solidário, dinamizado pelo Grupo Solidário de Guisande e inserido no Fórum Social da União de Freguesias de Lobão, Gião, Louredo e Guisande, com inauguração prevista para o próximo Domingo, 18 de Novembro.
16 de junho de 2017
Cartaz da Comunhão Solene - Memórias de tempos idos
31 de maio de 2017
Vamos aos livros a Casaldaça
Não pretendo aqui fazer a história deste fantástico serviço, até porque há locais onde isso já é feito e pela Internet não faltam referências ao mesmo, mas apenas referir que o serviço foi criado pelo administrador da Fundação, Branquinho da Fonseca, em 1958. Na nossa freguesia de Guisande a Biblioteca começou a aparecer no início dos anos 70 e creio que terá deixado de aparecer por meados dos anos 80. Sei também que oficialmente o serviço durou de 1958 (com 15 carrinhas) a 2002. Durante esse período adquiriu cerca de cinco milhões de livros (de todos os géneros) e fez 97 milhões de empréstimos. Os serviços foram então entregues às autarquias que serviam.
Lembro-me que eram dois os senhores que acompanhavam a Biblioteca, sendo um o motorista e o outro o encarregado ou revisor, o que anotava as devoluções e as requisições. Já não tenho a certeza quanto ao número de livros que se podia requisitar, mas creio que eram cinco ou seis.
Também recordo os momentos angustiantes quando tinha que devolver os livros danificados pela ira maternal, arreliada por, perdido na leitura, eu não cumprir os deveres da escola e da casa. Nessas alturas não havia outro remédio senão tratar dos ferimentos às páginas rasgadas colando-as com cola e com fita adesiva, daquela clássica, e dissimular o melhor possível os livros feridos entre os resistentes. Claro que o revisor dava por ela mas fazia vista grossa pois a devolução de livros danificados devia ser norma nas aldeias, resultado da luta dos pais, alguns analfabetos e pouco dados à leitura, preocupados apenas com a mão-de-obra da pequenada e o cumprimento das suas responsabilidades. A leitura e o tempo com ela despendido era considerada pura malandrice pelo que os culpados, os livros, eram mal vistos e pior tratados. Castigava-se assim, de uma assentada, o leitor e os livros.
Hoje, felizmente, há livros por todo o lado e qualquer concelho ou freguesia já dispõem de boas bibliotecas, como o caso da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira onde é possível requisitar livros para leitura domiciliária.
Por tudo isto, toda a malta da minha geração tem uma profunda memória e admiração pelo serviço da Biblioteca Itinerante, já que graças a ele viajámos no tempo por reinos maravilhosos, com histórias fascinantes e aprendemos coisas do mundo que nos rodeia. Enfim, crescemos ajudados por tudo quanto aprendemos através dos livros que num momento mágico chegavam ao largo da aldeia naquelas carrinhas maravilhosas.
11 de maio de 2017
Historiando – Quando os párocos eram secretários da Junta de Freguesia
A residência paroquial tem na fachada principal a inscrição da data de 1907 que se deve referir ao ano de construção, ou seja, precisamente no ano em que o seu proprietário foi instituído como pároco de S. Mamede de Guisande. Teria, naturalmente, que ser pessoa de posses e com expectativa de ficar em Guisande muitos anos, o que de resto não aconteceu pouco esteve apenas dezasseis anos, de 1907 a 1923.
Acima as três páginas da acta da reunião de 21 de Outubro de 1923, a partir da qual o Padre Abel Alves de Pinho deixa de secretariar as reuniões da Junta Paroquial de Guisande e simultaneamente é apresentado o novo secretário e novo pároco de S. Mamede de Guisande, o Padre Rodrigo José Milheiro.
14 de abril de 2017
Crónica Feminina–52 anos depois
Capa da revista “Crónica Feminina” – Nº 438 de 15 de Abril de 1965, pelo que amanhã passam 52 anos sobre a sua publicação.
Neste dia de Sexta-Feira Santa faz sentido uma imagem de compenetração e oração, coisa rara nos dias que correm e sobretudo em crianças. Isto poderia dar pano para mangas de reflexão mas porventura o dia é pouco ou nada propício a calcar os calos a quem quer que seja. Vamos pois, ficar apenas pela imagem do rapazinho, que por acaso até sabemos o nome: José Eugénio Torras.
5 de abril de 2017
Brincadeiras de ontem e de hoje
Assim sendo, siga a rusga que o que for há-de ser.
30 de março de 2017
Definitivamente provisórios
Bem que tentei, porque achava que na puberdade o fumar nos dava uma ar de importância e rebeldia e não menos importante, impressionava as raparigas, mas nunca gostei do hálito a cinzeiro e o vício não pegou. Ainda troquei várias vezes os 25 tostões, que minha mãe me dava, para comprar uma sande de um quarto de sêmea com um queijinho ao recreio da escola, por maços dos mais rascas, na antiga loja da Dorinda, em Fornos, a caminho do Ciclo em Lobão, mas nada. Quem os “papava” eram o Mota, o Lino e o Vitor. Ainda bem que a coisa não deitou raízes. Ganhou certamente a carteira e, mais importante, a saúde. Assim como assim, era bem melhor a sande com aquele pequeno queijo triangular "Saúde" amassado naquele saboroso pão de mistura.
28 de março de 2017
Historiando - RCG - Rádio Clube de Guisande
No concelho de Santa Maria da Feira eram várias as rádios piratas, incluindo a RCG - Rádio Clube de Guisande.
No processo de atribuição de licenças, o nosso concelho ficaria apenas com duas frequências. A RCG ainda integrou o consórcio Rádio Terras de Santa Maria, que abrangia diversas rádios, congregando forças para ampliar as possibilidades na atribuição, mas desde logo adivinhou-se que ia sair vencedor quem tivesse mais peso e influência e já estivesse a mexer os cordelinhos nos bastidores. Assim passaram nesse crivo a Rádio Clube da Feira e, surpreendentemente, a Rádio Águia Azul, as quais ao longo dos anos próximos, com altos e baixos e mudanças de propriedade, nem sempre tiveram o vigor e a importância que seria de esperar. De algum modo ficou a ideia que nem se comeu nem se deixou comer.
A Rádio Clube de Guisande foi fundada por Rui Giro e Américo Almeida, no Verão de 1984, no âmbito das actividades da então dinâmica Associação Cultural da Juventude de Guisande. Pelo que eram necessários conhecimentos técnicos, a dupla contou com o apoio do António Pinheiro, entusiasta da electrónica, que já tinha um pequeno transmissor e que foi aproveitado. Mais tarde foram melhoradas as condições técnicas com um transmissor mais potente e com a instalação de uma antena montada num alto poste que ali na sede foi montado e que ainda lá se encontra.
No seu processo de crescimento e desenvolvimento foram realizadas obras e melhoramentos ao nível do equipamento e de um estúdio "cinco estrelas" e a instalação de uma antena, conforme atrás referido, que permitia a radiação do sinal para quase todo o concelho e não só.
A Rádio Clube de Guisande, terminou por imperativos legais em 1989 mas para além das memórias e apontamentos para a história da freguesia e do concelho, que mereceriam uma mais profunda análise, ficaram alguns vestígios que ainda permanecem, como é o caso (ver fotografia acima) da antena exterior, ao lado da velhinha sede da ACJG, a sede do jornal "O Mês de Guisande", ainda vertical e vigorosa como um monumento à memória dessa época e desse movimento. O processo da sua própria instalação daria uma interessante história. Ficará para outra altura.
15 de fevereiro de 2001
O Carnaval em Guisande
O Carnaval é um festival popular relacionado às raízes do cristianismo ocidental. Ocorre antes da estação litúrgica da Quaresma. Os principais eventos ocorrem tipicamente durante Fevereiro ou início de março, durante o período historicamente conhecido como Tempo da Septuagésima (ou pré-quaresma). O Carnaval normalmente envolve uma festa pública e ou desfile combinando alguns elementos circenses, máscaras e uma festa de rua pública. As pessoas usam trajes durante muitas dessas celebrações, permitindo-lhes perder a sua individualidade quotidiana e experimentar um sentido elevado de unidade social.
O consumo excessivo de álcool, de carne e outros alimentos proscritos durante a Quaresma é extremamente comum. Outras características comuns do carnaval incluem batalhas simuladas, como lutas de alimentos, sátira social e zombaria das autoridades e uma inversão geral das regras e normas do dia-a-dia.[fonte: Wikipédia]
Esta introdução ao sentido do Carnaval será a mais comummente aceite, sendo que nos tempos modernos ela generalizou-se e transformou-se, tornando-se mais num evento folclórico e sobretudo dirigido às massas e indústria do turismo, como é o caso do Carnaval do Rio de Janeiro no Brasil. Mesmo em Portugal, sendo certo que há manifestações de um Carnaval ainda muito tradicional, sobretudo em pequenas aldeias do interior, e destas as principais em Trás-os-Montes e Beiras, mas no litoral os eventos carnavalescos tornaram-se também eles meras organizações para turista ver, resultando já não em manifestações genuinamente populares e espontâneas mas principalmente com estruturas organizativas fortes e subsidiadas. Em resumo, comercializadas.
Em todo o caso, o Carnaval, mesmo o que se vive em Portugal, seja o mais comercial ao mais popular, é um evento muito apreciado pela generalidade do nosso povo.
O Carnaval em Guisande:
Em Guisande, as manifestações ligadas ao Carnaval nunca foram marcantes nem consequentes e regulares no tempo a ponto de estabelecerem uma tradição com raízes. De resto como nas demais freguesias vizinhas. Manifestações mais ou menos organizadas e com regularidade são raras e sobretudo na freguesia vizinha de Caldas de S. Jorge onde o contexto turístico das Termas em muito ajudou a essa continuidade.
Apesar disso, são conhecidas e ainda lembradas pelos mais velhos algumas carnavaladas episódicas e com preponderância num ou noutro lugar da freguesia e por vezes pelo impulso de uma ou outra figura mais característica desses lugares.
Por exemplo, no lugar do Viso, recordo que nos meus tempos de criança e adolescente, por isso pelos idos anos de 1960 e 1970, o Carnaval marcava sempre presença e sempre com a intervenção da criançada. grosso modo, o grupo tratava com tempo de ir ao mato colher um carvalho de porte adequado, que era arrastado para a borda do Monte do Viso, próximo da escola e ali era fixado ao alto. Depois era um arrastar contínuo de lenha do mato e tudo o que pudesse arder, incluindo velhos pneus e trapos, de modo a amontoar à volta do carvalho, como se de uma árvore de Natal se tratasse. No cimo da árvore pendurava-se um grande espantalho.
Ao princípio da noite, quase sempre após o jantar, era o momento esperado, o acender do fogueirão o qual pela sua dimensão seria visto em toda a parte baixa da freguesia. A imagem acima de algum modo ilustra o que de semelhante então acontecia no lugar do Viso. Claro, escusado será dizer, que quando o dia de Carnaval calhasse num dia de chuva era um cabo dos trabalhos para fazer arder a árvore e aí recorria-se a petróleo e a lenha e moliço secos para ajudar a engrenar.
Nessa altura do acender da fogueira os mais velhos também vinham assistir. Noutros lugares da freguesia, como Estôse e Casaldaça, também era comum o acender de fogueiras ou borralheiras. Paralelamente, as habituais brincadeiras de crianças com o uso de bisnagas de água, algumas mais sofisticadas na forma de peixe e pistola e que por esse altura se compravam como brinquedos, na Quitanda das Quintães. Também, para as meninas, o atirar do pó-de-arroz e outras matreirices. Era sem dúvida um dia de brincadeiras alegres e num tempo em que as crianças brincavam na rua, muito ou totalmente ao contrário do que sucede nos tempos modernos.
Era, pois, um simbolismo genuíno, mesmo que então pouco compreendido, do queimar do tempo velho e a preparação para o tempo novo ao qual se transitava pela carestia da Quaresma, a qual por esses tempos era vivida com algum rigor, no que respeita ao respeito pelo jejum e abstinência bem como da participação nos serviços religiosos, como a reza do Terço e a Semana de Pregações.
1 de fevereiro de 2000
Catecismo - "Quem sóis Vós, Senhor?" - Catecismo do 1º ano - Iniciação
Este catecismo foi posto em circulação em 1971, patrocinado pela Comissão Episcopal da Educação Cristã e pelo Secretariado Nacional da Catequese, numa fase experimental, com o propósito de colher sugestões de párocos, pais e catequistas. Depois disso consolidou-se e continuou a ser utilizado durante vários anos incluindo os anos 80. A edição que possuo e da qual extraí as ilustrações deste artigo é de 1987.
Trata-se de um catecismo que graficamente rompia com as características mais realistas da anterior série do Catecismo Nacional, em uso nos anos 50 e 60, do qual falaremos em próxima oportunidade. Por conseguinte as ilustrações ocupam um maior espaço, bastante coloridas e de traço mais estilizado. Os textos também são mais resumidos, confinando-se a frases curtas e objectivas, quase sempre extraídas da Bíblia e do Evangelho. Como quase todos os catecismos do 1º ano dá forte ênfase às principais etapas da vida de Cristo, tal como a Anunciação, Natividade, Paixão e Ressureição.
É composto por 24 lições e comporta ainda as principais orações como o Benzer, o Pai-Nosso, Avé-Maria, Oração da manhã, Oração da Noite e o Acto de Contrição.
Formato: 117 x 168 mm - 64 páginas. Não tem indicação do ilustrador.
É um catecismo muito bonito e que certamente faz parte da memória de tantos portugueses que na época frequentaram a catequese católica.
1 de janeiro de 2000
Catecismos de outros tempos - Doutrina Cristã - I Volume - Primeira Comunhão
De todos os livros que marcaram a minha infância, e creio que a de muitos rapazes e raparigas da minha geração aqui em Guisande, os catecismos, a par dos livros da escola primária, ocupam um lugar especial na prateleira das nossas recordações, memórias e nostalgias.
Nesta secção dedicada aos catecismos, trago à luz da memória o meu catecismo da primeira classe. Trata-se do primeiro volume de uma série chamada “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, uma edição do Secretariado Nacional de Catequese, publicado durante os anos 50 e 60 e que serviu de base para o ensino da catequese ao nível de todo o país. Estes catecismos foram impressos na Litografia União Limitada, de Vila Nova de Gaia.
Este primeiro volume está profusa e excelentemente ilustrado pela mão da artista Laura Costa, com o seu traço inconfundível, repleto de cor e pormenor. Cada ilustração, por si só, era uma lição e estou certo de que muitos recordarão o seu Catecismo apenas pela beleza das respectivas gravuras.
O Catecismo tem uma dimensão de 12 x 17 cm e 32 páginas.
É importante referir que estes catecismos, tinham uma publicação de apoio, chamada de Caderno de Trabalhos Práticos (que possuo), com gravuras das lições, a preto e branco, destinadas a serem pintadas pelos alunos, bem como textos picotados, também destinados a serem preenchidos. Todavia, talvez pelo seu custo, acrescido ao do catecismo propriamente dito, e dadas as dificuldades económicas da maioria dos pais das crianças nesse tempo, tenho a ideia de que muito raramente este caderno era adquirido. Pelo menos não me recordo de o possuir na altura nem de o mesmo ter sido aplicado na minha Catequese.
Por outro lado, existia ainda um volume auxiliar, destinado às Catequistas, chamado Guia de Ensino, bastante extensivo, com a explicação da mensagem da aula e respectivas actividades, constituindo-se num excelente auxiliar das sessões de Catequese, principalmente em meios pobres onde nem sempre as Catequistas tinham formação adequada.
De referir que quando transitei para a segunda classe da Catequese (por alturas de 1969), foram adoptados outros catecismos, pelo que tudo indica de que esta série de que falámos deixou de ser publicada e utilizada, desconhecendo-se se tal mudança ocorreu a nível nacional, ou apenas no âmbito Diocesano, mas tudo parece indicar que a alteração editorial foi geral. De qualquer forma esta fantástica série “Doutrina Cristã – Catecismo Nacional”, vigorou pelo menos durante duas décadas, um caso invulgar de longevidade, tendo em conta que actualmente os manuais de escola e catequese mudam quase de ano para ano e com edições diversas.
Os objectivos deste primeiro volume, vocacionados para a preparação da Primeira Comunhão, estavam assim expressos no prefácio do mesmo:
“ Eu sou a Verdade” – disse Jesus. O presente Catecismo vem dar cumprimento a um voto do Concílio Plenário. É destinado a todas as crianças de Portugal, que devem fazer a sua primeira Comunhão à roda dos 7 anos (como desejava São Pio X) a fim de despertar já nos seus corações infantis uma autêntica vida cristã.
Foi para facilitar o trabalho educativo nas Famílias, nas Catequeses e nas Escolas, - a quantos são responsáveis pela alta missão de fazer desabrochar na alma infantil a virtude e a santidade, - que este Catecismo se elaborou por iniciativa do Venerando Episcopado.
Espera-se que o zelo de todos os educadores cristãos faça valorizar o presente texto oficial, cujas lições se acham ligadas ao Tempo Litúrgico (de fins de Outubro a Maio: as lições marcadas –A, servem para melhor permitir essa ligação, na hipótese duma aula semanal).
Ensinando-se, cuide-se da formação cristã da criança: atenda-se às condições várias da sua preparação cristã e desenvolvimento; faça-se com que ela compreenda toda a doutrina, a ame e aplique à sua vida; procure-se que retenha de memória o que deve reter e consequentemente se prepare de modo a poder já confessar-se e comungar pelo Tempo Pascal.
Na festa de Nª Sª do Rosário, aos 7 de Outubro de 1953. M. Cardeal Patriarca.
Como verificámos por este texto, este primeiro volume tinha objectivos específicos mas concretos no ensino da doutrina das crianças que pela primeira vez entravam no ciclo da Catequese.
Oportunamente falaremos dos restantes volumes desta série de Catecismos. Abaixo deixamos algumas páginas deste catecismo bem como do tal caderno de apoio (duas últimas imagens).